sábado, 12 de março de 2022

PUTIN, CHEIRO DE GOLPE NO KREMLIN

 

Alguns dos homens de Putin sentem-se enganados, porque não foram informados sobre a invasão da Ucrânia

Há um cheirinho de golpe no Kremlin.

Segundo a correspondente do jornal La Repubblica em Moscou, alguns dos homens mais próximos de Vladimir Putin estariam se sentindo enganados pelo carniceiro, porque não teriam sido informados sobre a invasão da Ucrânia.

Houve até quem pensasse em renunciar. Como disse uma fonte para um site russo, porém, isso é impossível:

“Se alguém renunciar, vai para a cadeia. Renunciar agora seria visto como uma tentativa de fuga”.

Os únicos que sabiam dos planos de Putin eram o ministro da Defesa, Serghej Shojgu, e o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Valerij Gerasimov. 

O primeiro-ministro Mikhail Mishustin e seu vice, Andrei Belousov, passaram as últimas semanas convencendo a governadora do Banco da Central da Rússia, Elvira Nabiullina, a preparar a economia para eventuais sanções do Ocidente. A expectativa de todos eles, porém, era apenas de um reconhecimento das repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk, e não a invasão da Ucrânia.

Um site independente russo noticiou que Putin está extremamente insatisfeito com os espiões da FSB, e que dois de seus chefes foram postos em prisão domiciliar.

O historiador Andrei Zubov agora aposta na derrubada de Putin:

“Haverá um golpe de cima para baixo, muito rápido, como a remoção de Khrushchev em 1964, ou a morte do czar Paulo I na noite entre 11 e 12 de março, ou a estranha morte de Stalin em março de 1953”. https://oantagonista.uol.com.br/mundo/cheiro-de-golpe-no-kremlin/?utm_campaign=SEX_TARDE&utm_content=link-736223&utm_medium=email&utm_source=oa-email

 

quarta-feira, 9 de março de 2022

RÚSSIA x UCRÂNIA, NEGOCIAÇÕES FRACASSAM NA TURQUIA

Rússia evita discutir cessar-fogo à medida que os ataques se intensificam

A esperada reunião desta quinta-feira entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, e da Ucrânia, Dmitro Kuleba, com a mediação da Turquia, não rendeu nenhum avanço significativo para acabar com a guerra. El País 

Representante do Ministério das Relações Exteriores russo afirmou também que Moscou quer avançar nas próximas negociações

Rússia alcançará seu objetivo de garantir o status neutro da Ucrânia e prefere fazer isso por meio de negociações, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, nesta quarta-feira (9).

Os objetivos de Moscou não incluem derrubar o governo de Kiev, e a Rússia espera alcançar progressos mais significativos na próxima rodada de negociações com a Ucrânia, disse Zakharova em uma coletiva de imprensa, acrescentando que a operação militar da Rússia está seguindo estritamente seu plano.

Além disso, Zakharova acrescentou que a Rússia já teria recebido mais de 140 mil ucranianos em seu território desde a chamada “operação militar especial” na Ucrânia. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 2 milhões de refugiados já deixaram a Ucrânia até o momento.

Um novo cessar-fogo para a saída de civis da Ucrânia através de corredores humanitários foi informado pelos russos nesta quarta-feira (9). Apesar da interrupção dos ataques desde às 9 horas local (4 horas de Brasília) desta quarta, as Forças Armadas ucranianas divulgaram um comunicado afirmando ser “difícil confiar no ocupante” https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/russia-prefere-atingir-metas-na-ucrania-por-meio-de-negociacoes-diz-porta-voz/

terça-feira, 8 de março de 2022

O VEXAME DE VLADIMIR, O PEQUENO

 

Por Vilma Gryzinski

Ele queria ser Pedro, o Grande, mas se sai mal até dentro de casa 

Com escritores prodigiosos, músicos grandiosos e história convulsionada, tendo durante um breve período do século passado se apresentado como pioneira de uma revolução que abarcaria todo o planeta, a Rússia causa uma mistura de fascínio e repulsa ao resto do mundo há pelo menos 400 anos. De Ivan, o Terrível, o czar que matou o próprio filho, a Josef Stalin, o monstro que devorou pelo menos 20 milhões de vidas, a Rússia também tem uma tradição de líderes com algum tipo de psicopatia. Nas suas duas décadas no poder, Vladimir Putin parecia a negação disso: frio, calculista, determinado, cabeça de estrategista e mão de jogador de pôquer. Tirou a Rússia da dissolução sistêmica que castigou o país imediatamente depois do fim da União Soviética e chegou a ter 88% de aprovação popular. Com o poder cada vez mais absoluto sussurrando as seduções de praxe, imaginou-se Pedro, o Grande, o czar da grande modernização do século XVII. Deu para mergulhar em obras históricas e ouvir as teorias do filósofo barbudo Alexander Dugin sobre “o grande projeto eurasiático”, a emergência de um novo centro de poder mundial, com os russos bem no alto dele.                                                                 “Putin talvez não contasse com a reação mais importante de todas: a dos próprios russos”                                                         

O que poderia dar errado em avançar mais um passo nesse projeto e engolir um país fraco e mal organizado como a Ucrânia? Estados Unidos e países europeus já tinham assimilado a anexação da Crimeia, com sanções que mal arranhavam a couraça russa. Estavam debilitados pela pandemia e suas sequelas econômicas, incluindo inflação e preços do petróleo disparando. A economia russa, em compensação, estava bem-arrumada; o exército, reequipado; a opinião pública, controlada.

“Os deuses, quando querem nos castigar, atendem as nossas preces.” Sem ligar a mínima para a advertência deixada por Oscar Wilde, Putin projetou entrar na Ucrânia como Vlad, o Conquistador. Talvez imaginasse que a população etnicamente russa receberia os invasores de braços abertos, legitimando o abuso inominável. E talvez não contasse com a reação mais importante de todas: a dos próprios russos, e não apenas da pequena minoria oposicionista. De filhas da elite que deve tudo a Putin a milionários idem, passando por jornalistas e artistas que dependem da aprovação do Estado para existir, esboçou-se um clamor de repúdio propagado via TikTok, Instagram e Facebook.

Em 25 de agosto de 1968, poucos dias depois que tropas soviética entraram na Checoslováquia para acabar com o movimento reformista conhecido como a Primavera de Praga, apenas oito cidadãos russos, num ato sem precedente, sentaram-se na Praça Vermelha com pequenos cartazes de protesto escritos a mão. Todos acabaram em campos de trabalho ou hospitais psiquiátricos. Na era das redes sociais, a praça é virtual. Putin pode não ligar a mínima para posts no Instagram, mas não pode mudar o fato de que, em vez de mobilizar a alma russa, o ente coletivo que salva o país nas grandes crises, está provocando memes em que é ridicularizado. (Obs. Putin de 1,68m de altura...) De grande czar da era moderna, agora parece recalcado, descontrolado e, por mais que subjugue um país mais fraco, inevitavelmente pequeno.                                 Publicado em VEJA de 9 de março de 2022, edição nº 2779

 

BRASIL, PERIGOSA DEPENDÊNCIA DE FERTILIZANTES

 

Por THEODIANO BASTOS

Entenda como o Brasil se tornou dependente de fertilizantes

A guerra na Ucrânia tem potencial devastador no agronegócio brasileiro, devido à dependência do país de fertilizantes importados. Mas nem sempre foi assim. A Petrobras já chegou a ser a maior produtora de nitrogenados do mundo, mas deixou o negócio para focar em petróleo e gás, em 2018.

A decisão, segundo especialistas, fez parte de um plano de negócios da estatal, a partir de 2016, que previa desinvestimentos em áreas que não eram o principal foco da empresa — petróleo e gás — para reduzir a sua então dívida de US$ 160 bilhões.

Apesar do clima favorável, o solo brasileiro é carente de nutrientes, o que torna essencial o uso das substâncias para a produção agrícola. O Brasil é hoje o quarto consumidor global de fertilizantes, atrás de China, Índia e Estados Unidos, e o maior importador mundial de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) Venda de unidade para grupo russo

No plano, a estatal alegou que produzir fertilizantes dava prejuízo e arrendou e vendeu fábricas em Sergipe, na Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul. Em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, a unidade que estava sendo construída, foi vendida para o grupo russo Acron para produzir uréia fertilizante. Também para diminuir seu endividamento, a Vale decidiu, em 2016, vender suas plantas e investimentos em fertilizantes.                                

“Esta transação reforça o pilar estratégico da Vale de disciplina na alocação de capital e o contínuo foco em nossos principais negócios”, afirmou a empresa em nota em 2021, quando terminou de vender sua participação na Mosaic, produtora de potássio e fertilizante de fosfato.

Amazonas, a maioria das principais minas de potássio, substância usada em fertilizantes para o agronegócio, está localizada fora de terras indígenas. Os dados contrariam declarações do presidente Jair Bolsonaroque tem defendido a aprovação de projeto de lei que libera a mineração em áreas demarcadas como forma de superar a dependência brasileira da Rússia no acesso a fertilizantes.

Bolsonaro alega que os locais mais importantes para extração de potássio do Brasil estão bloqueados por estarem dentro de aldeias. “Como deputado, discursei sobre nossa dependência do potássio da Rússia. Citei três problemas: ambiental, indígena e a quem pertencia o direito exploratório na foz do Rio Madeira. Nosso Projeto de Lei 191 ‘permite a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas’. Uma vez aprovado, resolve-se um desses problemas”, disse o presidente na semana passada.

Para pressionar o Congresso, o líder do governo pediu então urgência na votação do projeto de lei. Ontem, Bolsonaro voltou a dizer que a guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe uma “boa oportunidade” para o Brasil aprovar a exploração de terras indígenas.

Desde a foz do Rio Madeira, que deságua no Rio Amazonas, passando por municípios como Autazes, Nova Olinda do Norte e Borba, há dezenas de áreas, em diferentes etapas de pesquisa mineral, em nome da Petrobras e da companhia Potássio do Brasil, controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan. As duas empresas praticamente controlam os projetos de potássio na região, concentrando a maioria dos títulos minerários do insumo.

Esses dados fazem parte do levantamento feito pela reportagem nos registros de pedidos de pesquisa e lavra de potássio ativos na Agência Nacional de Mineração (ANM). O Estadão também solicitou à Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM) que elaborasse um mapa com pedidos ativos ao longo da calha do Rio Madeira, no Amazonas, que concentra as maiores minas de potássio do Brasil. Foi feito cruzamento com a localização das terras indígenas da região.

O resultado mostra que não há sobreposição na imensa maioria dos casos, o que significa que não são as terras indígenas que impedem a exploração de potássio no País. O levantamento mostra que um pequeno número de blocos de exploração teria impacto direto em terras demarcadas, como ocorre na região de Nova Olinda do Norte, em áreas que estão em fase de pesquisa na região das terras indígenas Gavião, Jauary e Murutinga/Tracajá.

A reportagem questionou a Petrobras sobre as razões de a empresa manter dezenas de títulos minerários de potássio desde os anos 1970 na região, e quais as expectativas de exploração dessas áreas. Em nota, a companhia disse apenas que “mantém títulos de lavra e de pesquisa com potencial de potássio na Bacia do Amazonas” e que “estuda alternativas para os ativos, considerando sua estratégia de negócio”.

https://economia.ig.com.br/2022-03-04/fertilizantes-dependencia-brasil-agropecuaria.html

 

domingo, 6 de março de 2022

ELEIÇÃO PRESIDENCIAL: DECISÕES EM MAIO

João Dória, Moro e Simone Tebet firmaram um pacto; estarão unidos na eleição. O cabeça de chapa será decidido até 31 de maio.  

União Brasil, MDB e PSDB também pretendem estarem unidos em torno de um candidato e as tratativas foram concluídas.

Se nada der errado, estarão jutos nas urnas em outubro.

sábado, 5 de março de 2022

O SENHOR DA GUERRA

 



 

EM 2014, quando a Rússia anexou a península da Crimeia, ao sul da Ucrânia, a chanceler alemã Angela Merkel definiu Vladimir Putin como “um líder que usa métodos do século XIX no século XXI”. Em outros termos: recorre a recursos bélicos e nacionalismo em tempo de leis e globalização. Agora, é acusado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de querer deflagrar “a maior guerra na Europa desde 1945”. Há algum exagero nessa acusação, talvez não se chegue a um conflito dessa dimensão, e mesmo com tiros já disparados sempre haverá algum espaço — mínimo que seja — para a diplomacia. Contudo, convém sempre lembrar que o autocrático líder russo reza pela cartilha da célebre máxima do militar prussiano Carl von Clausewitz (1790-1831): “A guerra é a continuação da política por outros meios”. A Rússia do neoczar vê a nação ucraniana como extensão de sua própria e não admite o ingresso do país vizinho na Otan, a aliança militar da Guerra Fria que se opunha ao Pacto de Varsóvia. Do outro lado, os americanos, como em todo balé geopolítico, se alinham com a Ucrânia para fazer valer sua influência naquela porção do planeta.

O comportamento agressivo de Putin é tudo o que o mundo menos precisava agora, em tempos de pandemia e de extrema polarização ideológica. As guerras começam com estrondo, mas seus efeitos não cessam num piscar de olhos, como um disparo de pólvora — costumam ser duradouros e insidiosos. Um modo de enxergar os danos que provocam, para além das vidas perdidas, claro, é entendê-las do ponto de vista econômico, cujos resultados cruzam oceanos, como peças de dominó derrubadas. Não custa lembrar que, antes mesmo da declaração de fogo, os mercados já reagiram, com investimentos congelados e o aumento do preço de uma série de commodities. Na terça-feira 22, o barril de petróleo chegou a 100 dólares, o maior valor em sete anos. O custo do gás na Europa também teve salto, na ordem de 13%. A explicação é simples: a Rússia supre mais de um terço do gás consumido pelos europeus e boa parte dele passa por gasodutos na Ucrânia. Pode haver outros sobressaltos, como mostra a reportagem a partir da página 40, também como resposta às sanções que algumas nações do Ocidente anunciam impor à Rússia.

Nesse jogo político, é importante levar em conta a teimosia de Putin. Desde a invasão da Crimeia, há oito anos, as sanções fizeram com que os russos perdessem 100 bilhões de dólares, arrocho insuficiente para frear os anseios expansionistas do presidente megalômano. Tudo indica que, uma vez mais, não haverá recuo completo — ainda que as negociações diplomáticas possam trazer algum alívio. A questão, agora, é saber até que ponto Putin manterá a pressão. É o caso de prestar atenção a uma declaração dúbia e irônica dita por ele em 2005, em raciocínio inspirado em Winston Churchill sobre o comunismo: “Aquele que não lamenta o fim da União Soviética não tem coração, mas quem quer restaurá-la não tem cérebro”. Tal afirmação permite entender a ambiguidade do projeto. Em seu íntimo, ele deseja uma volta aos tempos de superpotência. Na prática, sabe que não será tão fácil. Enquanto testa os limites do Ocidente impulsionado pela nostalgia do passado, Putin afeta o humor e a economia globais, acrescentando doses desnecessárias de drama a dias tão difíceis como os de agora, emoldurados pela Covid-19. Uma pena.

Boa leitura,
Mauricio Lima
Diretor de Redação de Veja

 

sexta-feira, 4 de março de 2022

PUTIN ROMPE TRATADO DE BUDAPESTE

 

Por THEODIANO BASTOS

Por que Ucrânia abriu mão de arsenal nuclear nos anos 1990

Durante a Guerra Fria, a terceira maior potência nuclear do planeta não era o Reino Unido, a França ou a China, mas sim a Ucrânia. E com o colapso da União Soviética (URSS) em 1991, a nação recém-independente herdaria cerca de 3.000 armas nucleares deixadas por Moscou em seu território.

Acordo em Budapeste

Nos anos 1990, a Ucrânia decidiu abrir mão das armas nucleares deixadas em seu território em troca de segurança e reconhecimento como país independente. Tudo foi acordado por meio do Memorando de Budapeste, um acordo assinado entre o governo ucraniano, a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos após o fim da URSS.

 

Três décadas depois, a Ucrânia está totalmente desnuclearizada. E o tema volta à tona agora que o país se encontra em uma posição delicada após a invasão territorial comandada pelo Kremlin, que ameaça reagir a qualquer tentativa de interferência das potências da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no confronto.

Mas o que aconteceu nas últimas décadas para que a Ucrânia passasse de uma das maiores potências nucleares do mundo para um país invadido por seu maior vizinho?

Além disso, a presença dessas armas em território ucraniano teria ajudado a evitar a invasão? Há um risco de conflito nuclear na atual guerra? E por fim, a Ucrânia tem tentado possuir armamento nuclear, como acusa a Rússia? 

À medida que os combates se intensificam na Ucrânia, duas versões da realidade subjacente ao conflito apresentam uma divisão profunda, sem conceder qualquer fundamento à outra.

A visão mais difundida e familiar no Ocidente, particularmente nos Estados Unidos, é que a Rússia é e sempre foi um estado expansionista, e seu atual presidente, Vladimir Putin, é a personificação dessa ambição russa essencial: construir um novo império russo.

"Isso foi... sempre sobre agressão pura, sobre o desejo de Putin por um império a qualquer custo", disse o presidente americano, Joe Biden, em 24 de fevereiro de 2022.

A visão oposta argumenta que as preocupações de segurança da Rússia são de fato genuínas — e que a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o leste é vista pelos russos como direcionada contra seu país.

Putin deixou claro por muitos anos que, se continuada, a expansão provavelmente enfrentaria uma séria resistência por parte dos russos, inclusive uma ação militar.

 

Fim do Talvez também te interesse

Esta perspectiva não é apenas dos russos; alguns especialistas influentes em política externa americana também compartilham dela.

Entre outros, o diretor da CIA do governo Biden, William J. Burns, vem alertando sobre o efeito provocador da expansão da Otan na Rússia desde 1995.

Foi quando Burns, então comissário político da embaixada dos EUA em Moscou, informou a Washington que "a hostilidade à expansão inicial da Otan é quase universalmente sentida em todo o espectro político interno aqui".

Otan avança em direção à Rússia

A Otan é uma aliança militar que foi formada pelos EUA, Canadá e várias nações europeias em 1949 para conter a URSS e a expansão do comunismo.

Agora, a visão no Ocidente é que não é mais uma aliança antirrussa, mas sim uma espécie de acordo de segurança coletiva destinado a proteger seus membros de agressões externas e promover a mediação pacífica de conflitos dentro da aliança.

Reconhecendo a soberania de todos os estados e seu direito de se aliar com o estado que desejarem, a Otan aceitou ao longo do tempo solicitações das democracias europeias para aderir à aliança.

 

A visão ocidental é que o Kremlin deve entender e aceitar que as atividades da aliança, entre elas simulações de guerra repletas de tanques americanos encenadas em estados bálticos próximos e foguetes posicionados na Polônia e na Romênia — que os EUA dizem serem direcionados ao Irã — não representam de nenhuma forma uma ameaça à segurança russa.

Várias advertências sobre a reação da Rússia

A elite russa e a opinião pública em geral há muito tempo se opõem a tal expansão, ao posicionamento de foguetes americanos na Polônia e na Romênia e ao armamento da Ucrânia com arsenal ocidental.

Quando o governo do presidente americano Bill Clinton tomou medidas para incluir a Polônia, a Hungria e a República Tcheca na Otan, Burns escreveu que a decisão era "prematura, na melhor das hipóteses, e desnecessariamente provocativa, na pior".

"Enquanto os russos se consumiam em ressentimento e se sentiam em desvantagem, uma crescente tempestade de teorias de 'punhaladas pelas costas' rodopiava lentamente, deixando uma marca nas relações da Rússia com o Ocidente que perduraria por décadas", completou.

Em junho de 1997, 50 especialistas renomados em política externa assinaram uma carta aberta a Clinton, dizendo: "Acreditamos que o atual esforço liderado pelos EUA para expandir a Otan… é um erro político de proporções históricas" que "perturbaria a estabilidade europeia".

Em 2008, Burns, então embaixador americano em Moscou, escreveu à secretária de Estado, Condoleezza Rice: "A entrada da Ucrânia na Otan é a mais brilhante de todas as linhas vermelhas estabelecidas pela elite russa (não apenas Putin). Em mais de dois anos e meio de conversas com os principais atores russos, desde aqueles que se escondem nos recantos sombrios do Kremlin aos críticos liberais mais ferrenhos de Putin, ainda não encontrei ninguém que veja a Ucrânia na Otan como algo além de um desafio direto aos interesses russos".

 

É de se perguntar — como fez o diplomata americano George F. Kennan, o pai da doutrina de contenção da Guerra Fria que alertou contra a expansão da Otan em 1998 —, se o avanço da Otan para o leste aumentou a segurança dos estados europeus ou os tornou mais vulneráveis.

* Ronald Suny é professor de história e ciência política na Universidade de Michigan, nos EUA.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês). ps://www.bbc.com/portuguese/internacional-60532668