PARA ONDE VAMOS?
Não
há mais nenhuma dúvida de que no Brasil há sinais alarmantes de que o país pode
estar vivendo um processo de ruptura social muito grave.
O morte
do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, da TV Bandeirantes, provocada por
membros do Black Block. Ele foi atingido na cabeça por um rojão no dia 06/02/14,
quando registrava o confronto entre manifestantes e policiais durante protesto
contra o aumento da passagem de ônibus, no Centro do Rio.
R$
150,00 PARA PROMOVER QUEBRA-QUEBRAS
O advogado
Jonas Tadeu Nunes, que defende Caio Silva de Souza e Fábio Raposo, ambos
indiciados pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, disse, em entrevista à
Globonews, que jovens de famílias pobres, como Caio, vêm recebendo R$
150 para participar de cada uma das manifestações no centro da cidade. Ele não
especificou quem faz os pagamentos, mas acusou partidos políticos de
envolvimento.
Fonte:
http://www.estadao.com.br/
E há o
movimento para impedir a realização da Copa, 70 ônibus foram depredados em São
Paulo em 40 dias e 41 foram incendiados, alguns articulados, torna imprevisível
o que vem por aí.
"A taxa
de desemprego entre os que têm de 16 a 24 anos, subiu de 14,6% para 15,3% em
junho, mais do que o dobro dos 6% registrados para a média de todas as idades,
de acordo com dados divulgados ontem pelo IBGE. O contingente de jovens
desempregados atingiu 579.974 pessoas, o equivalente a sete Maracanãs lotados."
Gaudêncio
Torquato,
jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação, diz:
“Qual a relação entre
a expansão da criminalidade e a insatisfação social? Tudo a ver, seja na visão
da corrente sociológica seja na perspectiva da vertente econômica.
A primeira argumenta
que a queda da desigualdade entre classes diminui a insatisfação social, fazendo
refluir a violência; a segunda levanta a hipótese de que o ganho com ações
ilegais diminui ante o aumento da renda das famílias.
Vejamos, agora, os
dados de fundo: entre 2001 e 2011, a renda dos 10% mais ricos cresceu 16,6%; e
a renda dos mais pobres aumentou 91,2%. A numerologia positiva abriga, ainda,
19 milhões de empregos com carteira assinada e a badalada estatística de 35
milhões de brasileiros que, nos últimos 10 anos, ascenderam à classe média,
hoje somando 52%, ou seja, mais de 100 milhões de pessoas.
Diante da evidência
de que o país ganhou um dos maiores (e retumbantes) programas de distribuição
de renda da contemporaneidade, restaria fechar o parágrafo com aplausos ao
corolário: a violência diminui no país graças ao aumento do Produto Nacional
Bruto da Felicidade (PNBF).
Verdade? Não.
Trata-se de mais um sofisma.
A comunidade nacional
vive um clima de medo e insegurança. Por todos os lados, multiplica-se a marca
da violência.
A viseira que embute
alta satisfação não consegue esconder a coleção de crimes, cometidos nos
últimos tempos, os quais, pela inexcedível violência, puxam o Brasil para os
primeiros lugares do ranking mundial da barbaridade.
Basta ilustrar com as
estampas de casos que borram o maior cartão postal do Brasil, o Rio de Janeiro:
o estupro de uma americana, dentro de uma van, e a agressão contra seu namorado
francês; o assalto a três turistas argentinas nos Arcos da Lapa; mais recente,
o estupro de uma mulher, dentro de um ônibus, por um jovem de 16 anos, flagrado
por uma câmara de vídeo.
Em São Paulo,
expandem-se situações de extrema violência, como o que vitimou, há dias, um
empresário, que, meses antes, tentara fazer um boletim de ocorrência sobre
tentativa de assalto, sendo tratado com descaso pelo delegado.
Em Goiânia, morreu a
menina de 11 anos, baleada ao tentar defender o pai durante uma briga numa
pizzaria. A série criminosa é tão povoada de absurdos que o país começa a fazer
parceria com a Índia, onde, recentemente, uma criança de 5 anos morreu após ser
estuprada por dois homens.
O fato é que o
roteiro da maldade extremada não combina com o retrato de bem-estar com o qual
se procura apresentar o país.
O que explica o clima
de insegurança que permeia os mais diferentes espaços, das margens ao centro,
quando as trombetas da administração fazem ecoar hinos ao conforto social,
resultante de um programa-símbolo de distribuição de renda?
Ou será que, no caso
da criminalidade, não se pode usar o termômetro da igualdade/desigualdade
social para explicar o fenômeno?
A questão gera
polêmica e boa dose de contradição. Vejamos. A PUC do Rio de Janeiro fez um
estudo para o Banco Mundial, no qual mostra que a redução dos níveis de
desigualdade pelo Bolsa Família foi a principal causa da redução da violência
em São Paulo entre 2006 e 2009.
A expansão do
programa, segundo o pesquisador João Manoel Pinho de Mello, teria sido
responsável por 21% do total da queda de criminalidade. Em 2012, porém, o
número de homicídios em São Paulo cresceu 34% em relação ao ano anterior,
significando 1.368 mortes contra 1.019 em 2011.
No quadro geral da
criminalidade em todo o Estado, o incremento foi de 15%. Já no primeiro
trimestre deste ano, a capital registrou um aumento de 18% no número de
homicídios dolosos, na esteira de uma expansão que vem ocorrendo há mais de 8
meses.
Ante a aparente
contradição entre mais igualdade social e maior taxa de criminalidade, faz-se
necessário colocar no caldeirão da violência outros ingredientes, a começar
pela obsolescência do Código Penal, que escancara o descompasso entre a
brutalidade de crimes e penas brandas atribuídas.
O mesmo se pode dizer
do Estatuto da Criança e do Adolescente, que carece de atualização para
acompanhar os avanços tecnológicos e o instrumental formativo/informativo que
eleva as condições dos jovens.
A par de problemas
endógenos da estrutura policial – carência de casas de custódia e de presídios,
mandados de prisão descumpridos, grau elevado de letalidade nas intervenções
policiais, corrupção no meio etc – espraia-se pelo território o consumo de drogas
e álcool, na esteira da massificação dos produtos identificados com diversão e
ócio.
A morosidade da
justiça cria a sensação de impunidade. As brechas do sistema normativo
contribuem para a banalização de atos ilícitos. Que encontram terreno fértil para
prosperar nas camadas mais pobres, particularmente entre os jovens.
A extrema pobreza
atinge, hoje, 12.2% dos 34 milhões de jovens brasileiros, cujas famílias
auferem uma renda per capita de até ¼ do salário mínimo.
A conclusão é
inescapável. O Brasil se prepara com muito temor para sediar os dois mais
importantes eventos esportivos da era moderna: a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
A esta altura, deveria se empenhar para exibir a estética de seus estádios e
cidades e estender os braços do Cristo no Corcovado aos milhares de turistas
que para cá se deslocarão, eis que feias nódoas borram seus belos cartões
postais, gerando incertezas sobre a segurança dos visitantes.
Sejamos realistas.
... é pouco provável que tenhamos um clima social mais harmônico e um
território menos turbulento. Continuaremos a ser o país que concentra 3% da
população mundial e 9% dos homicídios do mundo. E que, nos últimos 30 anos,
registra mais de um milhão e 100 mil vítimas de homicídios.
Não é de espantar que
a onda de crimes cada vez mais hediondos esteja banalizada. Mataram mais uma
criança? Ah...! Estupraram mais uma moça? Oh...! O pai assassinado deixou
quatro filhos? Ih...! Ah, amanhã teremos mais.”
Míriam Leitão, O Globo
“A juventude está
em perigo em vários aspectos. A morte prematura dos rapazes ronda os jovens do
mundo inteiro. O desemprego dos jovens é alto até no Brasil, em que a taxa
geral está baixa. Na Europa, há o risco de haver uma geração perdida. E há os
jovens que não trabalham nem estudam. A juventude sempre esteve exposta a
riscos, mas agora eles se agravaram.
Por isso o Papa
Francisco acertou tão completamente quando chamou a atenção para os jovens.
Falar deles é natural sendo a Jornada Mundial da Juventude, mas o conteúdo do
que disse, tanto no avião quanto ao chegar ao Brasil, mostra que ele está
antenado com as aflições que cercam os jovens e que ameaçam a todos nós, por
serem eles os donos do futuro.
O
desemprego de jovens chega ao ponto calamitoso de 54% na Espanha. Na Grécia,
quase 60%, em Portugal, 42%. A média da Europa supera 20%. Fora dessa
devastação, só a Alemanha, com 7%, um número melhor do que o do Brasil, que, em
maio, registrou 13,6% de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos. A taxa geral
do país foi 5,8%.
A
Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um estudo recente mostrando
que a taxa mundial de desemprego entre quem tem 15 e 24 anos está em 12,6%. Ao
todo, são 73,4 milhões de jovens sem emprego. Como as estatísticas só registram
os que procuram trabalho, o número é pior porque muitos jovens nem procuraram.
O desalento,
a gravidez precoce, as drogas são algumas das causas. Um estudo do Ipea
registra que em 2010 havia oito milhões e oitocentos mil jovens brasileiros, de
15 a 29 anos, que nem estudavam nem trabalhavam.
As
gerações mais jovens no Brasil estudaram mais do que seus pais. Quem tem hoje
entre 20 e 24 anos estudou mais do que quem tem entre 40 e 50 anos. E está com
mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho. A frustração pode provocar
traumas e inseguranças que a pessoa carregará a vida inteira.
o
povo está nas ruas exigindo um novo Brasil. E não é só a política brasileira,
mas o Poder Judiciário, o Executivo. Ninguém se salva.”
Esse
movimento que vem das ruas, dos jovens estudantes, formará um crescendo que irá
se avolumando e, creio, trará um abalo profundo no que chamam de estabilidade
nacional. Se for bem equacionado, surgir um líder, poderá desaguar numa ruptura
com o sistema vigente e surgir uma nova democracia. Se não aparecer uma
liderança ao meio dessa gente revolta, os marginais da depredação, dos saques e
da violência tomarem conta, poderá degenerar numa ditadura, o que será muito
ruim e, se a mesa democrática virar de pernas para o ar, no Brasil, o resto das
nações latinoamericanas seguirão no rastro dos incêndios.
O que está
acontecendo é a frustração da sociedade diante do fracasso do PT no Governo,
do seu acasalamento com o PMDB, e mais 17 partidos políticos, para
transformar o Brasil nisso que está aí. Uma vergonha!, diz o senador Pedro
Simon. O velho Pedro Simon, do alto dos seus 84 anos, sendo 60 de vida
pública, merece ser ouvido. Ainda temos gente séria neste país.”
Estamos caminhando para o imprevisível.
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