CRIATURAS
ESTRANHAS:
NARCISISTAS
MALIGNOS E PSICOPATAS
Aos
77 anos de vida, já conheci na vida muitas, mas muitas pessoas, porquanto atuo
em movimentos sociais desde 1959, ininterruptamente, e escrevo esse texto tendo
ao lado os livros de Erich Fromm “O Coração do Homem – seu gênio para o bem e o
mal” e o “O Médico e o Monstro”.
Diz
a sabedoria popular: “De poeta médico e
louco, todos nós temos um pouco”, por isso a pessoa “normal” é aquela que sabe
administrar bem a sua loucura.
Muitos
têm três caras: a que mostra, a que tem, e a que julga que tem, mas no fundo
não somos o que pesamos ser, mas como somos percebidos.
Os
observadores desatentos apenas vêem a “persona”, a máscara que a pessoa mostra,
sem atentar pelo que existe atrás dessa máscara.
Dr. Jekyll e Mr.
Hyde,
popularizado e pelo filme e o livro “O
Médico e o Monstro”, obra-prima do escritor Robert L. Stevenson,
já conhecido por seu livro A Ilha do Tesouro, tornou-se famoso na época em que
foi lançado, em 1886, por sua atmosfera sombria e seu clima de inequívoco
terror e tensão. A trama é desenvolvida por diversas vozes narrativas, que
transmitem ao leitor seus pontos de vista sobre a história do médico Dr. Jekyll
, honesto e virtuoso, que tenta, em suas experiências científicas, dividir sua
face boa e sua natureza má.
É assim
que nasce o pavoroso Mr. Hyde, materialização de suas inclinações perversas,
através de uma fórmula química elaborada secretamente no laboratório do Dr.
Jekyll, que procura manter sua criatura sob estrito controle. No início ele
alcança seus intentos, mas aos poucos vai encontrando dificuldades para retomar
sua personalidade primordial, discreta e circunspecta.Com o passar do tempo, e impossibilitado de produzir mais doses de sua fórmula, o médico é dominado pelo monstro, o qual é condenado por homicídio. Ciente de que sua outra metade é acusada de cometer um crime, o doutor se desespera e recorre a uma atitude radical.
Este enredo foi inspirado por uma história real, a de um marceneiro de Edimburgo, vítima de dupla personalidade; William Brodie era um simples profissional à luz do dia, mas à noite ele assaltava as residências dos habitantes da cidade.
Neste livro a trama transcorre na cidade londrina de fins do século XIX. Neste momento eram desenvolvidas as teorias do inconsciente; desta forma, Stevenson contribuiu, com sua obra, para o aprofundamento desta tese psicanalítica. Mas nela os mecanismos psíquicos se aliam aos fatores sociais.
Assim, o autor revela em O Médico e o Monstro uma Londres marcada por confrontos ocultos, tão dividida quanto o próprio Dr. Jekyll. De um lado, a cidade vitoriana conhecida pelo protagonista, digna de respeito como ele, povoada por uma classe cada vez mais abastada; de outro, um recanto nebuloso, cenário de terríveis assassinatos, frequentado por Mr. Hyde e habitado por uma maioria desprovida de recursos econômicos.
Para atender às demandas de um centro urbano esquizofrênico, é criada em 1829 a organização denominada Scotland Yard, perita em solucionar violações à lei e por ter se inscrito definitivamente na história das investigações policiais da Inglaterra. Neste livro ela faz sua primeira aparição na esfera literária.
Esta obra, embora aborde questões complexas e inovadoras, como o tema do inconsciente e de seus mecanismos, tem como público-alvo a grande massa, a mesma que já consumiu A Ilha do Tesouro. Assim, a linguagem é singela e de cristalina compreensão. Ela apresenta características que marcam o gênero policial, no qual os capítulos e a trama se ajustam exatamente, de tal forma que todos os componentes da trama se unem apenas no final, contribuindo para que o mistério seja solucionado.
A face oculta de Dr. Lin
Convivi por mais de três décadas com uma pessoa, parecida com o Dr. Jekyll, mas que por trás da máscara de bonachão também era Mr. Hyde. Ele sufocou seu lado bom e deixou emergir das profundezas de sua mente seu lado mal. Não sabia se estava nesse mundo para salvar ou para destruir. Não conseguiu sublimar seus conflitos interiores, a luta do bem contra o mal. Ele não conseguiu solucionar o conflito íntimo equilibrando seus poderes destrutivos contra seu desejo e capacidade para curar.
Péssimo pai, pior marido, não era amigo de ninguém, utilizava as pessoas mas se considerava o máximo. Só pensava na exaltação do próprio do próprio ego, um narcisista maligno. Tinha no próprio quarto onde dormia com a esposa, na frente da cama, um pôster do tamanho de uma porta com sua imagem e ao lado, mais um painel com a relação de seus “feitos!” e logo abaixo mais uma foto sua. Ele era assim; um Narciso apaixonado si mesmo. Loucura narcisista. Mas tinha ódio e desprezo por si mesmo...
A própria esposa, seus filhos e parentes foram suas principais vítimas.
Prostrada na cama desse quarto, 15 meses depois da morte do marido, com quatro cuidadoras, usando fraldas e uma bolsa para coletar a urina, clamava:
— Não quero que me lembrem de “I...” (o marido), não quero, não quero, clamava para os parentes e não se sabe se tiram essa ornamentação...
Diz a mitologia grega que quando Narciso nasceu, sua mãe consultou o adivinho Tirésias que lhe predisse que Narciso viveria muitos anos desde que nunca conhecesse a si mesmo. Certo dia, enquanto Narciso descansava sob as sombras do bosque, a ninfa Eco se apaixonou por ele. Porém tendo-a rejeitado, as ninfas jogaram-lhe uma maldição: - Que Narciso ame com a mesma intensidade, sem poder possuir a pessoa amada. Nêmesis, a divindade punidora, escutou e atendeu ao pedido.
Narciso é incapaz de ver o efeito que provoca nos outros; sabe que atrai aduladores e admiradores.
Os
mitos nos ajudam a entender as relações humanas e guarda em si a chave para o
entendimento do mundo e da nossa mente analítica. A mitologia grega, repleta de
lendas históricas e contos sobre deuses, deusas, batalhas heróicas e jornadas
no mundo subterrâneo, revela-nos a mente humana e seus meandros multifacetados.
Atemporais e eternos, os mitos estão presentes na vida de cada Ser humano, não
importa em que tempo ou local. Somos todos, deuses e heróis de nossa própria
história.
PSICOPATAS E
ESTELIONATÁRIOS
Atuando
como aliada do Narciso, surgiu uma outra criatura muito estranha; um pequeno
demônio com “cara de anjo e alma de demônio”. Ela tem o perfil de uma psicopata
que é caracterizado por desvio de
caráter, ausência de sentimentos,
frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, narcisismo,
egocentrismo, falta de remorso e
de culpa para atos cruéis e inflexibilidade com castigos e punições.
A
psicopatia na fase adulta não tem cura;
nasceu com o caráter deformado. No entanto, se o problema for detectado
numa fase precoce da vida, leia-se a infância ou a adolescência, poderão
existir melhoras significativas. Mas, mesmo com esta possibilidade, é difícil
distinguir a criança mal-educada da criança com distúrbios.
Mentir
é uma habilidade de todo psicopata, mas para o americano Anthony Owens é um
talento especial. Em 2002, após conhecer Gwen Robinson no Texas e de lhe propor
casamento, o criminoso partiu para o Mississipi para pedir aos pais a sua mão
em casamento. A família se encantou com aquele homem de voz suave e de sorriso
confiante que se apresentou como um pastor. Meses depois da festa de casamento,
Gwen descobriu que Owens era casado com outras 7 mulheres, sem se divorciar de
nenhuma. Ele as seduzia e depois as deixava sem um tostão. Uma delas perdeu
cinco carros e uma casa. Outra teve problemas na justiça por causa dos cheques
sem fundo que ele emitiu em seu nome. Disfarçados de profissionais como
advogados, pastores, médicos, eles enganam as vítimas para conseguir vantagens
econômicas de forma ilícita e fazem da mentira uma ferramenta de trabalho. De
acordo com o psicólogo americano Paul Babiak, autor do livro ‘Snake in Suits –
When Psychopaths Go To Work – Cobras de Terno: quando os psicopatas saem para trabalhar’, “o psicopata se vê como
autor, diretor e protagonista da encenação que é sua vida. As outras pessoas só
existem para atuar nos papéis de apoio que escolhe para elas”. Poucos
neurologistas argentinos tiveram tanta reputação como Guillermo Assaneo. Ele
publicou estudos, organizou congressos e até exerceu cargos de chefia no
Hospital Rivadavia, em Buenos Aires. Só havia um detalhe. Ele dava receitas sem
nome e nem número de matrícula e havia cursado apenas algumas matérias. Em
1998, após fingir que era médico por 17 anos, Assaneo foi preso por exercício
ilegal da Medicina. “Ele era brilhante, parecia ser realmente um médico”,
diziam pessoas que o conheceram. Estes psicopatas dominam o jargão da
carreira que escolheram, convencendo a todos. Como a mesma desenvoltura de
Assaneo, o brasileiro Alessandro Marques Gonçalves falava de articulações.
Formado em Direito, ele clonou documentos de um médico e trabalhou como
ortopedista em pelo menos dez hospitais de Minas Gerais e São Paulo. Deixou
mais de 20 aleijados até ser desmascarado em 2006. Nesse mesmo ano, 30 falsos
médicos foram flagrados atuando no estado de São Paulo, quase que o dobro em
2005. Na época o Cremesp, Conselho Regional de Medicina de São Paulo, chegou a
dizer que havia uma “epidemia” de falsos médicos. Hoje, o site da entidade
mostra o nome, CRM e foto dos médicos e, com isso, conseguiu diminuir bastante
o número de fraudadores. O americano John Grambling Jr. embolsou mais de US$ 20
milhões de bancos nos anos 80. É preciso muita ingenuidade para emprestar tanto
dinheiro para uma pessoa sem ter garantias, mas os gerentes se convenceram de
que o refinado cliente era uma pessoa de confiança. Ele os enganou com charme e
falsas declarações de bens, pagando um empréstimo enquanto fazia outros. Faz
sentido: os psicopatas de colarinho branco são mais difíceis de pegar, pois
costumam agir com o aval da própria sociedade e quando são desmascarados já é
tarde demais e o estrago está feito e o criminoso bem longe. Esses psicopatas
falsários, impostores ou estelionatários não vivem em um mundo de fantasia. Quando são descobertos admitem seus crimes
como uma total naturalidade e ainda acham que estavam fazendo o bem para suas
vítimas como aconteceu com o falso médico Gonçalves. Ao contrário dos
estelionatários comuns, a manipulação e os golpes não se limitam a fazer
dinheiro. Eles envolvem a família e amigos e por isso a Justiça tem dificuldade
em avaliar o estrago que esses psicopatas provocam na vida das pessoas. Como
esse tipo de crime não envolve violência física direta, eles acabam escapando
por falta de provas. Ou, quando são condenados pegam penas bem leves, saindo em
liberdade em pouco tempo para recomeçar seus crimes do ponto onde pararam. Quem
diga o americano Anthony Owens. Lembra dele no início desse artigo. Preso por
bigamia em 2003, saiu da cadeia pouco tempo depois e voltou a botar em prática
o conto do vigário, ou, melhor do pastor. Em apenas 18 meses, pediu outras
quatro mulheres em casamento.
Vale a
ressalva de que, para que exista o delito de estelionato, faz-se mister a
existência dos quatro requisitos: obtenção de vantagem, causando prejuízo a
outrem; para tanto, deve ser utilizado um ardil, induzindo alguém a erro. Se
faltar um destes quatro elementos, não se completa tal figura delitiva,
podendo, entretanto, formar-se algum outro crime. Alguns golpes comuns que são
enquadrados como estelionato são o golpe do bilhete premiado e o golpe do falso
emprego.O crime de estelionato atenta contra o patrimônio. Pode ser praticado por qualquer pessoa que tenha a intenção de induzir (criar situação que leva a vítima a errar) ou manter (a vítima estava no erro e o agente nada fez para mudar) outra em desvantagem.
O estelionato é crime de resultado. O agente deve, imprescindivelmente, obter vantagem ilícita e este prejuízo pode ser à pessoa diversa da vítima, porém deve ser pessoa determinada. Caso vise à pessoa indeterminada, caracterizará crime à economia popular.
É crime doloso, não havendo forma culposa. Há aumento na pena caso seja cometido contra entidade de direito público ou instituto de economia particular, assistência social ou beneficência.
A ideia de que
existam pessoas sem coração, aptas
a nos matar num piscar de olhos, nos amedronta a tal ponto que gostamos de
saber tudo sobre elas. Como se vestem, comem, pensam e agem?
Nutrir tal noção do
mal distante também tranquiliza o nosso senso moral, confortável em
saber do perigo bem longe de nós, enjaulado na mente de um sujeito sádico,
perverso. Quase não-humano. O cinema americano adora retratar os
psicopatas como seres que matam indiscriminadamente, com QI acima da
média, sagazes e capazes de dar grandes bailes nos competentes agentes do FBI.
Nem sempre. Eles
apenas têm um prejuízo na capacidade de processar emoções de simpatia, carinho
e compaixão. Por essa razão, sua cognição fica liberada de culpa, vergonha,
medo e receio. Sem tais filtros, agem de maneira muitas vezes imprevisível.
Quem
não gostaria de se sentir assim por alguns dias e resolver alguns
problemas práticos sem tanta interferência dos impulsos do coração?
Existem 3 fatores
que influenciam diretamente na gênese de um psicopata:
- Uma condição cerebral deficitária;
- Fatores ambientais tóxicos, como uma família desajustada;
- O traço psicológico desses comportamentos incitadas por um impulso emocional que carece de empatia.
Como falei, a
ausência de culpa ou compaixão é a marca essencial do psicopata. Isso o leva a
cometer inúmeros atos que atentam contra os outros.
Por
quê?
O psicopata, tão
temido e tido como a culpa de todos os males do mundo, anda entre nós e pode
muito bem ser o seu amigo de infância, seu irmão, sua tia ou namorada.
Esse tipo de pessoa
não vem com tarja preta na cara e nem com código de barras danificado. É bem
possível que adore o seu amigo psicopata e, às vezes, até entre em roubadas por
influência dele. É aquele cara que faz trapalhadas, exagera e perde a mão,
quase como você. Ou melhor, pode ser você.
Para fins de
exercício e pensando nos tipos com quais lidamos em nosso dia-a-dia, podemos
dividir esse transtorno em 5 hipotéticos tipos. Não é uma escala oficial. Quero
falar daquelas pessoas que nos deixam com uma pulga atrás da orelha. Nosso
amigo de bar, o cara mais porra-loca da sala ou aquele que desistimos de
esperar que devolva o dinheiro emprestado.
Vou descrevê-los em
ordem de periculosidade, quase uma escala de maldade mesmo. Isso não quer dizer
que todos esses perfis indicam pessoas prontas para cometer algum tipo de
assassinato brutal no próximo final de semana.