quinta-feira, 30 de abril de 2015

REENCONTROS PELA INTERNET



REENCONTROS PELA INTERNET
                        por Theodiano Bastos (*)

A internet é mesmo uma ferramenta extraordinária, não só para pesquisas, como também para encontrar pessoas. Usando-se sites de buscas como o Google, Yahoo e Bing (todos usam o logaritmo na busca), sempre se consegue respostas às nossas consultas.

Acredito na teoria das coincidências significativas de Carl Gustav Jung, onde o acaso não existe, e essa teoria está no livro “Jung, Sincronicidade e Destino Humano” de Ira Progoff onde aborda o encontro com certas pessoas,



Encontramos pessoas que despertam nossa simpatia e outras que logo detestamos à primeira vista.São reencontros?

É comum às pessoas de idade procurarem reencontrar pessoas que conheceram ao longo da vida, e com o advento da internet e os sites de buscas (Google, Yahoo e Bing), e nas redes sociais (Facebook e Instagram), se consegue reencontrar as pessoas que não se via há muitos anos. Como tenho página no Facebook, fui localizado por pessoas que não via há décadas, e com essa mesma ferramenta localizei muitos amigos.

Desta forma, depois de muitos anos, consegui localizar em 2007 Car­los José Gevaert, companheiro de bolsa nos EUA. Não era mais do Banco do Brasil, do qual pediu demissão por não suportar as perseguições do Golpe Militar de 1964, era professor da Universidade de Santa Catarina, morava Florianópolis, mas estava lutando contra o câncer e faleceu em dezembro de 2009, aos 76 anos. Guardo até hoje sua comovente carta de abril de 2007. Era muito inteligente, culto e de bom caráter. Que Deus Lhe conceda a paz eterna. Alvimar Macedo, ex-presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, em Salvador em 1962 e que atualmente mora em Maceió, já bastante doente e com problema de memória, Germano Machado, fundador do CEPA – Círculo de Estudo, Pensamento e Ação, o CEPA-mãe, lúcido e ativo aos 84 anos.

Mas o fato mais surpreendente foi ser localizado por uma senhora que conheci num pensionato que funcionava num antigo casarão da em Salvador, na Rua do Carmo, em 1959; localizou-me 54 anos depois. Este contato causou-me impacto, porquanto estava concluindo este livro de memórias.

— É impressionante, você continua com a mesma voz mansa, disse Dora. Não sou bom em memorizar a voz das pessoas. Mas a dela, com o sotaque baiano bem carregado, lembrava-me da voz de minha cunhada que mora em Feira de Santana.

— Lembro-me bem de que você era uma morena bonita e elegante...

— Isso acabou com os anos; na época que você me conheceu eu tinha 21 anos e hoje estou com 75... Filha e neta de fazendeiros, havia se casado também com um rico fazendeiro.

Em setembro de 2013, ao estacionar em frente a um pequeno prédio com o nome de meu pai em Feira de Santana/BA, fez-lhe lembrar-se de mim. Pediu para a prima que dirigia o automóvel que tentasse localizar­-me pela internet.

Fiquei atônito com o contato. Após saber de minha vida, passou a contar-me suas venturas e desventuras. Relatou que depois de um casa­mento feliz de 51 anos, (um casal de filhos e três netos), tendo viajado com o marido por mais de 30 países, levado uma vida de sonho, mas que logo após as comemorações das Bodas de Ouro, o marido apareceu com o mal de Alzheimer e de uma hora para outra sua vida passou a ser de grande sofrimento. Apesar de ter ficado muito bem de vida, com três fazendas e apartamentos em bairros nobres de Salvador, ainda estava traumatizada, muito abalada, com a morte trágica do marido, ocorrida havia apenas sete meses ao cair do 9º andar de um prédio em Salvador. Ninguém sabe como passou um perna e depois a outra.

—É horrível se ver sozinha num apartamento imenso, lamentava mi­nha amiga. (Ela vive num condomínio vertical de alto padrão na Pituba, bairro nobre da Orla de Salvador). — Acabo de chegar do Sertão, onde fui ver as fazendas, todas enfrentando uma seca terrível e logo recebo um telefonema de dizendo que a fossa de uma das casas entupiu e que tenho de tomar providências, lamenta a amiga. Mas o pior de tudo está acontecendo com o inventário, continua a amiga. Nomeei meu filho mais velho, médico, casado e pai dos meus três netos para ser o inven­tariante. Logo cedo descobri que ele se juntou com a outra filha, que é publicitária, para praticar atos desonestos, desviando bens e recursos financeiros. Levei ao conhecimento do juiz, que o destituiu, e me nomeou inventariante. E em juízo esse filho disse que fui uma péssima mãe e coisas mais terríveis contra mim, inclusive de que eu teria culpa na morte do marido e o juiz encaminhou essa denúncia para o promotor criminal e o caso foi parar na Polícia. Inclusive proibiu que eu visitasse os três netos; o mais velho é louco por mim e não pode me visitar...

— Nunca pensei que meus filhos tivessem um caráter tão deplorável. Eu os criei com todo amor e desvelo, daria minha vida por eles e vejam o que fazem comigo, uma pessoa idosa e traumatizada. E o que é ainda mais lamentável, é que ficaram muito bem de vida, com a metade dos bens e avançaram no que é meu. Sumiram com mais de R$ 500 mil em aplicações e poupanças, e ainda querem que eu já passe para ele todos os bens que me cabe como meeira. Viraram meus inimigos e não permite mais que eu visite os três netos... O neto mais velho, doido por mim, vive pedindo: “eu quero ver minha avó” e não deixam. Isso é uma crueldade, desabafou.

Vida muita sofrida dessa amiga, uma senhora já com 75 anos, mesmo tendo ficado muito bem de vida.

Certa vez ao ir passar um fim de semana em Cachoeira, peguei um vapor da Navegação Baiana que saia do Mercado Modelo em Sal­vador. Era um pequeno vapor de fundo chato para navegar em águas rasas, conhecido como “vapor de Cachoeira”. As saídas dependiam das marés, pois teria de subir o Rio Paraguaçu. Era um 23 de junho, véspera da festa de São João. Muitas fogueiras eram vistas nos terreiros das fazendas ás margens do rio. O pequeno e desconfortável barco, com bancos de madeira, navegava seguindo marcas nas margens, ziguezagueando, indo prá lá e pra cá, pois não havia canal de navega­ção mesmo com a maré cheia, mas na volta, com a maré mais baixa, o vapor acabou encalhando num banco de areia. O barco encalhou à noite e, ao amanhecer, quando a maré baixou, o barco ficou no seco por seis horas até a nova maré. Entrei em desespero, pois faltaria ao trabalho no banco e por desdita tinha trazido a chave do arquivo de aço onde esta­vam as fichas cadastrais dos clientes. Recebi uma tremenda bronca do chefe e fiquei convencido que na nova falta seria mandado embora. E fato estranho nessa viagem: o comandante do barco era meu tio Quidu (Melquíedes, irmão de minha mãe), que consolou-me e lamentou muito sua falha, e me disse que isso às vezes acontecia porque não existe canal de navegação, e que piora com as mudanças dos bancos de areia provocadas pelas marés. E para piorar, não havia comida nem água a bordo para servir aos passageiros por tanto tempo. Por essas e outras desisti dessas viagens de fim de semana para Cachoeira.

Lembrei-me de um caso de decepção de um pai: meu velho amigo, colega na FAB e no banco, tendo sido seu padrinho de casamento. Ele morava em Salvador e, já idoso, teve de fazer uma cirurgia para implantar quatro pontes de safena e passou a procuração para seu filho. Sobreviveu, e ao ir conferir os saldos bancários, atônito descobriu que o filho tinha zerado todas as contas de poupança e apli­cações. Ao pedir explicação o filho disse que iria devolver tudo, mas nada devolveu, é claro, e decepcionado mudou-se para Porto Seguro, para fugir dos filhos, porquanto também as duas outras filhas sempre lhe davam desgostos. A mulher, professora da (UFBA – Universidade Federal da Bahia), virou lésbica e foi morar com outra mulher...

— Vim morar nesse bairro afastado de Porto Seguro para fugir da família, mas de nada adiantou. O filho e os netos desapareceram e as filhas só apareciam para pedir dinheiro, quando recebia a aposentadoria da COELBA, da qual era procurador. É assim a vida, meu amigo, disse suspirando.

Outro vizinho em Nanuque foi assassinado pelo filho a golpe de machado por causa de herança e, outro vizinho, ao dar procuração para a filha, atônito descobriu que se aproveitou de sua doença terminal, roubou quase todo o gado da fazenda, bem como os que tinha em sociedade com fazendeiro vizinho e surrupiado todas as poupanças que tinha no Banco do Brasil, Bradesco e Itaú, as jóias da mãe e por ser muito hábil na falsificação de assinaturas, jogava um parente contra o outro com cartas anônimas para criar confusões e assim executar seus planos. Organizou uma quadrilha para roubar sua própria família. Foi a mente mais tenebrosa e perversa que conheci em toda minha vida.  Cara de anjo, alma de demônio, enganou a todos os que a conhecia e não sabia que era uma ladra e psicopata. Noventa dias de­pois de morto, ainda soltou cheques sem fundos da conta de seu pai no Banco do Brasil e ele, um homem honrado, foi incluído como ficha-suja no Banco Central. Quando parentes questionaram toda essa sujeira, a professora de Ioga disse: — É o meu Carma, diz cinicamente.

     Em outro caso, logo após a morte do pai, Essa idosa sofreu muito com as brigas entre os filhos. Muitas brigas, mas a pior foi protagonizada pela filha mais velha; ela quis que a mãe assinasse um cheque em branco, ela não assinou e falou isso para o filho que discutiu com a irmã e aí a filha denunciou o irmão na promotoria criminal, acusando-o de que ele teria em casa um arsenal. 

Quando a mãe, uma idosa com 78 anos, estava sozinha em casa, chegaram policiais com mandado de busca e apreensão, armados de metralhadoras. Pediram desculpas pelo constrangimento mas disseram para ela que foi sua própria filha a autora da denúncia.

— Os senhores já me constrangeram com a invasão de minha casa portando metralhadoras... Mas os policiais aí vasculharam toda a casa e o quintal, principalmente o quarto do filho e não encontraram armas.

    Hoje ela está prostrada na cama, usando fraldas, uma bolsa para urinar, só ouve e não fala nada, a comida tem de ser posta na boca e não anda nem amparada; tem de ser carregada e quatro senhoras cuidam dessa idosa. Logo após a morte do marido ela chegou a comprar dois cortes de tecidos para fazer vestidos, chegou a provar esses vestidos, mas não chegou a usá-los, pois o trauma da chegada dos policiais em sua casa, armados de metralhadoras lhe traumatizaram, e a doença tomou conta dela.    

Vejam o que disse Shakespeare sobre o dinheiro, no século 16:



“Ó tu amado regicida, caro divorciador da mútua afeição do filho e do pai; brilhante corruptor dos mais puros leitos do Himeneu! Valente Marte! Sempre viçoso, amado galanteador, cujo brilho faz derreter a vir­ginal neve do colo de Diana...Ó tu, pedra de toque dos corações; tratas os homens, teus escravos, como rebeldes, e, pela tua virtude, arremessa­-os a todos em discórdias devoradores, a fim de que as feras possa ter o mundo por império”

Por essas e outras dividi o pouco que tinha entre os quatro filhos, mas com usufruto para os pais.



NOTA: Estes texto consta do livro ‘PEGADAS DA CAMINHADA”, do autor deste blog, publicado pela editora EDICON de São Paulo na versão impressa e pela AMAZON, edição digital



(*) Theodiano Bastos é escritor, autor dos livros: “BRASIL: O Lulopetismo no Poder”, “O Triunfo das Idéias” , “A Procura do Destino” “Liderança, Chefia e Comando” e  ‘PEGADAS DA CAMINHADA .

Coordenador e introdutor das antologias publicadas pela UFES/CEPA: “Resgate da Família: alternativa para enfrentar sua dissolução, a violência e as drogas”, “Corrupção, Impunidade  e Violência: O que fazer?”, “Globalização é Neocolonialismo? Põe a Ciência e a Tecnologia a Serviço do Social e da Vida” e  “Um Novo Mundo é Possível? Para Aonde Vamos”.  Idealizador e executor, em parceria com a UFES/CEPA, do JOCICA – Jovem Cientista Capixaba I,II,II e IV.  idealizador e presidente do  Círculo de Estudo, Pensamento e Ação, CEPA / ES  www.cepa.ufes.br




quinta-feira, 23 de abril de 2015

PETROBRAS: R$ 6,2 BI DESVIADOS; R$ 21,6 BI DE PREZUÍZO



PETROBRAS, números do escândalo:
R$ 6,2 bilhões DESVIADOS COM CORRUPÇÃO; R$ 21,6 bilhões DE PREJUÍZO EM 2014; R$ 199 bi é o valor dos contratos em que foram registrados pagamentos adicionais; R$ 44,6 bi é a perda por desvalorização de ativos; R$ 351 bi é a dívida atual da Petrobras
                    *************         
Há três meses, ainda sob a presidência de Graça Foster, a Petrobras informara que precisaria dar baixa em R$ 88,6 bilhões dos seus ativos para compensar as perdas decorrentes da corrupção e dos equívocos gerenciais. Agora, comandada por Adelmir Bendini, a estatal esclarece que as perdas somam R$ 50,8 bilhões.

Quer dizer: num intervalo de 90 dias, evaporaram dos registros contábeis R$ 37,8 bilhões em perdas —ou 42% do total estimado em janeiro. Tudo na Petrobras é superlativo. A estatal consegue ser amazônica até na criatividade matemática.

Se você acompanha o vaivém da contabilidade da Petrobras e consegue manter a cabeça no lugar, você provavelmente está mal informado. Há sempre a possibilidade de confiar piamente nos dados mais recentes. Mas, se você fizer isso, depois não vai poder piar.

Ruína da Petrobras tem nome(s): Lula e Dilma por Josias de Souza


Por delegação de Lula, a Petrobras está sob a alçada de Dilma desde a chegada do PT ao poder federal, em janeiro de 2003. Primeiro, ela foi ministra de Minas e Energia, de cujo organograma pende a estatal. Depois, acumulou as atribuições de supergerente da Casa Civil com a presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Em seguida, como presidente da República, centralizou todas as funções anteriores.
Lula e Dilma já disseram que não sabiam de nada sobre a pilhagem que pôs a Petrobras de joelhos. Agora, além da piada da cegueira, a dupla terá de arranjar uma lorota para justificar a incompetência. Os números oficiais informam que a corrupção não foi o maior problema da Petrobras. A inépcia gerencial foi sete vezes superior à roubalheira.
Os auditores lançaram na coluna do passivo perdas de R$ 50,8 bilhões. Desse total, R$ 6,194 bilhões referem-se ao câncer das propinas escarafunchadas na Operação Lava Jato. Os outros R$ 44,63 bilhões viraram fumaça por conta da incúria administrativa. Nessa conta, entram delírios nascidos da megalomania de Lula e do interesse em fazer uns dinheirinhos para saciar os apetites do conglomerado partidário que gravita na órbita do governo.
Cancelaram-se novas etapas da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e do Comperj, no Rio. Foram enviadas às calendas as refinarias companheiras do Ceará e do Maranhão, prometidas pelo morubixaba do PT aos clãs Gomes e Sarney, respectivamente.
Sob Lula, Dilma engolira todos esses empreendimentos sem esboçar contrariedade. Se discordasse, teria sido enviada ao olho da rua pelo chefe. Ou teria pedido o boné. Preferiu ficar. Mais que isso: sucedendo o criador, optou por manter o discurso triunfalista e as obras delirantes. Pior: escamoteou a movimentação dos representantes da bancada do dinheiro na diretoria da Petrobras.
Admita-se, para efeito de raciocínio, que o grosso do escândalo que carcome a administração Dilma foi jogado no colo dela pelo antecessor. A criatura teve uma chance de espantar a macumba do criador há pouco mais de um ano. Em março de 2014, numa resposta ao Estadão, Dilma informara em nota que, como presidente do Conselho Administrativo da Petrobras, aprovara a compra da refinaria texana de Pasadena com base em “informações incompletas'' deitadas sobre um “parecer técnica e juridicamente falho'' pelo então diretor Nestor Cerveró.
Dias depois, o juiz Sérgio Moro mandou a Polícia Federal prender Paulo Roberto Costa, um ex-diretor da Petrobras que deixara a empresa sob elogios da direção. Podendo associar-se a sério aos esforços para lancetar o tumor, Dilma se deixou enquadrar por Lula e pela banda do PT que traz um código de barras na lapela.
Criticada pelo “erro” do sincericídio da nota sobre Pasadena, a presidente recolheu a língua e liberou seus operadores para negociarem o silêncio de Cerveró e de Paulinho. Com isso, abriu mão de se tornar solução para continuar sendo parte do problema. Por azar, Paulinho decidiu lutar pela redução de suas penas com o suor do seu dedo. Foi imitado por outros 15 delatores.
Na noite passada, ao informar que a Petrobras registrou prejuízo de R$ 21,58 bilhões no ano de 2014, invertendo o lucro de R$ 23,6 bilhões que amealhara em 2013, Aldemir Bendini construiu uma analogia aérea: “Vejamos o caso de um desastre aéreo. É sempre através dele que se aperfeiçoam as medidas de segurança. Vamos dizer que a gente passou por um grande desastre. Isso servirá para que a gente invista cada vez mais em governança.”
A imagem, por infeliz, remete a plateia à tragédia aérea mais recente, aquela em que o copiloto Andreas Lubitz trancou o piloto do jato da companhia Germanwings do lado de fora da cabine e mergulhou o voo 4U9525 nas montanhas dos Alpes franceses, matando 150 pessoas. Se Dilma bobear, Lula ainda vai bater à sua porta para, num desespero simulado, assumir o papel do piloto inocente.
Fonte: http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/ 23/04/15

terça-feira, 21 de abril de 2015

O SUICÍDIO DO COPILOTO








O suicídio do copiloto: expressão do niilismo da cultura pós-moderna?                            por Leonardo Boff

O suicídio premeditado do copiloto Andreas Lubitz da Germanwings, levando consigo 149 pessoas, suscita várias interpretações. Havia seguramente um componente psicológico de depressão, associado ao medo de perder o posto de trabalho. Mas, para chegar a esta solução desesperada de, ao voluntariamente pôr fim a sua vida, levar consigo outros 149 pessoas, deve ter havido algo muito profundo e misterioso, que precisamos de alguma forma tentar decifrar.
Atualmente, este medo de perder o emprego e viver sob uma grave frustração por não poder nunca mais realizar o seu sonho, leva a não poucas pessoas à angústia; da angústia, à perda do sentido de vida; e esta perda, à vontade de morrer. A crise da geosociedade está fazendo surgir uma espécie de “Mal-estar na globalização” replicando o “Mal-estar na cultura” de Freud.
Por causa da crise, as empresas e seus gestores levam a competitividade até a um limite extremo, estipulam metas quase inalcançáveis, infundindo nos trabalhadores angústias, medo e, não raro, síndrome de pânico. Cobra-se tudo deles: entrega incondicional e plena disponibilidade, dilacerando sua subjetividade e destruindo as relações familiares. Estima-se que no Brasil cerca de 15 milhões de pessoas sofram este tipo de depressão, ligada às sobrecargas do trabalho.
A pesquisadora Margarida Barreto, médica especialista em saúde do trabalho, observou que no ano de 2010, numa pesquisa ouvindo 400 pessoas, cerca de um quarto delas tiveram ideias suicidas, por causa da excessiva cobrança no trabalho. Continua ela: “é preciso ver a tentativa de tirar a própria vida como uma grande denúncia das condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo nas últimas décadas”. Especialmente são afetados os bancários, trabalhadores do setor financeiro; um setor altamente especulativo e orientado para a maximização dos lucros.
Uma pesquisa de 2009, feita pelo professor Marcelo Augusto Finazzi Santos, da Universidade de Brasília, apurou que, entre 1996 e 2005, a cada 20 dias, um bancário se suicidava, por causa das pressões por metas, excesso de tarefas e pavor do desemprego.
A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de três mil pessoas se suicidam diariamente, muitas delas por causa da abusiva pressão do trabalho. O Le Monde Diplomatique de novembro de 2011 denunciou que entre os motivos das greves de outubro, na França, se achava também o protesto contra o acelerado ritmo de trabalho imposto pelas fábricas, causando nervosismo, irritabilidade e ansiedade. Relançou-se a frase de 1968 que rezava: “metrô, trabalho, cama”, atualizando-a agora como “metrô, trabalho, túmulo”. Quer dizer, doenças letais, ou o suicídio, como efeito da superexploração do processo produtivo, no estilo ultra acelerado norte-americano, introduzido na França.
Estimo que, no fundo de tudo, estamos face às aterradoras dimensões niilistas de nossa cultura pós-moderna. O termo, niilismo, surgiu em 1793 durante a Revolução Francesa por Anacharsis Cloots, um alemão-francês, e foi divulgado pelos anarquistas russos a partir de 1830 que diziam: “tudo está errado, por isso tudo tem que ser destruído e temos que recomeçar do zero”. Depois, Nietzsche retoma o tema do niilismo, aplicando-o ao cristianismo que, segundo ele, se opõe ao mundo da vida. No após guerra, em seu seminário sobre Nietzsche, Heidegger vai mais longe ao afirmar, creio que de forma exagerada, que todo o Ocidente é niilista porque esqueceu o Ser em favor do Ente. O ente, sempre finito, não pode preencher a busca de sentido do ser humano. Alexandre Marques Cabral dedicou dois volumes ao tema: “Niilismo e Hierofania: Nietzsche e Heidegger” (2015) e Clodovis Boff três volumes sobre a questão do Sentido e do Niilismo.
Em setores da pós-modernidade, o niilismo se transformou na doença difusa de nosso tempo, quer dizer, tudo é relativo e, no fundo, nada vale a pena; a vida é absurda; as grandes narrativas de sentido perderam seu valor; as relações sociais se liquidificaram e vigora um assustador vazio existencial.
Neste contexto, se retomam tradições niilistas da filosofia ocidental como o mito do fauno Sileno, citado por Aristóteles no seu Eudemo, que diz: “não nascer é melhor que nascer; e uma vez nascido, é melhor morrer o mais cedo possível”. Na própria Bíblia ressoam expressões niilistas, que nascem da percepção das tragédias da vida. Assim diz o Eclesiastes: “mais feliz é quem nem chegou a existir e não viu a iniquidade que se comete sob o sol” (4,3-4). O nosso Antero de Quental (+1860), num poema afirma: “Que sempre o mais pior é ter nascido”.
Suspeito que esse mal-estar generalizado na nossa cultura, contaminou a alma do copiloto Lubitz. Também pessoas que entram nas escolas e matam dezenas de estudantes, em vários países, e até entre nós, em 2011, no Rio, na escola Tasso da Silveira, quando um jovem matou mais de uma dezena de alunos, revelam o mesmo espírito niilista. Medo difuso, decepções e frustrações destruíram em Lubitz o horizonte de sentido da vida. Quis encontrar na morte o sentido que lhe foi negado na vida. Escolheu tragicamente o caminho do suicídio.
O suicídio pertence à tragédia humana que sempre nos acompanha. Por isso, cabe respeitar o caráter misterioso do suicídio. Talvez seja a busca desesperada de uma saída num mundo sem saída pessoal. Diante do mistério, calamos, pasmados e reverentes, por mais desastrosas que possam ser as consequências.
Recomendo o livro de Clodovis Boff “O livro do sentido”, vol. I de três, Paulus 2014
Fonte: https://mail.google.com/ 21/04/15








sábado, 18 de abril de 2015

PT PODE TER REGISTRO CASSADO NO TSE




PT PODE TER REGISTRO CASSADO NO TSE

PT teme que punição da Lava Jato casse ou 'inviabilize' seu registro

ANDRÉIA SADI - DE BRASÍLIA, MARINA DIAS DE SÃO PAULO