Deputado do ES cala
plenário e arranca aplausos durante discurso
O deputado federal Felipe
Rigoni se apresentou aos colegas de plenário e contou a história de vida. Ele
pediu que as decisões sejam justas e que a população seja priorizada
Felipe Rigoni, deputado federal eleito pelo
Espírito Santo, durante visita ao Congresso
Durante discurso no Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, nesta
quarta-feira (20), o deputado federal eleito no Espírito Santo pelo Partido
Socialista Brasileiro (PSB), Felipe
Rigoni, contou aos deputados sobre como ficou cego. Em seguida,
falou sobre superação, escolhas, as conquistas que ele teve até ser eleito e
também fez um apelo por um país mais ético, justo e desenvolvido para a próxima
geração. Durante o discurso e no final, Felipe arrancou aplausos dos deputados
com a fala motivacional.
Pessoal, boa tarde. Boa tarde
presidente. Primeiro, eu gostaria de agradecer a presença e a receptividade de
todos. Eu sou Felipe Rigoni, sou deputado federal pelo Espírito Santo, pelo
partido PSB e eu venho de Linhares, uma cidade ao Norte do Espírito Santo e,
como todos já devem ter percebido, eu sou cego, e eu não nasci cego, mas fiquei
cego depois de nove anos de muita luta contra vários problemas que me
aconteceram. No ano de 2006, eu comecei a perceber que a cada dia que passava
eu enxergava menos. A cada dia que passava todas as técnicas que eu usava para
enxergar melhor já não funcionava mais. Até que um dia eu estava numa aula de
português, e eu estava escrevendo um exercício. Um amigo meu virou pra mim e
falou bem assim: "Felipe, você acabou de escrever três vezes na mesma
linha". Eu olhei para o meu caderno e não enxergava, e foi nesse momento
que eu tive que virar pra mim e dizer: "Felipe, vamos parar de se enganar
(sic) por que você está cego. Não tem mais jeito". Eu reconheci a cegueira
naquele momento, mas eu não aceitei. Na verdade, eu fiquei muito revoltado. E
um certo dia, o meu pai me viu chorando na sala de casa, sentou do meu lado e
disse assim: "Felipe, lembra que você tem uma escolha", e eu não
entendi o que ele falou para mim, mas depois de um tempo, eu comecei a perceber
que, de fato, eu não tinha escolha sobre o que tava acontecendo comigo, mas sim
eu tinha escolha sobre a atitude que eu teria diante daquilo que me acontecia.
Anos depois, eu fui ler na filosofia mais fina o significado das palavras do
meu pai. O livro "Em Busca de Sentido", do Viktor Frankl, um autor
austríaco, ele diz que o ser humano pode se desfazer de qualquer coisa, menos
da liberdade de escolher que atitude tomar diante das circunstâncias. E foi com
essa percepção, que eu tinha liberdade de escolha, que eu me formei como melhor
aluno do curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Ouro Preto,
tendo liderado mais de 10 mil jovens no Movimento Empresa Junior.
Foi com essa
mesma escolha que eu acabei de fazer um mestrado em Políticas Públicas, na
Universidade de Oxford, na Inglaterra, e foi com essa mesma escolha que eu me
tornei líder do Movimento Acredito, do Renova BR, e que conquistei o voto de
84.405 capixabas nas últimas eleições. Mas porque que eu estou contanto essa
história? Além, claro, de me apresentar, é também para dizer, pessoal, que o
nosso País não vive um momento fácil, e para muitos de nós as escolhas não são
muitas. Só que milhões de brasileiros ainda acreditam que temos uma escolha. E
as eleições do ano passado mostraram que os brasileiros e brasileiras esperam
dessa casa uma nova atitude diante dos desafios do nosso País. Enquanto a gente
fica aqui obstruindo o andamento de projetos que concordamos só pra marcar uma
posição política, tem 60 milhões de brasileiros que estão endividados e quase
13 milhões que estão desempregados. Enquanto a gente defende projetos de
interesse pessoal, que sequer sabemos se faz sentido ou não, 100 milhões de
brasileiros sequer tem esgoto coletado, quiçá tratado. Enquanto a gente fica
fazendo ou situação pela situação, ou oposição pela oposição, tem cerca de 1,5
milhões de jovens fora da escola. Acredito que não foi por esse tipo de atitude
que os brasileiros depositaram esperança em nós no ano passado. Independente do
nosso campo político, pessoal, direita, esquerda ou centro, precisamos entender
que a gente precisa criar e, de fato, produzir uma gestão pública eficiente e inovadora,
não importa se a gente é minoria ou maioria, o que importa é que a gente
precisa promover igualdade e oportunidade especialmente através de uma educação
de qualidade para o nosso país. E pouco vale se a gente é governo ou oposição
quando o desenvolvimento socioeconômico do nosso país está em jogo. Nós
precisamos sim, pessoal, é nos debruçar sobre as evidências científicas que
existem sobre cada coisa, respeitando a vontade popular e, claro, entendendo as
consequências de cada política nos diferentes contextos do nosso país. Só
assim, construindo pontes e diálogo, é que a gente vai construir um país mais
ético, mais justo, mais desenvolvido e mais inclusivo para as próximas
gerações. Muito obrigado, presidente.
Primeiro deputado cego, Felipe Rigoni, ES defende
combate à corrupção e inclusão de pessoas com deficiência
O deputado eleito se reuniu nesta
quinta-feira (18) com representantes de áreas técnicas da Câmara para verificar
eventuais necessidades de adaptação da estrutura da Casa para que possa exercer
plenamente seu mandato
Felipe Rigoni, ES, quer maior interação com
cidadãos para garantir decisões melhores e mais eficientes
Felipe Rigoni (PSB-ES) é capixaba
de Linhares, tem 27 anos e, em 7 de outubro, recebeu mais de 84 mil votos, a
segunda maior votação para deputado federal no Espírito Santo. Primeiro
deputado federal cego, ele disse que terá mandato interativo com a população,
com foco no combate à corrupção governamental e na inclusão das pessoas com deficiência.
A cegueira total veio aos 15 anos
de idade, após várias cirurgias para conter uma inflamação ocular chamada
uveíte, detectada ainda na infância. Rigoni conta que, depois de uma difícil
adaptação à nova realidade, percebeu que sua independência só viria por meio da
educação. Formou-se em engenharia de produção pela Universidade Federal de Ouro
Preto, em Minas Gerais, e fez mestrado em políticas públicas na Universidade de
Oxford, na Inglaterra. Também já foi líder estudantil e do movimento de empresas
juniores.
Em 2016, Rigoni perdeu a eleição
para vereador de Linhares, mas agora chega à Câmara dos Deputados, depois de
ter passado pela organização não governamental RenovaBR, movimento de apoio à
formação de novas lideranças políticas.
Felipe Rigoni afirma que sua eleição foi resultado do trabalho de mais de 2 mil
voluntários que o ajudaram nas campanhas de rua e pelas redes sociais.
"Eu vou ter um mandato
compartilhado e um conselho parlamentar, com pessoas da sociedade civil e
especialistas. Também vou ter um aplicativo de interação direta com a população
capixaba, para a qual fui eleito para representar”, declarou.
O deputado eleito diz que terá
três grandes linhas de atuação: a eficiência do governo, com combate à
corrupção, transparência e participação popular para garantir decisões melhores
e mais eficientes; a educação básica, com enfoque na inclusão e na diversidade,
por conta de sua deficiência e das necessidades das pessoas com deficiência e
de outras minorias; e o fortalecimento da economia.
Acessibilidade
na Câmara
Rigoni se reuniu nesta quinta-feira (18) com representantes de áreas técnicas
da Câmara dos Deputados para garantir uma atuação parlamentar eficiente desde a
posse, prevista para 1° de fevereiro de 2019.
Algumas readequações na estrutura
da Casa e nas tecnologias assistivas já disponíveis vinham sendo articuladas,
mas a coordenadora de acessibilidade da Câmara, Adriana Januzzi, citou o lema
da Convenção sobre Direitos da Pessoa com Deficiência – "nada sobre nós sem
nós" – para ressaltar a necessidade de uma conversa direta com o deputado
eleito em busca da superação de demandas específicas.
“Teremos que adaptar alguns sistemas para
fazer a conexão com o software de leitura de tela que ele usa. Vamos trabalhar
a colocação de piso tátil e mapas táteis em alguns locais. E estamos
trabalhando em um projeto de GPS interno – que funciona por bluetooth –
e que também vai ajudar muito na locomoção e na mobilidade das pessoas. A gente
já tem placas de sinalização em braile, e o nosso site é acessível. Desde 2004,
atuamos para que os ambientes, produtos, serviços e informações da Câmara dos
Deputados sejam acessíveis a pessoas com todos os tipos de deficiência",
disse Adriana Januzzi.
Felipe Rigoni terá direito a
apartamento funcional e a gabinete parlamentar adaptados para cego e também
acessíveis a pessoas com outros tipos de deficiência que quiserem entrar em
contato com ele.
Inclusão
Além de receber visitas de deficientes visuais diariamente, a Câmara dos
Deputados tem, atualmente, dois servidores e um estagiário cegos, além de
vários outros funcionários com baixa visão.
Recentemente, a Casa teve três
deputados cadeirantes – Walter Tosta, Rosinha da Adefal e Mara Gabrilli
(PSDB-SP), que ainda é deputada. Nos últimos anos, a Câmara tem ampliado a
instalação de rampas, elevadores adaptados e triciclos motorizados nas
portarias. Vigilantes, brigadistas e atendentes dos restaurantes e lanchonetes
passam por capacitações frequentes.
A TV Câmara conta com linguagem de libras e legendas em tempo real para surdos.
E nos plenários das comissões, a tecnologia assistiva de aro magnético facilita
a comunicação dos usuários de aparelhos auditivos. http://www2.camara.leg.br/ Reportagem –
José Carlos Oliveira Edição – Pierre Triboli