sexta-feira, 21 de junho de 2013

MARGINAIS PROVOCAM ARRUAÇAS E SAQUES



'Que o clamor do povo seja ouvido!', diz CNBB

Agencia Estado, (21/06/13)
A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota pública em que presta solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas. "Sejam estas manifestações fortalecimento da participação popular nos destinos de nosso País e prenúncio de novos tempos para todos. Que o clamor do povo seja ouvido!", afirma a nota, subscrita pelo Conselho Permanente da CNBB.
Para a entidade, os protestos são "um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência". "Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos", diz a nota.
A CNBB afirma que as manifestações nasceram de forma "livre e espontânea" nas redes sociais e as mobilizações "questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num País com tanta desigualdade". A nota diz que é justa e necessária a reivindicação de políticas públicas para todos.
"Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo, testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim, renascer a esperança quando gritam: 'O Gigante acordou!'", afirma.
A entidade diz ainda que a presença do povo nas ruas, numa sociedade em que "as pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida", testemunha que é na prática de valores como a solidariedade e o serviço gratuito ao outro que encontramos o sentido do existir.
"A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana. As manifestações destes dias mostram que os brasileiros não estão dormindo em 'berço esplêndido'", diz a manifestação, assinada pelo cardeal Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB, Dom José Belisário da Silva, vice-presidente da entidade, e Dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário Geral da CNBB.



VANDALISMO EMPANA BRILHO DOS PROTESTOS
As manifestações de ontem começaram pacíficas no Brasil inteiro e depois ficaram mais violentas. Em 120 cidades, o povo foi para a rua para manifestar sua insatisfação generalizada contra tudo,  56.0% informaram isso na enquete realizada dia 21/06 pelo jornal O GLOBO.
Em Vitória/ES onde me encontro, mais de 100 mil foram às ruas e tudo transcorria normalmente quando baderneiros iniciaram um quebra-quebra, empanando o brilho do protesto.

Faixas exibidas em Vitória:  “Bem-vindo à copa das manifestações” - MEU PARTIDO É MEU PAÍS - “MOVIMENTO FORA DILMA” “OU PARA A CORRUPÇÃO OU PARAMOS O BRASIL”, “CORRUPTO, PRESENTE!
PT achou que pão e circo bastavam”,
dentre outros.

Ativo no Facebook, Anonymous assume liderança das manifestações pelo Brasil. Os hackativistas do grupo Anonymous assumiram uma espécie de liderança (ou, ao menos, servindo de referência) nas manifestações que ocorrem pelo Brasil afora. Hackativistas crescem abruptamente na rede social e ditam novas diretrizes
Os hackativistas do grupo Anonymous assumiram uma espécie de liderança (ou, ao menos, servindo de referência) nas manifestações que ocorrem pelo Brasil afora. Eles já faziam parte dos protestos contra o preço das passagens, mas, depois que a meta de redução da tarifa foi atingida e deixou de ser a “força motriz” das passeatas, eles assumiram de vez a dianteira ideológica.
Prova disso é a fanpage principal do Anonymous no Facebook, que teve uma guinada explosiva nos últimos dias.
O crescimento semanal de curtidas, segundo as estatísticas da página, pulou de 7.000 a 8.000 por semana para cerca de 130 mil.
Eram 400 mil fãs na semana passada – hoje, são quase 850 mil. A página, alimentada frequentemente, tem muitos posts por dia.
Eles englobam a manifestação pela redução da tarifa do transporte público, já efetuada pelos governantes, mas também criticam corrupção, erros de governo, repressão e injustiças do tipo.
Novas diretrizes
Entre as publicações da página, está também a disseminação de um vídeo, que orienta os manifestantes a se guiarem por cinco novas metas. São novas causas que devem ser os alvos do desdobramento das manifestações.
1º: Não à PEC 37;                                                                              2º: Saída imediata de Renan Calheiros da presidência do Congresso Nacional;                                                                        3º: Imediata investigação e punição de irregularidades nas obras da Copa, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal;                  4º: Queremos uma lei que torne corrupção no Congresso crime hediondo;                                                                                                 5º: Fim do foro privilegiado, pois ele é um ultraje ao Artigo 5º da nossa Constituição. 20/06/2013 | 23:45
      ANÁLISES LÚCIDAS

O PAÍS MERGULHADO NA ANARQUIA
Brasília – (por Jorge Oliveira, 20/06/13)
Os cientistas políticos  e os sociólogos de plantão ainda estão atônitos com as manifestações de rua que ocorrem no país. A convulsão social que explodiu nos estados com milhares de pessoas protestando é a combustão espontânea da revolta de um povo que estava contido, manipulado por políticos e liderado por um governo que subestimou a sua capacidade de se indignar. O PT achou, durante muito tempo, que o pão e o circo seriam suficientes para manter os brasileiros anestesiados. E o que se vê é a revolta popular contra as migalhas dos programas sociais, a alta da inflação, o endividamento da classe média levada ao consumo por uma política econômica leviana e desastrosa de um governo que administra o país no improviso.
Nem os mais abalizados analistas políticos seriam capazes de imaginar que o circo iria pegar fogo e o pão seria rejeitado pelo povo que está nas ruas para reivindicar por seus direitos em um país que só sabe exigir  da sua população, mas nada oferece em troca. Não reduz os impostos exorbitantes, não combate a violência e a epidemia do crack.  Não oferece transporte público eficiente,  abandonou a educação e a saúde e paralisou as obras de infraestrutura freando a geração de emprego. O governo petista se distanciou do povo e se enclausurou em grupelhos. Ignorou a capacidade de aglutinação dos jovens, a importância das redes sociais e o poder de mobilização da classe média, enxertada por emergentes da classe “c”, antenados com a política e a economia em crise do Brasil e de outros países.
Mas numa análise mais simplista, observa-se que no cerne de toda essa questão o combate a corrupção é a palavra de ordem que se repete nos cartazes e está na boca dos manifestantes. O pais está atolado na lama, a honestidade desce pelo esgoto. Não existem mais líderes, homens públicos confiáveis. O Brasil está mergulhado na anarquia, dominado por pelegos sindicais irresponsáveis, analfabetos e despreparados que povoam os  39 ministérios e outros órgãos públicos. A presidente da República, como uma autista, mostra o seu despreparo para dirigir o país quando em plena crise voa para São Paulo para se aconselhar com Lula e o marqueteiro João Santana. Mais uma vez ignora o clamor das ruas e prioriza a reeleição, enquanto o país pega fogo! O marketing não salvou Collor quando pediu que a população saísse às ruas de verde e amarelo para apoiá-lo na crise. A multidão vestiu-se de preto. O resultado, todos conhecem.
Também é bastante lúcida a análise feita pelo jornalista                   Merval Pereira, O Globo (21/06/13):

PARTIDARISMO REJEITADO
“O fato de militantes petistas com suas bandeiras terem sido rechaçados nas manifestações em diversos estados do país ontem é um bom indício de que o movimento que chegou aos corações e mentes da classe média não se deixou contaminar por partidarismos.

Depois de uma reunião da presidente Dilma com o ex-presidente Lula em São Paulo, onde estranhamente estavam presentes o presidente do PT Rui Falcão e o marqueteiro da presidência João Santana, ficou estabelecido que o prefeito Fernando Haddad deveria reduzir os preços das passagens, e o partido entrar nas manifestações ao lado dos movimentos sociais que controla – ONGs de diversos tipos, o MST a CUT, a UNE.

Uma reunião partidária, como se vê, com a presidente da República recebendo instruções de seu tutor político, numa clara demonstração de que depende dele para se posicionar em situações de crise. A desorientação petista é tamanha que há correntes dentro do partido que pressionam o governo a dar uma guinada à esquerda para supostamente se sintonizar com esses movimentos.

Já há movimentos dentro do PT a exigir do governo que deixe de fazer superávit primário para pagar a dívida e use esse dinheiro para investimentos em saúde e educação. Ou então para que o PT deixe de lado as coalizões partidárias com o PMDB e que tais e faça uma ligação direta com as massas. Renasce em alguns setores da esquerda o sonho da democracia direta, tão em voga nos regimes bolivarianos da América Latina.

É difícil saber no que vai dar tudo isso. Não há como definir o que vai prevalecer nessas manifestações. Assim como há baderneiros infiltrados e toda uma gama de manifestantes dispostos ao vandalismo, que consideram a depredação a melhor maneira de enfrentar os governos, há também no próprio movimento do Passe Livre uma predominância de pensamento de esquerda radical. Agora que conseguiram a redução do preço das passagens, querem a tarifa zero e outras reivindicações que não estão na pauta da maioria que foi às ruas.

A tarifa zero é uma utopia do bem, que se pode tentar alcançar, e seria boa para todo mundo, embora me pareça impossível em cidades grandes como São Paulo e Rio. Mas há outras reivindicações que nada têm a ver com a grande massa que participou das manifestações, como o protesto contra o “latifúndio urbano”.

E querem introduzir na pauta também a reforma agrária, uma reivindicação bastante discutível hoje no Brasil onde o agronegócio é um dos sustentáculos da economia brasileira e o latifúndio improdutivo praticamente desapareceu. Um processo de modernização agropecuária que, hoje, caracteriza o capitalismo no campo, fez com que nos últimos 30 anos o latifúndio se transformasse em grande empresa rural, tornando-se produtivo.

A maioria não está nem com os baderneiros nem com essa politização que, embora não seja partidária, é política, de grupos que lideram os movimentos. A maioria está nas ruas por causa da melhoria do dia a dia, quer que o dinheiro público seja gasto com transparência e com prioridades claras, esse é o foco central da maioria. E é por isso que as manifestações contra o aumento de ônibus cresceram se ampliaram.

Houve a adesão de um grupo grande da classe média que está sentindo os efeitos da inflação, dos péssimos serviços públicos, da opressão do Estado, que viu nessas manifestações um caminho para extravasar suas frustrações e exprimir suas reivindicações. E eles sabem por que a vida não é melhor: por que o dinheiro público é desperdiçado, roubado; os governos de maneira geral têm projetos imediatistas de poder e não projetos de longo prazo para o país.”

E Mírian Leitão, colunista O Globo, diz:

Onda contrária

“Manifestação a favor só é fácil fazer em ditaduras. O PT e outros partidos governistas que tentaram pegar carona nas passeatas de ontem não conseguiram fazer a tal "onda vermelha". É claro que não é por paixão pelo governo de Dilma Rousseff que milhares têm ido às ruas. Também não é a favor da oposição. A reação é difusa, mas uma bandeira frequente é a que condena a corrupção.
O PT tentou transformar as passeatas de ontem numa manifestação de apoio ao governo. Inútil. A presidente Dilma Rousseff tem tentado capitalizar o protesto com o elogio que fez ao movimento e o jogo de empurra para queimar a imagem dos prefeitos. A nota emitida pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirmando que eles poderiam até reduzir as tarifas é prova dessa tentativa de jogar a batata quente sobre os outros. Depois, a desastrada ministra se desmentiu, mas a primeira nota revelou a manobra.
Não há contorcionismo do PT que transforme o protesto em manifestação a favor do governo. Ele não é o único alvo, mas está entre os alvos.
Enquanto o povo está nas ruas, a situação econômica tem piorado. Sem relação de um fato com o outro. O anúncio do presidente do Fed, Ben Bernanke, de que a economia americana vai bem e os estímulos monetários podem ser reduzidos no ano que vem, indicou ao mercado financeiro que a tendência é de um dólar mais forte no futuro. Isso fez o dólar subir no mundo inteiro. No Brasil subiu mais porque há falta de confiança na política econômica. As agências de risco estão colocando a nota do Brasil em viés negativo pela deterioração fiscal do país. Foram anos de truques contábeis que, acumulados, minaram a consistência dos indicadores fiscais do país.
A anulação dos reajustes dos ônibus e o recuo de aumentos dados anteriormente em outras cidades vão atenuar a inflação de junho. Mas o alívio é pontual. Em nove de 29 meses do governo Dilma, até maio, a inflação esteve acima do teto da meta. Ficará novamente acima quando sair o dado deste mês. O dólar mais alto baterá em bens de consumo duráveis, e em todos os preços que têm cotação internacional, exatamente no momento em que a inflação poderia começar a cair. Os IGPs voltaram a subir. O IGP-M de junho deu 0,7% após estar em 0,01% em maio. Os IGPs são os mais afetados pelo dólar. A moeda americana subiu 12% em um mês. Isso já representa um choque cambial.
Os erros da política econômica estão cobrando sua conta. Foram inúmeras as medidas de renúncia fiscal com o sinal trocado, como contei ontem aqui. Só com o fim da Cide o governo tirou R$ 22 bilhões dos cofres públicos, em cinco anos. Dinheiro que tinha destino certo: pela lei, tem que ser investido em infraestrutura de transporte. Foram tomadas medidas de efeito imediato sem pensar nas distorções que elas têm acumulado. Isso criou um quadro econômico de inflação persistente, baixo crescimento, deterioração fiscal e déficit em conta corrente. O que o consumidor sente neste momento é o desconforto da perda de poder aquisitivo pela inflação e a redução da capacidade de endividamento das famílias.
O valor intangível dessas manifestações é avisar aos políticos, administradores públicos, governantes de todos os níveis que o país que pensavam que jamais reagiria aos desaforos sequenciais não está mais disposto a permanecer em silêncio diante de tantos e tão frequentes abusos do cotidiano brasileiro. Se na economia nem todos os erros são fáceis de serem entendidos, na política as ofensas ao sentimento do país foram criando a vontade de ir para as ruas. E pelo que se viu ontem: de norte a sul do país.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

E OS PROTESTOS CONTINUAM. PRA ONDE VAMOS?



POR QUE VOU AO PROTESTO?
Apesar da redução dos valores das passagens em diversas capitais e diversas cidades do Brasil, continuam os protestos (em mais de 100 cidades estão com protestos nas ruas), convocados pelos sites:
#VemPraRua.org e #OGiganteAcordou e outros sites convocam os protestos nas redes sociais.

Sobre os protestos, leiam neste blog os textos: "BRASIL: RISCO DE CONVULSÃO SOCIAL", "REVOLTA POPULAR TOMA AS RUAS DAS CIDADES", “O Monstro vai para Rua”, “O OCASO DO LULOPETISMO” e “A República Sindical"

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Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) monta esquema para monitorar as redes socias


QUAIS AS CAUSAS DE TANTA INSATISFAÇÃO?

Insatisfação acumulada, decepção com a propaganda oficial que criou o “Brasil Maravilha”?

Reação de quem não teve a expectativa correspondida com as promessas do Lulopetismo?

Protestos no Brasil são diferentes do da Turquia
Em visita a Oslo, na Noruega, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, rebateu nessa quarta-feira (19) a comparação entre as manifestações que ocorrem no Brasil e os protestos na Turquia. Patriota disse que os episódios de violência são isolados. Segundo ele, os protestos são democráticos e o governo ouve os apelos da sociedade civil. Na Turquia, os protestos ocorrem há três semanas, registrando quatro mortos e mais de 7 mil pessoas feridas.

“É uma situação diferente [se comparada com a da Turquia]”, disse Patriota, que encerrou ontem a viagem a Oslo, onde participou de um seminário sobre segurança e paz mundiais. “As manifestações foram, predominantemente, pacíficas. Ocorreram episódios de violência aqui e ali e, claro, as forças de segurança têm de estar preparadas porque há grande número de pessoas envolvidas.”

O ministro acrescentou que "a expectativa é que eles [os manifestantes] vão continuar a manifestar-se de forma pacífica. Brasil. O governo está ouvindo as vozes da sociedade civil. E é natural que os indivíduos ou grupos queiram participar do debate democrático sobre o futuro do país”.

A âncora da emissora norte-americana CNN de televisão Christiana Amampour perguntou sobre “a explosão de descontentes” no Brasil e lembrou as reivindicações dos manifestantes sobre os gastos com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, mais investimentos para a educação, a redução dos preços das passagens de ônibus e o combate à corrupção.

Patriota reiterou que a sociedade civil está no seu direito ao protestar. “A sociedade civil tem o direito de se manifestar. Vamos ver o que podemos fazer juntos”, ressaltou, lembrando que a presidenta Dilma Rousseff  foi vítima da ditadura e ficou presa. “[A presidenta] irá garantir que todas as vozes que têm reivindicações legítimas sejam ouvidas.”

O chanceler fez uma análise sobre a situação econômica e social do Brasil, informando que o país é atualmente uma nação mais forte e que fez conquistas importantes, como o combate à pobreza e à fome, aumentando o número de pessoas na classe média. “O Brasil tem hoje uma situação de quase pleno emprego, que é bastante em contraste com muitas economias do mundo desenvolvido, na Europa, por exemplo”.

Segundo ele, esses padrões de vida têm dado lugar a um novo conjunto de expectativas. "E isso é, penso eu, a mensagem central das manifestações”, disse Patriota. Ele destacou que, no país, a democracia é plena: “Temos lutado no Brasil para obter a democracia que temos hoje”.
Fonte: Renata Giraldi - Agência Brasil (20/06/13)

Os atos de hoje (20/06/13)  contarão com os brasileiros indignados com o poder público e a corrupção nas três esferas de governo, mas haverá até mesmo turistas “infiltrados”, interessados em descobrir por que um país que cresceu economicamente nos últimos anos está tomando, desde a semana passada, as principais ruas das grandes cidades.
Se o preço das passagens no transporte público foi reduzida em algumas cidades graças à pressão popular, a nova busca passa a ser pela qualidade do serviço precário, dizem aqueles que vão comparecer às manifestações de hoje. As demandas também incluem saúde e educação.
A Agência Globo (20/06/13) realizou a seguinte enquete:
Por que vou ao protesto?
Helen Guerra, 29 anos, analista jurídica (São Paulo). “Vou participar. A minha causa, além dos R$ 3,20, é a máfia que existe por trás do exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Fazem uma prova que não é justa, não avalia o conhecimento. Fazem uma prova para prejudicar o candidato e virar um círculo vicioso. Na última prova tinha enunciado que o candidato não conseguia decifrar”.
Rafael Henrique Scofield, 19 anos, estudante (São Paulo). “Vou participar sim. Já participei a semana passada inteira, só ontem não. Acho que o povo está lutando por nossos direitos. Não é só R$ 3,20, nunca foi. Quando a violência aconteceu, o povo quis mostrar que estava vivo. Acho isso maravilhoso. Espero que o povo não pare enquanto o Brasil não mudar”.
Rayana Nascimento, 21 anos, estudante (Recife). “Vou à rua por melhorias no transporte público, na saúde e na educação. Antes, ia só para protestar pela tarifa, que é muito cara. O governador já reduziu em dez centavos o valor, mesmo assim a qualidade dos coletivos deixa muito a desejar. A luta vai mais longe. Aqui no Recife há UPAs, mas não adianta prédio bonito se faltam leitos e médicos”.
Danielle Baeta, 34 anos, professora de dança (Rio). “Vou à passeata porque a gente tem que acabar com a corrupção agora. Acho que a grande base do que está acontecendo aqui é que estamos crescendo sem desenvolvimento sustentável nenhum. Eu vou à passeata para acabar com esse absurdo que são as filas de pessoas morrendo nos hospitais”.
Júlio Padilha, 25 anos, auxiliar administrativo (Rio). “Vou à passeata levado pela indignação. Vou guiado pelas palavras da minha avó, que dizia: ‘o povo que perde a capacidade de se indignar deixa de viver e passa a sobreviver’. Nos últimos dias, as pessoas estão provando que acordaram. Acho que a manifestação tem que tomar um corpo mais sério porque a gente não vai poder ficar saindo na rua o resto da vida”.
Monica Alonso, 55 anos, médica argentina (Rio). “Como argentina, me interessa saber como se manifestam as pessoas num país que nós consideramos que está muito melhor que a Argentina. Nos chama atenção que se manifestem, por mais que entendamos que a passagem é muito cara aqui. Temos a ideia de que o Brasil cresceu muito nos últimos anos”.
Rafael Figueiredo, 30 anos, estudante (Brasília). “Eu vou estar lá. (A onda de manifestações) Começou com um protesto contra tarifa de ônibus, mas a principal causa de estar aqui é a corrupção. Assisti ao primeiro jogo do Brasil ( na Copa das Confederações, no último fim de semana) sem a mínima vontade”, diz Rafael, que sempre participa dos tradicionais protestos anticorrupção no dia 7 de setembro.
Alice Holanda, 27 anos, atriz (Brasília). “Eu participo por causa da falta de respeito com que o governo trata a gente, a opinião pública e como trata um protesto gigante como esse. Eu quero tarifa zero ( para o transporte urbano)”, diz Alice, que ontem fez, durante o protesto na rodoviária do Plano Piloto, um cartaz com mensagem curta: “Vem pra rua. Tarifa Zero”.
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O Globo (20/06/13): ‘Foi a imagem mais arrepiante que já vimos’, dizem autores de vídeo marcante dos protestos em Brasília
Desde segunda-feira, um vídeo de dois minutos, que mostra um arrepiante coro convocatório para a marcha que acontecerá nesta quinta-feira em Brasília, tem circulado em alta rotação pela web. Já ultrapassou as 100 mil visualizações no YouTube, gerou uma série de repostagens e incontáveis compartilhamentos nas redes sociais, graças ao clima eletrizante do momento, captado quase por acaso pelos amigos pelo paulista Ruy Kleine, 28 anos, e o curitibano Marcos Werlang, de 31. Funcionários de uma empresa de informática para hotéis, eles assistiam ao protesto pela TV quando decidiram ver ao vivo o que acontecia ali perto.
- O Marcos estava acompanhando pela TV e me incentivou a ir. Se não fosse por ele nem teríamos ido. Como estamos num hotel próximo ao Congresso, acabamos descendo a pé até lá - lembra Ruy. - E foi a imagem mais arrepiante que já vimos.
No caminho, eles cruzaram com muitas pessoas já deixando o protesto. Imaginaram que veriam apenas o fim do ato. Ruy calcula que no início da noite ainda havia 10 mil pessoas na manifestação - a polícia estimou em 5 mil participantes. Eles estavam na rampa que leva à cobertura do Congresso quando viram um rapaz chegar acompanhado de outras pessoas e começar a ler o texto que foi repetido em coro pela multidão.



O povo vai bem, o país vai mal
Clovis Rossi - Folha de São Paulo (20/06/13)
Enquanto estávamos anestesiados pela popularidade de Dilma Rousseff (e de alguns outros governantes), o Pew perguntou, em vários países, se o pesquisado estava ou não satisfeito com o modo como andavam as coisas. No Brasil, 55% responderam que estavam insatisfeitos (44% satisfeitos). Não por acaso, 55% foram os que disseram ao Datafolha, no início dos protestos, que estavam a favor deles.
A pesquisa revela insatisfação em aumento. No ano em que Dilma ganhou a eleição (2010), havia empate técnico entre satisfeitos (50%) e insatisfeitos (49%). Em 2012, aumentava 10% o nível de insatisfação.
Mas o levantamento mostrava uma aparente contradição: 74% diziam que sua situação financeira era boa, 79% afirmavam que a economia iria melhorar e 79% apostavam em que seus filhos estariam melhor que eles.
Dá até para inverter célebre frase do general Garrastazu Médici, presidente de 1969 a 74, que, após visita ao Nordeste assolado pela seca, decretou: O país vai bem, o povo vai mal.
As pesquisas do Pew permitem dizer que o povo vai bem, mas o país vai mal, não?

A contradição talvez se desfaça quando se colocam fatos que explicam a insatisfação com o país e a satisfação com a situação financeira pessoal. Quando há virtual pleno emprego e renda em aumento (lembre-se que a pesquisa é de 2012, quando a inflação em alta ainda não comia tanto o salário como agora), a maioria sente-se bem.
Mas mesmo quem tem emprego e renda é torturado no cotidiano por um país em que o trânsito é infernal, a violência é aterradora, há eternas carências graves na educação e na saúde, os serviços públicos são precários, para não usar uma palavra feia.
Na verdade, deveria haver espanto não com os protestos de agora mas com o fato de que nunca tenha havido manifestações de massa contra esse massacre cotidiano (as que ocorreram foram por motivos institucionais).
Por que agora, então? Esta pergunta demanda mais tempo de pesquisa para uma resposta minimamente satisfatória. Mas uma pista talvez esteja na pesquisa do Datafolha, ontem publicada, segundo a qual o público perdeu totalmente a confiança em instituições (Congresso e partidos políticos por exemplo) que deveriam fazer a intermediação entre a sociedade e o Estado.
Por isso, partiu para o que a presidente chamou, com razão, de ultrapassagem dos mecanismos tradicionais das instituições, dos partidos políticos, das entidades de classe e da própria mídia.
A questão seguinte, para a qual ainda não há resposta, é se os mecanismos tradicionais saberão se reciclar (duvido) e como o protesto atuará em função da reciclagem ou falta dela. Fonte: crossi@uol.com.br