PARAÍSO PERDIDO,
por J. R. Guzzo
Publicado
na edição impressa de VEJA 13/01/16
Onde foi parar neste começo de
2016 o “carrinho novo” que, segundo o ex-presidente Lula, o operário brasileiro
finalmente teve dinheiro e crédito para comprar, por conta das virtudes de seu governo?
Onde andariam todos os trabalhadores humildes que deixaram “a elite
inconformada” por começarem a viajar de avião, pela primeira vez na história
deste país? Onde poderia estar circulando neste momento o “Trem-Bala” que,
segundo Lula garantiu mais de uma vez, seria inaugurado dali a pouquinho e
calaria a boca dos que “torcem contra” o governo? Alguém já conseguiu tirar uma
caneca de água da transposição do Rio São Francisco? O que aconteceu com a
conta de luz barata e com a lição de economia que a presidente Dilma Rousseff
deu ao planeta em 2013? O Brasil, assegurou ela, acabava de provar que era
possível, sim, crescer, distribuir renda, baratear a vida para os pobres e ter
finanças sadias, tudo ao mesmo tempo, “em meio a um mundo cheio de dificuldades”.
Não só isso. Seu governo acabava de colocar o Brasil numa “situação
privilegiada” perante a comunidade das nações, com “energia cada vez melhor e
mais barata, mais que suficiente para o presente e o futuro”. Os “pessimistas”
tinham sido derrotados, informou Dilma.
E os juros? Na mesma ocasião, a
presidente comunicou que “os juros estão caindo como nunca” ─ e hoje? Outra
coisa: sabe-se da existência de algum posto onde seria possível comprar
gasolina barata, feito de que o governo tanto se orgulhava até o encerramento
da eleição presidencial de 2014? O Brasil entrou, afinal, na Opep, como Lula
previa diante da nossa transformação em potência na produção de petróleo?
Aliás, por falar nisso, quando foi a última festa para comemorar mais uma
descoberta do “pré-sal”, com Lula e Dilma fazendo aquelas marcas pretas de óleo
nos uniformes cor de laranja com que eram fantasiados? Procuram-se notícias,
também, do real forte ─ tão forte que iria dispensar o dólar nas transações
internacionais do Brasil, pelas altas análises do Itamaraty. Seria interessante
saber onde foi parar o investment grade que as grandes agências mundiais de
avaliação de risco deram ao Brasil pouco tempo atrás ─ prova definitiva,
segundo o governo, de que o mundo capitalista enfim se curvava diante da gestão
econômica de Lula, Dilma, PT e de suas “políticas sociais”. O mesmo se pode
perguntar em relação ao “gostinho” declarado pelo ex-presidente em ver o
Primeiro Mundo em “crise” e o Brasil correndo para o abraço. Onde está “o pleno
emprego”? Onde está a “Pátria Educadora”? Onde está o maior programa de
distribuição de renda já visto na história da humanidade?
Nada disso se encontra disponível
no presente momento. Carrinho novo? A indústria automobilística acaba de ter,
em 2015, o pior desempenho em quase trinta anos ─ isso mesmo, desde 1987, nas
remotas profundezas do governo José Sarney. As companhias de aviação estão de
joelhos; se estão perdendo até os passageiros ricos, imagine-se os pobres. A
energia barata virou uma piada: as contas de luz subiram 50% em 2015, e vão
subir de novo neste ano. Os juros andam perto de 15% ─ um paraíso mundial para
os “rentistas” com os quais a esquerda brasileira tanto se horroriza nos
discursos e a quem tanto favorece na vida real. No assunto petróleo, o que se
tem, acima de tudo, é uma Petrobras que o governo quebrou, por ladroagem e
incompetência, e hoje não tem dinheiro para investir nada; na verdade, ela
jamais deveu tanto. O real perdeu 50% do seu valor no ano passado, e voltou,
após mais de vinte anos, à sua condição de moeda bananeira. O governo presidiu
uma recessão de 3,5% em 2015 ─ isso em cima de crescimento zero em 2014 ─ e
prepara-se para socar na economia outro recuo neste ano, de 2,5% ou mais. Há 10
milhões de desempregados neste país, no corrente mês de janeiro. O último IDH,
uma das medidas mundiais mais respeitadas para avaliar o bem-estar dos países,
deixou o Brasil em 75º lugar ─ e quem pode achar que está bem, em qualquer
coisa, se fica no 75º lugar? O investment grade sumiu: como o Senhor, na
Bíblia, a Moody’s, a S&P e a Fitch dão, a Moody’s, a S&P e a Fitch
tiram.
É este o país que resultou, na
prática, dos treze anos de Lula, Dilma e PT. Ninguém no governo tem a menor
ideia de como sair disso ─ nem poderia ter, quando o seu único objetivo, hoje
em dia, é ficar de bem com o senador Renan Calheiros e traficar no Congresso um
jeito para escapar do impeachment. Daí só se pode esperar que as coisas
continuem piorando, piorando, piorando ─ até que chega um dia em que continuam
a piorar
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