Brasil é o segundo país com maior proporção de jovens "nem-nem"
População
entre 18 e 24 anos que não estuda, nem trabalha corresponde a 36% da faixa
etária no Brasil. Problema é considerado estrutural
O
desemprego e a falta de motivação entre os jovens é um problema estrutural, por
isso os desafios geracionais em relação ao mercado de trabalho são difíceis de
serem transpassados. O Brasil é o segundo país na esfera da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com a maior proporção de jovens,
de idade entre 18 e 24 anos, que não conseguem nem emprego e nem continuar os
estudos — os chamados "nem-nem" —, ficando atrás apenas da África do
Sul. Nessa faixa etária, 36% da população de jovens brasileiros está sem
ocupação.
De
acordo com ela são, em média, 11 milhões de jovens que se encaixam nessa descrição.
A maioria são mulheres e estão entre os mais pobres, com renda de até R$ 400
por família. "Entre aqueles que estão sem estudar e sem trabalhar temos os
que ainda procuram, mas a maioria já está de fora por estarem desengajados e
desmotivados. A maior parte desses jovens têm baixa escolaridade, são pobres,
negros e são mulheres, responsáveis por tarefas domésticas e com filhos. Esses
devem ser a maior preocupação", ressalta.
Planos e sonhos
Ana
Clara Ribeiro Vieira, 23 anos, ainda sonha em conquistar um diploma de
graduação. A jovem engravidou e se casou logo que terminou o ensino médio.
Hoje, com dois filhos, um de cinco e outro de dois anos, é dona de casa, mas
ainda sonha em fazer um curso superior e trabalhar fora. "Os filhos
acabaram vindo primeiro, mas eu ainda quero fazer uma faculdade. Por enquanto
ainda está difícil, porque os meninos dependem de mim. Meu sonho era fazer
odontologia. Sei que não é fácil, que é um curso caro, mas mesmo que eu não
consiga, pretendo ter alguma formação", diz.
A
pandemia acabou impondo mais obstáculos aos que tiveram prejuízos educacionais
— jovens que iriam se formar ou começar no mercado de trabalho durante este
período. A crise sanitária aumentou a evasão escolar, além de ter pressionado
os índices de desemprego. Um exemplo desses milhares de jovens que aguardam uma
oportunidade de retornar ao mercado de trabalho é Úrsula Barbosa, 24 anos.
Cenário econômico
Conforme
o estudo da OCDE, a proporção de jovens "nem-nem" brasileiros é mais
que o dobro da média dos países-membros da organização, da qual o Brasil almeja
fazer parte. O documento avaliou a situação de ensino superior e de emprego dos
38 países-membros. Também foram analisados os dados da Argentina, China, Índia,
Indonésia, Arábia Saudita e África do Sul. Das 45 nações avaliadas, o Brasil
também é o segundo com o maior percentual de jovens por mais tempo na condição
"nem-nem". Dos que estão sem emprego e sem trabalhar no país, 5,1% se
encontram nesse contexto há mais de um ano.
Políticas públicas
Segundo
a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Enid Rocha,
um lapso temporal no currículo, correspondente ao tempo fora do mercado, pode
gerar consequências difíceis de recuperar. "Tivemos uma crise perversa da
pandemia que se juntou a um problema estrutural do mercado de trabalho para os
jovens", diz. Este período, de acordo com Rocha, resulta em uma marca
permanente na trajetória de vida laboral.
"Esses
jovens da geração da pandemia, que ficaram um tempo sem acumular capital
humano, quando voltam vão competir com outra geração posterior que não tem essa
marca. Dificilmente se recupera a trajetória de um jovem que ficou sem
experiência de trabalho. Se nada for feito eles sempre terão salários menores e
uma inserção mais precária ao mercado de trabalho", avalia. SAIBA
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