Será o fim ou é a cura? por ZUENIR VENTURA
O Brasil é
hoje um nervo exposto. Pior: com licença de repetir uma imagem de mau gosto,
mas inevitável, ele é um furúnculo, cujo carnegão precisa ser espremido
Há duas maneiras de ver o Brasil
hoje. Uma visão pessimista, que parece predominar, enxerga um país à beira do
caos, no fundo do poço, degenerado, corrompido, inviável do ponto de vista
moral.
A outra, oposta, vê um país sendo
depurado, saneado, enfim passado a limpo. Qual dos dois pontos de vista terá
razão? No primeiro caso, há evidências aritméticas. Temos um ex-presidente
rondando a porta da prisão, condenado a mais de 12 anos por corrupção passiva e
lavagem de dinheiro.
E temos o atual, que, a muito
custo, literalmente, livrou-se na Câmara dos Deputados de duas denúncias e está
enfrentando uma terceira mais grave. Por enquanto, continua leve e solto, mas,
após terminar o seu mandato, será julgado e, sem foro privilegiado, quem aposta
em seu futuro? Só esse conjunto de circunstâncias raras já seria suficiente
para situar o país numa pouco invejável posição num ranking internacional de
malfeitos. Mas tem mais.
Com ajuda da Wikipédia, Ascânio
Seleme fez as contas e concluiu que há 26 políticos, empresários e executivos
condenados por Sergio Moro e sua turma, além dos 24 que tiveram a mesma sorte
no mensalão.
Apenas no Congresso, encontram-se
estacionados mais de 160 deputados e senadores condenados em pelo menos uma
instância. Nessa nossa terra dos escândalos, a primeira década do século ainda
inconcluso já registrou 64 desses episódios indecorosos. E outros provavelmente
ainda serão revelados (não quero nem falar do Rio, que é um caso patológico).
Por outro lado — o lado da boa
vontade, do otimismo —, pode-se avistar um cenário desagradavelmente saudável,
pois escancara o que desde sempre se encontrava encoberto e criminosamente
impune. É normal que a ação de destampar a sujeira de um organismo em
decomposição cheire mal. Afinal, se trata de um processo de purgação e catarse.
O Brasil é hoje um nervo exposto. Pior: com licença de repetir uma imagem de
mau gosto, mas inevitável, ele é um furúnculo, cujo carnegão precisa ser
espremido. Dói, mas é o único meio de cura. Não adianta usar paliativos. A
esperança é que, terminado o expurgo, da depuração, essa terapia radical
promovida pela Lava-Jato, surja um outro país mais limpo.
Como sou um crente neste país,
acredito na hipótese da cura. Só não acredito que ela virá no meu tempo. Que
venha então para a geração de meus netos, Alice, de 8 anos, e Eric, de 5.
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Washington Fajardo está certo ao
ensinar que o Rio não precisa de inteligência artificial para resolver
problemas como o dos bueiros. Precisa é de inteligência natural, que é bem mais
barata e eficaz. Fonte: https://oglobo.globo.com/ 10/03/18