DILMA E A HERANÇA MALDITA DE LULA
“O poder é uma carga em seu destino” e um dos quatro piores inimigos do homem, já alertava Don Juan, feiticeiro da tribo Yaque de Sonora, México, contado por Carlos Castaneda em seu livro A Erva do Diabo
Considero um grande alívio não ver mais todo dia o “Barba” de microfone na mão, andando de um lado para outro em cima de palanques e nos palcos, como um pregador evangélico besteiras. Não votei em Dilma, mas tenho de reconhecer que tem demonstrado grandeza em algumas atitudes e tem compostura, que faltava ao seu antecessor.
Mas em 10 meses de gestão, Dilma perdeu seis ministros, cinco dos quais acusados de graves irregularidades. O modelo de “governabilidade” desenhado e imposto pelo ex-presidente Lula apodreceu. As instituições perderam densidade e respeito. A política se mediocrizou em níveis insustentáveis.
Orlando é o quinto ministro a cair diante de denúncias de irregularidades em apenas dez meses de governo Dilma. O primeiro foi Antonio Palocci , que deixou a Casa Civil em junho diante de notícias sobre sua evolução patrimonial entre 2006 e 2010. Um mês depois, Alfredo Nascimento deixou o Ministério dos Transportes em meio a denúncias de um esquema de superfaturamento e propina na pasta. Em seguida, foi a vez de Wagner Rossi pedir demissão do Ministério da Agricultura, após ser acusado de oferecer propina em troca de silêncio. Em setembro, foi anunciada a saída do ministro Pedro Novais do Turismo . A imprensa já havia divulgado irregularidades cometidas pelo ministro e a situação do peemedebista foi agravada por uma reportagem que mostrou que a mulher de Novais usava irregularmente um servidor da Câmara como motorista particular. Dilma perdeu ainda outro ministro: Nelson Jobim . Ele deixou o Ministério da Defesa, depois de dar declarações que causaram desconforto no Palácio do Planalto . A presidente também promoveu um troca-troca de ministros, tirando Ideli Salvatti da Secretaria da Pesca e colocando Luiz Sérgio na Pasta. Ideli, por sua vez, assumiu o lugar de Luiz Sérgio. Dois (Aloizio Mercadante e Ideli Salvati) balançaram sem cair e Mario Negromonte, das Cidades e Carlos Lupi, do Trabalho, dificilmente resistirão ao menor arremedo de reforma do gabinete. Sem contar Fernando Haddad, da Educação, que dá show de incompetência a cada Enem.
Com a crise que envolveu o chefe da casa civil Antônio Palocci e a ostensiva participação do Lula em Brasília começou, de fato, o emparedamento da presidente Dilma: João Paulo Cunha teria dito que Dilma “deve respeitar mais o PT” e que ela “precisa ser lembrada de onde veio e quem a colocou lá”.
As heranças malditas da Era Lula, brigas com aliados, crises política, problema de saúde, desmontes de esquemas corruptos, como o do ministério dos transportes, vêm contribuindo para o fraco desempenho do governo Dilma.
Uma população estimada em 10,5 milhões de brasileiros - equivalente ao Estado do Paraná - vive em domicílios com renda familiar de até R$ 39 mensais por pessoa. São os mais miseráveis entre 16,267 milhões de miseráveis - quase a população do Chile - contabilizados pelo governo federal na elaboração do programa Brasil sem Miséria.
Lançado no dia 3 de maio como principal vitrine política do governo Dilma Rousseff, o programa visa à erradicação da miséria ao longo de quatro anos. Os brasileiros com renda mensal de até R$ 70,00 - o que corresponde a 16.267.197 pessoas , irão formar o público prioritário do Programa Brasil sem Miséria.
Diz Auguste Nunes em blog da VEJA: “Tão perdido quanto o primeiro semestre do governo Dilma. Mãe do PAC e Madrinha do Pré-Sal, a candidata apresentou-se durante a campanha eleitoral como parteira do país mais que perfeito que Lula concebeu. Tinha tanta intimidade com a máquina administrativa que os retoques finais no Brasil Maravilha começariam já no dia da posse. Pura tapeação. Passados seis meses, continuam nos palanques de 2010 as 500 Unidades de Pronto Atendimento, as 8 mil Unidades Básicas de Saúde, as 800 Praças do PAC, os 2.800 postos de polícia comunitária e as escolas de educação infantil, fora o resto”.
“A transposição das águas do São Francisco não tem prazo para ficar pronta. O leilão do trem-bala será adiado pela terceira vez. Os canteiros de obras da Copa e da Olimpíada estão despovoados. Há seis anos no Palácio do Planalto, a superexecutiva acaba de descobrir que só a privatização livrará os aeroportos do completo colapso. A compra dos caças reivindicados pela Aeronáutica ficará para quando Deus quiser. As fronteiras seguem desprotegidas. Das 6 mil creches prometidas na campanha, apenas 54 foram entregues. Menos de 500 casas populares ficaram prontas. E os flagelados da Região Serrana do Rio não deixarão tão cedo os abrigos onde sobrevivem desde as tempestades de janeiro”.
“A diferença entre o primeiro semestre da afilhada e o último do padrinho é que o ilusionista teve de deixar o palco em que esgotou o estoque inteiro de truques. Livres da discurseira atordoante, os brasileiros puderam contemplar a paisagem mais atentamente. O que estão vendo não rima com o que ouviram durante oito anos. Milhões já sabem que o paraíso só existe no cartório. Descobriram que o governo Dilma é a continuação do governo Lula, mas sem som e sem efeitos especiais. Disso resulta a sensação de que a coisa conseguiu ficar pior. Mesmo que sejam ambos bisonhos, a versão falada parecerá sempre melhor que o filme mudo. .Administrativamente, foi um semestre perdido”.
A queda nas taxas de juros em países desenvolvidos após a crise de 2009 e a forte retomada dos investimentos no Brasil provocaram a maior alta na dívida externa desde o Plano Real. De 2009 até maio último, a dívida externa conjunta de empresas, administrações públicas e famílias cresceu 43% e foi a R$ 284 bilhões, informam os jornalistas Gustavo Patu e Eduardo Cucolo.
Brasil ficou em 84º lugar
no IDH – Índice de Desenvolvimento Humano de 2011, programa das Nações Unidas – PNUD. O Brasil permanece atrás de 15 países da América Latina e ainda está atrás de 15 países da América Latina. Dois deles, Chile e Argentina, são classificados como nações do grupo de desenvolvimento muito elevado, na 44ª e 45ª posições, respectivamente. Ainda à frente do Brasil, mas no mesmo patamar de desenvolvimento humano (elevado), estão Uruguai (48º lugar), Cuba (51º), México (57º), Panamá (58º), Antigua e Barbuda (60º), Trinindad e Tobago (62º), Costa Rica (69º), Venezuela (73º) e Jamaica (79º), Peru (80º), Dominica (81º), Santa Lúcia (82º) e Equador (83º). O pior país da região ainda é o Haiti, na 158º posição.
Rússia lidera entre os Brics
Entre os Brics, o grupo de nações emergentes mais relevantes, a líder é a Rússia (66º lugar, com IDH 0,755), seguido de Brasil (84º lugar, IDH 0,718), China (101º lugar e IDH 0,687), África do Sul (123º lugar, IDH 0,619) e Índia (134 º lugar e IDH 0,547). ATITUDE DE GRANDEZA
Na relação com o ex-presente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff mostrou que não tem a mesquinhez de seu antecessor.
Primeiro havia convidada FHC para uma cerimônia no Palácio do Planalto, o que Lula nunca fez em oito anos de governo, quando trocaram brindes afetuosos e agora, nas comemorações dos 80 anos de FHC ao manifestou-se com nobreza em carta aberta: “ o acadêmico inovador, pó político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica” e encerrou a mensagem com um : “Querido presidente, meus parabéns e um afetuoso abraços“. Isso desgostou seu partido e seu tutor.
"Para sobreviver com poder, o político faz o que for preciso"“Aos seis meses de governo, a presidente aprende na prática o significado do realismo político: fazer o que tem de ser feito, mesmo que vá contra seus princípios. E até contra os interesses nacionais” diz o cientista político Roberto Romano.
Dilma cedeu em questões que lhe eram caras em nome da governabilidade, mas também em função da pressão de aliados pouco democratas.
Presa durante a ditadura militar e defensora da revisão da Lei da Anistia, Dilma agora descarta alterações na legislação. A lei, aprovada em 1979 para acelerar o processo de redemocratização do Brasil, isenta de punição crimes políticos cometidos durante o regime militar. Antes de engavetar a mudança da lei, Dilma considerava esses crimes "imprescritíveis".
Da mesma forma, ela acaba de anunciar que concederá à iniciativa privada os aeroportos brasileiros. Uma boa decisão, mas nada coerente com a demonização das privatizações feita pelo PT. Nas eleições de 2010, Dilma colou no adversário José Serra, do PSDB, a pecha de privatista. E jurou proteger o patrimônio nacional. À época, ela defendia a abertura de capital da Infraero como solução para as carências de infraestrutura aeroportuária. Notou agora que o poder público não tem recursos nem competência para tanto.
Mas o maior exemplo do comportamento ioiô de Dilma foi a mudança de opinião sobre o sigilo dos documentos de governo considerados ultrassecretos. Em dois meses ela se posicionou contra o sigilo eterno, depois a favor do sigilo eterno e, finalmente, contra o sigilo eterno de novo. A conferir até quando mantém a opinião. Pesou para a hesitação da presidente a pressão dos senadores José Sarney (PMDB) e Fernando Collor (PTB) – ex-presidentes de passado pouco abonador.
Falta de prática - As incertezas de Dilma nesse primeiro semestre de governo são explicadas em detalhes no quadro abaixo. A presidente começa a entrar no jogo da sobrevivência política. É, no entanto, inábil e inexperiente nesta seara e terá de aprender a duras penas, pois tanta mudança de opinião sem explicações passa por falta de opinião. "Para sobreviver com poder, o político faz o que for preciso", diz o filósofo Roberto Romano, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Se amigos, aliados ou mesmo ideias atrapalharem os planos do político, ele simplesmente afasta-se delas."
E Dilma sofre para se adaptar a essa realidade. "Ela está aprendendo da forma mais lamentável possível. É triste ver uma pessoa, por necessidade política, abrir mão dos princípios que nortearam toda sua vida", diz Romano. No modelo brasileiro, a função de presidente exige alguém que seja, ao mesmo tempo, um chefe de estado e um chefe de governo. "Temos um presidencialismo imperial", diz o professor. Fernando Henrique desempenhou bem as duas tarefas. Luiz Inácio Lula da Silva foi mais chefe de governo do que de estado. E Dilma não consegue extrapolar a função de chefe de estado para ter uma atuação política, como chefe de governo.
A falta de traquejo dificulta a negociação do governo com o Congresso e o encaminhamento das propostas de interesse da nação. Em última instância, prejudica a execução dos programas de governo e, assim, prejudica o Brasil. Sem o articulador Antonio Palocci na Casa Civil, a tarefa fica ainda mais difícil. Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti trazem consigo a fama de intransigentes – a característica menos desejável em um negociador.
Questão de perfil – Formada em Economia e ex-militante do movimento estudantil, Dilma difere em gênero e grau do antecessor, Lula – caso clássico do desapego ideológico. "Lula não tem nenhum compromisso com doutrina ou ideologia", afirma romano. "Ela tem. Por isso, é muito mais notória nela essa mudança de opinião. É difícil para ela encarar o realismo político."
Enquanto Dilma construiu uma carreira em cargos técnicos e auxiliares do Executivo, Lula passou a vida em barganhas e disputas, desde que começou a militar no movimento sindical, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. E traquejo político se aprende com o tempo. Resta saber quanto tempo Dilma levará para mostrar-se de verdade aos brasileiros.
Resta uma dúvida: o que virá pela frente nos próximos três anos e meio de governo? Pergunta o filósofo Roberto Romano.
Leiam no blog theodianobastos.blogspot.com
DILMA NO GOVERNO É LULA NO PODER? - DILMA NA LUTA ARMADA – LEGADOS DA ERA DA MEDIOCRIDADE – LEGADOS DA ERA SINDICAL