Modelo do Bolsa Família não é suficiente para erradicar fome, diz Frei Betto
Responsável pelo programa Fome Zero no primeiro
governo de Lula, o dominicano afirma que é necessário introduzir a dimensão
educativa nas políticas sociais para o governo não se tornar um ‘balcão de
benefícios’ Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, nasceu no ano de
1944, em Belo Horizonte. Ligado à esquerda, foi preso político durante a
ditadura militar, acusado de apoiar guerrilheiros como Carlos Marighella.
Frei Betto acusa Lula de
usar programas para obter votos
O presidente Lula quer sair do governo com um
certificado ISO-15.000 na área social. Para cumprir a meta, anunciada na semana
passada durante a reunião de balanço de ações sociais do governo com 14
ministros, Lula terá primeiro que se explicar. Ele é acusado de usar seu
principal programa social, o Bolsa Família, como “manancial de votos”.
As acusações formam feitas pelo ex-coordenador de
mobilização social do programa Fome Zero "a principal plataforma eleitoral
de Lula no primeiro mandato ", e amigo pessoal do presidente, Frei Betto,
que avalia que nesses sete anos de governo, o PT mudou os rumos de sua política e deixou de lado um
projeto inicial de governo, para se dedicar a um “projeto de poder”.
O frei dominicano "que deixou o governo Lula
em 2004, por não concordar com os rumos da política petista na época �" afirma que o PT, ao manter o benefício do Bolsa Família por tempo indeterminado, garante a fidelidade
dos mais pobres que retribuem o benefício por meio do voto.
“Não sou contra o Bolsa Família, mas ele é incompleto, imperfeito, insuficiente e
assistencialista. Perdeu-se o caráter emancipatório para o caráter
compensatório, em função de um projeto político, que não é a emancipação
brasileira, mas a permanência no poder, na medida em que esses beneficiários
do Bolsa Família trazem em contrapartida votos”, acusou.
O Bolsa Família é um programa de transferência de renda,
criado para apoiar famílias pobres e garantir a elas, em especial, o direito à
alimentação. No início do governo Lula, o programa fazia parte do Fome Zero �"programa criado para acabar com a fome no
Brasil, do qual estavam atrelados cerca de 60 programas sociais. Em 2004, o
Fome Zero foi extinto enquanto programa e o Bolsa Família passou a ser prioridade do governo.
Ao site, o teólogo elogiou a política do governo
para amenizar os efeitos da crise econômica mundial, mas se disse receoso sobre
as conseqüências que dela no país. “Tenho a impressão que nós vamos enfrentar
tardiamente as conseqüências dessa crise, principalmente no aumento do desemprego.
Infelizmente, com todas as conquistas e pontos positivos do governo Lula, não
se investiu no mercado interno”, considerou.
Betto estudou jornalismo, antropologia, filosofia e
teologia, entrando para o convento dos dominicanos em 1965. Em toda a sua
trajetória, a política e a religião sempre estiveram ligadas, sendo ele um dos
defensores ferrenhos da teologia da libertação.
" Na época em que o senhor coordenava o programa Fome
Zero, o contexto da economia brasileira era outro. No início de seu governo, o
presidente Lula estava preocupado em aumentar o PIB e provar que daria conta de
melhorar os índices econômicos do país. Agora o governo, apesar da crise, está
em uma situação economicamente mais estável. Lula, inclusive, esbanja altos
índices de popularidade. Em relação às questões sociais, houve também um
amadurecimento do governo?
O Bolsa Família era um dos 60 programas do leque Fome Zero.
Quando nós elaboramos o Fome Zero, a proposta era que cada família permanecesse
na dependência do governo federal, no máximo, por dois anos. Fim dos dois anos,
a família teria condições de produzir a sua própria renda. Era um programa
emancipatório. Aí, alguns setores do governo descobriram que o Bolsa Família era um grande manancial de votos. Ou seja,
melhor manter as famílias dependentes permanentemente do governo, que elas vão
retribuir em votos. Daí se matou o Fome Zero e se valorizou o Bolsa Família, que eu não sou contra, mas é incompleto,
imperfeito, insuficiente e assistencialista. Perdeu-se o caráter emancipatório
para o caráter compensatório, em função de um projeto político, que não é a
emancipação brasileira. Mas é a permanência no poder, na medida em que esses
beneficiários do Bolsa Família trazem em contrapartida votos.