sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

UM VÔO DE VIDA NOVA E FELIZ



ÉPOCA DE RENOVAÇÃO E METAMORFOSE
Um voo de vida nova e feliz,                          por Theodiano Bastos

“A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie. Chega a viver cerca de 70 anos. Porém, para chegar a essa idade, aos 40 anos, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão. Aos 40 anos, suas unhas estão compridas e flexíveis e já não conseguem mais agarrar as presas, das quais se alimenta. O bico, alongado e pontiagudo, se curva. Apontando contra o peito, estão as asas, envelhecidas e pesadas, em função da grossura das penas e, voar, aos 40 anos, já é bem difícil! Nessa situação a águia só tem duas alternativas: deixar-se morrer... ou enfrentar um dolorido processo de renovação que irá durar 150 dias. Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e lá recolher-se, em um ninho que esteja próximo a um paredão. Um lugar de onde, para retornar, ela necessite dar um vôo firme e pleno. Ao encontrar esse lugar, a águia começa a bater o bico contra a parede até conseguir arrancá-lo, enfrentando, corajosamente, a dor que essa atitude acarreta. Espera nascer um novo bico, com o qual irá arrancar as suas velhas unhas. Com as novas unhas ela passa a arrancar as velhas penas. E só após cinco meses, "renascida", sai para o famoso vôo de renovação, para viver, então, por mais 30 anos.
Muitas vezes, em nossas vidas, temos que nos resguardar, por algum tempo, e começar um processo de renovação. Devemos nos desprender das (más) lembranças, (maus) costumes e outras situações que nos causam dissabores, para que continuemos a voar. Um vôo de vitória. Somente quando livres do peso do passado (pesado), poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre traz. Destrua, pois, o bico do ressentimento, arranque as unhas do medo, retire as penas das suas asas, os maus pensamentos e alce um lindo vôo para uma nova vida” (autoria desconhecida)      
                         
A história de Renovacão da Águia é uma lenda, mas seu símbolo tornou-se referência e suas histórias são utilizadas em RH, é símbolo dos USA, entre outras analogias. Somos seres humanos racionais, porém capazes de alçar vôos cada vez mais altos, vencer desafios, renovar, quebrar paradigmas… “A Águia com seu perfil austero, olhar focado para frente, sem deixar de ver o que está ao seu lado, atinge sempre seus objetivos e metas.

                         O vôo da águia
              O escritos Affonso Romano de Sant'Anna, também escreve sobre a lenda, como segue:
“Já que estamos nesse clima de recomeçar, com a alma limpa para novas coisas, vou iniciar transcrevendo algo que recebi. Havia pensado em outra crônica, coisa tipo "propostas para um novo milênio", como o fez Ítalo Calvino. Mas às vezes um texto parabólico, elíptico, pode nos dizer mais que outros pretensamente objetivos. Ei-lo:
Achei que você ia gostar de tomar conhecimento disto, sobretudo quando janeiro nos inunda com sua luz.

Este texto vale mais que mil ilustrações.

Sei como é difícil uma nova ou surpreendente idéia para cartão de fim de ano. Mas esse, além de bater fortemente em nosso imaginário, dispara em nós uma série de correlações e desdobramentos. 

A: abertura é seca e forte. Não há uma palavra sobrando. Parece as batidas do destino na Quinta Sinfonia de Beethoven. Releiam. "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão.” ·
Já li em algum lugar que Jung dizia que, em torno dos 40, alguma coisa subterrânea começa a ocorrer com a gente e os seres humanos sentem que estão no auge de sua força criativa. É quando podem (ou não) entrar em contato com forças profundas de sua personalidade.

Já ouvi de especialistas em administração de empresas que tem uma hora em que elas começam a crescer e seus dirigentes têm que tomar uma decisão — ou fazem com que cresçam de vez assumindo mais pesados desafios ou, então, fecham, porque ficar estagnado é apenas adiar a morte.

Já mencionei em outras crônicas o personagem Jean Barois (de Roger Martin du Gard) que fez um testamento aos 40 anos, quando achava que estava no auge de sua potência intelectual, temendo que na velhice, carcomido e alquebrado, fizesse outro testamento que negasse tudo aquilo em que acreditava quando jovem. Com efeito, envelhecendo, fez realmente outro testamento que desautorizava e desmentia o anterior. É que sua perspectiva na trajetória da vida mudara, como muda a de um viajante ou a do observador de um fenômeno.

O ano está começando.

Mais grave ainda: um século está se iniciando.

Gravíssimo: mais que um ano, mais que um século, um novo milênio está se inaugurando.

Três vezes Sísifo: o ano, o século, o milênio.

Sísifo — aquele que foi condenado a rolar uma pedra montanha acima, sabendo que quando estivesse quase chegando no topo — cataprum!... a pedra despencaria e ele teria que empurrá-la, de novo, lá para o alto.

Pois bem: "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40 anos, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão. Nesta idade suas unhas estão compridas. Não conseguem mais agarrar as presas das quais alimenta. Seu bico, alongado e pontiagudo, curva-se. As asas, envelhecidas e pesadas em função da espessura das penas, apontam contra o peito. Voar já é difícil.” ·

Nossa sociedade pensou ter inventado uma maneira de resolver, nos seres humanos, o drama da águia: a cirurgia plástica. Silicone aqui e acolá, repuxar a pele acolá e aqui, pintar e implantar cabelos. Isto feito, a águia sai flanando pelos salões, praias, telas, ruas, escritórios e passarelas.

Mas aquela outra águia prefere uma solução que veio de dentro. Talvez mais dolorosa. Recolher-se a um paredão, destruir o velho e inútil bico, esperar que outro surja e com ele arrancar as penas, num rito de reiniciação de 150 dias.

Então a águia, digamos, acabou de descasar.

(Tem que redimensionar seu corpo e seus desejos, desmontar casa e sentimentos, realocar objetos e sensações, reassumir filhos.)

Então a águia, digamos, acabou de perder o emprego.

(Tem que descobrir outro trajeto diário, outras aptidões, enfrentar a humilhação.)

Então, a águia,digamos, acabou de mudar de país.

(A crise ou o amor levou-a a outras paragens, tem que reaprender a linguagem de tudo e reinventar sua imagem em outro espelho.)

Então, a águia, digamos, acabou de perder alguém querido.

(É como se uma parte do corpo lhe tivessem sido arrancada, sente que não poderá mais voar como antes, que o azul lhe é inútil.)

Então, a águia, digamos, está numa nova situação em que está sendo desafiada a mostrar sua competência.

(Tem medo do fracasso, acha que não terá garras nem asas para voar mais alto.)

Então, a águia, digamos, andou olhando sua pele, sua resistência física, certos achaques de velhice.

Pois bem. Há que jogar fora o bico velho, arrancar as velhas penas, e recomeçar. 

Época de metamorfose.

Os estudiosos da metamorfose dizem que não apenas larvas se transformam em borboletas. Para nosso espanto as próprias pedras passam também por silenciosas metamorfoses.

Enfim, parece que estamos condenados à metamorfose. Morrer várias vezes e várias vezes renascer. Até que, enfim, cheguemos à metamorfose final, onde o que era sonho e carne se converte em pó.

Mas que fique sempre no azul o imponderável vôo da águia.”
Fontes: http://www.releituras.com/arsant_aguia.asp Texto extraído do jornal “O Globo”, Segundo Caderno, edição de 03/01/2001, pág. 8. 

sábado, 14 de dezembro de 2013

MANDELA E SUA HERANÇA MORAL



MANDELA E SEU LEGADO:                     O ANCIÃO


“Quando um ancião morre uma biblioteca arde. E por todo o mundo, bibliotecas  estão a arder.

“É por isso que o despertar é feito por um ancião.
Até que um dia um ancião me contou a seguinte história.
A minha mensagem para o senhor Mugabe é simples: que se comporte como um ancião africano e se retire dignamente para a sua aldeia”, recordou Mandela.
Mandela deixou como grande herança o Global Elders (http://theelders.org/), formado em 2007, tendo como integrantes:  Graça Machel, Fernando Henrique Cardoso, Desmond Tutu, Jimmy Carter, Mary Robinson, Kofi Annan, Nelson Mandela, Gro Harlem Brundtland, Martti Ahtisaari, Ela Bhate e Lakhdar Brahimi
Sobre Mandela a jornalista Maria Helena RR de Sousa escreveu no blog: “O que Nelson Mandela fez pelo ser humano jamais será suficientemente valorizado. A vitória sobre o apartheid em seu país é obra de gigante. Acho incrível quando ainda leio críticas à sua atuação como administrador. Não basta ele ter conseguido que brancos e pretos andem na mesma calçada, frequentem a mesma escola, sejam tratados pelo mesmo médico? O que hoje parece tão comum - não é? - antes de Mandela era impensável.
Nelson Mandela tinha uma força espiritual descomunal. Nasceu no século 20, viveu 13 anos no século 21, resistiu bravamente a 27 anos de encarceramento e saiu da prisão com a mente ágil e o coração generoso.
Foi a maior figura destes dois séculos e duvido que apareça alguém para lhe fazer sombra. Se Martin Luther King tinha um sonho, Mandela tornou esse sonho realidade.
Mas não foi essa a única herança que ele nos deixou. Mandela apoiou a excelente ideia de Richard Branson, empresário, e Peter Gabriel, músico, e deu vida ao The Elders.
O grupo é formado por homens e mulheres que não estão ligados a interesses específicos de uma só nação, governo ou situação. Estão comprometidos com os interesses da humanidade como um todo e com os direitos humanos. Acreditam que em qualquer situação de conflito o importante é ouvir todos os lados, por mais impopulares ou intragáveis que sejam.
Pretendem agir sem meias palavras, dizer o que pensam, enfrentar tabus; sabem que não têm todas as respostas e estão convictos que todo ser humano é igualmente importante e pode colaborar com a solução que fará a diferença e influenciará positivamente a sociedade.
Trata-se de uma organização incomum, com um modo de operar insólito, que usa seu poder coletivo para abrir portas, acessar os que detêm o verdadeiro poder e caso seja necessário, levar a público as injustiças que clamam por conserto.
Eles não se acham o sal da terra, não buscam crédito para as soluções que alcançam, apoiam os esforços de outros grupos que advogam o bem da humanidade e até ampliam suas vozes.
Mandela, em 18 de julho de 2007, disse ao lançar o The Elders: “Vamos chamá-los Global Elders, não por causa de sua idade, mas por sua sabedoria individual e coletiva. É grupo que não deriva sua força do poder político, econômico ou militar, mas de sua independência e integridade. Não têm carreiras para construir, eleições a ganhar, eleitorado a conquistar.”
A semente do The Elders só frutificou porque caiu nas mãos de um homem brilhante, filho de uma tradição onde os anciãos, quando independentes, íntegros e sábios, são consultados e respeitados.
Jogada numa sociedade onde aos 70 anos deita-se fora a experiência de uma vida, onde a vivência é dispensável, onde ser idoso é um anátema, seria apenas mais uma ideia que não deu certo.”
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Ela também tem uma fanpage e um blog – Maria Helena RR de Sousa Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/ (14/12/13)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

LIVRO – BOMBA: o “Barba” era informante da Ditadura (DOPS/SP)





O “Barba” era informante do DOPS/SP


Nas delações Emílio Odebrecht relata ajuda de Lula contra greve nos anos 70, e que Emílio Odebrecht lembrou da definição de Golbery sobre Lula: "bon vivant". Em depoimento, Emílio Odebrecht disse que Lula o tranquilizou em relação ao risco de estatização de petroquímica. "Ele foi muito enfático:'Você me conhece, não precisaria fazer essa pergunta, porque eu não sou de estatizar'", disse Emílio, que diz ter lembrado da definição de Golberi sobre Lula: um 'bon vivant'. Informa o jornal O GLOBO de 14/04/17

Nos livros Assassinato de Reputações — Um Crime de Estado, de Romeu Tuma Junior, ex-secretário nacional de Justiça do governo Lula (Ed. Topbook) e Década Perdida — Dez Anos de PT no Poder, do historiador Antônio Marcos Villa (Ed.Record), os autores trazem fatos que vão causar grande turbulência política. O Romeu Tuma Junior, por exemplo, já foi convidado a falar no Senado e na Câmara dos deputados sobre as gravíssimas denúncias de seu livro.
esse autores deram entrevistas a VEJA, antecipando parte dos conteúdos desses LIVROS – BOMBA!
Na VEJA de 27/11/13, Augusto Nunes, no artigo A autópsia da fraude, ele faz um relato do livro do historiador Marco Antonio Villa, fala do “Brasil Maravilha registrado em cartório nunca existiu fora da imaginação dos pais, parteiros e tutores do embuste mais longevo da era republicana. Fala da ópera dos farsantes, do Homem da Providência que abriu o cortejo de bazófias, bravatas e invencionices que, para perplexidade dos vêem as coisas como as coisas são, parece longe do fim. Nunca se mentiu tão descaradamente. Fantasiou de “concessão” a privatização dos aeroportos, estradas, portos, o leilão de um lance para desencalhar o pré-sal e neste livro adverte: “O partido aparelhou o estado”, adverte. “Não só pelos seus 23.000 cargos de nomeação direta. Transformou as empresas e bancos estatais, e seus poderosos fundos de pensão, em instrumento para o PT e sua ampla clientela etc”  


É bom lembrar que Romeu Tuma era o delegado do DOPS de São Paulo quando Lula esteve preso, foi superintendente da Polícia Federal e Senador. Já seu filho, autor do livro, também era delegado da PF, por isso têm informações privilegiadas. E promete publicar outro livro com revelações – bomba.



Mas é do jornalista Reinaldo Azevedo a análise mais devastadora, como se pode ver a seguir.


Segundo Tuma Junior, o “Barba” era informante de Romeu Tuma
Os petistas e a rede petralha na Internet tentam reagir ao livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado” (Editora Topbooks), que traz o longo depoimento do delegado Romeu Tuma Junior ao jornalista Claudio Tognolli. A ordem que emana da cúpula do partido e chega à Al Qaeda Eletrônica é desmoralizar o denunciante, lembrando que ele foi acusado de envolvimento com a máfia chinesa em São Paulo. Já chego lá. Há duas coisas no livro que incomodam os petistas: uma tem um peso, digamos, moral e pode contribuir para jogar ainda mais luzes nas origens do PT. A outra tem a ver com o presente e revela o modo como o PT entende o exercício do poder.
No livro, Tuma Junior diz ter a convicção de que Luiz Inácio Lula da Silva foi um informante de Romeu Tuma, então chefe do Dops, lá no fim dos anos 1970, quando apenas líder sindical. Não é a primeira vez que a, como vamos chamar?, intimidade de petista com o regime militar é posta em debate. O delegado sugere que a colaboração tenha deixado rastro e dá uma dica: que se procurem as contribuições de um certo “Barba” com os órgãos de repressão. A esta altura, ninguém com um mínimo de honestidade intelectual pode ignorar que parte considerável do establishment militar via com bons olhos a emergência política do tal “sindicalista” porque avaliava — e com razão neste particular — que sua ascensão enfraqueceria os líderes pré-64 que voltaram ao Brasil com a aprovação da Lei da Anistia. Nesse sentido, a escrita se cumpriu. O petismo exilou Leonel Brizola no Rio de Janeiro e Miguel Arraes em Pernambuco. É inegável que Lula cumpriu o desígnio de quebrar as pernas dos antigos líderes populistas, que encontraram um novo Brasil ao voltar ao país.
O Lula “colaboracionista”, pois, é um dado da própria equação. Ainda que seus propósitos fossem os mais, digamos, puros — criar um partido só de trabalhadores —, a verdade inegável é que sua liderança rompia duas pretensões de unidade: a) a unidade da oposição defendida pelo MDB; b) a unidade das esquerdas, que Brizola tinha a ambição de liderar. E aquilo era música para os estrategistas da transição, especialmente o general Golbery do Couto e Silva. Eu era um fedelho, militante da Convergência Socialista, e me lembro bem como a extrema esquerda lia, então, a questão:
a: Lula era considerado um nosso aliado contra a “frente burguesa” que pretendia se apresentar como “falsa alternativa” (era o que achávamos então) ao regime;
b: Lula era considerado um nosso aliado contra a “falsa esquerda”, que considerávamos não marxista (e era mesmo!), que vinha do exílio com pretensões de liderar as massas, o que repudiávamos;
c: Lula era considerado um nosso aliado APENAS ESTRATÉGICO, já que julgávamos que ele não passava de um reformista, com sérios “desvios de direita”, interessado apenas em reformar o capitalismo;
d: a extrema esquerda entendia que fortalecer Lula era importante, para que pudesse ser descartado mais tarde.
Bem, meninos, é desnecessário dizer que Lula jantou os militares, o MDB, Brizola, Arraes e a extrema esquerda… Reproduziu na política a sua carreira no sindicato, conforme demonstrou José Nêumanne Pinto no livro “O que sei de Lula”. Também ali se acercou do poder pelas beiradas, fez acordos com os pragmáticos, tomou o poder e deu um pé no traseiro das velhas lideranças.
Foi além
Tuma Junior, na entrevista concedida à VEJA na edição desta semana e, consta, no livro (ainda não li), sugere muito mais do que uma colaboração mediada pela história. Ele fala é de outra coisa: é de ação coordenada com o regime, combinada mesmo. Cumpre investigar, não como quem procura um crime, mas como quem busca a verdade. Eu já ouvi de um ex-alto executivo da Villares e de um ex-membro do então chamado “Grupo 14”, da Fiesp, que o então grande sindicalista e herói das massas e da imprensa negociava com os patrões até as propostas que seriam recusadas. Fazia parte do show.
Bem, o Brasil tem uma “Comissão da Verdade”, não é mesmo? Que tal chamar o “companheiro” para depor — depois, claro, de uma minuciosa investigação dos arquivos?
De volta ao presente
Se Lula foi ou não uma espécie de dedo-duro a serviço da ditadura é matéria de interesse histórico. A questão pode doer na reputação do petismo, mas não se tem muito além disso. O outro pilar do livro de Tuma Júnior é, sim, muito grave. O delegado diz estar disposto a demonstrar que, na Secretaria Nacional da Justiça, foi instado a dar curso a dossiês fabricados pelo petismo contra seus adversários. E cita uma penca de casos (leia post). Mais: assim como perseguia adversários, protegia o PT ao não dar curso a investigações que poderiam comprometer o partido.
A Al Qaeda eletrônica, a rede petralha, já começou o trabalho de desqualificação do denunciante. Alguns bobinhos enviaram mensagens para cá apontando que eu mesmo publiquei posts sobre a demissão de delegado, por conta da sua suposta ligação com a tal máfia chinesa… Sim, publiquei. E daí? Pra começo de conversa, foi Lula quem decidiu nomear Tuma Junior para a Secretaria Nacional de Justiça. Não fui eu, não foram os opositores do PT, não foram os inimigos do partido. Justamente porque não tenho nenhuma vinculação com o delegado, publico o que penso ser relevante. Antes e agora.
E me parece relevante que alguém escolhido pelo próprio PT para um cargo tão importante venha a público revelar as muitas vezes em que foi instado a desrespeitar a lei para atender a uma demanda política — coisa que ele diz não ter feito. Quer dizer que Tuma Junior é um desclassificado, alguém a ser ignorado, mas era bom o bastante para permanecer três anos à frente da Secretaria Nacional de Justiça?
O fedor do estado policial – Na Câmara, ele disse que manda investigar tudo. E agora? Denúncia, desta vez, tem assinatura
Não há como: alguém com nome e endereço, que esteve na cúpula do Ministério da Justiça, acusa uma ação coordenada de um partido com órgãos do estado para perseguir adversários políticos. Nos depoimentos dados ao Senado e à Câmara, Jose Eduardo Cardozo afirmou que seu papel é encaminhar as denúncias que recebe, mesmo as anônimas, à Polícia Federal. Pois bem: a acusação de agora anônima não é. Tem assinatura. E Tuma Junior já disse que quer falar.
E nesse caso? O que fará o ministro da Justiça? Cumpre lembrar que, na lista dos dossiês que os petistas queriam pôr para circular, está justamente a suposta formação de cartel para a compra de trens em São Paulo. Se papeluchos sem assinatura, supostamente deixados na casa de Cardozo por um deputado do PT, bastam para que a PF passe a fazer uma investigação, como agirá o ministro com acusações que têm assinatura?
Os petistas acham que Tuma Junior não é de confiança? Não é da confiança de quem, cara-pálida? De Lula e da cúpula do Ministério da Justiça, pelo visto, ele era. Tanto que foi nomeado para o cargo de secretário nacional da Justiça. Agora, ele decidiu contar o que diz ter visto, ouvido e vivido. E afirma ter como provar as acusações que faz. O mínimo que se pode esperar é que seja convocado para depor na Câmara. 
Acusando a imprensa de não dar a devida atenção à questão do cartel de trens — é mentira, como se sabe —, afirmou Gilberto Carvalho: “Tirando o (jornal) O Estado de S. Paulo, não se pergunta pelo crime, se recrimina o acusador”. Muito bem: por que a rede petralha não segue o conselho de Carvalho? Ora, pare de ficar recriminando o acusador e passe a se preocupar com os crimes que ele aponta. Tuma Junior, diga-se, mira também no próprio Carvalho, que lhe teria confessado que havia mesmo um esquema de desvio de dinheiro em Santo André, questão que estaria na raiz do assassinato de Celso Daniel. O ministro diz que vai processar o delegado.
Tuma Junior não era só um datilógrafo do Ministério da Justiça que agora diz ter ouvido coisas. Não! Ele ocupava um cargo central na pasta e afirma ser testemunha da forma como atua a máquina petista de moer a reputação dos adversários, seguindo aquela que, há muito tempo, digo ser a máxima do partido: “Aos amigos, tudo, menos a lei; aos inimigos, nada, nem a lei”.
Por Reinaldo Azevedo
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-comissao-da-verdade-vai-apurar-se-lula-colaborou-com-a-ditadura-ou-ainda-e-agora