De Dilma para Dilma: uma herança
que pode se tornar uma bomba
Inflação alta,
crescimento baixo e fragilidade fiscal são apenas algumas das distorções que a
presidente provocou na economia e que agora terá que corrigir
Reeleita, com
51,64% da preferência do eleitorado, a presidente Dilma Rousseff (PT) terá que
encarar, diante do espelho, uma autoimagem nada alentadora: a da deterioração
econômica resultante de quatro anos de políticas equivocadas. Terá uma chance
de mais quatro anos para transformar sua herança, marcada por atividade fraca,
inflação alta e artimanhas fiscais, numa agenda de retomada do crescimento. Os
desafios são muitos, e vão desde o reestabelecimento de um equilíbrio das
contas públicas, passando pela inversão do déficit nas transações correntes até
chegar no alinhamento entre política monetária e fiscal. A estagnação dos
indicadores de desigualdade social torna ainda mais urgente a
correção dos deslizes.
O problema é que a presidente, até agora, não sinalizou que mudará sua conduta e, mais uma vez vitoriosa, pode entender que teve a chancela do povo brasileiro para seguir adiante com sua estratégia de priorizar a demanda, ou seja, o consumo, em detrimento da oferta. Ainda que ela defenda a bandeira do "governo novo, ideias novas", não há solução mágica: trocar o comando do Ministério da Fazenda não a absolve dos erros cometidos anteriormente, tampouco implica em mudanças automáticas. "Dilma não acredita que a economia parou de crescer em razão de suas políticas mal concebidas, do discurso intervencionista, da visão que de que o Estado é quem deve ser o principal condutor do crescimento. A presidente também não acha que temos um problema fiscal em gestação com o uso desgovernado do crédito público", diz a economista Mônica de Bolle, sócia-diretora da Galanto Consultoria.
O Brasil de 2015 será um país bem diferente do que Dilma recebeu em 2011 – mais fragilizado economicamente e rachado no campo político. Com Dilma, o Brasil deve crescer, em média, menos de 2%, metade do que avançou no período Lula. "A economia cresce perto de zero neste início de 2014, em um cenário de recessão técnica (dois resultados negativos trimestrais de PIB). Em termos comparativos, a média de avanço do governo Dilma representa um terço da taxa de crescimento de seus pares emergentes", destaca Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria. Além do mais, desta vez, pode não haver crise hídrica ou externa para atribuir a culpa da desaceleração da atividade. Na verdade, quem dita o atraso é a estratégia até o momento mal-ajambrada da presidente. Como reflexo do baixo nível da atividade, Dilma deixa de presente grande parte das obras prioritárias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) atrasadas, como a transposição do rio São Francisco e a refinaria de Abreu e Lima - esta última, inclusive, investigada como objeto de superfaturamento, conforme aponta o Tribunal de Contas da União (TCU).
Diante deste cenário nada animador, não resta dúvida de que 2015 será um período de ajustes. O que está em aberto é seu grau e velocidade. "Fazer ajustes fiscais vai ajudar o Brasil a crescer, e não o contrário. É por meio desse processo que o próximo governante vai desfazer distorções provocadas por políticas equivocadas, a fim de retomar o caminho do equilíbrio econômico", diz Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting. Para afastar o fantasma do rebaixamento, imposto pelas agências de classificação de risco, a economista ainda sugere uma avaliação minuciosa de todas as benesses fiscais concedidas durante o governo, como desonerações de impostos apenas para alguns setores. "Questiono-me se o avanço da agenda de desonerações foi positivo e melhor do que se adotássemos medidas horizontais e cautelosas", diz Zeina. Tal ajuste terá de passar por uma maior contenção de gastos de custeio, como despesas e terceirizações. "O mais triste é que esse tipo de medida afeta, diretamente, a parcela mais pobre da população", lembra Evaldo Alves, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Na pauta do próximo governo, também está a liberação de preços administrados, como gasolina, transporte e energia, que foram segurados este ano para não arranhar ainda mais a já tão debilitada credibilidade da presidente. Economistas consultados pelo site de VEJA não descartam a possibilidade de que o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPCA), que já ultrapassa o teto da meta do Banco Central (BC), de 6,5%, encoste na casa dos 7%, mesmo que isso venha acompanhado de uma queda do preços de commodities no mercado externo. Também será tarefa do próximo governante solucionar a crise energética que impôs novamente à população o risco de racionamento, com reservatórios em níveis mínimos, distribuidoras desabastecidas e térmicas a pleno vapor. A lista não para por aí. O site de VEJA preparou uma relação de alguns dos principais pontos do legado que Dilma deixou para ninguém mais do que si mesma.
O problema é que a presidente, até agora, não sinalizou que mudará sua conduta e, mais uma vez vitoriosa, pode entender que teve a chancela do povo brasileiro para seguir adiante com sua estratégia de priorizar a demanda, ou seja, o consumo, em detrimento da oferta. Ainda que ela defenda a bandeira do "governo novo, ideias novas", não há solução mágica: trocar o comando do Ministério da Fazenda não a absolve dos erros cometidos anteriormente, tampouco implica em mudanças automáticas. "Dilma não acredita que a economia parou de crescer em razão de suas políticas mal concebidas, do discurso intervencionista, da visão que de que o Estado é quem deve ser o principal condutor do crescimento. A presidente também não acha que temos um problema fiscal em gestação com o uso desgovernado do crédito público", diz a economista Mônica de Bolle, sócia-diretora da Galanto Consultoria.
O Brasil de 2015 será um país bem diferente do que Dilma recebeu em 2011 – mais fragilizado economicamente e rachado no campo político. Com Dilma, o Brasil deve crescer, em média, menos de 2%, metade do que avançou no período Lula. "A economia cresce perto de zero neste início de 2014, em um cenário de recessão técnica (dois resultados negativos trimestrais de PIB). Em termos comparativos, a média de avanço do governo Dilma representa um terço da taxa de crescimento de seus pares emergentes", destaca Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria. Além do mais, desta vez, pode não haver crise hídrica ou externa para atribuir a culpa da desaceleração da atividade. Na verdade, quem dita o atraso é a estratégia até o momento mal-ajambrada da presidente. Como reflexo do baixo nível da atividade, Dilma deixa de presente grande parte das obras prioritárias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) atrasadas, como a transposição do rio São Francisco e a refinaria de Abreu e Lima - esta última, inclusive, investigada como objeto de superfaturamento, conforme aponta o Tribunal de Contas da União (TCU).
Diante deste cenário nada animador, não resta dúvida de que 2015 será um período de ajustes. O que está em aberto é seu grau e velocidade. "Fazer ajustes fiscais vai ajudar o Brasil a crescer, e não o contrário. É por meio desse processo que o próximo governante vai desfazer distorções provocadas por políticas equivocadas, a fim de retomar o caminho do equilíbrio econômico", diz Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting. Para afastar o fantasma do rebaixamento, imposto pelas agências de classificação de risco, a economista ainda sugere uma avaliação minuciosa de todas as benesses fiscais concedidas durante o governo, como desonerações de impostos apenas para alguns setores. "Questiono-me se o avanço da agenda de desonerações foi positivo e melhor do que se adotássemos medidas horizontais e cautelosas", diz Zeina. Tal ajuste terá de passar por uma maior contenção de gastos de custeio, como despesas e terceirizações. "O mais triste é que esse tipo de medida afeta, diretamente, a parcela mais pobre da população", lembra Evaldo Alves, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Na pauta do próximo governo, também está a liberação de preços administrados, como gasolina, transporte e energia, que foram segurados este ano para não arranhar ainda mais a já tão debilitada credibilidade da presidente. Economistas consultados pelo site de VEJA não descartam a possibilidade de que o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPCA), que já ultrapassa o teto da meta do Banco Central (BC), de 6,5%, encoste na casa dos 7%, mesmo que isso venha acompanhado de uma queda do preços de commodities no mercado externo. Também será tarefa do próximo governante solucionar a crise energética que impôs novamente à população o risco de racionamento, com reservatórios em níveis mínimos, distribuidoras desabastecidas e térmicas a pleno vapor. A lista não para por aí. O site de VEJA preparou uma relação de alguns dos principais pontos do legado que Dilma deixou para ninguém mais do que si mesma.
Fonte: http://veja.abril.com.br (27/10/14)
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Dilma segundo o The Economist
A comparação de Dilma com o bujão de
gás vestido tornou-se viral, e muita gente se sentiu ofendida, chamando a
comparação de machista, que aquela roupa estava adequada a uma senhora obesa. A
essa reação vi muito comentário tipo "nada a ver": qualquer coisa que
ela vestisse tinha que ser criticada, dado o estado em que ela deixou nosso
País no seu primeiro mandato.
Da minha parte eu acredito que existem formas melhores de se fazer uma caricatura da Dilma, da mandatária Dilma, não da senhora Dilma; e nisso o The Economist é um craque:
Da minha parte eu acredito que existem formas melhores de se fazer uma caricatura da Dilma, da mandatária Dilma, não da senhora Dilma; e nisso o The Economist é um craque:
O título da reportagem que traz a
reboque esta verdadeira obra de arte é: "Os erros cometidos por Dilma
Rousseff durante o primeiro mandato significam que o segundo será
turbulento". A lista assustadora de coisas a fazer inclui:
- Refazer os laços com os Estados Unidos, afetados pela revelação de que em 2013 espiões americanos grampearam suas chamadas telefônicas,
- Controlar o desmatamento da Amazônia, que voltou a crescer após uma década de declínio,
- Enfrentar a ameaça de racionamento de energia e de água no sudeste industrial,
- Preparar a cidade do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016, com o risco de reprisar o acontecido com a copa do mundo de futebol em 2014, quando os cronogramas foram ignorados,
- Administrar o imbróglio em que se meteu o seu partido, o PT, e seus aliados, no escândalo de corrupção que envolveu a Petrobrás.
Mas é na Economia que as ondas estão
mais agitadas e as nuvens mais negras. O ciclo de valorização das commodities
acabou, e isso significou a queda dos preços dos maiores itens de exportação do
Brasil: soja, minério de ferro e mais recentemente petróleo. As políticas
adotadas por Dilma durante o primeiro mandato se mostraram desastrosas: a
combinação de falta de rigor macroeconômico com intervenção na microeconomia,
visando o crescimento, minou de forma irreversível as finanças públicas e
comprometeu sua credibilidade. O PIB cresceu meros 6,7% durante o primeiro
mandato. Seu dócil presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e seu
ministro da Fazenda, Guido Mântega, cortaram as taxas de juros e fizeram
disparar o consumo, mesmo com a disparada da inflação e a queda na receita. Se
ela quiser ter algum êxito no seu segundo mandato, terá que desfazer quase tudo
o que foi feito no primeiro nesta área.
O começo foi alvissareiro. Ela
convocou Joaquim Levy, um banqueiro radical, para substituir Mântega, e Nelson
Barbosa, um respeitado economista, para o ministério do Planejamento. Tombini
permanecerá no Banco Central, mas com a orientação clara de trazer a inflação
para o centro da meta de 4,5%. A taxa de juro, desde a vitória de Dilma, subiu
de 11% para 11,75%. Os ministros da Agricultura e da Indústria e Comércio, com
laços estreitos com agricultores e industriais, sinalizam uma trégua com o
setor privado. O novo ministro das Relações Exteriores também parece mais
inclinado a um melhor papel nas relações com os países que realmente importam.
Joaquim Levy em particular tem muito
trabalho pela frente. Ele prometeu um superávit primário de 1,2% do PIB para
2015 e 2% para 2016, visando evitar que o País perca seu grau de investimento.
Mas com Mântega os subsídios ineficazes à energia, ao transporte e ao crédito
não deram em nada e tornaram essa meta difícil. E metade de todo o gasto
público se move em sintonia com o salário mínimo, o qual deve subir cerca de
2,5% acima da inflação em 2015, respeitando um fórmula que o liga ao PIB
anterior. Isso implica em que Joaquim Levy vai ter que conseguir um ganho no
PIB de 2,1%, quando economistas acreditam que ele não vai passar de 0,8%.
Isso deve ter levado Nelson Barbosa,
em seu discurso de posse, a dizer que iria encaminhar um projeto de lei que
alterasse o critério de atualização do salário mínimo. É opinião geral entre os
economistas que esse critério tem que ser revisto, e Nelson Barbosa não fez
mais do que pôr esse importante item na sua pauta. Foi o suficiente para a
máscara cair. Dilma exigiu dele uma retratação sobre o dito, o que o tornou um
mero executor das políticas a serem ditadas pela chefona.
Uma atitude digna de sua parte teria
sido se demitir imediatamente e deixar o circo pegar fogo. Ele, ao contrário de
Joaquim Levy, tem hoje uma função bem independente de qualquer interferência do
governo: é professor titular da FGV, em São Paulo, professor adjunto da UFRJ, e
pesquisador do IBRE/FGV. Já Joaquim Levy deixou o cargo de diretor
superintendente do Bradesco Asset Management, o que significa que a sua
presença no governo tem um grande banco privado envolvido, e torna mais difícil
uma decisão pessoal. Além disso existe uma diferença de calibre entre os dois;
algo como um ser convidado e o outro ser convocado, ou quase que se
convidar.
Isso é o que penso. Acredito que
Nelson Barbosa daria uma enorme contribuição ao futuro desse País se virasse a
mesa. Nossos filhos e netos talvez nem viessem a se lembrar dessa atitude, mas
certamente seriam os maiores beneficiários dela. Por outro lado Dilma, ao
aumentar a estatura do seu ministério, vai ter que aprender que quem não é
poste tem opinião.
Tomemos o caso de Kátia Abreu. Estamos falando de uma senadora com voz ativa no meio agrícola. Ela deitou falação e Dilma ficou calada. Preferiu escalar o Patrus Ananias para tocar fogo na relação Agronegócio x Movimentos Sociais. Ele acaba de dizer que o direito de propriedade não pode ser inquestionável, mas também destacou como prioridade a implantação da Anater, a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. Mas no dia anterior Kátia também destacou o papel da Anater como fundamental para desenvolver o conhecimento no campo.
A quem vai caber comandar a Anater? Aí tem...
Tomemos o caso de Kátia Abreu. Estamos falando de uma senadora com voz ativa no meio agrícola. Ela deitou falação e Dilma ficou calada. Preferiu escalar o Patrus Ananias para tocar fogo na relação Agronegócio x Movimentos Sociais. Ele acaba de dizer que o direito de propriedade não pode ser inquestionável, mas também destacou como prioridade a implantação da Anater, a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. Mas no dia anterior Kátia também destacou o papel da Anater como fundamental para desenvolver o conhecimento no campo.
A quem vai caber comandar a Anater? Aí tem...