'Que o clamor do povo seja ouvido!', diz CNBB
Agencia Estado, (21/06/13)
A
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota pública em que
presta solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas. "Sejam
estas manifestações fortalecimento da participação popular nos destinos de
nosso País e prenúncio de novos tempos para todos. Que o clamor do povo seja
ouvido!", afirma a nota, subscrita pelo Conselho Permanente da CNBB.
Para a
entidade, os protestos são "um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o
desperta para uma nova consciência". "Requerem atenção e
discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em
vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos", diz a
nota.A CNBB afirma que as manifestações nasceram de forma "livre e espontânea" nas redes sociais e as mobilizações "questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num País com tanta desigualdade". A nota diz que é justa e necessária a reivindicação de políticas públicas para todos.
"Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo, testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim, renascer a esperança quando gritam: 'O Gigante acordou!'", afirma.
A entidade diz ainda que a presença do povo nas ruas, numa sociedade em que "as pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida", testemunha que é na prática de valores como a solidariedade e o serviço gratuito ao outro que encontramos o sentido do existir.
"A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana. As manifestações destes dias mostram que os brasileiros não estão dormindo em 'berço esplêndido'", diz a manifestação, assinada pelo cardeal Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB, Dom José Belisário da Silva, vice-presidente da entidade, e Dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário Geral da CNBB.
VANDALISMO
EMPANA BRILHO DOS PROTESTOS
As
manifestações de ontem começaram pacíficas no Brasil inteiro e depois ficaram
mais violentas. Em 120 cidades, o povo
foi para a rua para manifestar sua insatisfação generalizada contra tudo, 56.0% informaram isso na enquete realizada dia 21/06 pelo jornal O GLOBO.
Em Vitória/ES onde me encontro, mais de 100 mil foram
às ruas e tudo transcorria normalmente quando baderneiros iniciaram um
quebra-quebra, empanando o brilho do protesto.
Faixas exibidas em Vitória: “Bem-vindo
à copa das manifestações” -
“MEU PARTIDO É MEU PAÍS” - “MOVIMENTO
FORA DILMA” – “OU PARA A CORRUPÇÃO OU PARAMOS
O BRASIL”, “CORRUPTO, PRESENTE!
PT achou que pão e circo bastavam”, dentre
outros.
Ativo no
Facebook, Anonymous assume liderança das manifestações pelo Brasil.
Os
hackativistas do grupo Anonymous assumiram uma espécie de liderança (ou, ao
menos, servindo de referência) nas manifestações que ocorrem pelo Brasil afora.
Hackativistas crescem
abruptamente na rede social e ditam novas diretrizes
Os
hackativistas do grupo Anonymous assumiram
uma espécie de liderança (ou, ao menos, servindo de referência) nas
manifestações que ocorrem pelo Brasil afora. Eles já faziam parte dos protestos
contra o preço das passagens, mas, depois que a meta de redução da tarifa foi
atingida e deixou de ser a “força motriz” das passeatas, eles assumiram de vez
a dianteira ideológica.Prova disso é a fanpage principal do Anonymous no Facebook, que teve uma guinada explosiva nos últimos dias.
O crescimento semanal de curtidas, segundo as estatísticas da página, pulou de 7.000 a 8.000 por semana para cerca de 130 mil.
Eram 400 mil fãs na semana passada – hoje, são quase 850 mil. A página, alimentada frequentemente, tem muitos posts por dia.
Eles englobam a manifestação pela redução da tarifa do transporte público, já efetuada pelos governantes, mas também criticam corrupção, erros de governo, repressão e injustiças do tipo.
Novas diretrizes
Entre as publicações da página, está também a disseminação de um vídeo, que orienta os manifestantes a se guiarem por cinco novas metas. São novas causas que devem ser os alvos do desdobramento das manifestações.
1º: Não à PEC 37; 2º: Saída imediata de Renan Calheiros da presidência do Congresso Nacional; 3º: Imediata investigação e punição de irregularidades nas obras da Copa, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal; 4º: Queremos uma lei que torne corrupção no Congresso crime hediondo; 5º: Fim do foro privilegiado, pois ele é um ultraje ao Artigo 5º da nossa Constituição. 20/06/2013 | 23:45
Brasília – (por Jorge Oliveira,
20/06/13)
Os
cientistas políticos e os sociólogos de plantão ainda estão atônitos com
as manifestações de rua que ocorrem no país. A convulsão social que explodiu
nos estados com milhares de pessoas protestando é a combustão espontânea da
revolta de um povo que estava contido, manipulado por políticos e liderado por
um governo que subestimou a sua capacidade de se indignar. O PT achou, durante
muito tempo, que o pão e o circo seriam suficientes para manter os brasileiros
anestesiados. E o que se vê é a revolta popular contra as migalhas dos
programas sociais, a alta da inflação, o endividamento da classe média levada
ao consumo por uma política econômica leviana e desastrosa de um governo que
administra o país no improviso.Nem os mais abalizados analistas políticos seriam capazes de imaginar que o circo iria pegar fogo e o pão seria rejeitado pelo povo que está nas ruas para reivindicar por seus direitos em um país que só sabe exigir da sua população, mas nada oferece em troca. Não reduz os impostos exorbitantes, não combate a violência e a epidemia do crack. Não oferece transporte público eficiente, abandonou a educação e a saúde e paralisou as obras de infraestrutura freando a geração de emprego. O governo petista se distanciou do povo e se enclausurou em grupelhos. Ignorou a capacidade de aglutinação dos jovens, a importância das redes sociais e o poder de mobilização da classe média, enxertada por emergentes da classe “c”, antenados com a política e a economia em crise do Brasil e de outros países.
Mas numa análise mais simplista, observa-se que no cerne de toda essa questão o combate a corrupção é a palavra de ordem que se repete nos cartazes e está na boca dos manifestantes. O pais está atolado na lama, a honestidade desce pelo esgoto. Não existem mais líderes, homens públicos confiáveis. O Brasil está mergulhado na anarquia, dominado por pelegos sindicais irresponsáveis, analfabetos e despreparados que povoam os 39 ministérios e outros órgãos públicos. A presidente da República, como uma autista, mostra o seu despreparo para dirigir o país quando em plena crise voa para São Paulo para se aconselhar com Lula e o marqueteiro João Santana. Mais uma vez ignora o clamor das ruas e prioriza a reeleição, enquanto o país pega fogo! O marketing não salvou Collor quando pediu que a população saísse às ruas de verde e amarelo para apoiá-lo na crise. A multidão vestiu-se de preto. O resultado, todos conhecem.
Também
é bastante lúcida a análise feita pelo jornalista Merval Pereira, O Globo (21/06/13):
PARTIDARISMO
REJEITADO
“O
fato de militantes petistas com suas bandeiras terem sido rechaçados nas
manifestações em diversos estados do país ontem é um bom indício de que o
movimento que chegou aos corações e mentes da classe média não se deixou
contaminar por partidarismos.
Depois de uma reunião da presidente Dilma com o ex-presidente Lula em São Paulo, onde estranhamente estavam presentes o presidente do PT Rui Falcão e o marqueteiro da presidência João Santana, ficou estabelecido que o prefeito Fernando Haddad deveria reduzir os preços das passagens, e o partido entrar nas manifestações ao lado dos movimentos sociais que controla – ONGs de diversos tipos, o MST a CUT, a UNE.
Uma reunião partidária, como se vê, com a presidente da República recebendo instruções de seu tutor político, numa clara demonstração de que depende dele para se posicionar em situações de crise. A desorientação petista é tamanha que há correntes dentro do partido que pressionam o governo a dar uma guinada à esquerda para supostamente se sintonizar com esses movimentos.
Já há movimentos dentro do PT a exigir do governo que deixe de fazer superávit primário para pagar a dívida e use esse dinheiro para investimentos em saúde e educação. Ou então para que o PT deixe de lado as coalizões partidárias com o PMDB e que tais e faça uma ligação direta com as massas. Renasce em alguns setores da esquerda o sonho da democracia direta, tão em voga nos regimes bolivarianos da América Latina.
É difícil saber no que vai dar tudo isso. Não há como definir o que vai prevalecer nessas manifestações. Assim como há baderneiros infiltrados e toda uma gama de manifestantes dispostos ao vandalismo, que consideram a depredação a melhor maneira de enfrentar os governos, há também no próprio movimento do Passe Livre uma predominância de pensamento de esquerda radical. Agora que conseguiram a redução do preço das passagens, querem a tarifa zero e outras reivindicações que não estão na pauta da maioria que foi às ruas.
A tarifa zero é uma utopia do bem, que se pode tentar alcançar, e seria boa para todo mundo, embora me pareça impossível em cidades grandes como São Paulo e Rio. Mas há outras reivindicações que nada têm a ver com a grande massa que participou das manifestações, como o protesto contra o “latifúndio urbano”.
E querem introduzir na pauta também a reforma agrária, uma reivindicação bastante discutível hoje no Brasil onde o agronegócio é um dos sustentáculos da economia brasileira e o latifúndio improdutivo praticamente desapareceu. Um processo de modernização agropecuária que, hoje, caracteriza o capitalismo no campo, fez com que nos últimos 30 anos o latifúndio se transformasse em grande empresa rural, tornando-se produtivo.
A maioria não está nem com os baderneiros nem com essa politização que, embora não seja partidária, é política, de grupos que lideram os movimentos. A maioria está nas ruas por causa da melhoria do dia a dia, quer que o dinheiro público seja gasto com transparência e com prioridades claras, esse é o foco central da maioria. E é por isso que as manifestações contra o aumento de ônibus cresceram se ampliaram.
Houve a adesão de um grupo grande da classe média que está sentindo os efeitos da inflação, dos péssimos serviços públicos, da opressão do Estado, que viu nessas manifestações um caminho para extravasar suas frustrações e exprimir suas reivindicações. E eles sabem por que a vida não é melhor: por que o dinheiro público é desperdiçado, roubado; os governos de maneira geral têm projetos imediatistas de poder e não projetos de longo prazo para o país.”
Depois de uma reunião da presidente Dilma com o ex-presidente Lula em São Paulo, onde estranhamente estavam presentes o presidente do PT Rui Falcão e o marqueteiro da presidência João Santana, ficou estabelecido que o prefeito Fernando Haddad deveria reduzir os preços das passagens, e o partido entrar nas manifestações ao lado dos movimentos sociais que controla – ONGs de diversos tipos, o MST a CUT, a UNE.
Uma reunião partidária, como se vê, com a presidente da República recebendo instruções de seu tutor político, numa clara demonstração de que depende dele para se posicionar em situações de crise. A desorientação petista é tamanha que há correntes dentro do partido que pressionam o governo a dar uma guinada à esquerda para supostamente se sintonizar com esses movimentos.
Já há movimentos dentro do PT a exigir do governo que deixe de fazer superávit primário para pagar a dívida e use esse dinheiro para investimentos em saúde e educação. Ou então para que o PT deixe de lado as coalizões partidárias com o PMDB e que tais e faça uma ligação direta com as massas. Renasce em alguns setores da esquerda o sonho da democracia direta, tão em voga nos regimes bolivarianos da América Latina.
É difícil saber no que vai dar tudo isso. Não há como definir o que vai prevalecer nessas manifestações. Assim como há baderneiros infiltrados e toda uma gama de manifestantes dispostos ao vandalismo, que consideram a depredação a melhor maneira de enfrentar os governos, há também no próprio movimento do Passe Livre uma predominância de pensamento de esquerda radical. Agora que conseguiram a redução do preço das passagens, querem a tarifa zero e outras reivindicações que não estão na pauta da maioria que foi às ruas.
A tarifa zero é uma utopia do bem, que se pode tentar alcançar, e seria boa para todo mundo, embora me pareça impossível em cidades grandes como São Paulo e Rio. Mas há outras reivindicações que nada têm a ver com a grande massa que participou das manifestações, como o protesto contra o “latifúndio urbano”.
E querem introduzir na pauta também a reforma agrária, uma reivindicação bastante discutível hoje no Brasil onde o agronegócio é um dos sustentáculos da economia brasileira e o latifúndio improdutivo praticamente desapareceu. Um processo de modernização agropecuária que, hoje, caracteriza o capitalismo no campo, fez com que nos últimos 30 anos o latifúndio se transformasse em grande empresa rural, tornando-se produtivo.
A maioria não está nem com os baderneiros nem com essa politização que, embora não seja partidária, é política, de grupos que lideram os movimentos. A maioria está nas ruas por causa da melhoria do dia a dia, quer que o dinheiro público seja gasto com transparência e com prioridades claras, esse é o foco central da maioria. E é por isso que as manifestações contra o aumento de ônibus cresceram se ampliaram.
Houve a adesão de um grupo grande da classe média que está sentindo os efeitos da inflação, dos péssimos serviços públicos, da opressão do Estado, que viu nessas manifestações um caminho para extravasar suas frustrações e exprimir suas reivindicações. E eles sabem por que a vida não é melhor: por que o dinheiro público é desperdiçado, roubado; os governos de maneira geral têm projetos imediatistas de poder e não projetos de longo prazo para o país.”
E
Mírian Leitão, colunista O Globo, diz:
Onda contrária
“Manifestação a favor só é fácil fazer em ditaduras. O PT e outros partidos governistas que tentaram pegar carona nas passeatas de ontem não conseguiram fazer a tal "onda vermelha". É claro que não é por paixão pelo governo de Dilma Rousseff que milhares têm ido às ruas. Também não é a favor da oposição. A reação é difusa, mas uma bandeira frequente é a que condena a corrupção.O PT tentou transformar as passeatas de ontem numa manifestação de apoio ao governo. Inútil. A presidente Dilma Rousseff tem tentado capitalizar o protesto com o elogio que fez ao movimento e o jogo de empurra para queimar a imagem dos prefeitos. A nota emitida pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirmando que eles poderiam até reduzir as tarifas é prova dessa tentativa de jogar a batata quente sobre os outros. Depois, a desastrada ministra se desmentiu, mas a primeira nota revelou a manobra.
Não há contorcionismo do PT que transforme o protesto em manifestação a favor do governo. Ele não é o único alvo, mas está entre os alvos.
Enquanto o povo está nas ruas, a situação econômica tem piorado. Sem relação de um fato com o outro. O anúncio do presidente do Fed, Ben Bernanke, de que a economia americana vai bem e os estímulos monetários podem ser reduzidos no ano que vem, indicou ao mercado financeiro que a tendência é de um dólar mais forte no futuro. Isso fez o dólar subir no mundo inteiro. No Brasil subiu mais porque há falta de confiança na política econômica. As agências de risco estão colocando a nota do Brasil em viés negativo pela deterioração fiscal do país. Foram anos de truques contábeis que, acumulados, minaram a consistência dos indicadores fiscais do país.
A anulação dos reajustes dos ônibus e o recuo de aumentos dados anteriormente em outras cidades vão atenuar a inflação de junho. Mas o alívio é pontual. Em nove de 29 meses do governo Dilma, até maio, a inflação esteve acima do teto da meta. Ficará novamente acima quando sair o dado deste mês. O dólar mais alto baterá em bens de consumo duráveis, e em todos os preços que têm cotação internacional, exatamente no momento em que a inflação poderia começar a cair. Os IGPs voltaram a subir. O IGP-M de junho deu 0,7% após estar em 0,01% em maio. Os IGPs são os mais afetados pelo dólar. A moeda americana subiu 12% em um mês. Isso já representa um choque cambial.
Os erros da política econômica estão cobrando sua conta. Foram inúmeras as medidas de renúncia fiscal com o sinal trocado, como contei ontem aqui. Só com o fim da Cide o governo tirou R$ 22 bilhões dos cofres públicos, em cinco anos. Dinheiro que tinha destino certo: pela lei, tem que ser investido em infraestrutura de transporte. Foram tomadas medidas de efeito imediato sem pensar nas distorções que elas têm acumulado. Isso criou um quadro econômico de inflação persistente, baixo crescimento, deterioração fiscal e déficit em conta corrente. O que o consumidor sente neste momento é o desconforto da perda de poder aquisitivo pela inflação e a redução da capacidade de endividamento das famílias.
O valor intangível dessas manifestações é avisar aos políticos, administradores públicos, governantes de todos os níveis que o país que pensavam que jamais reagiria aos desaforos sequenciais não está mais disposto a permanecer em silêncio diante de tantos e tão frequentes abusos do cotidiano brasileiro. Se na economia nem todos os erros são fáceis de serem entendidos, na política as ofensas ao sentimento do país foram criando a vontade de ir para as ruas. E pelo que se viu ontem: de norte a sul do país.
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