Todas as vacinas contra a Covid-19 foram compradas diretamente com os fabricantes, mas na compra da Covaxin ouve a intermediação da MADSON BIOTEC na venda da vacina e há suspeita de ser uma empresa laranja que estaria registrada em Singapura.
Documentos que chegaram
para a cúpula da CPI revelam que a Madison Biotech estaria registrada
em um endereço residencial de Cingapura. Além disso, senadores apontam
que pelo menos 600 empresas detém o mesmo endereço.
Empresa de Cingapura que receberia R$ 220 milhões por Covaxin está sediada em escritório de contabilidade https://oglobo.globo.com/brasil/empresa-de-cingapura-que-receberia-pagamento-antecipado-de-220-milhoes-por-covaxin-esta-sediada-em-escritorio-de-contabilidade-1-25076977
CPI apura se empresa de Cingapura seria "laranja" na compra da Covaxin
Empresa teria pedido ao governo brasileiro para
receber US$ 45 milhões de contrato de R$ 1,6 bilhão para aquisição de 20
milhões de doses do imunizante contra a covid-19
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
da covid-19 apura se uma empresa de Singapura teria atuado como “laranja” na
compra feita pelo governo brasileiro de 20 milhões de doses da Covaxin, do
laboratório indiano Bharat Biotech, representado no Brasil pela Precisa
Medicamentos. É o que diz o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues
(Rede-AP).
“A empresa, Madison (Biotech), iria receber
esse valor num antecipação de pagamento, que é totalmente atípico. Uma empresa
que está em Singapura, numa casinha. Essa claramente me parece que é uma
empresa laranja, intermediária, interlocutora, esquema de lavagem de dinheiro”,
afirmou.
O contrato firmado com o governo
brasileiro para a compra da Covaxin foi de R$ 1,6 bilhão. Foi apresentado,
segundo o senador, um pedido de adiantamento de pagamento ao Ministério da
Saúde de US$ 45 milhões, que seria destinado a essa empresa. A questão gerou
suspeita do servidor da pasta Luis Ricardo Miranda, que, em depoimento ao
Ministério Público Federal (MPF) no âmbito de outra apuração, relatou “pressões
anormais” relacionadas à importação da Covaxin por parte de integrantes do
ministério.
“A suspeita é de que vários agentes
públicos (estavam) se beneficiando (dessa lavagem de dinheiro). Tem um grande
esquema de corrupção aí. Esse esquema foi levado ao presidente (da República,
Jair Bolsonaro)”, afirmou. O parlamentar pontuou que até então, nas apurações
da CPI, não se sabia se havia elementos apontando para corrupção. “Agora, temos
elementos para crer que tem corrupção”, disse.
O parlamentar ressaltou que “o governo
se omite em relação a algumas vacinas e adquire uma vacina que é totalmente
temerária”. “E com esses indícios todos. Inclusive dessa Madison. É lavagem de
dinheiro esculpida. Precisamos aprofundar”, disse. E completou: "Nós
acabamos de encontrar um esquema corrupto no âmbito do Ministério da Saúde para
aquisição de uma vacina que não tinha eficácia comprovada e que estava
condenada pela Anvisa".
O vice-presidente da CPI ressaltou que
salta aos olhos o alerta feito ao presidente da República. Isso porque o
servidor que apontou as pressões é irmão do deputado federal Luis Cláudio
Miranda (DEM-DF). Os dois serão ouvidos como convidados na próxima sexta-feira
(25) na CPI. O parlamentar foi convidado a pedido dele mesmo. De acordo com os
senadores, Miranda relatou ter levado as informações sobre suspeita na
negociação relativa à Covaxin ao presidente Jair Bolsonaro, devido a esse
pedido de pagamento antecipado feito a essa empresa de Singapura.
Segundo Randolfe, esse alerta ao
presidente, que teria sido feito no final de março, “salta aos olhos”. “Estamos
no fim de junho. Qual foi a providência que o presidente da República tomou? Há
duas semanas foi aprovado, a muito custo, uma autorização emergencial dessa
vacina, que anteriormente a Anvisa disse que não tinha condições sanitárias,
higiênicas, do laboratório na Índia. É estranho saber que três meses se
passaram e a gente não tem notícia de qual foi a providência tomada, e o
contrato está na iminência de ser cumprido, de ser pago”, disse.
Quebra
de sigilo e PF
Os senadores agora querem aprovar um
requerimento para quebra de sigilo dessa empresa de Singapura. Randolfe afirmou
que irá pedir ao presidente Omar Aziz (PSD-AM) para que o requerimento seja
colocado na pauta da próxima quinta-feira (24).
Aziz também afirmou nesta quarta-feira
que pediu ao delegado da Polícia Federal que trabalha com os senadores na CPI
para apurar se o diretor-geral da PF recebeu algum pedido de Bolsonaro para abertura
de inquérito para investigar as negociações da compra da Covaxin.
“Acabei de pedir para o delegado da PF
que trabalha com a gente para pedir informação para o diretor-geral da PF para
saber se houve um inquérito para investigar essa questão da Covaxin. Se foi
tocado, se o presidente ligou para o diretor da PF e disse ‘olha, tem aqui uma
denúncia feita pelo deputado Luis Miranda e o irmão dele’. A gente quer saber
se tocaram a investigação. O presidente, se foi comunicado e tomou
providências, ótimo. Se ele não tomou providências, é preocupante”, afirmou.
Aziz afirmou que a CPI já tinha chegado
a duas conclusões em relação à vacinas: a demora nas negociações e a
incompreensão do motivo dessa demora. Agora, a comissão percorre um outro
caminho, que é observar que “a demora para umas (negociações) não é para
todas”. “Há uma diferença de tratamento muito grande”, disse.