Os homens
públicos devem pensar mais no país do que em seu próprio destino,
por Theodiano Bastos
por Theodiano Bastos
Com a prisão de Rocha Loures pela Polícia Federal em Brasília, a situação de Temer ficou insustentável, e só lhe resta o ato de grande da renúncia para não prejudicar ainda mais o Brasil.
Ex-deputado federal e ex-assessor especial de Temer foi gravado em vídeo pela PF correndo após supostamente ter recebido mala com R$ 500 mil.
A PGR chama Rocha Loures de 'longa manus' de Temer, isto é, quem atua como executor das ordens de outro.
O ex-deputado se encontra na Superintendência Regional da PF na capital federal. Segundo a Polícia Federal, não há previsão de transferência.O advogado de Rocha Loures, Cezar Bitencourt, argumentou em sua defesa ao ministro Fachin, relator da Lava Jato no STF, que a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou a prisão de seu cliente com objetivo “forçar delação” premiada.
A prisão de Rocha Loures havia sido pedida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato. A captura de Rocha Loures foi negada por Fachin. O ministro do STF havia alegado a imunidade parlamentar de Rocha Loures para não autorizar a prisão.
O coronel das sombras
Polícia Federal encontra recibos de despesas de
familiares de Temer no escritório de um dos acusados de receber propina
Revista VEJA, Por Rodrigo Rangel
“O coronel João Baptista Lima Filho é amigo de longa data do
presidente da República. Ele assessorou
Michel Temer quando o peemedebista assumiu pela primeira vez a
Secretaria da Segurança Pública do governo paulista, ainda nos anos 1980. Desde
então, a relação entre os dois estreitou-se. “Coronel Lima” ou “doutor Lima”, como é conhecido, virou homem de
confiança do presidente: por muitos anos atuou em campanhas, muitas vezes no
papel de coordenador dos comitês eleitorais de Temer, e ajudou a resolver
problemas da família. O militar, de 74 anos, sempre prezou pela discrição.
Fotografias dele são raríssimas. Mais raras ainda são imagens em que aparece ao
lado de Temer. Ele é, no dizer que pessoas que o conhecem, um homem que prefere
a sombra aos holofotes. Há três semanas, sua rotina quase monástica sofreu um
revés. Ele virou alvo da Lava-Jato. Agora, ao lado do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures e de outros
auxiliares de Temer também sob investigação, o coronel é peça-chave do
tabuleiro que pode definir o destino do presidente.
O coronel aposentado entrou no
radar da Lava-Jato com a delação da cúpula da JBS. Ricardo
Saud, o caixa-forte do grupo, contou aos procuradores que, na reta final da
campanha de 2014, mandou entregar 1
milhão de reais em espécie na sede de uma das empresas do militar. O
dinheiro, segundo o delator, era parte de um acerto de 15 milhões de reais
feito com o presidente e foi entregue ao coronel em espécie “conforme indicação
direta e específica de Temer”, nas palavras de Saud. Os investigadores foram
atrás do amigo do presidente. Em seu escritório, encontraram ao menos três
pacotes de documentos que fizeram surgir a suspeita de que o coronel, além da
acusação de receber propina, seria encarregado de resolver pendências
financeiras ao clã presidencial.
Entre os pacotes, havia comprovantes de pagamento e recibos de
despesas de familiares e também do próprio presidente da República. Em
uma caixa plástica azul guardada no subsolo do prédio onde funciona a empresa
de João Baptista Lima Filho, também havia recibos de pagamentos de serviços
executados durante a reforma da casa da psicóloga Maristela de Toledo Temer Lulia, uma das três filhas do
presidente. Entre os papéis, havia ainda comprovantes de pagamentos
antigos ligados ao presidente (um deles, de 1998), planilhas com “movimentações
bancárias”, programação de pagamentos do escritório político do então deputado
Michel Temer e uma coleção de reportagens “sobre corrupção e casos de propina”,
como anotou o responsável pela busca.
Todo o material foi encaminhado
para a sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Temer nega ter
qualquer relação financeira, pessoal ou familiar, com o amigo coronel Lima.”
“A crise atingiu sua gravidade máxima quando, nas discussões que ocorrem de norte a sul do país, as duas palavras mais pronunciadas são “renúncia” e “impeachment”. Em todas as rodas de deputados, senadores, empresários, juristas ou jornalistas, fala-se na possibilidade de uma ou de outra saída — e assim tem sido desde que o jornal O Globo revelou o conteúdo da delação do empresário Joesley Batista, dono da JBS. Numa conversa gravada, Temer dá a impressão de aprovar a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, preso há sete meses. Em outra conversa, Temer inicia uma negociação com seu interlocutor, que resultou mais tarde no pagamento de 500 000 reais em dinheiro vivo.
"As névoas estão no plano político. Com uma suspeita séria, o presidente fragilizou-se. É nesse contexto, emoldurado por um estado de perplexidade nacional, que aparecem as palavras “renúncia” e “impeachment”. Discute-se se alguma das duas alternativas poderia oferecer uma saída para o caos em que o país foi jogado por suas altas esferas. A que o presidente Michel Temer está buscando não é nenhuma delas: é permanecer no Palácio do Planalto.
Seja qual for a saída
encontrada, nesta hora grave é preciso grandeza — e não apenas do presidente.
Grandeza dos homens públicos que ocupam os postos centrais do poder nacional.
Grandeza para que, em busca de uma solução para o delicado momento que o país
vive, sejam capazes de pôr os interesses do Brasil acima dos interesses
pessoais, de modo que o país possa seguir em frente, superar as dificuldades,
romper as amarras da recessão, aprovar as reformas estruturais, cumprir a
caminhada rumo à modernidade, libertar-se da mediocridade econômica e — enfim —
dar ao povo brasileiro a oportunidade de construir uma vida justa e digna.
Para que esse sonho, ao mesmo tempo grande e
singelo, possa se realizar, os homens públicos devem pensar mais no país do que
em seu próprio destino. Os fatos mostram que, hoje em dia, talvez não haja
pregação mais inútil do que pedir gestos de desprendimento aos políticos
brasileiros, eles que têm dado provas tão contundentes de desprezo à ética e à
decência. Mas o Brasil precisa perseverar, precisa de serenidade para encontrar
a saída que pareça menos traumática e mais correta. Os milhões, os múltiplos
milhões de brasileiros que lutam honestamente por uma vida decente não merecem
ser punidos pela incompetência política e pela mesquinharia dos poderosos.”
Fonte: http://veja.abril.com.br/