Não há golpe à vista. Há suicídio do governo
por Ricardo
Noblat
Parecia
razoável que Dilma contasse até a última hora com alguns votinhos de ministros
do Tribunal de Contas da União (TCU) contrários à rejeição das contas do
governo relativas ao ano passado. Na intimidade dos seus auxiliares mais
próximos, era o que ela mesma admitia.
Afinal,
governo é governo. Por mais enfraquecido, não deve ser subestimado. E ministros
do TCU, especialmente eles, são mais sensíveis às pressões políticas. O TCU tem
apelido de tribunal, mas é um órgão auxiliar do Congresso. Os ministros apenas
carregam o apelido de ministros.
Ao todo,
são nove. O presidente, Aroldo Cedraz, ex-deputado do extinto PFL, hoje DEM, só
vota em caso de empate. Augusto Nardes, ex-deputado do PP do Rio Grande do Sul
e relator das contas, era voto mais do que perdido e anunciado. Não valeria ao
governo perder tempo com ele.
Em José
Múcio Monteiro, ex-PTB, e ex-ministro do segundo governo Lula, valeria a pena o
governo investir. Ele deve a toga ao ex-presidente que o indicou para o TCU.
Walton Alencar e Benjamin Zymler devem as suas togas à indicação dos técnicos
do tribunal, seus ex-colegas.
Bruno
Dantas e Vital do Rego são ministros graças a Renan Calheiros (PMDB),
presidente do Senado, e aliado de Dilma. E Raimundo Carreiro, ex-diretor do
Senado durante 14 anos, graças a José Sarney, também aliado de Dilma. Carreiro
sempre foi governista até a alma.
Ana
Arraes, mãe do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e ex-deputada do PSB,
não seria necessariamente um voto pela rejeição das contas. Mas que fosse.
Tirado o noves fora, o governo teria chances de sonhar pelo menos com quatro
votos (Monteiro, Bruno, Vital e Carreiro).
Foi
derrotado por 8 x 0. Antes perdera no Supremo Tribunal Federal a ação que
poderia ter resultado no afastamento de Nardes da relatoria do processo. E mais
cedo perdera no Congresso pela segunda vez a oportunidade de manter vetos de
Dilma a projetos que criam novas despesas.
Que
governo é este que só colhe derrotas amargas? Que governo é este que está se
deixando empurrar para a sombra da guilhotina? Como um governo desses
despertará a fúria assassina de banqueiros, empresários e homens de negócios
para leva-los a apostar no crescimento do país?
Economia
depende de confiança, credibilidade. São coisas que este governo não inspira.
Na semana
passada, ao anunciar a meia sola ministerial aplicada por Lula ao governo,
Dilma reconheceu que ela se justificava por sua carência de apoio político. Não
se passou sequer uma semana e restou provado que o apoio do governo no
Congresso não cresceu. Pelo contrário.
Um
governo que só tem empregos, sinecuras e favores para trocar por apoio está
destinado a ruir. Porque quanto mais dê, mais será obrigado a dar. E nas
condições atuais do país, conflagrado por crises de natureza econômica,
política e ética, a capacidade do governo dar muito é rala.
O pior de
tudo, e o que talvez impeça o governo de reagir: ele não sabe ao certo o que
lhe acontece. Nem como se comportar para sair do canto. Logo mais à tarde, por
exemplo, Dilma reunirá seu ministério para perguntar o que fazer daqui para
frente.
Na agenda
da reunião destacam-se dois pontos: como o governo deverá reagir à sucessão de
derrotas? E o que fazer para atender aos pedidos de pequenos partidos que
querem mais cargos, liberação de emendas ao Orçamento da União, e prestígio?
Partidos
de médio porte como o PDT e o PRB, mas não só eles, que ganharam ou mantiveram
ministérios, querem administrá-los de “porteira fechada”. Isto é: querem poder
preencher ali todos os cargos, e não apenas os principais. Eleições veem aí. E
falta dinheiro. Sabe como é, não é?
Esgota-se
o elenco de truques do governo para manter-se de pé. Desse jeito acabará
caindo.
Arte: Antonio Lucena
Arte: Antonio Lucena
Fonte:
http://noblat.oglobo.globo.com/ (08/10/15)