A escolha de Gabrilli agrega à candidatura de Simone Tebet força em São Paulo, o maior colégio eleitoral do Brasil, o que dificulta a sua cristianização pelo PSDB paulista
A chapa Simone Tebet, candidata do MDB
à Presidência da República, com Mara Gabrilli (PSDB-SP) como sua vice, é
alvissareira. Abre espaço para mais mulheres na política, agora com
possibilidades financeiras, porque 30% do fundo eleitoral serão destinados a
candidaturas de mulheres pelos partidos, que podem ser punidos se não o
fizerem. Entretanto, Simone nem de longe tem as mesmas condições oferecidas à
ex-presidente Dilma Rousseff, que se elegeu com apoio do então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, em 2010, no auge de sua popularidade, e se reelegeu em
2014, embora com dificuldades e uma oposição que viria apeá-la do poder, com o
impeachment.
Mesmo assim, a sobrevivência da
candidatura de Simone Tebet no MDB, um partido dominado por velhos caciques
políticos regionais, e a indicação de Gabrilli para vice, pelo PSDB, uma
senadora de grande prestígio em São Paulo, são obras de grande engenharia
política. Nessa construção, destacaram-se a própria candidata, que não
esmoreceu diante dos desafios; o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi, que
bancou sua candidatura até o fim; o presidente do PSDB, Bruno Araújo, que
retirou do caminho o ex-governador de São Paulo João Doria, abdicando da
candidatura própria; e o presidente do Cidadania, o veterano Roberto Freire,
que apostou na aliança MDB-PSDB-Cidadania, inclusive removendo a candidatura do
senador Alessandro Vieira (SE), então no Cidadania, quando a aliança com o MDB
parecia impensável.
A escolha do nome de Mara Gabrilli para
vice foi uma decisão estratégica. O PSDB de São Paulo não estava nem aí para
Simone Tebet, mais empenhado na reeleição do governador Rodrigo Garcia, que
enfrenta dois adversários poderosos: o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad
(PT) e o ex-ministro de Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos). A
decisão foi tomada na cúpula da aliança, num encontro das duas senadoras com
Baleia, Araújo e Freire. Segundo Tebet, a conversa entre as duas colegas de
Senado foi decisiva:
"Eu tinha dúvida, Mara, se uma
chapa 100% feminina seria aceita. Que bom que as [pesquisas] qualitativas
mostraram que homens e mulheres estão prontos para votar nessa chapa. E quando
fiz o convite para você, esperando que você fosse dizer 'vou pensar um
pouquinho, eu tenho algumas limitações', Mara disse, na sua generosidade,
'Simone, que honra. Como vai ser bom falar para o Brasil da nossa causa e da
nossa luta'", relata Tebet. https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/08/5026482-analise-dobradinha-de-mulheres-na-terceira-via.html