Por Theodiano Bastos
Viver é uma arte, arte no sentido de saber superar as angústias e as crises da existência humana, mas nenhuma crise merece tanta preocupação quanto a crise da meia-idade.
O médico
Carl Gustav Jung sempre se preocupou muito com essa fase da vida. Um homem ou
uma mulher, desde o nascimento até 30 ou 40 anos, está, por assim dizer, numa
viagem de exploração; está descobrindo o mundo. Tudo é possível. Mas chega um
ponto, na meia-idade, em que ele atinge o horizonte, como o sol ao meio-dia, e
vê o outro lado: o resto de sua vida e, ao longe, a morte. Todos nós sabemos
que um dia vamos morrer, até as crianças sabem, mas não levam a sério, daí as
imprudências próprias dos jovens no uso dos automóveis, motos, esportes
radicais e perigosos e, principalmente, como encaram a guerra. Pensam que podem
tudo. Mas na meia-idade a consciência de que a vida declina é diferente.
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Todos nós
sonhamos em realizar grandes coisas na vida e quem sonhou em ser general
subitamente percebe que nunca será nada além de comandante de uma companhia,
enquanto outros mais jovens estão em posição acima da sua, lembra Jung. A
mulher desdenha dele por isso, ele por sua vez não a vê mais tão atraente, seus
filhos pegam seu dinheiro e vão viver suas próprias vidas. A inquietude lhe
bate à porta... "Não é de admirar que muitas neuroses graves se manifestem
no início do outono da vida", adverte Jung. É uma espécie de segunda
puberdade ou segundo período de impetuosidade, não raro acompanhado de todos os
tumultos da paixão, a "idade perigosa", em que se sai como um louco
em busca do tempo perdido.
O
"entardecer da vida humana é tão cheio de significação quanto o período da
manhã", lembra Jung. Procurar livrar-se da tentação de abandonar as
próprias convicções e querer viver no pólo oposto ao seu interior, mudanças de
profissão, divórcios, conversões religiosas, apostasias de toda espécie, são
sintomas desse mergulho no contrário e, quando se descartam os valores
incontestáveis e universalmente reconhecidos o prejuízo é fatal, adverte Jung:
"Quem age desta forma perde-se juntamente com seus valores".
A vida
também é o amanhã; só compreendemos o hoje se puder acrescentá-lo àquilo que
foi ontem e ao começo daquilo que será amanhã; é a cadeia da vida. O que a
juventude encontrou e precisa encontrar fora, o homem no entardecer da vida tem
de encontrar dentro de si mesmo, continua ensinando o Jung. Fica-se diante do
problema de encontrar o sentido que possibilite o prosseguimento da vida
(entendendo-se por vida algo mais do que simples resignação e saudosismo).
A neurose, é
sempre bom repetir, é um estado de desunião consigo mesmo e com o próximo.
Entre os motivos que levam a essa desunião, na maioria das pessoas, consiste no
fato de que a consciência deseja manter seu ideal moral, enquanto o
inconsciente luta por um ideal imoral e pouco ético. Indivíduos deste tipo
pretendem ser mais decentes do que realmente são, o que gera medo e ansiedade
de reprovação, de ser desmascarado. Muitos têm sonhos em que aparece sempre
alguém olhando. É o superego de que fala Freud, que vê tudo, mandando recado
para o sonhador: "estou de olho em você, seu dissimulado". O
neurótico não consegue distinguir claramente amigos de inimigos, alerta Karen
Horney; apesar de desejar ajuda do analista e pretender chegar a uma
compreensão de si próprio. Ao mesmo tempo, tem de combater o analista como um
intruso perigosíssimo, pois pode desvendar seu lado sombrio, por isso procura
desorientar o analista. É como se estivesse perante um tribunal, com medo de
ser visto como um criminoso. É um sentimento ambivalente: tem amizade e ao
mesmo tempo ódio do analista por intrometer-se nos seus pensamentos e
sentimentos ocultos. Medo e ansiedade de ser desmascarado e rejeitado. Alguns
conseguem, sem ajuda psicoterápica perder sintomas neuróticos, principalmente se
sobrevivem a alguma situação adversa de
gravidade, como um acidente, perda de bens etc.
Mas há momentos da vida em que só se consegue
superá-los se recebe a Graça da Fé. Ter fé