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O LADO SOMBRIO DA SENHORA M Theodiano
Bastos (*)
“Os males que a mente causa, a mente cura” Karen
Horney
Certa vez um colega, também psicanalista,
encaminhou-me sua esposa pedindo ajuda-la a superar os traumas da infância. Ele
não conseguia ter certeza de que ela era inteligente ou uma abestalhada;
com sintomas de oligofrênia. Ele achava que homem não conhece as mulheres, somente as mulheres
podem decifrá-las.
Apaixonados, casaram-se ainda jovem e tiveram 5
filhos, todos bonitos, sadios e inteligentes que geraram 5 netos, todos bonitos,
sadios e inteligentes. M vivia para agradar e por isso era muito sensível a
qualquer tipo de crítica ou mesmo a alguma palavra que ela interpretasse como
crítica, daí o marido pisar em ovos ao falar qualquer coisa. Mas
administrava a relação com muita paciência, tolerância e compaixão.
O colega tinha
dificuldade de lidar com a esposa, a quem muito amava e admirava muito por suas qualidades de excelente mãe, avó, esposa e amiga. Mas temia seu lado sombrio, pois tinha a mais perigosa das agressividades, a dissimulada. Como todos nós, tinha seu lado negativo, com duas
personalidades e nunca conseguiu colocar sua sombra na frente para ter controle
sobre ela. O relacionamento demandava muita paciência e tolerância. Das 5
irmãs, somente M foi feliz no casamento. A diferença é que M se casou com um
psicanalista. Era uma senhora bonita e muito bem conservada aos 50
anos e com um corpo bem feito apesar de tido 5 filhos.
Justamente
por ela não saber controlar seu lado masculino, em casa, na relação com o
marido, é tão irritante e ter dificuldade no diálogo, sempre terminando em
discussão.
No princípio cheguei a concordar como o colega, mas ao
analisar seus sonhos, passei a duvidar, pois eram sonhos de uma pessoa
inteligente, mas desvendei o mistério: era puro fingimento, ela se fingia de burra. Seu o pai era um homem honrado e trabalhador, mas um homem rude e violento, que
costumava bater nas filhas com chicote de cavalo, falava: — não manda essa tapada
que não sai nada. Mas ela nunca chegou a ser chicoteada.
O conhecido é uma pessoa de pouca inteligência se
esforçando para cumprir as tarefas e nesse caso ela era inteligente, mas se
fingia de burra, o que é incomum e só vi um exemplo parecido relatado por Karen Honery no seu magnífico livro “A Personalidade Neurótica de Nosso Tempo”, páginas 138 e 175.
Pelos sofrimentos na infância, M tinha passado a se
fingir de burra para viver, como dizia, o que
acabou revelando para minha surpresa. Passou a ter dupla personalidade, um lado
sadio, cativante e inteligente passou a conviver com um lado sombrio,
assustador, temido pelo marido, pois a esposa não tinha domínio sobre sua
sombra e não sabia do que ela era capaz, daí seu temor de que ela viesse a
fazer alguma besteira no entardecer da vida.
Mas
a colega conseguiu curá-la com a catarse que é a purificação pela descarga
emocional associada à vivência indireta dos traumas; a cura pela fala.
A causa do rompimento de Jung com Freud teve origem no conteúdo do livro “O EU E O INCONSCIENTE”, editora Vozes, no qual C.G. Jung consegue
provar que o inconsciente tem autonomia e consegue levar uma pessoa a cometer
atos contrários a seu consciente, enquanto Freud afirmava que o inconsciente
não tem esse poder.
O ESPÍRITO DO
ENGANO religioso ou a sombra, o segundo eu de todos nós da psicanálise. No
homem, seu lado feminino, seu lado sombrio é “anima”; já na mulher, sua sombra
é “animus”, seu lado masculino.
O alerta está no Pai Nosso, a única oração deixada
por Cristo: “E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.
Cabe perguntar: de
onde vem essa tentação?
—
É de dentro de nós mesmo, quando o inconsciente se apodera do consciente, pois
infelizmente não se tem um antivírus para impedir que esse Mal se manifeste no
ser humano e aí as tragédias acontecem. Leiam o que segue:
“Os termos anima e animus são amplamente conhecidos por
aqueles que estudam, ou apreciam, a teoria de Carl Jung.
Para entendermos esses termos é
importante lembrar que todos nós carregamos uma quantidade pequena de hormônios
do sexo oposto em nosso organismo.
Consciente disso, Carl Jung teve
a percepção de que todos nós também carregamos em nossa psique nossa
contraparte sexual, e nelas estão encerradas as qualidades inerentes ao sexo
oposto, mas que não são conscientes. Jung percebeu também que conforme os
traços psicológicos de cada indivíduo, as tendências do sexo oposto vão sendo
reprimidos e se acumulando no inconsciente.
Anima e animus foram então
definidos para designar essas partes reprimidas do sexo oposto em nossa psique.
Sendo a anima a contraparte feminina da psique do homem e animus a contraparte
masculina na psique da mulher.
Jung (o eu e o inconsciente) diz
que a anima, sendo feminina, é a figura que compensa a consciência masculina. Na
mulher, a figura compensadora é de caráter masculino e pode ser designada pelo
nome de animus.
Jung diz: “A anima, sendo feminina, é a figura que compensa a
consciência masculina. Na mulher, a figura compensadora é de caráter
masculino, e pode ser designada pelo nome de animus” (Obras Completas C G. Jung, Vol.VII, §328).
Mais tarde, Jung enriqueceu sua definição de anima e animus chamando-as de “não eu”, está fora de si próprio, pertencente à sua alma ou espírito.
Entramos em
contato com a anima e animus com a projeção
sobre uma pessoa do sexo oposto. São eles os responsáveis pela paixão súbita e
a sensação de destino que isso acarreta. Por essa razão, o ato de se apaixonar
é tão vivificante para as pessoas.
” https://www.fasdapsicanalise.com.br
E o que espera é que as pessoas tenham aquela
experiência a que os filósofos Zen dão o nome de "satori"; a abertura
de um terceiro olho, para que o mundo já conhecido seja de novo conhecido como
nunca foi".
“Satori significa literalmente entender, em
japonês. É uma iluminação, uma expansão da Consciência equivalente aos termos
sânscritos Nirvana e Samadhi, usados na Índia para indicar
a mente calada nos seus 49 níveis. A consciência se projeta no plano
mental, além do espiritual, se fundindo ao TODO, liberando-se do conceito de
tempo, espaço e forma. Nos dizeres de Suzuki: "O Satori é uma
espécie de percepção interior - não naturalmente a percepção de um objeto
específico, mas, por assim dizer, a faculdade de sentir a verdadeira realidade.
É uma percepção de ordem mais elevada." Geralmente
usa-se os termos Satori ("entender") e Kensho ("despertar")
para definir a mesma experiência. O Kensho é uma breve expansão da consciência,
onde temos um pequeno vislumbre da verdadeira natureza das coisas. Terminado o
Kensho, retornamos ao adormecimento profundo na nossa mente, que em si forma o
EGO. Já o Satori é usado para um estado de iluminação
mais profundo e duradouro.” Fontes: https://psicoterapiajunguiana.com/ http://www.saindodamatrix.com.br/
A psicanalista e terapeuta brasileira
Rosilane Josej Perelberg, professora de psiquiatria em Londres, alerta em sua
entrevista no Jornal do Brasil, como o sexo afeta a vida das famílias e suas
implicações sobre doenças mentais em seus membros.
Isso vem a propósito de dramas familiares
conhecidos na vida. Alguns tendo como pivô a mulher com o perfil destrutivo,
popularmente conhecida como mulher “tomba-homem", isto é, que atrai os
homens com risinhos nervosos, tendo como objetivo secreto e compulsivo
destruí-los. "Engraçado, disse-me uma delas confidencialmente no
consultório: Homem nenhum nunca me fez mal e, no entanto, odeio os homens".
Esse mal também atinge alguns homens que odeiam as mulheres, sem que nenhuma
delas lhes tenham feito algum mal, são os misóginos, os que têm desprezo ou
aversão às mulheres, ao casamento e a compromissos sérios com as mulheres.
Homens e mulheres com esses
problemas deveriam ter a humildade de procurar um psicoterapeuta e resolver
seus conflitos interiores, no mais comum das vezes fruto da desagregação
familiar e seus traumas na vida da criança. Tudo isso tem origem no relacionamento
entre os pais, no seio familiar, na usina psíquica que é a família. Freud já
alertava: Quando um homem e uma mulher se relacionam na intimidade, não é um
relacionamento entre duas pessoas, mas na verdade entre seis, pois cada um leva
dentro de si o pai e a mãe, as influências recebidas no relacionamento entre os
pais. É esse conflito mal resolvido que dá origem ao "segundo eu", ou
seja a sombra, o lado negativo da personalidade de cada um de nós. O inimigo
dentro de nós. “O pior inimigo está dentro de nós
mesmos”.
Se a mulher teve um pai tirânico, que dominava a mãe sadicamente,
que nunca assistiu no lar uma cena de amor, ternura e carinho entre os pais,
certamente terá um relacionamento conflituoso e compulsivo com o sexo oposto,
fruto do conflito interior mal resolvido, porquanto o pai é o primeiro homem na
vida de uma mulher. E pelo complexo de Eletra ela se apega ao pai e no íntimo
costuma ser rival da mãe. Já no caso do homem, de acordo com o complexo de Édipo, ele se apega à mãe e no fundo é um rival
do pai. É da natureza humana, queira-se ou não.
É um ato de compaixão e sabedoria aceitarmos as fraquezas
e as enfermidades da alma de nossos pais, lamentando o relacionamento
conflituoso que tiveram e deram origens às neuroses dos filhos. A visão cristã diz que o homem
nasce com o pecado original. Isso não significa que o homem é inevitavelmente
mau, mas que tem de lutar contra o mal dentro de si.
Devemos sempre lembrar, daí a necessidade dos
que sofreram na infância procurarem o socorro psicoterápico, pois o conflito
interior não resolvido, é como um vírus no computador que alguém contagia com o
objetivo de causar danos, tão logo seja acessado o arquivo ou dado para
desencadear uma seqüência destrutiva guardada na memória do equipamento. Assim
também na mente humana. Está tudo arquivado na memória inconsciente e tão logo
surja algum acontecimento ou mesmo vaga referência ao trauma vivido, é disparado
das profundezas do inconsciente, numa seqüência incontrolável e compulsiva de
reações que a consciência não consegue evitar ou controlar.
Sobre a conexão entre a psiquiatria e a
psicanálise, diz o Prof. Guy Briole, da Universidade de Paris e membro da Associação
Mundial de Psicanálise, alerta: “a medicação não resolve o problema da ideia
fixa alucinatória de perseguição que o paciente vivencia. Somos contra a
posição ‘tome o remédio e cala-te’ e defendemos o posicionamento ‘tome o
medicamento para sofrer menos e fale’, ressalva. Os psiquiatras não escutam os
doentes. ‘Hoje em dia eles falam mais que os próprios pacientes”.
Enfim, os psicanalistas somente ajudam a
pessoa a encontrar as respostas que estão nelas mesmas.
(*) Theodiano
Bastos é escritor, autor dos livros: “A
Procura do Destino”, “O Triunfo das
Ideias), “Brasil, O Lulopetismo no
poder e os mitos políticos no Brasil”, “Liderança, Chefia e Comando”, “Pegadas
da Caminhada e “O Enigma de Jotapê”. Coordenador e introdutor das
antologias: “Resgate da Família:
alternativa para enfrentar sua dissolução, a violência e as drogas”, “Corrupção, Impunidade e Violência: O que
fazer?”, “Globalização é Neocolonialismo? Põe a Ciência e a Tecnologia a
Serviço do Social e da Vida” e “Um Novo Mundo é Possível? e “Para Aonde Vamos?”
Esse
texto está na Internet no Blog O
PERISCÓPIO (theodianobastos.blogspot.com.br)