Este texto
foi inspirado no artigo O GOLPE DO ZÉ TROVÃO de FERNANDO SCHÜLER, publicado na
VEJA número 38
“No mundo da fantasia política, há basicamente dois golpes em curso no país. Um deles, mais discreto, seria dado no “quartinho escuro” Da Justiça Eleitoral. Alguém manipularia as totalizações de votos e arranjaria os resultados, segundo os interesses do “sistema”. O outro, seria dado pelo próprio presidente. Ele vem alardeando desde o início do governo.... Bolsonaro fecharia o Congresso, sob o pretexto de combater as facções criminosas, e que ele seria o “Chávez brasileiro”. Por obvio, nada disso aconteceu. O último 7 de Setembro talvez tenha sido o evento mais engraçado. Anunciado por setores da imprensa como “atos golpistas”, seu grande tema, no dia seguinte, foi a palavra “imbrochável”, dita pelo presidente.
O curioso dessas teorias é que ninguém sabe dizer como daria o tal golpe. Alguns imaginam algo como aqueles cabeças de chifre, no Capitólio; outros imaginam Bolsonaro entrincheirado no palácio, agarrado à faixa presidencial, mas tudo soa um tanto bizarro.
A boa notícia é que em dois ou três meses saberemos a resposta. Se o golpe acontecer, seremos já uma “abjeta ditadura”, parafraseando o ex-ministro Celso de Mello, quando o Carnaval chegar.
Sejamos claros: ninguém acredita, lá no fundo, em golpe nenhum. Para que isso efetivamente acontecesse, seria preciso que as Forças Armadas topassem rasgar a Constituição, ao custo de extrema violência, e mesmo assim com baixíssima probabilidade de sucesso. Não há nenhum sinal nessa direção, nem racionalidade alguma em uma ideia infantil como essa. Em todos esses anos, confesso só me lembrar de uma pessoa que realmente parece ter acreditado no golpe: o Zé Trovão, o líder caminhoneiro mais bolsonarista que o Hélio Negão e Carla Zambelli misturado. Eu mesmo vi, em uma live, quando cobria a greve dos caminhoneiros, em torno do 7 de Setembro do ano passado. O vídeo mostra o Zé Trovão chateado não acreditando que Bolsonaro tinha mandado a turma liberar as estradas e ir trabalhar. “Então não era para valer?”, ele parece dizer. “A gente faz tudo, eu vou preso, e fica tudo por isso mesmo?...
Bolsonaro assinou aquela cartinha pedindo desculpas, e a vida seguiu seu curso. Só não para o Zé Trovão. Ele teve um mandado de prisão, acusado de “atentar contra a democracia”, foi parar no México, perdeu seu trabalho, dinheiro, até que resolveu voltar e se entregar à Polícia Federal. Ficou em cana por algum tempo e depois foi liberado, com direito a uma tornozeleira, e hoje anda meio esquecido talvez com a vaga sensação, lá no fundo, de ter sido o único que acreditou.”
Ela cumpre papel similar ao que cumpriu o “medo do comunismo”, ou o medo de que “Lula faria do Brasil uma Venezuela”. Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/fernando-schuler/o-golpe-do-ze-trovao/