REJEIÇÃO - Milei, da Argentina, Lacalle Pou, do Uruguai, e Boric, do Chile: condenação internacional veio de todo lado
Por THEDIANO BASTOS
Sob Maduro, a Venezuela derreteu de vez. Outrora a
quinta maior economia da América Latina e sexto principal parceiro do Brasil
(hoje é o 44º), viu seu PIB encolher 80%, sendo atualmente equivalente a cidade
do Rio de Janeiro.
Castigada pela crise econômica, pelo despotismo e
pela penúria, boa parte da população deixou o país — a diáspora venezuelana,
uma das maiores do planeta, é calculada entre 5 milhões e 8 milhões de pessoas
abrigadas em países como Colômbia, Estados Unidos e Brasil. Observadores temem
que o endurecimento do regime desencadeie uma nova fuga em massa: segundo
pesquisa recente, um terço da população restante cogita ir embora se o governo
não mudar.
“Maduro não vai abrir mão do poder porque corre risco
de ir parar na prisão”, afirma Geoff Ramsey, observador do Atlantic Council, de
Washington. “Tanto ele quanto boa parte da cúpula militar estão sendo
investigados pelo Tribunal Internacional de Haia”, acrescenta o pesquisador
David Smilde, especialista em Venezuela.
“Endossar chavismo é fracasso do PT”
Autor de Como as Democracias Morrem, Steven Levitsky,
professor de estudos latino-americanos de Harvard, falou a VEJA sobre a
situação na Venezuela.
Qual a sua opinião sobre o resultado divulgado pelo
Conselho Nacional Eleitoral? É
obviamente uma fraude. Na verdade, esta é a eleição mais flagrantemente fraudulenta na América Latina em décadas.
Como o senhor avalia a atuação do Brasil nessa
crise? O papel do Brasil é
crítico. Lula tem uma
tremenda influência
na região. Ele poderia ter usado
essa influência
anos atrás, quando a Venezuela
iniciou a guinada rumo ao autoritarismo. Em vez disso, os governos do PT
endossaram tanto Hugo Chávez quanto Nicolás Maduro. Esse é um dos maiores
fracassos das gestões petistas nas últimas duas décadas.
O Brasil ainda pode fazer diferença? Sim, Lula tem
uma oportunidade histórica
de rever sua postura e defender a democracia. O governo brasileiro deve
flexionar seus músculos
para pressionar por uma tr...
É possível organizar um governo de transição para
tirar a Venezuela dessa situação? Claro. Os militares venezuelanos fizeram exatamente
isso em janeiro de 1958, quando removeram o ditador Pérez Jiménez. Eles são
atores fundamentais dessa crise.
E qual seria o passo seguinte? Depois de remover
Maduro, nomeia-se um governo de transição civil de base ampla para estabilizar
a situação até que o presidente devidamente eleito, Edmundo González, assuma o
cargo. Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2024, edição nº 2904