(crédito: Maurenilson Freire)
Ataques do presidente às urnas eletrônicas, ao TSE e ao Supremo,
principalmente depois do encontro com diplomatas estrangeiros, despertaram
inédita reação da sociedade civil.
Fracassaram os esforços da cúpula da
Fiesp, que articula o manifesto dos empresários em defesa da democracia e das
urnas eletrônicas, para que todos os candidatos à Presidência assinassem o
documento, numa espécie de pacto de respeito mútuo ao resultado das eleições.
Ontem, o Palácio do Planalto anunciou que Jair Bolsonaro não subscreverá o
documento, assinado por entidades empresariais e federações sindicais de
trabalhadores, e cancelou a ida do presidente da República ao lançamento do
documento, no dia 11 de agosto, na sede da Fiesp. Também foi cancelado o jantar
com empresários que estava programado.
A ida de Bolsonaro à Fiesp fora
antecipada para 11 de agosto a pedido do Palácio do Planalto. Para evitar mais
constrangimentos, o recolhimento de assinaturas de apoio ao manifesto da
federação ficou restrito às entidades empresariais e sindicatos de
trabalhadores, para que as assinaturas dos candidatos dos presidentes fossem
recolhidas antes de as pessoas físicas aderirem o documento. Ocorre que
Bolsonaro não digeriu as manifestações em defesa da urna eletrônica, da Justiça
Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal (STF), e torpedeou as iniciativas.
Na terça-feira, Bolsonaro atacou o
documento da Fiesp, que considerou uma "carta política". Chamou de
"cara de pau" e "sem caráter" os empresários que assinassem
o documento, o que provocou o cancelamento do jantar que estava marcado com
eles. Também houve muita discussão entre os que já haviam aderido ao manifesto,
se os empresários deveriam assinar ou não o documento como pessoa física. O
texto em nenhum momento cita o presidente da República. Os candidatos Felipe
D'Ávila (Novo), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), que já estiveram na
Fiesp, subscreveram o documento.
Sociedade
civil
O episódio tende a aprofundar o
confronto de Bolsonaro com a sociedade civil, a praticamente dois meses das
eleições. Em termos gerais, esse é um espaço de organização e representação que
não se confunde com o Estado, a família nem o mercado, que são os ambientes
específicos e mais homogêneos onde Bolsonaro atua intensamente. A sociedade
civil engloba instituições de caridade, grupos de autoajuda, associações
profissionais, religiosas, sindicatos, entidades empresárias, movimentos
sociais etc. É um universo complexo que, no Brasil, ganhou autonomia durante o
regime militar, protagonizando movimentos de resistência em defesa da
democracia e dos direitos humanos.
Os ataques de Bolsonaro às urnas
eletrônicas, à Justiça Eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal (STF),
principalmente depois de seu encontro com diplomatas estrangeiros para levantar
suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas, despertaram forte e inédita
reação da sociedade civil. A defesa das urnas eletrônicas até então estava
sendo feita pelos ministros do Supremo, pela grande mídia e pela oposição.
Esses ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro, reconhecido
internacionalmente por sua segurança e eficiência, funcionaram como um
catalisador dessa reação.
Congresso
Ontem, o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), na abertura da sessão do Plenário, reiterou sua confiança no
sistema eleitoral. Disse que as urnas eletrônicas são motivo de "orgulho
nacional". Segundo ele, nestes 26 anos de uso no Brasil, trouxeram
transparência, confiabilidade e velocidade na apuração do resultado das
eleições. "Elas têm-se constituído em ferramenta poderosa contra vícios
eleitorais muito frequentes na época do voto em papel. Representam, portanto,
um verdadeiro aperfeiçoamento institucional", enfatizou.
A fala de Pacheco coincidiu como a ida
de militares do Ministério da Defesa ao Tribunal Superior Eleitoral (STF) para
conferir a segurança dos códigos-fonte das urnas eletrônicas, um trabalho que
poderia ter sido feito nos últimos 10 meses. O ministro da Defesa, general
Paulo Sérgio Nogueira, vem reproduzindo à frente da pasta a narrativa de
Bolsonaro sobre a segurança das urnas eletrônicas. Na verdade, a postura de
Bolsonaro sinaliza temor de perecer nas eleições e suas intenções golpistas, o
que acaba fortalecendo a oposição. https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/08/5026760-analise-jair-bolsonaro-esta-em-rota-de-colisao-com-a-fiesp.html