MULHER VERSUS HOMEM? OU O ENIGMA FEMININO
THEODIANO BASTOS
Aviso aos navegantes: tenho 9 mulheres na minha vida, a esposa (com quem sou casado há 57 anos em 2018), duas filhas, irmã, três netas e duas noras e convivo muito bem com todas elas.
Mulheres e homens se completam: são antagônicos — distantes um do outro — mas aspiram à união e têm como objetivo comum a felicidade, como ensina o I Ching, o famoso oráculo chinês: São “almas que se completam”, já dizia Platão. A vertigem da vida moderna e sua cultura dominada pelo hedonismo que faz do prazer a única razão de viver, tem seu preço na forma de angústia existencial. Talvez isso explique o que vem sendo observado por estudiosos: um agravamento da insatisfação feminina, principalmente. A senhora está casada há mais de quarenta anos com a mesma pessoa. Isso ajuda a entender de casamento e relacionamento amoroso, pergunta a jornalista Sandra Brasil em VEJA de 21/03/07. Responde Lídia Rosenberg Aratangy, terapeuta de casal há mais de 30 anos:
“Eu não estou casada com a mesma pessoa e também não sou a mesma pessoa. Tanto eu como ele passamos por mudanças, evoluções e involuções. Em algumas coisas, eu era muito melhor há dez anos. Em outras, sou melhor hoje. Cada mudança traz risco, mas o congelamento do vínculo é um risco maior”
Casado há 55 anos com a mesma mulher, posso afirmar que a Dra. Lídia está certíssima nas suas afirmações sobre as mudanças do casal ao longo do relacionamento.
O que diferencia uma pessoa de outra, um homem de uma mulher, não é a quantidade maior ou menor de neurônios, mas a capacidade de ativar e acessar o potencial cerebral, a cognição, a programação e acima de tudo a superação dos “vírus”, os bloqueios no “inconsciente pessoal”, isto é, fruto das experiências gravadas na memória consciente, fruto da existência pessoal, como também no “inconsciente coletivo”, onde estão armazenados os conhecimentos e sabedorias de nossos ancestrais, fala C.G.Jung. Isso faz a diferença. Anelos, medos, ansiedades, defesas, ilusões, ódio, neuroses, são “vírus” que limitam e bloqueiam o uso satisfatório do cérebro humano. Consegue mais quem supera os bloqueios. Há áreas em que o cérebro masculino é insuperável e estão como provas insofismáveis as espantosas descobertas em todas as áreas do conhecimento humano, enquanto as mulheres são igualmente insuperáveis em outras áreas, por sua maior sensibilidade e intuição e, acima de tudo, sua programação biológica para a preservação da vida e da espécie humana. Na área do sentimento, na faculdade de sentir, na sensibilidade, seis áreas do cérebro feminino são ativadas, “parece uma árvore de natal” quando ativado, enquanto nos homens apenas duas áreas são ativadas. É o que comprovam estudos da fisiologia cerebral humana. As armas de destruição em massa, infelizmente, foram descobertas e aperfeiçoadas pelo homem. Vivemos nesse início de século XXI ainda em clima nebuloso e ameaçador. Continuamos num baile de máscaras, com cada um de nós escondido atrás das personas, ocultando o “eu real”, mostrando na representação da vida apenas a outra face, a do “eu idealizado”. No teatro da vida procura-se representar para os outros a máscara por trás da qual nós nos disfarçamos na existência. Daí o acirramento do conflito masculino-feminino.
ANIMA E ANIMUS
Diz Freud que em toda relação sexual participam seis pessoas, ou seja, cada parceiro carrega consigo duas tendências, a masculina e a feminina, ligadas à identificação com a mãe e o pai de cada um dos parceiros, e Freud conclui pela bissexualidade de todos nós. O homem tem seu lado feminino, a Anima, e a mulher o Animus, o lado masculino. Se o lado feminino do homem se desequilibra ele se torna gay e se o mesmo acontece como o lado masculino da mulher, ela se torna lésbica. Segundo a noção tântrica existe o deus e a deusa dentro de cada um dos parceiros – a deusa Shakti e o deus Shiva. O Tantra abraça a noção de que cada um de nós tem dentro de si um homem e uma mulher. Quando a pessoa se une ao parceiro, se une com a outra metade de si mesmo, formando um todo. Por isso o sexo sem afeto é um sexo triste.
. Anna Sharp, em entrevista a revista Elle, falando de seu livro “Resgate de um casamento”, mostra a realidade vista do avesso e diz: “Todos os homens nasceram de nossas barrigas. Foram educados para serem o que são, por nós, mulheres. Somos vítimas e também algozes e erramos quando olhamos o homem como banco de provisão. “Colocamos nele nossas responsabilidades; projetamos nele nosso papai ideal”. A escritora feminista Phyllis Chesler, autora do best-seller “As mulheres e a loucura”, publica um novo estudo no qual diz que as mulheres não são vítimas tão indefesas do machismo e do patriarcado como se imaginava, mas, invertendo essa ortodoxia, são criaturas muito perversas e maquiavélicas e garante que a mulher pertence ao gênero mais maléfico da espécie, tendo como alvo principal, não os homens, mas as próprias mulheres; diz ainda a polêmica escritora americana Phyllis Chesler que as mulheres são peritas nas agressões indiretas, um método cuidadosamente elaborado, com base na fofoca, manipulação e rasteiras, ao gosto de quem prefere o combate na surdina do que o ataque de frente. As mulheres sempre temem a língua das outras mulheres, isso é sabido. Em contrapartida, diz o famoso advogado criminalista Waldir Troncoso Peres em sua entrevista ( Veja 30/11/94): “O espírito do homem é porco. Por ali passam desejos de todos os matizes, que são os mais cruéis e terríveis. O mais generoso dos homens já deve ter desejado a morte de uns 100”, e sobre as mulheres diz: “Enfim, homens e mulheres aspiram à união e ao mesmo objetivo: a felicidade. A respeito, vejam a letra de uma antiga marchinha de carnaval: “Varão, varela ou varunca/ Todo homem tem de ser/ Varão, varela ou varunca, ai, ai, ai / Pra ser vencido ou vencer/ Varão, que bom ser varão, é só ele que manda, a mulher não manda, não/ Varelela, é sempre varela, um dia manda ele, no outro manda ela/ Mas, coitado do “varunca”, aí, aí, aí, este não manda nunca” Vivamos a diferença”. Feminista para mim é o machista de sinal trocado. — a ciência biológica atesta diferenças incontornáveis entre homens e mulheres. Que aprendamos a viver a diferença.
O ENIGMA FEMININO
— “Você namorou lindas e famosas: Britney Spears, Cameron Diaz e agora Jéssica Biel. O que aprendeu sobre as mulheres? “Nada, absolutamente nada. E acho que não vou aprender nunca.”, responde Justin Timberlake, famoso ator, cantor, dançarino e produtor americano para a jornalista de Veja Anna Paula Buchalla, demonstrando a eterna dificuldade dos homens em entender as mulheres.
Sexo sem afeto não lança uma ponte sobre o abismo entre o homem e a mulher, pois o amor é a resposta ao problema da existência humana e se duas pessoas estranhas uma à outra, como todos somos, subitamente deixam ruir a parede que as separa e se sentem próximas, uma só, esse momento de unidade é uma das mais jubilosas e excitantes experiências da vida, ensina o médico e psicanalista Erich Fromm, em “A Arte de Amar”: “esse milagre de súbita intimidade é muitas vezes facilitado quando se combina, ou se inicia, com a atração sexual e sua satisfação”. Dessa forma, o sexo sem afeto não é como prazer ou felicidade sexual legítima. É mais um desejo de reafirmação perante a si mesmo e os demais.
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Por que Lacan disse que “A Mulher não existe”? Responde o psicanalista Lucas Nápoli: "Creio que essa frase seja uma das mais polêmicas já proclamadas pelo psicanalista Jacques Lacan. Mas creio também que isso se deva ao fato de a maior parte das pessoas não entenderem porque Lacan a disse e considerá-la apenas como mais uma justificativa para o preconceito segundo o qual a Psicanálise é machista. Portanto, vamos tratar de botar os pingos nos “is”. Uma das características mais geniais de Lacan era a sua capacidade de pegar as teorias elaboradas por Freud e tirar delas algumas frases de efeito. Esse é o caso de “A Mulher não existe”. É óbvio que Lacan não está dizendo que os seres do sexo feminino (com vulva, vagina, ovários e etc.) não existam. Ele não era psicótico a esse ponto. O que ele está dizendo é que as mulheres existem, mas A Mulher não. Para entender de onde ele tirou isso, convido meus caros leitor e leitora para um exercício de imaginação. Imaginem que vocês se encontram por volta das idades de 4 ou 5 anos. Agora, se imaginem (nessa idade) vendo os corpos nus de um menino e de uma menina. Qual a primeira diferença que vocês irão notar? É óbvio: que no menino há uma coisa entre as pernas e que na menina não há uma coisa no meio das pernas. Lembrem-se: nessa época (4 a 5 anos) a gente, mesmo que tenha lido os livros de ciência, ainda não tem como certa a existência do órgão sexual feminino (a vagina). Então, o que a gente vê é que no menino há uma coisa e na menina não há uma coisa. Qual a conclusão mais óbvia a ser tirada dessa visão? A de que o menino possui aquilo que na menina falta. Então, senhoras e senhores, como vai se inscrever na cabecinha de todos nós a diferença entre os sexos, quer dizer, como é que a gente vai interpretar o que é homem e o que é mulher? A partir desse objeto que o homem tem e a mulher não tem. Portanto, na nossa cabeça (Lacan diria, na ordem simbólica) a gente tem como dar uma resposta para a pergunta “O que é o homem?”. Qual resposta? “O homem é aquele que possui o objeto”. Agora, para saber o que é a mulher a gente só tem uma definição negativa: “A mulher é aquele ser que não é homem, ou seja, que não tem o objeto”. Mas essa resposta não serve! Afinal, a gente poderia dizer: “Beleza, se a mulher não é o homem então o que ela é?” É uma pergunta para a qual não se tem a resposta porque no caso da mulher não há esse objeto que a represente. Conclui-se então que a idéia do que é a mulher, de sua essência, de seu desejo realmente não existe. Por quê? Porque diferentemente do homem ela não tem um objeto que a represente – esse objeto Freud chamou de “falo”. Então, na nossa cabeça, no mundo simbólico, a mulher não tem representação. Por isso, Lacan diz que “A Mulher (e aí a gente pode completar com: “A mulher enquanto representação do que é a mulher”) não existe”. Isso é ruim? Ao meu ver, muito pelo contrário! Meus alunos e alunas de aulas particulares conhecem muito bem o que penso a respeito disso. Se a mulher não tem uma representação de si mesma, isso significa que ela pode inventar sua essência! É por isso, por exemplo, que nenhuma mulher gosta de encontrar numa festa outra mulher com o mesmo vestido dela. Mulher gosta de se sentir única, singular, exatamente porque ela não tem uma definição padrão do que é ser mulher. Já homem não. Homem gosta do mesmo, do padrão. Numa festa de gala, estão todos de terno. São raríssimas exceções os que querem se diferenciar – e não são vistos com bons olhos. Por isso, minha cara leitora, quando ouvir por aí um lacaniano dizer que “A Mulher não existe”, dê graças a Deus, pois ao “não existir” ela precisa “se fazer existir”, cada uma a seu modo…”, completa o professor Lucas Nápoli.