O MITO DESMASCARADO
“Ô Botín, é
o seguinte, querido: olha, eu tenho consciência que não foi você que falô”,
concede Lula na abertura do mais sórdido momento de uma trajetória atulhada de
infâmias: o antigo líder sindicalista vai ordenar ao dono do Santander que
demita uma trabalhadora cujo único pecado fora contar a verdade aos clientes.
“Mas essa moça tua que falô, ô, essa moça não entende porra nenhuma de Brasil e
não entende nada de governo Dilma. Me desculpe… Mantê… mantê uma mulher dessa
num cargo de chefia é, sinceramente… Pode mandar ela embora e dar o bônus dela
para mim que eu sei como é que eu falo”.
“Há duas semanas ─ um ano, cinco meses e vinte dias depois de
perder por ordem de Lula o emprego no Santander ─, Sinara Polycarpo Figueiredo
ganhou a segunda etapa da batalha judicial travada contra o banco que a
demitiu. Neste 21 de janeiro, a juíza Cynthia Gomes Rosa, do Tribunal
Regional do Trabalho da 2ª Região, manteve a sentença expedida em agosto
de 2015 pela juíza Lúcia Toledo Silva Pinto Rodrigues, que condenou a
instituição financeira a pagar uma indenização de R$ 450 mil por danos morais infligidos
à funcionária castigada por ser honesta.
Ao recorrer da decisão em
primeira instância, o Santander apenas adiou a consumação da derrota. Não há
como inocentar o comando do banco, grita a reconstituição do monumento à
subserviência que começou em 10 de julho de 2014, quando um documento produzido
pela área chefiada por Sinara foi distribuído entre um grupo de clientes com
renda mensal superior a R$ 10 mil. Na sentença, a juíza Lúcia registrou que o
texto se limitara a endossar “constatações uníssonas entre os analistas do
mercado financeiro e nas diversas mídias independentes sobre investimentos”.
A fúria da seita lulopetista foi
desencadeada pelo trecho do documento segundo o qual “a economia brasileira
continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em
conta-corrente”. Linhas adiante, o diagnóstico nada empolgante observa que a
onda de previsões sombrias se adensava sempre que Dilma subia nas pesquisas.
Neste início de 2016, passados dezoito meses, a releitura da análise
demonstra que a equipe de Sinara se excedeu na timidez. As coisas estavam muito
piores. Era questão de tempo o naufrágio consumado em 2015.
Lula e seus sequazes acham que,
numa campanha eleitoral, o único crime é perder. O resto pode. Matar a mãe, por
exemplo. Ou afanar a poupança da avó. Previsivelmente, o chefão fingiu enxergar
num papelório inofensivo a prova material de que até bancos estrangeiros
estavam envolvidos na conspiração urdida para encerrar a supremacia do PT. A
ofensiva contra o diagnóstico do Santander começou assim que cópias do
documento chegaram à imprensa. E atingiu o climax com o ataque em pinça
executado por Dilma e Lula em 28 de julho de 2014.
Numa sabatina na Folha,
transmitida pelo SBT e pela rádio Jovem Pan, Dilma puxou o
trabuco do coldre: “Sempre que especularam não se deram bem”, apertou o gatilho
ao responder a uma pergunta sobre a análise do Santander. “Acho inadmissível um
país que está entre as maiores economias aceitar qualquer interferência externa.
A pessoa que escreveu a mensagem fez isso sim, e isso é lamentável, é
inadmissível”. Os disparos precipitaram a entrada no saloon de Lula, o
pistoleiro que primeiro atira e depois pergunta. Quando pergunta.
No mesmo dia, num encontro
noturno organizado pela CUT em Guarulhos, Lula acionou o tresoitão. No vídeo,
andando de um lado para o outro, o copo até aqui de cólera abre o numerito
repulsivo cobrando gratidão do banco presidido pelo amigo Emílio Botín. “Não
tem lugar no mundo onde o Santander esteja ganhando mais dinheiro que no
Brasil”, rosna o animador de comício, que em seguida recorda conversas e
episódios que reduziam o banqueiro espanhol a um bajulador grávido de admiração
pelo Lincoln de galinheiro. Por isso mesmo merecia o benefício da dúvida, informa
a continuação do palavrório.
Assim se fez. Dois dias depois de formulada a exigência, Sinara foi
demitida com outras duas pessoas de sua equipe. “Enviamos uma carta à
presidente”, rastejou Botín em 30 de julho. “A pessoa tinha que ser demitida
porque fez coisa errada”. O banqueiro espanhol não viveu para festejar a
reeleição de Dilma. Morreu em setembro, um mês antes de completar 28 anos no
cargo. Substituído pela filha e herdeira Ana Botín, o campeão da sabujice
escapou de ler as considerações incluídas na sentença exarada em primeira
instância e agora ratificada pelo Tribunal Regional do Trabalho.
A juíza Lúcia Toledo Silva Pinto
Rodrigues entendeu que o banco maculou a carreira profissional de Sinara ao
retratar-se publicamente pelo ocorrido. Concluiu, também, que o Santander foi
longe demais ao agachar-se diante de Lula. Confira um trecho da sentença:
“O Banco reclamado foi sim
submisso às forças políticas ao demitir a reclamante. Somente demonstrou a
parcialidade da instituição em atender os interesses políticos que estavam em
jogo na época por conta da eleição e a falta de comprometimento perante seus
clientes investidores que, se acreditassem na assertiva de que a economia
seguiria a ‘bem-sucedida trajetória de desenvolvimento’, fatalmente amargariam
prejuízos financeiros, dada a retração da economia e a desvalorização do nosso
câmbio e dos ativos negociados na bolsa de valores”.
Nesta primeira semana de
fevereiro, o documento que resultou na degola da analista foi transformado num
monumento ao otimismo pelas apavorantes dimensões da crise econômica. Isolada
em seu labirinto, Dilma Rousseff luta para adiar o enterro em cova rasa. Emilio
Botín é só um quadro nas paredes do Santander. Lula, enredado em maracutaias
urbanas e rurais, caminha para a morte política. Apenas Sinara está liberada
para divertir-se no Carnaval. Ela derrotou seus algozes. O banqueiro poltrão e
o reizinho prepotente perderam.” Augusto Nunes
COM
REPORTAGEM DE NAOMI MATSUI
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/ 04/02/16
“Seus correligionários querem transformá-lo em vítima de um complô urdido para destruir a maior liderança popular que o país jamais teve. Ora, faça-me o favor...
Lula é uma vítima dos seus próprios erros, de sua ambição desmedida, de sua vaidade, e de sua falta de compromisso com princípios e valores. A máscara dele caiu.”
“Seus correligionários querem transformá-lo em vítima de um complô urdido para destruir a maior liderança popular que o país jamais teve. Ora, faça-me o favor...
Lula é uma vítima dos seus próprios erros, de sua ambição desmedida, de sua vaidade, e de sua falta de compromisso com princípios e valores. A máscara dele caiu.”
Fonte:
http://noblat.oglobo.globo.com/
15/02/16