quinta-feira, 24 de agosto de 2017

CONDENAÇÃO DE LULA, MELHOR ASSIM




 J.R. Guzzo: Melhor assim


Quando o oceano de corrupção em seus dois governos começou a vazar, Lula tinha certeza de que era capaz de andar sobre a água
Por Augusto Nunes 

Publicado na edição impressa de VEJA
Eis aí, enfim, o ex-presidente Lula condenado a nove anos e tanto de cadeia por corrupção pela Justiça Penal do Brasil. Está colhendo o que plantou. Depois de arruinar a própria biografia, desmanchar com a sua conduta os mitos que criou em torno de si e aparecer na frente do país inteiro como a pessoa que realmente é, igual ao rei nu do conto para crianças, Lula tem agora uma selva escura pela frente. Constata, chocado, que realmente não está acima da lei, como no fundo sempre acreditou que estivesse. Ele sabia, naturalmente, que as coisas tinham ficado feias desde o início das investigações da Operação Lava Jato. É claro que também sabe exatamente o que fez, e sabe disso melhor do que ninguém. Ainda assim, confiante na força do Brasil Velho que abraçou de corpo e alma, esse Brasil onde quem manda não paga, achou que jamais poderia ser enfrentado por um “juizinho” do interior do Paraná, formado na Universidade de Direito de Maringá e desconhecido das bancas milionárias de advogados do circuito Brasília-São Paulo-Rio de Janeiro. Sérgio quem? Sérgio Moro? Quem é esse cara para mexer com o maior presidente que o Brasil e o mundo já viram? Quando o oceano de corrupção em seus dois governos começou a vazar, Lula tinha certeza de que era capaz de andar sobre a água, como Jesus Cristo ─ só que conseguia andar melhor que ele. Com o tempo, foi vendo que não era bem assim. Depois viu que não era nada assim. Acabou virando, em 12 de julho de 2017, o primeiro presidente da história do Brasil a ser condenado por violar o Código Penal.
Em nenhum momento, desde o primeiro dia de seus problemas com a Justiça Criminal, Lula preocupou-se em apresentar uma defesa baseada em argumentação jurídica, como faz qualquer réu acusado de um crime. Declarou, logo de cara, que era um “perseguido político”. Achou que podia resolver o seu problema fazendo acusações contra o juiz, os promotores e o sistema judiciário em geral, como se os réus fossem eles. Não respondeu a nenhuma das acusações que recebeu — não com algum fato concreto ou verificável. Imaginou que “tribunais internacionais”, por algum milagre legal, iriam substituir Sérgio Moro e absolvê-lo dos crimes pelos quais acabou condenado — e muita gente boa levou essa palhaçada perfeitamente a sério. Seus advogados desrespeitaram abertamente o juízo e tentaram o tempo todo tumultuar o andamento do processo com chicanas, provocações e muitas das piores práticas da profissão legal. Acostumado a meter medo em tucanos, que vivem em pânico de contrariá-lo, Lula levou um susto quando ficou cara a cara com Moro e descobriu que não havia a menor possibilidade de assustar o moço de 44 anos que o interrogava; chegou ao fim da audiência em estado de desmanche. Pensou, também, que os exércitos do MST, da CUT, dos sem-teto etc. iriam encher as ruas com multidões em sua defesa; não aconteceu nada. Cansou de repetir que só estava sendo processado porque “eles não querem que eu ganhe as eleições de 2018”. Eles quem? Não colou. Finalmente, deu o assunto por resolvido de uma vez declarando que tinha “provado” a sua “inocência”. Convenceu o PT e os militantes, mas não convenceu quem realmente precisava ser convencido — o juiz.
O Brasil fica melhor com a condenação de Lula. Sempre é problemático dizer que alguma coisa melhorou quando se vê o espetáculo deprimente oferecido todos os dias por uma porção tão grande da máquina judicial brasileira — ou com a impunidade que continua a beneficiar tantos criminosos com poder e dinheiro. O que dizer de um país em que o procurador-geral da República, com o apoio do Supremo Tribunal Federal e de maneira até agora inexplicável, presenteia com o perdão perpétuo um criminoso bilionário que confessa mais de 200 crimes — uma aberração que não tem paralelo em nenhuma sociedade civilizada? Algo está errado quando o ex­-presidente toma mais de nove anos de prisão no lombo e os Joesley desse país recebem medalhas de honra ao mérito. Mas é fato que o Brasil, desde a sentença, ficou mais longe da Venezuela. Na véspera, o país sonhado por Lula e pelo PT apareceu com a sua verdadeira cara, mais uma vez, quando um amontoado de senadoras rasgou as leis em vigor e quis proibir, com um ato de selvageria, que o Senado votasse a reforma trabalhista. Perderam, porque a sua disposição revolucionária durou apenas seis horas, o tempo de validade de uma quentinha. Elas e outros tantos continuarão, é claro, tentando virar a mesa depois da condenação do chefe — mas seu projeto, agora, vai dar mais trabalho do que gostariam.                                                                                 Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/j-r-guzzo-melhor-assim/

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

LULA: DERROTA ELEITORAL NO NORDESTE



Em MIGUEL LEÃO, no interior do Piauí, governado por Welilnto Dias, do PT, houve nova eleição suplementar para prefeito.
A cidade tem apenas 1.474 eleitores e Lula, que na eleição presidencial de 2006 teve 87% dos votos no município, gravou um vídeo de 30 segundos enviados ao celular dos moradores da cidade, com apelo aos moradores: “O Jailson é do PT, e você sabe que o PT sabe governar o Brasil, sabe governar Miguel Leão. Por isso no domingo (06/08/17), não esqueça, vote em Jailson”. Aberta as urnas, a surpresa:  o candidato da oposição, Roberto César de Arêa Leão Nascimento (PR) foi eleito prefeito do município de Miguel Leão com 51,48% dos votos. “As pessoas sabem que Lula não é mais o santo que elas imaginavam”, comemorou Roberto César.


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

MACONHA EM FARMÁCIAS: URUGUAI INICIA EXPERIÊNCIA.



O atual combate às drogas tem sido um fracasso total e por isso é um desafio mundial para se encontrar uma saída para o flagelo das drogas, que está destruindo as famílias e tem os jovens como principais vítimas.
Estive por cinco dias em Montevideo e Sacramento e um neto, estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense – UFF, resolveu estudar por seis meses na Universidade de La República, para estudar Ciências Políticas e o governo socialista de José Pepe Mujica que implantou essa experiência de vender a maconha em farmácias.  
Como a maconha vendida nas farmácias é muita fraca, os traficantes passaram a vender as mais fortes e essa experiência não diminuirá o poder dos traficantes.
                            **************                                                 Farmácia uruguaia tem conta em banco cancelada por vender maconha


SYLVIA COLOMBO, DE BUENOS AIRES - 12/08/2017  
Uma farmácia uruguaia anunciou nesta semana que não venderia mais maconha, ainda que de acordo com a legislação local —aprovada no fim de 2013 e que terminou de ser regulamentada em julho. Isso porque o estabelecimento teve sua conta no banco Santander cancelada.
Esteban Riveira, dono da farmácia Pitágoras, do bairro de Malvín, em Montevidéu, afirmou que a suspensão da venda se trata de "uma medida preventiva, até que o governo regularize a situação das farmácias que vendem maconha com o mercado bancário internacional". E disse estar frustrado, porque se diz um defensor da legalização do produto.
As sucursais dos bancos estrangeiros no Uruguai, porém, ainda não se posicionaram formalmente sobre o assunto e afirmam estar consultando suas matrizes para saber se estariam violando leis internacionais no caso de terem entre seus clientes estabelecimentos que comercializem produtos ilícitos.
Apesar de regulamentada no Uruguai, a venda da droga ainda é configurada como uma atividade restrita nos outros países por se tratar de um produto ilícito. Outros países da região, como a Argentina, a Colômbia e o Chile, também vêm consultando bancos estrangeiros, uma vez que legalizaram recentemente a venda da maconha medicinal.
Desde que aprovada, em dezembro de 2013, a Lei da Maconha gerou polêmica com relação a esse quesito. Mesmo com a venda legalizada e regulamentada no país, o Banco Central do Uruguai havia alertado o governo do então presidente José "Pepe" Mujica a respeito do risco de que algumas entidades bancárias pudessem não estar de acordo e se negarem a ter as farmácias como clientes.
O assessor legal do Centro de Farmácias do Uruguai, Pablo Durán, afirmou que, caso esse movimento se amplie e outras farmácias venham a ter suas contas canceladas, a tendência será a de migrar suas contas para o Banco República, que é uruguaio e obedece apenas à legislação local.
Outra alternativa, já utilizada nos EUA e aventada pelo governo uruguaio na época do debate parlamentar sobre a lei, é fazer uso das "bitcoins" (moeda virtual) para viabilizar a comercialização.
Ainda assim, Durán chamou a atenção para o fato de ser ainda um fato isolado. "Por enquanto houve apenas este caso. Outros bancos advertiram seus clientes e avisaram que estão fazendo consultas, mas não cancelaram as contas."
AUMENTO DA DEMANDA
Enquanto isso, vem crescendo o interesse de farmácias em aderir à lei, devido à alta demanda dos consumidores nas primeiras semanas de implementação.
Segundo Durán, já há 20 novas farmácias na lista de espera para obter a permissão para vender maconha.
O governo analisa as propostas e tem demorado em responder porque a busca tem sido mais alta do que o esperado.
O número de usuários registrados também deu um salto, dos 6.700 iniciais para 11.50

8, o que vem causando longas filas nas farmácias autorizadas e falta de estoque em várias delas. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/12/08/17
 
Uruguai inicia venda de maconha em farmácias e revoluciona a política mundial de drogas
País com a maior tradição liberal da América dá início a um projeto vanguardista destinado à maconha
EL PAÍS Internacional, Espanha, Magdalena Martínez, Montevidéu 19 JUL 2017 

“Tinha que ser o Uruguai. Não é casualidade que esse seja o primeiro país do mundo onde o Estado se encarregará de controlar o cultivo, o empacotamento e a venda legal de maconha em farmácias — processo que terá início na primeira quinzena de julho —, uma atitude que todas as nações vizinhas proíbem e combatem. O pequeno país de cerca de 3 milhões de habitantes é governado, desde 2005, por uma esquerda tranquila, que conseguiu alcançar um recorde histórico de crescimento ininterrupto de sua economia. O Uruguai já foi o pioneiro na América Latina em abolir a escravidão, aprovar o ensino laico, o divórcio e em legalizar a prostituição. A separação entre Igreja e Estado ocorreu há mais de 100 anos. Tudo chega antes no Uruguai, que quase sempre serve de modelo para que outros sigam o mesmo caminho.
 “Eu consumo maconha desde os meus 15 anos de idade e nunca havia tido acesso, tão facilmente, a um produto de tanta qualidade e tão barato. As pessoas já não precisam ir às favelas para comprar essa droga. Os traficantes também já não se interessam pela maconha, não dá dinheiro. Eles se dedicam à venda de outras drogas. Quando vejo os problemas que existem em outros países para fumar me considero sortudo”, afirma Lucas López, que decidiu converter seu hobby em profissão e abrir uma loja de objetos de todo tipo relacionados ao consumo da maconha, em plena avenida 18 de julho, no centro de Montevidéu. O estabelecimento está repleto de pôsteres enormes em vários idiomas que dizem “aqui não vendemos maconha”, mas, ainda assim, turistas entram com frequência para tentar comprar a droga.
A legislação é muito clara: só os uruguaios podem cultivar em suas casas e adquirir maconha, oficialmente, nas 30 farmácias que já estão registradas para vender a droga a um preço de 1,30 dólar (cerca de 4 reais) por grama, um valor muito mais baixo que o cobrado por um produto de inferior qualidade no mercado negro. Os compradores registrados precisarão colocar seu dedo em um dispositivo na farmácia. Assim, a máquina poderá identificá-los e verificará se já não excederam o limite legal de compra – 10 gramas por semana. Esse mecanismo de controle garante também o anonimato, já que o farmacêutico não tem acesso ao nome do cliente, e, uma vez mais, deixa os estrangeiros de fora.
O país, que já é uma potência turística, quer que os visitantes venham atraídos pelas praias, não pela droga. Essa experiência piloto é única no mundo – há outros países onde a venda da maconha é legal, mas em nenhum deles o Estado controla todo o processo, incluído o design genético da planta, comprado de uma empresa espanhola. Tudo está pensado para tirar do mercado ilegal os 160.000 uruguaios que, em algum momento do ano, fumam maconha, e para acabar com um negócio que rende 30 milhões de dólares (95,7 milhões de reais) aos traficantes, além de aumentar a violência e, inclusive, o índice de mortes em um país pouco acostumado à insegurança que assola toda a América Latina.
Tudo começou em 2012, recorda Julio Calzada, o então responsável pela política de drogas e máximo inspirador da lei que regula todo esse inédito processo. O presidente do país era o atual senador José Mujica – agora com 82 anos –, um ex-guerrilheiro tupamaro que se converteu, na época, em um fenômeno mundial, com mais seguidores fora de seu país do que dentro dele. A tranquila Montevidéu, uma cidade de poetas e cafés, amanheceu comovida com um vídeo no qual um menor assassinava com um tiro, e a sangue frio, um funcionário do conhecido restaurante La Pasiva, durante um assalto. O homem tinha cinco filhos. Outras duas mortes violentas por acertos de contas entre narcotraficantes, na mesma semana, escandalizou tanto a sociedade que Mujica resolveu dar o primeiro passo para iniciar um processo que culmina agora, em 2017, e que levou a uma mudança integral da política de drogas e à legalização da maconha.
Cinco anos depois desse início, a colheita da planta, cultivada em estufas protegidas pelo Exército, para evitar roubos, já foi realizada com sucesso e o produto já foi devidamente embalado. As farmácias também já estão preparadas para começar a vendê-la em, no máximo, duas semanas. Alguns têm medo do que possa acontecer. As farmácias instalaram um “botão do pânico” para poder chamar a polícia de forma mais rápida e efetiva, caso seja necessário. No entanto, todos os especialistas no assunto acreditam que não haverá mais do que tranquilidade, no melhor estilo uruguaio. Não aconteceu nada de ruim quando o autocultivo foi aprovado. Atualmente há 6.000 pessoas registradas que encheram suas varandas e jardins em Montevidéu com a inconfundível planta. Os pés de maconha são tão visíveis que agora o problema são os roubos em época de colheita. “Antes nos escondíamos da polícia e agora dos ladrões”, brinca Laura Blanco, diretora do centro de cannabicultores Gaia. Os clubes cannábicos criados também não ocasionaram problemas. Esses grupos de consumidores se organizam que jardineiros cultivem para todos. Para ser sócio, cada integrante paga cerca de 100 dólares por mês (aproximadamente 320 reais), e, em troca, recebe os 40 gramas permitidos por lei, 480 gramas anuais. “Até o momento retiramos pelo menos 12.000 pessoas do mercado ilegal. Isso já é um êxito. E continuaremos expandindo nossos resultados”, afirma Calzada, idealizador da lei.
“Foi difícil se organizar para fazer uma colheita constante, mas agora tudo funciona perfeitamente. Conseguimos que nenhum de nossos sócios dependa do mercado negro, é uma mudança histórica no Uruguai e no mundo”, conta Martín Gaibisso, fundador de um dos primeiros clubes cannábicos. No Uruguai já começa a haver maconha de alta qualidade por todos os lugares. Usuários fumam nos parques, às margens do Rio da Prata, e nas mesas exteriores dos restaurantes, o consumo foi completamente normalizado. Devagar, sem pressa, ao estilo uruguaio, o país está mostrando ao mundo as consequências de aplicar outra política com relação às drogas leves.
O seguinte passo, com o qual muitos já sonham, é se converter em uma potência do cultivo da maconha com fins medicinais, e não recreativos, um grande negócio mundial, já que vários países, também na América Latina, estão aprovando a comercialização da planta para esse uso. O atual Governo, do médico oncologista Tabaré Vázquez, é muito mais moderado do que o de Mujica – embora pertençam à mesma coalizão política –, e resiste a ir mais longe. No entanto, o consenso existente sobre o tema da legalização fez com que ele não se animasse a barrar a lei. Apenas atrasou a venda em farmácias, que agora já está por começar. A maconha vendida nas farmácias será mais suave do que aquela que se cultiva em casa, para evitar inconvenientes para consumidores esporádicos. Ainda assim, será uma versão mais forte e muito superior ao “prensado paraguaio” que se vende ilegalmente nas ruas.
 “Nossa maconha terá um THC de 7%. Poderíamos ter chegado a 20%, mas está bem assim. A droga vendida nas farmácias terá como público principal consumidores pouco frequentes, jovens ou idosos que queiram usá-la para combater dores. Isso é um lucro enorme para minha geração, que cresceu na ditadura, quando uma pessoa era presa por fumar um baseado. A chave para que o Uruguai possa chegar a ser um líder mundial agora é desenvolver a maconha medicinal”, afirma Gastón Rodríguez, acionista de Symbiosis, uma das duas empresas uruguaias designadas pelo Governo para colher duas toneladas anuais de maconha. Além disso, Rodríguez é representante regional de Medropharm, uma empresa suíça que busca introduzir a cannabis medicinal em toda a região.
Rodríguez e sua equipe possuem, armazenada e empacotada, uma grande quantidade de maconha, em caixas de 5 e 10 gramas, à espera da ordem para levá-la às farmácias. No total, 4.000 pessoas se registraram para comprá-las, mas se estima que muitas mais o façam depois de que o processo tenha início.
“Começaremos na primeira quinzena de julho”, confirma Diego Olivera, secretário geral da Junta Nacional de Drogas, órgão especializado do Governo. “A droga tem uma desenvolvimento genético exclusivo para tranquilizar nossos vizinhos. Assim, se chegassem a encontrar droga do Uruguai em qualquer outro país seria possível identificá-la rapidamente, é inconfundível. No entanto, não acreditamos que isso chegue a acontecer, está muito bem controlada a quantidade de maconha que pode ser comprada. Estabelecemos padrões de segurança similares aos do sistema financeiro. Muitos países nos estão consultando, como o Canadá, por exemplo. A proibição da droga não atingiu seus objetivos, por isso, muitos governantes estão buscando alternativas”, explica.
A lei que determina a legalização da maconha conta com poucas críticas. A principal resistência veio, precisamente, do atual presidente, Tabaré Vázquez, que ao final se rendeu ao fato de que já não podia mais atrasar o processo. Tudo está sendo feito sem estridências, ao estilo local. “Demonstramos que somos um país sério, no qual o Estado consegue controlar esse tipo de coisas. Mujica entrará para a história por sua iniciativa. Daqui a 30 anos o consumo legal da maconha será visto como algo normal em muitos países. O Uruguai conseguiu recuperar, dessa forma, sua tradição de vanguardista liberal”, garante Eduardo Blasina, responsável pela criação do museu da cannabis em Montevidéu, que possui em seu jardim, além de enormes pés de maconha, alguns de peiote. Tudo acontece com normalidade, como só os uruguaios sabem fazer. Por isso, uma revolução silenciosa como essa não poderia ter começado em outro”                                                                                  Fonte:  https://brasil.elpais.com/

domingo, 6 de agosto de 2017

MONTEVIDÉU E SACRAMENTO, O QUE VIMOS




Por cinco dias, em comemoração aos 56 anos de casamento (dois casais de filhos, quatro netos e três netas) com minha esposa Maria do Carmo, visitamos o Uruguai que tem uma população de 3,5 milhões e que não cresce há 30 anos, dado a saída dos jovens e a baixa natalidade. não vimos um único carrinho de bebê em cinco dias circulando pela cidade e entorno. Apesar de Montevidéu ter 1,4 milhões de habitantes, é uma cidade tranqüila e segura, com trânsito disciplinado e sem engarrafamentos mesmo nos horário de pico, embora não tenha metrô nem VLT é muito bem servida por ônibus que circulam em faixas exclusivas. Observamos que as casas não têm cercas elétricas ou serpentinas com farpas de aço o que causa inveja a nós brasileiros e não se vê estresse nos semblantes das pessoas... 
É impressionante o número de casas de câmbio por toda a cidade, porquanto o Uruguai é uma espécie de Paraíso Fiscal.  

 Mercado Agrícola

O Mercado Agrícola de Montevideo (MaM) tem mais de 100 anos e foi revitalizado e reinaugurado em 2013, quando virou um novo point turístico e queridinho da cidade. Como adorei, sugeri às autoridades do Espírito Santo, onde moro, para que aproveitem o projeto na revitalização do Mercado da Vila Rubim, em Vitória, transformando-o em local turístico, como fez Montevidéu.
Segundo relato de brasileiro, “É fácil entender o motivo do meu encantamento: são 107 locais com vendas de frutas e verduras, praça de alimentação, serviços e ofertas culturais. É possível comprar de tudo! Desde vinhos, doce de leite, carne até produtos sem glúten. Aliás, tem uma loja exclusiva de produtos sem glúten com coisas que eu nunca tinha visto antes em nenhum lugar!
Não podemos confundir o Mercado Agrícola com o Mercado do Porto. Nesse segundo é onde você come parrilla diretamente no balcão (falaremos sobre isso em um próximo post). O MaM tem uma pegada mais cultural, com cafés, espaço para eventos e um mural do mais famoso artista plástico uruguaio, Carlos Vilaró.
Endereço:
Bairro Goes – Rua José L. Terra número 2220, entre Martín García e Dr. Juan José de Amézaga (perto do Palácio Legislativo). Horário: Aberto todos os
dias das 8h às 22h.
Palácio Salvo
Adoramos fazer a visita guiada e foi uma experiência incrível a sensação de estar no topo do edifício do Edf. Salvo e ver a cidade lá de cima e conhecer novas histórias e personagens. A visita durou menos de uma hora iniciada com um breve relato sobre a família Salvo, imigrantes italianos da região da Liguria que chegaram em Montevidéu e fizeram uma verdadeira fortuna inicialmente trabalhando no ramo de confecções.

Os negócios da família se diversificaram e surgiu o projeto do Palácio Salvo, a ideia original era construir o primeiro arranha céu da cidade, um ícone arquitetônico para ficar na história e ser um símbolo de agradecimento ao lugar que os acolheu e tantas oportunidades lhes ofereceram, e pelo lado econômico funcionaria como um hotel.

A realidade foi que apenas uma mínima parte do prédio funcionou como hotel, os demais espaços tiveram outros fins.

Para a construção foi aberto um concurso onde vários arquitetos se apresentaram, o mais bacana é ver imagens dos 18 projetos selecionados. O concurso não teve um vencedor declarado, mas tempos depois os Salvo chamaram o jovem arquiteto Mario Palanti, também italiano que vivia em Buenos Aires e já tinha desenhado o Palacio Barolo, para assinar o projeto da família.

Mario Palanti é outro personagem das histórias rio platenses,  construiu dois edifícios emblemáticos que retratam a época do apogeu da economia e sociedade uruguaia e argentina, os prédios são chamados de irmãos gêmeos, ambos tinham faróis que no imaginário do arquiteto se 'comunicariam', ele esperava que as luzes cruzassem todo o rio que separa as capitais e se encontrassem, pela curvatura da terra essa comunicação resultou inviável.

O Barolo foi inspirado na Divina Comedia de Dante e atualmente se mantém melhor conservado, no Salvo existe uma realidade bem diferente, há uma grande mescla de tudo, de salas comerciais e apartamentos, no interior do edifício funciona a tradicional rádio nacional, um clube de bilhar (achei total cena de filme na hora que abriram uma portinha e vi várias mesas de sinuca com senhores jogando às 17h da tarde de uma terça-feira), há uma gama de vizinhos impossível de unificar ou definir.

Onde hoje funciona um estacionamento, já foi um teatro importante da cidade. Onde existiu o café La Giralda, local onde foi tocado pela primeira vez La Cumparsita, talvez a canção de tango mais conhecida do mundo, é hoje uma loja da Movistar.

Lá no Palácio vemos ainda vários elementos esotéricos, místicos e da maçonaria expostos nos detalhes. 

Do lado de fora sob os arcos que dão para a Plaza Independencia encontramos formas marinhas, na passagem que liga a rua Andes e a praça há figuras no piso que supostamente marcam um campo magnético e faz muita gente parar no centro para receber boas vibrações, no hall de cada piso vemos figuras com o número 8 e flor de lis.
                  
Outra história curiosa é a do fantasma do sétimo andar, muitas pessoas juram terem visto em várias oportunidades um senhor bem vestido de preto, ao que parece é um fantasminha camarada que já salvou os vizinhos de assaltos.

Acreditam que seria o fantasma do José Salvo, um dos três irmãos Salvo que inclusive nunca moraram no edifício. 

Ele teve uma morte trágica, tinha uma filha com necessidades especiais que se apaixonou/foi seduzida pelo galã interesseiro do bairro, um boêmio que só queria saber de gastar a fortuna da família, conta-se que deu de presente um fino chalé a Carlos Gardel de quem era admirador, não contente com a gastança do dinheiro alheio, encomendou o assassinato do sogro, que morreu atropelado.

Há muitas lendas que circulam pelos corredores estreitos do enorme prédio, alguns parecem labirintos e contribuem para alimentar esses contos.

Depois de conhecer várias curiosidades chegamos no terraço, é a coisa mais linda ver a cidade com as cores do entardecer, a perspectiva da Plaza Independencia, do Rio de la Plata, porto e Avenida 18 de Julio lá de cima é simplesmente sensacional.

O mirante do vigésimo quarto andar que fica na cúpula direita da torre (de quem olha no sentido da praça para a 18 de Julio) não foi possível; é um passeio imperdível de verdade!

Colonia del Sacramento, a Paraty do Uruguai
Uma cidadezinha colonial, à beira d'água, fundada por portugueses, patrimônio da Unesco, povoada por pousadas e restaurantinhos e galerias...segundo relato de viajante:
“Só que o clichê acaba sendo útil pelo outro lado. Porque ajuda a contar as diferenças entre Colonia del Sacramento e sua -- ahn -- equivalente fluminense.
Para começar, Colonia está à beira-rio: o histórico e o vizinho centro comercial ocupam uma peninsulazinha que avança no Rio da Prata. No lugar de traineirinhas e escunas, Colonia exibe veleiros e iates (no portinho da costeira norte) e ferry-boats (no terminal hidroviário da costeira sul). O centrinho histórico tem um passeio à beira-rio murado, voltado para o poente, e que não inunda nunca, o Paseo San Gabriel.
Pouco resta da arquitetura original portuguesa; talvez o traçado, algumas casas e o calçamento pé-de-moleque, com canaleta no centro, da Calle de los Suspiros, onde os escravos eram desembarcados e suspiravam antes de serem vendidos. A maioria das edificações é colonial espanhola ou neoclássica, com uma ou outra casa mais moderna no meio.
A Plaza Mayor, no coração do centro histórico, está mais para o Quadrado de Trancoso do que para qualquer outra praça de cidade colonial brasileira.
Outra diferença: o entorno do centro histórico é muito mais bonitinho e arrumado do que o que estamos acostumados. O centro comercial de Colônia também tem seu charme.
Trata-se de um lugar cuja visita não requer nenhum esforço além do de chegar lá. Caminhar, fotografar, tomar um café ou uma taça de vinho ao sol.
Como chegar
Colonia fica 180 km a oeste de Montevidéu (110 km em estrada duplicada). De ônibus, pela COT, o trajeto é feito em 2 horas e meia (veja horários e tarifas).
Buenos Aires está mais próxima: a travessia em buques (barcos) rápidos é feita em 1h pela Buquebus (que também trasporta carros) e Colonia Express. É possível fazer pit stop em Colonia entre as duas cidades -- deixe a mala no maleiro da rodoviária, ao lado do terminal hidroviário (grátis) ou, se não couber, deixe na lanchonete (que cobra 50 pesos por peça).

Querendo passar o dia em Colonia e seguir viagem é preciso comprar as passagens separadamente: o Buquebus para a travessia, e o COT para o trecho a/de Montevidéu

Governo Mujica: lições para a direita e para a esquerda

José “Pepe” Mujica

Tabaré Vázquez, Presidente do Uruguai pela segunda vez. Vázquez já ocupou o cargo entre 2005 e 2010, sucedido por José Mujica, que passou a faixa presidencial ontem. Ambos são da Frente Amplio, coligação de partidos uruguaios de centro-esquerda e esquerda, parte do Foro de São Paulo. Após os cinco anos de seu governo, qual o balanço que se pode fazer do governo do ex-guerrilheiro do grupo Tupamaro, José Mujica, que prefere ser chamado pelo apelido Pepe e ficou marcado como carismático e humilde? Em sua política interna e em suas relações exteriores? Mais ainda, em tempos de ânimos acirrados e suspeitas de todos os esprectros políticos, o governo Mujica mostrou alguns dos caminhos que a esquerda latino-americana pode, ou poderia, tomar, com sucesso.
Na política interna do Uruguai, o mais evidente e mais falado foram as novas medidas sociais do país. Desde dezembro de 2012, as mulheres uruguaias podem interromper, legalmente e com respaldo, a gravidez, até a décima segunda semana da gestação. Um balanço oficial do governo uruguaio informou que, no período de um ano de vigência da lei, foram realizados 6.676 abortos seguros. Em abril de 2013, o Uruguai aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em maio de 2014, o Uruguai legalizou a venda de maconha no país e, em fevereiro de 2015, regulamentou-se o uso da droga para fins medicinais e pesquisas terapêuticas. Como a droga será comercializada ainda está sendo debatido e não foi regulado, mas Mujica deixou claro que seu objetivo é tirar o financiamento do narcotráfico.
A última medida social será parcialmente do governo de Mujica. Em dezembro de 2014, o Legislativo uruguaio passou a Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual; a lei discute a reforma no setor de telecomunicações no país. Após o apoio de Pepe, a iniciativa será regulamentada pelo governo de Vázquez. O objetivo da lei é evitar a concentração econômica no setor de telecomunicações e alavancar a concorrência e a pluralidade na oferta de serviços e de conteúdos. Nas palavras de Pepe: “Eu não quero que o Clarín ou a Globo sejam donos das comunicações no Uruguai”. Todas essas medidas demonstram um elemento essencial para um governo democrático, o prestígio e a aprovação popular de Mujica. Sem isso, não teria a maioria no Parlamento e não conseguiria aprovar tais pautas. Pepe encerrou 2014 com 64% de aprovação.
Sua política externa foi uma soma desses dois elementos, avanços sociais e sua luta pessoal, com a tradição de neutralidade e de afirmação do Uruguai. Seu foco foi a resolução e mediação de conflitos, parte de uma meta maior, a integração latino-americana. Em março de 2013, Pepe aceitou o pedido dos EUA para receber presos vindos de Guantánamo, conhecida base dos EUA em Cuba que foi o cerne de muitas críticas por violações de direitos humanos. Mujica declarou que os abrigaria na condição de “refugiados” e, em dezembro de 2013, os EUA confirmaram que seis indivíduos foram transferidos para o Uruguai. Em outubro de 2014, o Uruguai recebeu refugiados sírios, após oferta de Mujica; quarenta e dois sírios, formando famílias inteiras, receberam asilo, acompanhamento profissional, emprego e moradia.
Ainda em relação à Cuba, em dezembro de 2014, Barack Obama, Presidente dos EUA, agradeceu Mujica pelo seu papel como um dos mediadores do acordo de reaproximação entre EUA e Cuba; mesmo assim, Mujica manteve parte de suas críticas ao governo dos EUA, pedindo o fim do embargo e a libertação de presos cubanos e do líder porto-riquenho Oscar López Rivera. Nas últimas semanas de seu governo, Pepe, reunido com Evo Morales, Presidente da Bolívia, anunciou os planos da construção de um porto de água profundas que será utilizado também pelo país andino, que reivindica uma saída oceânica desde a derrota na Guerra do Pacífico, em 1883. A saída para o mar é a principal pauta da política externa boliviana e o cerne de suas relações com o Chile, que é acusado, pela Bolívia, de descumprir tratado internacional sobre o tema. Com a provisão negociada por Mujica, espera-se que os ânimos se acalmem e uma solução definitiva seja alcançada pelos vizinhos. Fonte: https://xadrezverbal.com/
URUGUAI, HISTÓRIA
Antes do descobrimento do Uruguai pelos espanhóis, em 1516, os habitantes daquela terra eram os índios charruas, chanaés e guaranis, entre outros. Dos milhares de índios que lá habitavam, a maioria era da tribo charrua.
A primeira colônia se estabeleceu em 1624, em Soriano. Os colonizadores eram espanhóis. Em 1680, um grupo de portugueses fundou a colônia de Sacramento. Logo os espanhóis expulsaram os portugueses. A época da colonização do Uruguai foi marcada pela constante disputa entre espanhóis e portugueses.
A cidade de Montevidéu foi fundada pelos espanhóis entre 1724 e 1750. Em 1800 surgiu o sentimento nacionalista nos uruguaios, o que levou o militar uruguaio José Gervasio Artigas a partir para a luta armada, dominando a cidade de Montevidéu de 1810 a 1814. Em 1817, Artigas foi derrotado.

Em 1821, o Uruguai foi ocupado e anexado ao território brasileiro, a partir de uma aliança entre os brasileiros e os portugueses. A região foi chamada de Província Cisplatina.
Em 1825 os brasileiros foram expulsos com a liderança do uruguaio Juan Antonio Lavalleja, ajudado por tropas argentinas. Juan Antonio Lavalleja proclamou a independência uruguaia na mesma ocasião, o que só foi reconhecido por brasileiros e argentinos em 1828, através do tratado de Montevidéu.

Durante todo esse período da colonização e de disputas entre os europeus, gradativamente o número de indígenas foi diminuindo devido a doenças e as desavenças com os brancos que resultavam em morte. Em 1832, a nação indígena charruas foi dizimada.

Os políticos uruguaios se dividiram entre conservadores (blancos) e liberais (colorados), sendo que suas desavenças levaram o país a uma guerra civil entre os anos de 1839 e 1851. Na Guerra do Paraguai, em 1865, o Uruguai fez parte da vitoriosa Tríplice Aliança, aliado, portanto a Argentina e ao Brasil.
O trabalho do presidente Battle y Ordonez no inicio do século XX, levou o país a uma democracia estável e implantou um sistema social complexo, que propiciou ao povo uruguaio maior qualidade de vida. Nesse período, o país ficou conhecido como a “Suíça Americana”, fato que durou até por volta de 1960, mesmo no período entre 1951 e 1966, quando o presidencialismo foi substituído por um Conselho de Administração.
Com o retorno do sistema presidencialista, em 1967, foi promulgada uma nova constituição. O presidente eleito foi Oscar Daniel Gestido. Entre 1973 e 1980, foi instaurada a ditadura no país. Nos anos 80 a democracia foi consolidada no território uruguaio. O Uruguai aderiu ao Mercosul em 1994. Fonte: http://www.infoescola.com/