ÉPOCA
DE RENOVAÇÃO E METAMORFOSE
Um voo de vida nova e feliz, por Theodiano Bastos
“A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie. Chega a viver cerca de 70 anos. Porém, para chegar a essa idade, aos 40 anos, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão. Aos 40 anos, suas unhas estão compridas e flexíveis e já não conseguem mais agarrar as presas, das quais se alimenta. O bico, alongado e pontiagudo, se curva. Apontando contra o peito, estão as asas, envelhecidas e pesadas, em função da grossura das penas e, voar, aos 40 anos, já é bem difícil! Nessa situação a águia só tem duas alternativas: deixar-se morrer... ou enfrentar um dolorido processo de renovação que irá durar 150 dias. Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e lá recolher-se, em um ninho que esteja próximo a um paredão. Um lugar de onde, para retornar, ela necessite dar um vôo firme e pleno. Ao encontrar esse lugar, a águia começa a bater o bico contra a parede até conseguir arrancá-lo, enfrentando, corajosamente, a dor que essa atitude acarreta. Espera nascer um novo bico, com o qual irá arrancar as suas velhas unhas. Com as novas unhas ela passa a arrancar as velhas penas. E só após cinco meses, "renascida", sai para o famoso vôo de renovação, para viver, então, por mais 30 anos.
Muitas vezes, em nossas vidas, temos que nos resguardar, por algum tempo, e começar um processo de renovação. Devemos nos desprender das (más) lembranças, (maus) costumes e outras situações que nos causam dissabores, para que continuemos a voar. Um vôo de vitória. Somente quando livres do peso do passado (pesado), poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre traz. Destrua, pois, o bico do ressentimento, arranque as unhas do medo, retire as penas das suas asas, os maus pensamentos e alce um lindo vôo para uma nova vida” (autoria desconhecida)
A história de Renovacão da Águia é
uma lenda, mas seu símbolo tornou-se referência e suas histórias são utilizadas
em RH, é símbolo dos USA, entre outras analogias. Somos seres humanos
racionais, porém capazes de alçar vôos cada vez mais altos, vencer desafios,
renovar, quebrar paradigmas… “A Águia com seu perfil austero, olhar focado para
frente, sem deixar de ver o que está ao seu lado, atinge sempre seus objetivos
e metas.
O vôo da águia
O escritos Affonso Romano de Sant'Anna, também
escreve sobre a lenda, como segue:
“Já
que estamos nesse clima de recomeçar, com a alma limpa para novas coisas, vou
iniciar transcrevendo algo que recebi. Havia pensado em outra crônica, coisa
tipo "propostas para um novo milênio", como o fez Ítalo Calvino. Mas
às vezes um texto parabólico, elíptico, pode nos dizer mais que outros
pretensamente objetivos. Ei-lo:
Achei que você ia gostar de tomar conhecimento disto, sobretudo
quando janeiro nos inunda com sua luz.
Este texto vale mais que mil ilustrações.
Sei como é difícil uma nova ou surpreendente idéia para cartão de fim de ano. Mas esse, além de bater fortemente em nosso imaginário, dispara em nós uma série de correlações e desdobramentos.
A: abertura é seca e forte. Não há uma palavra sobrando. Parece as batidas do destino na Quinta Sinfonia de Beethoven. Releiam. "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão.” ·
Já li em algum lugar que Jung dizia que, em torno dos 40, alguma coisa subterrânea começa a ocorrer com a gente e os seres humanos sentem que estão no auge de sua força criativa. É quando podem (ou não) entrar em contato com forças profundas de sua personalidade.
Já ouvi de especialistas em administração de empresas que tem uma hora em que elas começam a crescer e seus dirigentes têm que tomar uma decisão — ou fazem com que cresçam de vez assumindo mais pesados desafios ou, então, fecham, porque ficar estagnado é apenas adiar a morte.
Já mencionei em outras crônicas o personagem Jean Barois (de Roger Martin du Gard) que fez um testamento aos 40 anos, quando achava que estava no auge de sua potência intelectual, temendo que na velhice, carcomido e alquebrado, fizesse outro testamento que negasse tudo aquilo em que acreditava quando jovem. Com efeito, envelhecendo, fez realmente outro testamento que desautorizava e desmentia o anterior. É que sua perspectiva na trajetória da vida mudara, como muda a de um viajante ou a do observador de um fenômeno.
O ano está começando.
Mais grave ainda: um século está se iniciando.
Gravíssimo: mais que um ano, mais que um século, um novo milênio está se inaugurando.
Três vezes Sísifo: o ano, o século, o milênio.
Sísifo — aquele que foi condenado a rolar uma pedra montanha acima, sabendo que quando estivesse quase chegando no topo — cataprum!... a pedra despencaria e ele teria que empurrá-la, de novo, lá para o alto.
Pois bem: "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40 anos, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão. Nesta idade suas unhas estão compridas. Não conseguem mais agarrar as presas das quais alimenta. Seu bico, alongado e pontiagudo, curva-se. As asas, envelhecidas e pesadas em função da espessura das penas, apontam contra o peito. Voar já é difícil.” ·
Nossa sociedade pensou ter inventado uma maneira de resolver, nos seres humanos, o drama da águia: a cirurgia plástica. Silicone aqui e acolá, repuxar a pele acolá e aqui, pintar e implantar cabelos. Isto feito, a águia sai flanando pelos salões, praias, telas, ruas, escritórios e passarelas.
Mas aquela outra águia prefere uma solução que veio de dentro. Talvez mais dolorosa. Recolher-se a um paredão, destruir o velho e inútil bico, esperar que outro surja e com ele arrancar as penas, num rito de reiniciação de 150 dias.
Então a águia, digamos, acabou de descasar.
(Tem que redimensionar seu corpo e seus desejos, desmontar casa e sentimentos, realocar objetos e sensações, reassumir filhos.)
Então a águia, digamos, acabou de perder o emprego.
(Tem que descobrir outro trajeto diário, outras aptidões, enfrentar a humilhação.)
Então, a águia,digamos, acabou de mudar de país.
(A crise ou o amor levou-a a outras paragens, tem que reaprender a linguagem de tudo e reinventar sua imagem em outro espelho.)
Então, a águia, digamos, acabou de perder alguém querido.
(É como se uma parte do corpo lhe tivessem sido arrancada, sente que não poderá mais voar como antes, que o azul lhe é inútil.)
Então, a águia, digamos, está numa nova situação em que está sendo desafiada a mostrar sua competência.
(Tem medo do fracasso, acha que não terá garras nem asas para voar mais alto.)
Então, a águia, digamos, andou olhando sua pele, sua resistência física, certos achaques de velhice.
Pois bem. Há que jogar fora o bico velho, arrancar as velhas penas, e recomeçar.
Época de metamorfose.
Os estudiosos da metamorfose dizem que não apenas larvas se transformam em borboletas. Para nosso espanto as próprias pedras passam também por silenciosas metamorfoses.
Enfim, parece que estamos condenados à metamorfose. Morrer várias vezes e várias vezes renascer. Até que, enfim, cheguemos à metamorfose final, onde o que era sonho e carne se converte em pó.
Mas que fique sempre no azul o imponderável vôo da águia.”
Fontes: http://www.releituras.com/arsant_aguia.asp Texto extraído do jornal “O Globo”, Segundo Caderno, edição de 03/01/2001, pág. 8.
Este texto vale mais que mil ilustrações.
Sei como é difícil uma nova ou surpreendente idéia para cartão de fim de ano. Mas esse, além de bater fortemente em nosso imaginário, dispara em nós uma série de correlações e desdobramentos.
A: abertura é seca e forte. Não há uma palavra sobrando. Parece as batidas do destino na Quinta Sinfonia de Beethoven. Releiam. "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão.” ·
Já li em algum lugar que Jung dizia que, em torno dos 40, alguma coisa subterrânea começa a ocorrer com a gente e os seres humanos sentem que estão no auge de sua força criativa. É quando podem (ou não) entrar em contato com forças profundas de sua personalidade.
Já ouvi de especialistas em administração de empresas que tem uma hora em que elas começam a crescer e seus dirigentes têm que tomar uma decisão — ou fazem com que cresçam de vez assumindo mais pesados desafios ou, então, fecham, porque ficar estagnado é apenas adiar a morte.
Já mencionei em outras crônicas o personagem Jean Barois (de Roger Martin du Gard) que fez um testamento aos 40 anos, quando achava que estava no auge de sua potência intelectual, temendo que na velhice, carcomido e alquebrado, fizesse outro testamento que negasse tudo aquilo em que acreditava quando jovem. Com efeito, envelhecendo, fez realmente outro testamento que desautorizava e desmentia o anterior. É que sua perspectiva na trajetória da vida mudara, como muda a de um viajante ou a do observador de um fenômeno.
O ano está começando.
Mais grave ainda: um século está se iniciando.
Gravíssimo: mais que um ano, mais que um século, um novo milênio está se inaugurando.
Três vezes Sísifo: o ano, o século, o milênio.
Sísifo — aquele que foi condenado a rolar uma pedra montanha acima, sabendo que quando estivesse quase chegando no topo — cataprum!... a pedra despencaria e ele teria que empurrá-la, de novo, lá para o alto.
Pois bem: "A águia é a única ave que chega a viver 70 anos. Mas para isso acontecer, por volta dos 40 anos, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão. Nesta idade suas unhas estão compridas. Não conseguem mais agarrar as presas das quais alimenta. Seu bico, alongado e pontiagudo, curva-se. As asas, envelhecidas e pesadas em função da espessura das penas, apontam contra o peito. Voar já é difícil.” ·
Nossa sociedade pensou ter inventado uma maneira de resolver, nos seres humanos, o drama da águia: a cirurgia plástica. Silicone aqui e acolá, repuxar a pele acolá e aqui, pintar e implantar cabelos. Isto feito, a águia sai flanando pelos salões, praias, telas, ruas, escritórios e passarelas.
Mas aquela outra águia prefere uma solução que veio de dentro. Talvez mais dolorosa. Recolher-se a um paredão, destruir o velho e inútil bico, esperar que outro surja e com ele arrancar as penas, num rito de reiniciação de 150 dias.
Então a águia, digamos, acabou de descasar.
(Tem que redimensionar seu corpo e seus desejos, desmontar casa e sentimentos, realocar objetos e sensações, reassumir filhos.)
Então a águia, digamos, acabou de perder o emprego.
(Tem que descobrir outro trajeto diário, outras aptidões, enfrentar a humilhação.)
Então, a águia,digamos, acabou de mudar de país.
(A crise ou o amor levou-a a outras paragens, tem que reaprender a linguagem de tudo e reinventar sua imagem em outro espelho.)
Então, a águia, digamos, acabou de perder alguém querido.
(É como se uma parte do corpo lhe tivessem sido arrancada, sente que não poderá mais voar como antes, que o azul lhe é inútil.)
Então, a águia, digamos, está numa nova situação em que está sendo desafiada a mostrar sua competência.
(Tem medo do fracasso, acha que não terá garras nem asas para voar mais alto.)
Então, a águia, digamos, andou olhando sua pele, sua resistência física, certos achaques de velhice.
Pois bem. Há que jogar fora o bico velho, arrancar as velhas penas, e recomeçar.
Época de metamorfose.
Os estudiosos da metamorfose dizem que não apenas larvas se transformam em borboletas. Para nosso espanto as próprias pedras passam também por silenciosas metamorfoses.
Enfim, parece que estamos condenados à metamorfose. Morrer várias vezes e várias vezes renascer. Até que, enfim, cheguemos à metamorfose final, onde o que era sonho e carne se converte em pó.
Mas que fique sempre no azul o imponderável vôo da águia.”
Fontes: http://www.releituras.com/arsant_aguia.asp Texto extraído do jornal “O Globo”, Segundo Caderno, edição de 03/01/2001, pág. 8.