Artigo: Sorte de Lula sobe
no telhado
Bumlai é quem mais aproxima ex-presidente da
Lava-Jato
por Ricardo Noblat, O GLOBO, 24/11/2015
“A sorte de Lula subiu no telhado
com a prisão, esta manhã, pela Operação Lava-Jato, do empresário José Carlos
Bumlai, que estava pronto em Brasília para proclamar sua inocência diante de
senadores e deputados da CPI do BNDES.
Até aqui, de todos os suspeitos
pela roubalheira na Petrobras, Bumlai é quem mais aproxima Lula da Lava-Jato. É
suspeito de ter-se beneficiado de negócios com a empresa para ajudar uma nora
de Lula e pagar dívidas da campanha de Lula à reeleição em 2006.
Depois de Bumlai, a levar-se em conta o que já foi
descoberto, somente algum malfeito praticado por um dos filhos de Lula será
capaz de fazer a sorte de o ex-presidente despencar do telhado. Salvo o
surgimento de um fato novo, o que não deve ser descartado.
Irônico e revelador o nome dado
pela Polícia Federal à 21ª. Fase da Lava-Jato – “Passe livre”. Enquanto Lula
presidiu o país, Bumlai foi o único brasileiro contemplado com um passe que lhe
dava acesso a qualquer momento ao gabinete mais poderoso da República.
Havia na
portaria do Palácio do Planalto um aviso que dizia assim:
“O sr. José
Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento na portaria Principal do Palácio
do Planalto, devendo ser encaminhado ao local de destino, após prévio contato
telefônico, em qualquer tempo e qualquer circunstância”.
Que amigão de Lula era esse a
desfrutar de privilégio só concedido a dona Marisa, a primeira-dama? Ao notar
que a Lava-Jato se avizinhava de Bumlai, Lula, outro dia, disse em entrevista
ao jornalista Kennedy Alencar, do SBT:
— Se ele (Bumlai) teve situação
indevida, vai ficar provado. "Nem tudo que delator fala tem veracidade. É
preciso que a gente não dê um voto de confiança ao bandido e um voto de
desconfiança ao inocente.
No caso, o delator era Fernando
Baiano, ex-operador do PMDB, que comprometeu Bumlai com o que contou ao juiz
Sérgio Moro. O inocente, Bumlai. Mais recentemente, Lula tem repetido entre
seus confidentes que Bumlai, na verdade, não é tão seu amigo assim.
Compreensível. Sempre que se vê
em perigo, Lula tira o seu da reta e entrega quem o ameaça. Entregou José
Dirceu para escapar do mensalão. Entregou Antonio Palocci para escapar do
escândalo em torno do uso da Receita Federal que prejudicou um caseiro.
Entregou os aloprados,
funcionários de sua campanha à reeleição, e responsáveis pela montagem de um
falso dossiê para incriminar candidatos do PSDB – entre eles José Serra e
Geraldo Alckmin. Lula é assim – o que fazer? Falta-lhe, digamos, sentimento de
culpa.
Falta-lhe, também, um pingo de
coerência. Já pediu desculpas aos brasileiros pelo mensalão. Vive a dizer que o
mensalão nunca existiu. Na semana passada, no congresso da juventude do PT,
disse que as acusações que pesam contra o PT não passam de “teses”. Lula é
honesto. Honestíssimo. Em tese”.
Fonte: http://oglobo.globo.com/ 24/11/15