REENCONTROS PELA INTERNET
por Theodiano Bastos
(*)
A internet é mesmo uma ferramenta
extraordinária, não só para pesquisas, como também para encontrar pessoas.
Usando-se sites de buscas como o Google, Yahoo e Bing (todos usam o logaritmo
na busca), sempre se consegue respostas às nossas consultas.
Acredito na teoria das coincidências
significativas de Carl Gustav Jung,
onde o acaso não existe, e essa teoria está no livro “Jung, Sincronicidade e Destino Humano” de Ira Progoff onde aborda o encontro com certas pessoas,
Encontramos pessoas que despertam
nossa simpatia e outras que logo detestamos à primeira vista.São reencontros?
É comum às pessoas de idade procurarem
reencontrar pessoas que conheceram ao longo da vida, e com o advento da
internet e os sites de buscas (Google, Yahoo e Bing), e nas redes sociais
(Facebook e Instagram), se consegue reencontrar as pessoas que não se via há
muitos anos. Como tenho página no Facebook, fui localizado por pessoas que não
via há décadas, e com essa mesma ferramenta localizei muitos amigos.
Desta forma, depois de muitos anos,
consegui localizar em 2007 Carlos José Gevaert, companheiro de bolsa nos EUA.
Não era mais do Banco do Brasil, do qual pediu demissão por não suportar as perseguições
do Golpe Militar de 1964, era professor da Universidade de Santa Catarina,
morava Florianópolis, mas estava lutando contra o câncer e faleceu em dezembro
de 2009, aos 76 anos. Guardo até hoje sua comovente carta de abril de 2007. Era
muito inteligente, culto e de bom caráter. Que Deus Lhe conceda a paz eterna.
Alvimar Macedo, ex-presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, em Salvador
em 1962 e que atualmente mora em Maceió, já bastante doente e com problema de
memória, Germano Machado, fundador do CEPA – Círculo de Estudo, Pensamento e
Ação, o CEPA-mãe, lúcido e ativo aos 84 anos.
Mas o fato mais surpreendente foi ser
localizado por uma senhora que conheci num pensionato que funcionava num antigo
casarão da em Salvador, na Rua do Carmo, em 1959; localizou-me 54 anos depois.
Este contato causou-me impacto, porquanto estava concluindo este livro de
memórias.
— É impressionante, você continua com
a mesma voz mansa, disse Dora. Não sou bom em memorizar a voz das pessoas. Mas
a dela, com o sotaque baiano bem carregado, lembrava-me da voz de minha cunhada
que mora em Feira de Santana.
— Lembro-me bem de que você era uma
morena bonita e elegante...
— Isso acabou com os anos; na época
que você me conheceu eu tinha 21 anos e hoje estou com 75... Filha e neta de
fazendeiros, havia se casado também com um rico fazendeiro.
Em setembro de 2013, ao estacionar em
frente a um pequeno prédio com o nome de meu pai em Feira de Santana/BA,
fez-lhe lembrar-se de mim. Pediu para a prima que dirigia o automóvel que tentasse
localizar-me pela internet.
Fiquei atônito com o contato. Após
saber de minha vida, passou a contar-me suas venturas e desventuras. Relatou
que depois de um casamento feliz de 51 anos, (um casal de filhos e três
netos), tendo viajado com o marido por mais de 30 países, levado uma vida de
sonho, mas que logo após as comemorações das Bodas de Ouro, o marido apareceu
com o mal de Alzheimer e de uma hora para outra sua vida passou a ser de grande
sofrimento. Apesar de ter ficado muito bem de vida, com três fazendas e
apartamentos em bairros nobres de Salvador, ainda estava traumatizada, muito
abalada, com a morte trágica do marido, ocorrida havia apenas sete meses ao
cair do 9º andar de um prédio em Salvador. Ninguém sabe como passou um perna e
depois a outra.
—É horrível se ver sozinha num
apartamento imenso, lamentava minha amiga. (Ela vive num condomínio vertical
de alto padrão na Pituba, bairro nobre da Orla de Salvador). — Acabo de chegar
do Sertão, onde fui ver as fazendas, todas enfrentando uma seca terrível e logo
recebo um telefonema de dizendo que a fossa de uma das casas entupiu e que
tenho de tomar providências, lamenta a amiga. Mas o pior de tudo está
acontecendo com o inventário, continua a amiga. Nomeei meu filho mais velho,
médico, casado e pai dos meus três netos para ser o inventariante. Logo cedo
descobri que ele se juntou com a outra filha, que é publicitária, para praticar
atos desonestos, desviando bens e recursos financeiros. Levei ao conhecimento
do juiz, que o destituiu, e me nomeou inventariante. E em juízo esse filho
disse que fui uma péssima mãe e coisas mais terríveis contra mim, inclusive de
que eu teria culpa na morte do marido e o juiz encaminhou essa denúncia para o
promotor criminal e o caso foi parar na Polícia. Inclusive proibiu que eu
visitasse os três netos; o mais velho é louco por mim e não pode me visitar...
— Nunca pensei que meus filhos
tivessem um caráter tão deplorável. Eu os criei com todo amor e desvelo, daria
minha vida por eles e vejam o que fazem comigo, uma pessoa idosa e
traumatizada. E o que é ainda mais lamentável, é que ficaram muito bem de vida,
com a metade dos bens e avançaram no que é meu. Sumiram com mais de R$ 500 mil
em aplicações e poupanças, e ainda querem que eu já passe para ele todos os bens
que me cabe como meeira. Viraram meus inimigos e não permite mais que eu visite
os três netos... O neto mais velho, doido por mim, vive pedindo: “eu quero ver
minha avó” e não deixam. Isso é uma crueldade, desabafou.
Vida muita sofrida dessa amiga, uma
senhora já com 75 anos, mesmo tendo ficado muito bem de vida.
Certa vez ao ir passar um fim de
semana em Cachoeira, peguei um vapor da Navegação Baiana que saia do Mercado
Modelo em Salvador. Era um pequeno vapor de fundo chato para navegar em águas
rasas, conhecido como “vapor de Cachoeira”. As saídas dependiam das marés, pois
teria de subir o Rio Paraguaçu. Era um 23 de junho, véspera da festa de São
João. Muitas fogueiras eram vistas nos terreiros das fazendas ás margens do
rio. O pequeno e desconfortável barco, com bancos de madeira, navegava seguindo
marcas nas margens, ziguezagueando, indo prá lá e pra cá, pois não havia canal
de navegação mesmo com a maré cheia, mas na volta, com a maré mais baixa, o
vapor acabou encalhando num banco de areia. O barco encalhou à noite e, ao
amanhecer, quando a maré baixou, o barco ficou no seco por seis horas até a
nova maré. Entrei em desespero, pois faltaria ao trabalho no banco e por
desdita tinha trazido a chave do arquivo de aço onde estavam as fichas cadastrais
dos clientes. Recebi uma tremenda bronca do chefe e fiquei convencido que na
nova falta seria mandado embora. E fato estranho nessa viagem: o comandante do
barco era meu tio Quidu (Melquíedes, irmão de minha mãe), que consolou-me e
lamentou muito sua falha, e me disse que isso às vezes acontecia porque não
existe canal de navegação, e que piora com as mudanças dos bancos de areia
provocadas pelas marés. E para piorar, não havia comida nem água a bordo para
servir aos passageiros por tanto tempo. Por essas e outras desisti dessas
viagens de fim de semana para Cachoeira.
Lembrei-me de um caso de decepção de
um pai: meu velho amigo, colega na FAB e no banco, tendo sido seu padrinho de
casamento. Ele morava em Salvador e, já idoso, teve de fazer uma cirurgia para
implantar quatro pontes de safena e passou a procuração para seu filho.
Sobreviveu, e ao ir conferir os saldos bancários, atônito descobriu que o filho
tinha zerado todas as contas de poupança e aplicações. Ao pedir explicação o
filho disse que iria devolver tudo, mas nada devolveu, é claro, e decepcionado
mudou-se para Porto Seguro, para fugir dos filhos, porquanto também as duas
outras filhas sempre lhe davam desgostos. A mulher, professora da (UFBA –
Universidade Federal da Bahia), virou lésbica e foi morar com outra mulher...
— Vim morar nesse bairro afastado de
Porto Seguro para fugir da família, mas de nada adiantou. O filho e os netos
desapareceram e as filhas só apareciam para pedir dinheiro, quando recebia a
aposentadoria da COELBA, da qual era procurador. É assim a vida, meu amigo,
disse suspirando.
Outro vizinho em Nanuque foi
assassinado pelo filho a golpe de machado por causa de herança e, outro
vizinho, ao dar procuração para a filha, atônito descobriu que se aproveitou de
sua doença terminal, roubou quase todo o gado da fazenda, bem como os que tinha
em sociedade com fazendeiro vizinho e surrupiado todas as poupanças que tinha
no Banco do Brasil, Bradesco e Itaú, as jóias da mãe e por ser muito hábil na
falsificação de assinaturas, jogava um parente contra o outro com cartas
anônimas para criar confusões e assim executar seus planos. Organizou uma
quadrilha para roubar sua própria família. Foi a mente mais tenebrosa e
perversa que conheci em toda minha vida. Cara de anjo, alma de demônio, enganou a todos
os que a conhecia e não sabia que era uma ladra e psicopata. Noventa dias depois
de morto, ainda soltou cheques sem fundos da conta de seu pai no Banco do
Brasil e ele, um homem honrado, foi incluído como ficha-suja no Banco Central.
Quando parentes questionaram toda essa sujeira, a professora de Ioga disse: — É
o meu Carma, diz cinicamente.
Em outro caso, logo após a morte do pai, Essa idosa sofreu muito com as
brigas entre os filhos. Muitas brigas, mas a pior foi protagonizada pela filha
mais velha; ela quis que a mãe assinasse um cheque em branco, ela não assinou e
falou isso para o filho que discutiu com a irmã e aí a filha denunciou o
irmão na promotoria criminal, acusando-o de que ele teria em casa um arsenal.
Quando a mãe,
uma idosa com 78 anos, estava sozinha em casa, chegaram policiais com mandado
de busca e apreensão, armados de metralhadoras. Pediram desculpas pelo
constrangimento mas disseram para ela que foi sua própria filha a autora da
denúncia.
— Os senhores
já me constrangeram com a invasão de minha casa portando metralhadoras... Mas
os policiais aí vasculharam toda a casa e o quintal, principalmente o quarto do
filho e não encontraram armas.
Hoje ela está prostrada na cama, usando
fraldas, uma bolsa para urinar, só ouve e não fala nada, a comida tem de ser
posta na boca e não anda nem amparada; tem de ser carregada e quatro senhoras
cuidam dessa idosa. Logo após a morte do marido ela chegou a comprar dois
cortes de tecidos para fazer vestidos, chegou a provar esses vestidos, mas não
chegou a usá-los, pois o trauma da chegada dos policiais em sua casa, armados
de metralhadoras lhe traumatizaram, e a doença tomou conta dela.
Vejam o que disse Shakespeare sobre o
dinheiro, no século 16:
“Ó tu amado regicida, caro
divorciador da mútua afeição do filho e do pai; brilhante corruptor dos mais
puros leitos do Himeneu! Valente Marte! Sempre viçoso, amado galanteador, cujo
brilho faz derreter a virginal neve do colo de Diana...Ó tu, pedra de toque
dos corações; tratas os homens, teus escravos, como rebeldes, e, pela tua
virtude, arremessa-os a todos em discórdias devoradores, a fim de que as feras
possa ter o mundo por império”
Por essas e outras
dividi o pouco que tinha entre os quatro filhos, mas com usufruto para os pais.
NOTA: Estes texto consta do livro ‘PEGADAS
DA CAMINHADA”, do autor deste blog, publicado pela editora EDICON de São Paulo
na versão impressa e pela AMAZON, edição digital
(*)
Theodiano Bastos é escritor, autor
dos livros: “BRASIL: O Lulopetismo no
Poder”, “O Triunfo das Idéias” , “A Procura do Destino” “Liderança, Chefia e
Comando” e ‘PEGADAS DA CAMINHADA .
Coordenador e
introdutor das antologias publicadas pela UFES/CEPA: “Resgate da Família: alternativa para enfrentar sua dissolução, a
violência e as drogas”, “Corrupção,
Impunidade e Violência: O que fazer?”,
“Globalização é Neocolonialismo? Põe a
Ciência e a Tecnologia a Serviço do Social e da Vida” e “Um
Novo Mundo é Possível? Para Aonde Vamos”.
Idealizador e executor, em parceria com a UFES/CEPA, do JOCICA – Jovem Cientista Capixaba
I,II,II e IV. idealizador e presidente
do Círculo de Estudo, Pensamento e Ação,
CEPA / ES www.cepa.ufes.br