PREOCUPAÇÃO E ESPERANÇA
Por CRISTOVAM BUARQUE
Explosão social pode ser percebida na
violência urbana
Olhando do início de 2016, a
sensação é de caminharmos para uma decadência econômica, uma explosão social,
um caos político, uma degradação moral; e duas esperanças.
A decadência econômica se observa
na desindustrialização com primarização do PIB; sucessivos anos de recessão;
regressão na posição entre os países do mundo; incapacidade de inovação; baixa
competitividade; ausência de produtos de alta tecnologia; déficits públicos
estruturais crescentes; educação básica deficiente, ensino superior fraco e
desvinculado do setor produtivo, sistema nacional de ciência e tecnologia
atrasado, empresários com aversão ao risco, sem gosto por inovação, dependente
do protecionismo; baixa taxa de poupança, burocratismo, instabilidade jurídica,
um sistema previdenciário estruturalmente deficitário e nada incentivador do
trabalho; quebra de confiança, leis trabalhistas antiquadas e prejudiciais ao
trabalhador contemporâneo. Tudo a indicar muito mais do que uma simples crise
que passaria em alguns meses, mas um longo processo de decadência que pode
durar muitos anos.
A explosão social pode ser
percebida na violência urbana, que já caracteriza uma guerra civil; na
desarticulação do sistema de saúde, na insalubridade, da qual o vírus zika é um
exemplo dramático, mas não excepcional, na falta de água encanada e esgoto, no
descaso com a infância, na baixa escolaridade; na ausência de forças sociais
aglutinadoras, na violência contra mulheres e crianças; em uma Constituição com
profusão de direitos e ausência de deveres; na generalização do uso de álcool e
outras drogas.
O caos político refletido na
falta de credibilidade nos poderes Executivo e Legislativo; partidos
desmoralizados, sem propostas, sem identidades ideológica e moral entre seus
filiados, juventude descrente, sem causa, sem utopias, judicialização e instabilidade
legal, falta de espírito público entre os políticos, ausência de patriotismo,
corporativização do processo eleitoral e legislativo.
A degradação moral é percebida na
generalização da corrupção; nos péssimos exemplos dos líderes; na apologia ao
jeitinho; na valorização do individualismo; na legitimação da prática da
vantagem a qualquer custo; e no desprezo ao mérito.
A primeira esperança vem da
descoberta dos erros cometidos: punição a políticos corruptos; na certeza de
que o ilusionismo vinha conduzindo a economia, com jogadas de marketing e
contabilidade criativa; na percepção da necessidade do equilíbrio fiscal e de
que a dinâmica econômica no século XXI não vem de subsídios fiscais aos setores
ineficientes, mas da promoção da eficiência e da inovação. A segunda esperança
vem da consciência de que não basta retomar o crescimento, é preciso reorientar
o rumo do país para um novo tipo de progresso, baseado, sobretudo, na educação
de qualidade para todos.
Cristovam Buarque é professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF
Fonte: noblat.oglobo.globo.com/
09/01/16.
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