Os
paradoxos das vias alternativas para 2022
Por Vera Magalhães
As ruas do Brasil neste dia 12 mostram o maior paradoxo da construção de uma ou mais candidaturas viáveis à dianteira de Lula e Bolsonaro em 2022: não faltam nomes a listar ou até mesmo a reunir; o que falta é convencer o eleitor da sua viabilidade.
O palanque cheio de
pré-candidatos à tal "terceira via" -- uma expressão que hoje é vazia
de significado, porque para que se chegue até lá haverá pelo menos muitas
eliminatórias -- mostra que as forças políticas estão aos poucos acordando da
letargia e buscando se posicionar para as eleições do ano que vem.
Já o comparecimento
tímido de pessoas às manifestações mostra algumas coisas. A primeira,
inequívoca, é que hoje a verdadeira mobilização contra Bolsonaro vem dos
eleitores da esquerda, embora, também paradoxalmente, depois do Sete de
Setembro Lula tenha sido uma das vozes a não berrar "fora Bolsonaro",
justamente porque interessa a ele enfrentar o presidente no segundo turno do
ano que vem.
O flop de público,
sobretudo em São Paulo, onde a maioria dos políticos do centro expandido se
reuniu, também mostra uma desconfiança quanto aos propósitos de movimentos como
o MBL e o Vem pra Rua, que surgiram nos atos pelo impeachment de Dilma
Rousseff, embarcaram em Bolsonaro em 2018 e hoje tentam se descolar do seu
governo.
Algumas
articulações tendem a avançar a partir da ida dos políticos que conversam sobre
uma alternativa eleitoral aos palanques. As primárias do PSDB serão um primeiro
ato desse desdobramento. Outros nomes que foram à Paulista terão de enfrentar
um "mata-mata" real ou simbólico, em seus partidos ou nos cálculos da
própria sobrevivência política (muitos preferirão ser candidatos a vice, a
governos ou ao Senado, por exemplo).
Quanto ao
impeachment de Bolsonaro, segue o que já venho dizendo há algumas semanas e
repeti mesmo depois do Sete de Setembro e ainda na esteira da carta fake
redigida por Michel Temer: não sairá. Arthur Lira, que já tinha encontrado no
"recuo" do presidente uma desculpa talhada para não fazer nada,
ganhou outra, ainda mais vistosa: o povo não quer. Enquanto mais gente for à
rua para defender o mito que para pedir sua saída, não há o que discutir, não é
mesmo?