terça-feira, 25 de junho de 2013

O OUTONO BRASILEIRO



O OUTONO BRASILEIRO             "A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA É DESPREPARADA"
          Theodiano Bastos

Nem a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, nem os institutos de pesquisas com os seus 2002 ENCANTADOS DAS PESQUISAS DE OPINIÃO, consultas sempre “encomendadas” pela CNI e  CNT, confederações que apóiam o governo (como os sindicatos, conselhos, federações, tanto dos trabalhadores como patronais, não prestam contas de seus gastos, nem mesmo ao Ministério Público, pois Lula vetou a fiscalização e seu veto nunca foi derrubado...)  



Com cargos nos 39 ministérios, aliás 40, com o Ministério da Propaganda, com o marqueteiro João Santana, liberação de emendas parlamentares etc, a República Sindical controla mais de 80% dos votos no Congresso, controlando mais de 14 partidos políticos. Nem Hugo Chaves conseguiu isso na Venezuela...

Quanto as pesquisas de opinião, FALA SÉRIO, VOCÉ ACREDITA QUE OS 2.002 ELEITORES CONSULTADOS NAS PESQUISAS DO IBOPE PODEM REPRESENTAR 135 MILHÕES DE ELEITORTES:  (64.882.283 MULHERES e 60.853.563 HOMENS), aptos a votarem?
Como uma amostra que não chega a 20 milionésimos do universo dos eleitores pode retratar adequadamente?
MAS CADA PESQUISA PASSA A SER UM DOGMA INQUESTIONÁVEL E É  REPETIDA À EXAUSTÃO POR TODA A MÍDIA COMO MANTRA, UMA VERDADE ABSOLUTA.
NINGUÉM QUESTIONA, PORQUE O GOVERNA GASTA MAIS DE UM BILHÃO DE REAIS EM PROPAGANDA...).  
Pois bem, todo esse custoso aparato não conseguiu prever o que estava por vir. 
Mesmo sendo o país campeão mundial de homicídios (54 mil assassinatos por ano) + 34 mil que morrem no trânsito, com 60% das famílias endividadas pelo consumismo incentivado pelo governo, mesmo assim a propagando vende a imagem do BRASIL MARAVILHA.
 
 

Era um fogo de monturo, com fumaça saindo por todo lado, indicando que havia o fogo se alastrava por baixo... E aí, como um rastilho de pólvora que se iniciou em São Paulo por causa do aumento de R$ 0,20 nas passagens, o povo foi para as ruas em todo o país e se teme uma convulsão social de conseqüências imprevisíveis.
Seguem algumas opiniões sobre esse grave momento  político que grassa em todo o Brasil.
Seguem as opiniões:  

“Jovens do Brasil, brasileiras e brasileiros:
Nós erramos. Erramos todos nós que recebemos de vocês mandato para governar bem o Brasil, esquecendo os sonhos de vocês. Nós todos, os políticos e seus partidos, erramos. Mas devo admitir que nós que há 10 anos governamos o Brasil erramos mais e, especialmente, eu própria errei ainda mais, como a presidenta de vocês.
Nós erramos ao sermos a 6ª economia do mundo e a 88ª nação em educação; ao deixarmos o Brasil ser o mais violento país do mundo, fora de guerra; ao priorizarmos sempre o privado, especialmente transporte, em detrimento do público; ao tolerarmos a corrupção e não conseguirmos punir aos corruptos; ao consumir o presente sem investir no futuro; ao deixarmos toda juventude sem sonhos de utopia para seu país e parte dela sem o atendimento do essencial para seu presente; ao montarmos governos de acordos, lotando os cargos, nem sempre utilizando os mais capazes.
Nós erramos e temos que agradecer a vocês que foram para a rua manifestar indignação com a realidade política do Brasil. E erraremos muito mais se não entendermos que dois milhões de pessoas nas ruas não podem aceitar menos do que uma revolução.
Creio, e gostaria de ouvir a opinião de vocês, que no momento não se trata de uma revolução econômica e social, como aquela que me levou às ruas e até à lutas mais radicais, algumas décadas atrás.
Para mim, a economia e a sociedade precisam de fortes reajustes, de uma inversão nas prioridades, mas a revolução pela qual vocês vão às ruas está na subversão da atual estrutura política.
Fazer uma revolução na política para que nossos dirigentes tenham o sentimento das necessidades e vontades que estão na alma do povo, e que nossos executores tenham o mérito necessário para ocupar as diversas posições com a competência que o Estado moderno exige.
Este é meu sentimento, como a presidenta do Brasil, mas quero ouvir vocês, sentir o que pensam, pedindo que escolham e me enviem interlocutores, sem que quaisquer deles tenham monopólio, ouvirei todas as vozes e não só aquela de meu partido e de minha base de apoio.
Quando o povo coloca dois milhões de pessoas nas ruas, o governante não pode ter a cegueira de ficar restrito aos seus apoiadores e assessores. Até segunda feira, submeterei ao Congresso a proposta de realização de uma constituinte exclusiva para definir o marco legal de uma revolução na política.
Antes de entrar em vigor, a proposta destes constituintes será submetida a um plebiscito, para saber se ela está de acordo com o que o povo deseja.
Determinarei também aos meus ministros uma reanálise completa das prioridades dos investimentos e gastos governamentais, não apenas para os meses que restam de meu mandato, mas também para o futuro do nosso país.
Como quem na juventude lutou como vocês por um Brasil melhor, fico entusiasmada e grata pelo fato de a história ter me colocado o desafio de presidir um país, onde 2 milhões de pessoas estão nas ruas protestando pelo acúmulo de tantos anos de erros, especialmente de meu governo.
Eleita, democraticamente, agora preciso ir além da eleição e me ajustar à vontade do povo. São desafios como estes que permitem um governante na história, não apenas como administradora da herança recebida, mas como estadista do futuro a ser construído.
Eu agradeço a vocês não apenas pelo alerta, mas, sobretudo pela chance histórica que me ofereceram. Não vou deixar de ouvi-los, não vou decepcioná-los, podem ficar certos de que dedicarei cada instante do que me resta do mandato para estar à altura do momento e de vocês.
Muito obrigada, viva a democracia, viva o Brasil que vocês querem construir”. Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF. Fonte: Blog do Noblat

Após reunião, MPL diz que Presidência é despreparada

André de Sousa, Paulo Celso Pereira e Luiza Damé, O Globo
Após o encontro de representantes do Movimento Passe Livre (MPL) de São Paulo e do Distrito Federal com a presidente Dilma Rousseff , nesta segunda-feira (24/06/13), líderes do movimento consideram importante a abertura do diálogo, mas disseram que o resultado da reunião não foi satisfatório e que as manifestações continuam. O MPL é um dos grupos por trás dos protestos que tomaram conta do país nos últimos dias, ao defender a redução da tarifa do transporte público.
Marcelo Hotimsky, um dos líderes do MLP, considerou a “Presidência despreparada para o debate”. As declarações de Hotimsky foram dadas antes de Dilma anunciar os cinco pactos que ela propõe para solucionar as demandas populares.”
“Eles mostraram uma incapacidade muito grande de entender a pauta do momento, falaram que vão estudar e abriram este canal de diálogo que a gente considera importante.”
Marcelo Hotimsky, um dos líderes do Movimento do Passe Livre, depois de se reunir com Dilma e seus principais assessores. Ele saiu do encontro, como disse, com a impressão de que a presidência de República é despreparada” Fonte: Blog do Noblat

 Quem quer, faz!, por Alcides Leite

Alcides Leite
Muito tem se falado a respeito dos protestos de rua que vêm ocorrendo no Brasil. Há análises para todos os gostos, mas me parece que uma coisa é consenso: a grande maioria dos manifestantes tem mostrado um profundo descrédito em relação aos políticos e às instituições públicas.
Para que este descrédito não seja capitalizado por algum líder oportunista, é necessário que aqueles que acreditam na democracia representativa se antecipem e façam as mudanças necessárias para recuperar a confiança da população brasileira.
Pode parecer difícil encontrar meios para isso, mas se as principais lideranças públicas quiserem de fato responder aos anseios do povo elas podem adotar medidas simples. Cito, assim de supetão, algumas sugestões:
-- Reduzir de 39 para 20 o número de Ministérios ou Secretarias com status de Ministério;
-- Reduzir de 30 mil para 5 mil o número de cargos de confiança no Executivo Federal;
-- Reduzir de 4 mil para 1 mil o número de funcionários do Senado. Se algum senador ou deputado quiser ter um funcionário em seu estado de origem, que pague do próprio bolso;
-- Acabar com todos os pagamentos indiretos para os congressistas. Quem quiser morar em apartamentos funcionais, o Estado oferece, quem não quiser que se vire. Quem quiser enviar correspondência para seus eleitores, quem quiser ter mais do que cinco funcionários em seu escritório em Brasília, quem quiser acompanhar a presidente em suas viagens que pague do seu próprio bolso;
-- Os Congressistas têm que trabalhar de segunda a sexta, oito horas por dia;
-- Se a presidente quiser falar com o Lula em São Paulo, que pague a passagem;
-- Publicação em uma página da internet custos detalhados da construção dos estádios da Copa, item por item para que a população possa comparar com os custos da reforma de sua casa.
Estas são apenas algumas medidas proposta por um simples professor. Os especialistas podem sugerir outras muito mais impactantes.
Quem quer fazer, faz!” -                                                Fonte: Blog do Noblat - http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

Elogios em público, reclamações longe dos microfones

O Globo
De público, governadores e prefeitos saíram da reunião com a presidente Dilma Rousseff elogiando as propostas apresentadas. Apesar de reivindicações como desonerações e subsídios para o transporte público terem sido remetidas para um grupo de trabalho, o discurso era de satisfação. Reservadamente, a avaliação foi diferente.
— A fotografia que a presidente Dilma levou só interessa a ela. Ficou com o bônus só para ela e distribuiu o bolo do ônus entre os 54 presentes — reclamou um dos governadores.

 O outono brasileiro, por Ricardo Guedes

Ricardo Guedes
Estamos no marco zero das políticas públicas.
As explosões sociais espontâneas se sucedem no país na demanda por transporte, saúde, educação, segurança, e pela falta de representatividade política da população em geral, culminando em protestos com mais de 1 milhão de pessoas em cerca de 100 cidades nesta última quinta feira e a invasão do Palácio do Itamaraty, em Brasília, com o confronto entre os manifestantes e policiais.
As recentes explosões sociais brasileiras se equivalem, em sua gênese, a outros movimentos sociais ocorridos na história, como os distúrbios sociais de Nova Iorque de 1863 por serviços públicos, o movimento dos Indignados na Espanha em 2011 contra os políticos e suas consequências na economia, e o Ocupe Wall Street em 2012 contra as instituições financeiras.
Do ponto de vista de sua espontaneidade inicial, embora com consequências por demais distintas, podem mesmo ser comparado às Primaveras Árabes e aos recentes protestos na Turquia, embora com ideologias específicas, diferentes intensidades, e distintas perspectivas.
Esses movimentos têm em comum o cansaço dos excluídos em relação aos seus governantes, na ausência de bens e produtos sociais e de conduta política que corresponda às expectativas das populações. Ganham, neste sentido, destaque na mídia mundial.
As pesquisas indicam que 80% dos participantes nas manifestações não têm identificação partidária, compatível com os resultados das pesquisas nacionais onde somente 20% apresentam identificação com partidos políticos.
Ou seja: temos nas manifestações uma amostra então crescente e representativa da população brasileira, onde 75% apoiam as manifestações. Estatisticamente, 1 milhão de pessoas representa uma amostra com margem de erro de 1/10 de 1% para o total da população de 190 milhões no pais, como movimento geral.
Na literatura das ciências sociais, alguns autores indicam que os problemas nascem na economia, se generalizam no social e se transformam no político.
No Brasil, a origem das manifestações tem por causa principal o crescimento da inflação e a falta de serviços públicos minimamente adequados na saúde, educação e transporte, contrastados com os gastos para a Copa, como denominador comum dos recentes problemas sociais.







segunda-feira, 24 de junho de 2013

A REPÚBLICA SINDICAL E O LULOPETISMO AGONIZAM







A REPÚBLICA SINDICAL AGONIZA
Que ninguém se iluda; estamos testemunhando não só a agonia da República Sindical, como o ocaso do Lulopetismo, de Lula e do PT.
Pronunciamento da Presidente teve pouca valia.
Os protestos continuam e até greve geral para o dia 01/07/13 ( quinta-feira próxima), já está marcada. Há protestos por quase todo o país, até mesmo em cidades de até 40 mil habitantes e menos.
SAÍDA:  CONVOCAÇÃO DE UMA ASSEMBLEIA GERAL CONSTITUINTE EXCLUSIVA
A Nova Carta Magna seria submetida a um referendo e a Assembléia Constituinte seria dissolvida e seus membros proibidos de concorrer  a cargos eletivos nas eleições seguintes, único jeito de se implantar o Parlamentarismo e aprovação das reformas imprescindíveis, como as políticas, fiscal, tributária, trabalhista e sindical, o que propiciará a execução de projeto ambicioso de “engenharia social” no Brasil, preservando-se do Estado Democrático de Direito. É um desafio neste mundo conturbado e preso à síndrome do medo, mas necessárias e desejadas a fim de se conseguir as mudanças profundas que dêem outro rumo ao Brasil, no interesse das maiorias sempre marginalizadas e excluídas.



“Nas cordas, Dilma quer plebiscito oportunista
Acuada pela onda de protestos no país, presidente usa um mecanismo contestável juridicamente e empurra a reforma política para o Congresso
Desde o início dos protestos que convulsionam o Brasil, há vinte dias, nenhuma iniciativa da presidente Dilma Rousseff foi tão lastimável na avaliação de especialistas ouvidos pelo site de VEJA quanto a menção a um plebiscito para promover uma reforma política no país.
A proposta lançada no momento mais crítico do governo Dilma é altamente contestada no aspecto técnico: a Constituição brasileira é explícita ao vetar a possibilidade de convocação de uma Constituinte com finalidade específica. A iniciativa esconde a incapacidade do PT, que administra o país há mais de uma década com a maior base parlamentar desde a redemocratização, em realizar uma reforma política às claras, pelo caminho do Legislativo – talvez, porque, aos petistas, os únicos interesses reais sejam o financiamento público de campanha e o voto em listas, que só beneficiariam à cúpula do partido no propósito de se perpetuar no poder. Também demonstra a inequívoca tentação bolivariana do PT de governar diretamente com o povo, passando por cima das instituições democráticas. Afinal, o plebiscito sempre foi visto com desconfiança pelo Direito justamente porque os governos que lançaram mão desse recurso resultaram em gestões populistas e autoritárias – não por acaso, a Constituição Federal reservou essa competência ao Congresso Nacional de maneira exclusiva.
No campo político, a proposta de Dilma permite dupla leitura: ao recorrer a um plebiscito, ela transfere parte da pressão que hoje bate à porta do Palácio do Planalto ao Congresso Nacional; e também joga com o calendário na expectativa que a crise nas ruas possa arrefecer no segundo semestre — o próprio ministro Aloizio Mercadante (Educação) disse que o governo trabalha com duas datas para o plebiscito, nos dias 7 de setembro e 15 de novembro.
Competência — A proposta de plebiscito para uma hipotética Constituinte tem de ser feita por meio de decreto legislativo apresentado unicamente por deputados ou senadores. Ou seja: é competência do Legislativo, o que demonstra a faceta oportunista da medida alardeada por Dilma. E a iniciativa esbarra em restrições da própria Constituição, que não prevê a possibilidade de convocação de uma Constituinte, nem mesmo para revisão da própria Carta. Quando foi discutido o marco constitucional de 1988, previu-se apenas uma revisão geral — que não incluiria as cláusulas pétreas — cinco anos após o texto. E isso já aconteceu.
Em tese, para que se valide a convocação de uma assembleia constituinte, seria preciso que Câmara e Senado aprovassem uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Mais uma vez, portanto, as promessas de Dilma esbarram na vontade política e no jogo de interesse do Congresso. Dentro do governo, o vice-presidente da República, Michel Temer, é uma das vozes de maior oposição à possibilidade de convocação de uma constituinte para a reforma política. “É inaceitável a instalação de uma constituinte exclusiva para propor a reforma política. Não vivemos um clima de exceção e não podemos banalizar a ideia da constituinte, seja exclusiva ou não”, disse ele, em artigo publicado em 2007. “Uma constituinte exclusiva para a reforma política significa a desmoralização absoluta da atual representação. É a prova da incapacidade de realizarmos a atualização do sistema político-partidário e eleitoral”, escreveu o peemedebista.” Fonte: VEJA, 25/06/13




Não somente o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, mas juristas e políticos contestam e criticam as providências proposta por Dilma.

Proposta de Dilma é de 'regime autoritário', afirma Fernando Henrique Cardoso
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem à Folha que a proposta de realização de plebiscito para a reforma política, feita por Dilma Rousseff, é própria de "regimes autoritários".
"As declarações da presidente são inespecíficas e arriscadas, pois, para alterar a Constituição, ela própria prevê como. Mudá-la por plebiscito é mais próprio de regimes autoritários", afirmou FHC.
No domingo passado ele havia criticado, no programa "Canal Livre", da TV Bandeirantes, a conduta do governo e do Congresso Nacional diante da recente onda de protestos.
Na ocasião, o tucano disse que tanto o poder Executivo como o Legislativo deixaram de ser a "caixa de ressonância" dos anseios da população.
  



Segundo FHC, todas as discussões se fecharam dentro do Palácio do Planalto e isso fez com que aumentasse o desprestígio das instituições públicas os brasileiros.
"Houve um encolhimento da agenda nacional", disse o ex-presidente, dando exemplos de questionamentos feitos durante seus dois mandatos. "Houve [recentemente] a mudança na lei do petróleo. Ninguém debateu. Isso não era assim. Quando quebramos o monopólio do petróleo, foi uma briga danada. Havia um debate nacional", afirmou.
FHC ainda criticou a falta de direcionamento das reivindicações da população durante os protestos.
Citando o colunista da Folha Moisés Naím, o ex-presidente disse que, se não houver uma reforma institucional, não haverá objetivo concreto alcançado.
"É preciso que haja mudança institucional para que haja um maior engajamento, mas não se conseguiu isso até hoje", afirmou o tucano. (FÁBIO ZAMBELI), Folha de São Paulo, 25/06/13



Dilma Rousseff fez uma série de consultas antes de propor um plebiscito para convocar Constituinte exclusiva sobre reforma política. O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) foi à casa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para propor uma reforma política ampla, pactuada com a oposição. FHC disse ser favorável, mas que teria de consultar outros líderes tucanos. Quando Cardozo falou em plebiscito, o ex-presidente disse ser contrário, e o ministro concordou com ele.
   
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“A GERAÇÃO Y” (Os nascidos nas décadas de 80 e 90), ou a “geração shopping” para outros, saíram da frente dos computadores e foram para as ruas.
Estamos assistindo a acontecimentos inusitados e que não tem precedente na história do Brasil.                     
Sobre essa “geração Y”, Antes se dizia:
                

“Ao contrário das gerações anteriores, quando prevalecia entre os jovens a desesperança, a Geração Y mudou muito: “Entre mudar o mundo e ganhar dinheiro, os jovens estão optando pelos dois”.

O grupo é formado por pessoas competitivas, pouco afeitas a ideologia política, focadas em ganhar dinheiro e subir na vida. Mas também preocupados com a preservação do meio ambiente, mas afeitos a saltar de um emprego para o outro e que preferem se comunicar um o outro por meio de redes sociais, não sabem como viver longe da tela do computador e dificuldade no contato pessoal.
“Os jovens informados e conectados de hoje, diz ele, sabem tantas coisas novas que mais importa ouvi-los, “não dizer a eles, mas com eles”, diz FHC no livro “A Soma e o Resto”.
Quer um corpo sarado, ganhar um milhão e passar o carnaval em Salvador. E quando o ano começar, depois das festas, quem sabe poderemos mudar o mundo em um segundo;
Acho isso comum. Ninguém mais tem aqueles ideais de antigamente. Ninguém mais tem aquele desejo de mudar o mundo, é uma pena;
@senhordelicio: Quando se vive em uma sociedade em que predomina o incentivo ao consumo desenfreado, o que esperar senão a alienação?;
Busca imediata de prazer máximo, sem freios nem restrições. O mundo virtual pela internet... Ali qualquer um pode viver uma série de vidas sucessivas sem nenhum compromisso definitivo.
“Nunca foi tão difícil ser adolescente. Dentro das brumas do amanhecer do novo milênio, os jovens estão marcados pelo dasajustamento entre o sonho e a realidade. Sentem dificuldade de superar o real do virtual: sexo virtual, ambições virtuais ilimitadas, violência virtual, tudo superexcitante, nada satisfaz.”

Na internet, atos mobilizam 136 milhões

Anna Carolina Papp e Camilo Rocha, 22/06/13, dizem:
“Entre os dias 13 e 21 deste mês, foram mais de 2 milhões de citações sobre protestos contra 214 mil sobre a Copa das Confederações
O escritório do consultor de vendas e ativista online Lúcio Amorim fica em posição privilegiada, no 18.º andar de um prédio na Avenida Rio Branco, no centro do Rio. Na noite de segunda-feira passada, uma das principais vias da cidade estava tomada por milhares de pessoas. “Quando vi que estava muito maior que qualquer coisa que já tinha visto, preferi esperar só para fazer este registro histórico”, disse. O resultado foi um vídeo de seis segundos, registrando a passeata de ponta a ponta, transmitido pelo aplicativo de vídeos criado pelo Twitter chamado Vine.
Rapidamente, o vídeo virou hit na internet e se tornou uma das imagens mais divulgadas dos protestos no Rio. Foi transmitido pelo Wall Street Journal, pela emissora canadense CNBC e pela britânica BBC, que entrevistou Amorim.
É um exemplo de como os protestos das últimas duas semanas consolidaram a importância da internet e das redes sociais como ferramentas de comunicação no País. Muitos recorreram aos serviços para se informar, a partir de relatos no Twitter e no Facebook. Vídeos como o de Amorim simbolizaram os eventos tanto ou mais do que as imagens feitas por redes de televisão.
O fluxo paralelo de informação possibilitou fazer comparações com as versões das autoridades. “Muitos representantes do poder não são atualizados sobre as ferramentas,” disse a jornalista e blogueira Sam Shiraishi, especializada em ativismo social.
Um exemplo foi o vídeo amador que mostra um policial quebrando o vidro de uma viatura, sugerindo tentativa de forjar uma ação de vandalismo. “A violência que se viu na quinta-feira (dia 13) foi em grande parte desmascarada por esses vídeos”, diz o professor Pablo Ortellado, do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (USP).
O uso das mídias sociais no País tem números grandes e as redes sociais são cada vez mais acessadas na rua, graças ao avanço dos smartphones, que deverão ser 50% dos aparelhos celulares neste ano. De acordo com monitoramento da empresa Scup, publicações sobre os protestos impactaram mais de 136 milhões de pessoas nas redes sociais. Entre 13 e 21 de junho, foram mais de 2 milhões de menções no Facebook, Twitter e YouTube e Google. No mesmo período, a Copa das Confederações teve 214 mil menções. O monitoramento foi feito com base em palavras-chave como #passe livre, #vemprarua e #ogiganteacordou – são as hashtags.
Para Ortellado, no entanto, as ferramentas também servem para repercutir discursos preestabelecidos. “Na rua, vemos uma difusão de pautas. A internet responde com um novo significado o que aparece nos meios de comunicação. Estamos vendo uma espécie de guerra simbólica.”
A jornalista Sam Shiraishi ainda vê uma falta de maturidade política nas redes. “Uma rede como o Facebook favorece a confiança no que os amigos falam, na curadoria de conteúdo deles. Passa-se para frente coisas que nem se leu direito.”
Para Iran Giusti, do grupo Mobilizados, criado no Facebook, as ferramentas digitais podem extrapolar o “ativismo de sofá” e unir pessoas em torno de objetivos. “Estávamos nas ruas e a pergunta era como chamar mais gente. Não somos da turma ‘sai do Facebook’. Somos da turma ‘use o Facebook para fazer coisas reais’.”

MILITARES INQUIETOS
Mensagem dos Clubes Militares:
“A leitura que os Clubes Naval, Militar e de Aeronáutica fazem das recentes manifestações populares é que elas expressam, majoritariamente, o grito daqueles que estão indignados com o descaso e, às vezes, com a conivência das autoridades governamentais, no que diz respeito às legítimas aspirações da sociedade, ressalvado o perigoso aproveitamento por segmentos radicais que buscam interesses inconfessáveis. Quando o povo se convence de que antigos vícios e omissões se repetem, impunemente, percebe que é chegada a hora de se manifestar clamorosamente. Não mais aceita ser conduzido, resignadamente, como grupo ingênuo. Obriga-se a dar um basta à impostura e à impunidade.                                                                  Estaremos sempre atentos e acompanharemos a evolução dos fatos.
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.                                                                                      Vice Alte Paulo Frederico Soriano Dobbin, Presidente do Clube Naval
 Gen Ex Renato César Tibau da Costa, Presidente do Clube Militar                                     Ten Brig Ivan Moacyr da Frota,  Presidente do Clube de Aeronáutica”
Estranha primavera
Arnaldo Bloch, O GLOBO (21/06/13)
“— Liderança é o cacete—, protesta uma jovem, com a expressão rútila. Um grito da sociedade fragmentária? Ou de uma sociedade na qual o cacete é o líder?
“Alguém mandou/mandou calar a cuíca/é coisa dos home”: por volta das 17 horas da última quinta-feira o refrão de Aldir Blanc e João Bosco ronca no som de um coreto montado no Paço Imperial. A outrora sede do Império tem um clima festivo que em nada anuncia o desfecho violento da noite.                                                                       Meninas com a máscara do “V de Vingança” — ou do vinagre, conforme for — produzem autorretratos para o Instagram.
A caminho da Candelária já se ouvem, em meio a emanações de incensos, as poucas palavras de ordem que darão o tom de uma manifestação que, antes de chegar à zona de conflito, na Prefeitura, transcorrerá numa cadência mais de passeio que de passeata: “Vem pra rua, vem”.
“Eu sou Brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...” - “Ei, Cabral, vai... (censurado)”. - Em frente ao CCBB, o ritmo de produção de cartazes com pilô e papelão dá à concentração um ar de grêmio ginasial. - “Fora Renan, Fora Collor, Fora Sarney”. “Corrupção é crime hediondo.” - “Relaxa, reaça” - “Não à PEC 37!” - “Se não fores bravo, serás escravo” - “Cuidado, seu voto pode levar um ladrão ao Congresso”. “Bala de borracha não. Bala Juquinha”
Nos olhos da massa juvenil, um brilho de esperança vaga, vã, não se sabe bem em que ou em quem, num futuro, no amor, talvez. “Amor não tem Lei”, diz um cartaz, referindo-se ao projeto da cura gay. - “Amanheceu mais uma vez. É hora de acordar novamente para vencer”. Vencer o quê? Quem é o inimigo? E o líder? — Liderança é o cacete — protesta uma jovem com expressão rútila.
Um desejo orgânico, sem direção? Um grito da sociedade fragmentária?
Ou uma sociedade falocêntrica, machista, homofóbica, na qual o cacete é, de fato, o líder? - Afinal, já na andança da manifestação pela Presidente Vargas, há grupos que demandam que Dilma saia do armário, tire o sapato, deixe de ser fantoche.                   Ou os extremistas, que “acusam” a presidente de lesbianismo e avisam que chegou a hora de “a putaiada” (ou seja, o todo da classe política) ir para o inferno.
Há quem, no meio disso tudo, encontre tempo para a dialética do esclarecimento. Um cartaz esclarece que preço e valor são coisas distintas. Outro, informa, em poucas palavras: “Meu cu é laico.” - Há espaço também, e muito, para o nonsense, onde mora, amiúde, o perigo: “Não empresário”. - Que empresário? Não o quê?
Numa grande faixa sustentada por um grupo de pós-adolescentes, é pedido o impeachment de Dilma. Um homem maduro, com aparência de ex-anarquista, dirige-se a eles: — Como assim impeachment? Pra assumir o Renan? O Temer? Vão estudar política! Vão aprender os trâmites! Bando de ignorantes! - “Ao povo, a decisão.” - Que decisão? Através de que meios? De quem é a palavra de ordem? Ao menos, surgem palpites sobre quem deve silenciar: “Cala a boca Pelé. Cala a boca Ronaldo. Vocês, calados, são poetas” (d’après Romário).
O padrão Fifa virou sufixo para reivindicações. “Hospitais padrão Fifa. “Educação padrão Fifa.” “Magistério padrão Fifa”. “Olê, olá, o professor vale mais que o Neymar”. Mas... o que é que o Neymar tem a ver com a história? O salário de Neymar Jr. sai do bolso do povo? Onde está o nexo? - De passagem, alguém pergunta quanto está o jogo. Espanha cinco a zero. Só? - Das janelas, papel picado: aplausos. Do céu, o rosnar de um helicóptero: o povo acena, “u-hú”, para o poder, ou a mídia? - Uma trupe vem vindo com “Pra não dizer que não falei de flores” puxada pelo compasso de um berimbau. “Show me the money Dudu!” - Mas... whos Dudu? Ah, Paes! Uma cabeça de nego explode e a massa pede: Paz! Paz!.
Um grupo de bombeiros com enormes faixas tenta angariar alguma simpatia.   Uma faixa avisa que o Congresso se transformou no bunker dos corruptos, e está derretendo, com os dias contados. De fato, houve fogo em Brasília, mas foi no Itamaraty. E, aqui, no Terreirão do Samba. “Ou paramos a roubalheira, ou paramos o Brasil”. - “Spring is coming”.
O Brasil, aparentemente, já parou e uma estranha primavera antecipada anuncia-se. Talvez falte dar uma organizada. Chamar Paulo Barros para dividir as alas, ou as torcidas banidas para bater o bumbo e escolher as bandeiras. Em respeito à Graúna de Henfil, mostrada por um manifestante solitário, alguma temperança se faz urgente, para que se polvilhe mais pimenta na feijoada da causa e menos gás nos olhos de quem não tem nada a ver com a sede de sangue.” - Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/estranha-primavera-8774670#ixzz2WzzexDfr

'Se isso desandar, pode dar em desordem muito grande'

Escritor vê com ressalvas questionamento do poder constituído, mas avalia que seus 'donos têm que botar as barbas de molho'

ROBERTA PENNAFORT  - O Estado de S.Paulo, 22 de junho de 2013
Aos 82 anos, o escritor Ferreira Gullar, que participou da organização da Passeata dos Cem Mil, em 1968, e foi às ruas pelas Diretas Já, em 1984, vê as manifestações recentes como resultado de uma mobilização sem precedentes no País.                                       "Eu nunca vi manifestações de tal proporção, e durante tanto tempo", disse Gullar. "O grande problema é para onde isso vai, pelo fato de não ter organização política por trás."                                                                                                             O escritor diz ser "impossível saber o desdobramento disso", mas avalia que "os donos do poder têm que botar as barbas de molho." -                                                                  Em sua opinião, em que vão resultar os protestos? É imprevisível. Falam que é a mesma coisa que está acontecendo na Europa, mas não é. O problema da Grécia, Espanha, Turquia, Síria, não é o nosso. O que é comum é a mobilização das redes sociais, mas não é um fenômeno internacional.                                                                               Estávamos subestimando os jovens?                                                                                   Ver os jovens com aqueles cartazes reivindicando coisas é fundamental. Existe uma juventude disposta a brigar. Isso pode ajudar a mudar a qualidade da política brasileira, mas não é do dia para noite. A maioria é classe média, não é o pobre, porque esse ganhou o Bolsa Família.
O que o sr. acha da pauta de reivindicações?
São questões importantes que estão sendo colocadas e que implicam uma mudança profunda de muitas coisas que estão estabelecidas. Se isso desandar, pode dar em desordem numa escala muito grande. Meu medo não é com relação aos baderneiros, e sim com relação à solução política. Está sendo questionado o poder constituído, é o Congresso, é o Executivo, os governos estaduais, prefeituras, que foram eleitos democraticamente. Acho que devia ser procurado o diálogo.
Como comparar essas manifestações atuais com a Passeata dos Cem mil, as das Diretas Já e as do Fora Collor (em 1992)?
Em 68, a própria ideia de ir para a rua se manifestar era algo muito arriscado, porque a polícia atirava com bala de verdade, não de borracha. Como manifestação de massa, essa é a maior que eu vi. Maior que a de 68 e as outras de depois. É impressionante a quantidade de gente, sem ter partidos organizando. Em 68, a igreja participou, sindicato, entidades participaram, ajudaram a organizar. Agora foi mais espontâneo.
Como vê a recusa dos manifestantes em se vincular a partidos?
O movimento é contra todos os partidos, Dilma, Lula. Eles foram rechaçados. Os manifestantes têm razão de não quererem partidos. Os donos de poder têm que botar as barbas de molho. É o povo desorganizado fazendo reivindicações pertinentes e sérias. No Egito, na Líbia, os grupos se organizaram para disputar o poder. Aqui o poder é eleito. Isso não deve e não pode acontecer.
Não se previu o que viria...
Escrevi um artigo meses atrás dizendo que, como UNE, CUT e os sindicatos foram apropriados pelo governo, o povo não tem representação. A única saída era ir para a rua desorganizados...  Fonte:  www.estadao.com.br

Chico Amaral,  22/06/13
RIO - A trilha sonora dos protestos que agitam as ruas do país marca uma diferença importante em relação às manifestações que, desde o início da crise econômica, sacudiram o continente europeu, especialmente a Espanha. No Brasil, o Hino Nacional é líder absoluto e indica um caráter menos disruptivo do movimento, vandalismos à parte. Questiona-se o sistema, mas não seus fundamentos.
Como os espanhóis, por aqui se exige transparência e o fim de privilégios de políticos, mas os ibéricos, que andam de ônibus com ar-condicionado, usam bilhete único, têm um sistema de saúde invejável e escola pública em tempo integral, apostam no autogoverno e na dissolução das estruturas políticas tradicionais. São os Indignados ou movimento 15M, que abriga várias plataformas ativistas.
No Brasil, apesar da rejeição aos partidos, a anarquia fica por conta dos vândalos. A pauta brasileira, mais conservadora, expressa nas faixas e nas redes sociais o desejo de um país mais honesto, com qualidade de vida no “padrão Fifa”.
Diferenças na pauta, semelhanças na mobilização. Aqui, como lá, não há líderes. No máximo representantes com funções específicas, pois a identidade é coletiva. Das redes sociais se salta às ruas.
A longevidade e a vitalidade dos Indignados dão singularidade ao movimento, pois o mesmo fenômeno não ocorreu em países com situações parecidas, abalados pela crise, como Grécia, Irlanda e Portugal.
Um estudo do DatAnalysis 15M demonstra esta adesão ao analisar a migração entre os tweets com hashtags de apoio ao movimento. Por meio das redes sociais, há um entrelaçamento de plataformas novas e já existentes, como Democracia Directa Ya, Contra Lei Sinde, No les Vote, Okupa e Plataforma dos Afetados pelas Hipotecas — PAH, formando um guarda-chuvas para distintas frentes de lutas.
Os Indignados nasceram com prática acumulada em redes sociais. Já haviam superado o clickativismo, que se limita a assinar petições virtuais e compartilhar enlaces. Desde o início, exercitam a tecnopolítica: usam a rede e o ciberespaço para ter efeitos dentro e fora dele, alterando o estado de ânimo das pessoas. Esse é o segredo de sua vitalidade, explica Javier Toret, do DatAnalyis 15M. -
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http://oglobo.globo.com/pais/brasil-nas-ruas-monstro-pode-ser-uma-hidra-8786890#ixzz2X2IZBMe3


para analistas, o momento agora é de reação
Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, é necessário que governos apresentem respostas rápidas aos protestos para evitar o caos nas cidades, nem que seja cortando gastos para cobrir passagens
André Miranda, Roberto Kaz e William Helal Filho
“O que se pode fazer? Só sei que eu não gostaria de ser do governo agora”, diz o cientista político Marco Aurélio Nogueira, diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp. “E também sei que é necessário agir, nem que seja cortando gastos com assessores parlamentares no Brasil para cobrir os R$ 0,20 das passagens de ônibus”, acrescenta.
A proposta de Nogueira é uma das muitas feitas por sociólogos, cientistas políticos, advogados e antropólogos ouvidos pelo GLOBO sobre que postura se espera dos governos federal, estaduais e municipais frente aos protestos e atos de vandalismo ocorridos na última semana em todo o Brasil. Entre as ideias discutidas, estão também a instituição de audiências públicas sistemáticas, a criação de novos canais de comunicação com a sociedade, a remoção da PEC 37 da pauta do Congresso e a redefinição do papel das polícias no país. Todos concordam que é preciso atuar rapidamente para evitar a instauração do caos nas cidades. E nenhum deles quer ver forças militares nas ruas.
— O governo precisa anunciar que certas questões vão ser encaminhadas oficialmente. Hoje (sexta-feira), nas entrevistas do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes, eles só falaram de vandalismo. Eles precisam reconhecer que o movimento não é só de vândalos — afirma Karina Kuschnir, professora do Departamento de Antropologia Cultural da UFRJ. — Com isso, é necessário dar voz a algumas das demandas, como o financiamento público de campanhas, a transparência nas contas públicas e divulgar detalhadamente os investimentos na Copa do Mundo. Essas já seriam respostas à população.
Dilma promete diálogo
Na última sexta-feira, em seu pronunciamento em cadeia nacional, a presidente Dilma Rousseff anunciou que vai se reunir com os presidentes do Legislativo e do Judiciário, e que pretende receber os líderes dos protestos para dialogar. Mas não explicou como isso será feito. Ela também falou em atrelar 100% dos royalties do petróleo para a Educação e de trazer médicos do exterior para aumentar o serviço do Sistema Único de Saúde. A presidente afirmou, ainda, que não vai aceitar o uso de violência nas ruas.
— Se os governos tiverem serenidade, podemos ter um grande ganho da população brasileira em nome da democracia — afirma Paulo Baía, professor do departamento de Sociologia da UFRJ. — O que podem fazer é abrir o processo de decisão em audiências públicas, chamando todos os setores para discutir questões como a PEC 37 e o transporte público. Para que as pessoas possam ter voz nas decisões.
Antes do pronunciamento de Dilma, a medida mais concreta tomada pelos governos havia sido a anulação do aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus em alguns municípios. Mas, apesar disso, os protestos não só continuaram como aumentaram em muito de tamanho: no Rio, por exemplo, 100 mil pessoas foram às ruas na segunda-feira, a passagem foi reduzida na quarta e 300 mil manifestantes estiveram nas ruas na quinta.
— De um modo geral, não há demandas específicas — afirma Marcelo Simas, professor de Ciência Política do Iuperj. — Uma possibilidade seria retirar a PEC 37 da pauta. Mas, se você olhar a massa dos manifestantes, você saberia dizer quantos endossam a retirada da PEC 37? Já surgiu, entre os protestos, até mesmo quem pedisse a redução da maioridade penal. São insatisfações sem propostas.
Professor sugere campanha na rede
Para Simas, então, a solução seria criar canais de comunicação entre o governo e a sociedade, tanto para compreender melhor as razões dos protestos, quanto para deixar claro o que será feito como solução:
— O governo já falou em criar conferências nacionais com a sociedade, que seriam instrumentos de vocalização das demandas. O problema é que isso vai levar algum tempo. Enquanto isso, uma maneira de tirar esses protestos das ruas seria uma campanha das autoridades via redes sociais. Usar novos mecanismos de comunicação para chegar aos manifestantes.
Sem diálogos com os manifestantes, há dois temores principais na sociedade: que, por um lado, as cenas de vandalismo, como as da última quinta-feira, perpetradas por pequenos grupos em meio aos protestos, voltem a ocorrer; e que, por outro, a repressão policial seja desmedida, gerando mais violência.
— Ontem (quinta-feira), na minha faculdade, 250 pessoas procuraram abrigo porque a reação estatal foi tão violenta que ficaram com medo de ir para rua. Cercaram a faculdade. São reações despropositadas — diz Flavio Alves Martins, diretor da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. — A primeira coisa que o governo deve fazer é reconhecer o movimento popular forte e colocar as pautas numa mesa de negociações. As manifestações ficaram fora de controle porque há pessoas com pautas bem diferentes que resolveram extravasar tudo de uma vez. Não estamos acostumados a isso.
No tocante ao possível uso de forças militares para controlar os atos de vandalismo, o sociólogo Ignácio Cano, da Uerj, é taxativo:
— A Força Nacional deve ser usada apenas para defender lugares emblemáticos, como o Palácio do Itamaraty. Fora isso, não acho que seja o caso de convocar o Exército. O exercito tem que preservar a nação contra uma ameaça externa. Seria um grande erro político, mandaria a mensagem de que o Estado está sob ameaça. As pessoas não querem derrubar o Estado, querem um Estado mais justo. Tem uma minoria que provoca a violência — afirma Cano, que descarta o decreto de Estado de Sítio. — Seria desnecessário e contraproducente. O Estado de Sítio restringe o direito à manifestação, se decreta após terremotos, em situações com vítimas, perda muito grande de controle da realidade. Manifestações populares não entram nesse cenário. Se fizerem isso, os manifestantes ficariam com mais raiva.
Secretário geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o sociólogo Renato Sérgio de Lima concorda:
— Não é necessário nenhum recurso extraordinário. Não precisamos de Exército ou Força Nacional nas ruas. O que precisamos é de um acordo muito claro e transparente do que as polícias devem fazer. As polícias brasileiras têm excelência técnica. Se você conseguir explicitar quais são as atribuições delas, elas mesmas são aptas a lidar com o problema hoje — diz. — O Brasil não dispõe de uma doutrina sobre o uso da Força Nacional ou do Exército. Não há nada que especifique quando devem ou não ser usadas balas de borracha, nada sobre a forma de lidar com manifestantes, nada sobre a forma de autuá-los. As instituições não estão preparadas para lidar com conflitos dessa natureza.
Hora de articulação partidária
Para todos, após o pronunciamento de Dilma, os próximos dias serão fundamentais para que se compreenda se o movimento vai perder força ou vai continuar ocupando as ruas.
—É hora de os governos fazerem uma articulação suprapartidária. Um governo com representação do povo não pode acabar. Se não houver governo, quem vai fazer isso? É o risco de aparecer um ditador, um líder populista ou um rei — afirma o cientista político Marco Aurélio Nogueira. — Mas é necessária a recriação do governo representativo. Como isso vai ser feito e em que velocidade, a gente não sabe. Mas uma Reforma Política, com R e P maiúsculos, seria um primeiro passo.