Por Merval
Pereira
O presidente Bolsonaro acrescentou nos últimos dias
mais uma preocupação às suas desditas. Além do receio de que um dos seus
filhos, ou alguns deles, sejam presos em decorrência dos inquéritos abertos no
Supremo Tribunal Federal (STF) devido aos desvios de dinheiro público
(peculato) com as “rachadinhas” dos salários de servidores nos seus gabinetes
parlamentares, ele teme que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o torne
inelegível para a eleição do ano que vem.
Não é por acaso que escolheu como alvos preferenciais os ministros Alexandre de
Moraes e Luis Roberto Barroso. Este é no momento presidente do TSE, o outro o
será durante a eleição presidencial. No Supremo, Bolsonaro acha que está
resguardado, pois uma eventual punição depende de denúncia do Procurador-Geral
da República, e não há indicação de que a renovação de seu mandato o tornou
mais independente.
Seria, por caminhos transversos, uma terceira via com apoio militar, depois de
idealmente ter colocado ordem na bagunça institucional em que vivemos. O destino
de Mourão está atrelado a essas variáveis, pois ele prefere continuar morando
em Brasília. Uma candidatura a senador, no Rio, onde morava, ou Rio Grande do
Sul, onde nasceu, teria preferência à possibilidade de vir a ser candidato ao
governo do Rio de Janeiro. Mesmo que apareça neste momento à frente do deputado
federal Marcelo Freixo nas pesquisas de opinião, é uma hipótese que está
descartada pelo momento.
Ao mesmo tempo há um trabalho no Palácio do Planalto, que envolve ministros
militares e o Chefe do Gabinete Civil Ciro Nogueira, para reaproxima-lo de
Bolsonaro, o que vem se demonstrando difícil. Mesmo distanciado, está
convencido de que não haverá arruaças nas manifestações marcadas para o Sete de
Setembro, mesmo que Bolsonaro esteja esticando a corda ao máximo às vésperas da
data, como se ela significasse a arrancada final para sua tomada do poder pela
força, com apoio popular.
Bolsonaro tem vivido nos dias recentes em um mundo paralelo, e finge estar
certo de que montam contra ele uma armadilha para impedi-lo de competir, ou
então uma apuração fraudada para derrotá-lo. Seriam pretextos para um
contragolpe, como classifica suas ações antidemocráticas.
Nada indica que terá sucesso, mas é capaz de provocar grandes confusões em
Brasília e em São Paulo, onde discursará para seus seguidores. O discurso na
Capital deve ter um tom mais contido, porque de nada adiantará tentar
estimular, à la Trump, a invasão do Congresso ou do Supremo. O esquema de
segurança na Praça dos Três Poderes estará reforçado, e a multidão contida à
distância.
Mas, na Avenida Paulista, território de seu arqui-inimigo João Doria, Bolsonaro
pode ficar tentado a insuflar seus seguidores à radicalização, o que,
dependendo do que acontecer, pode acelerar as medidas judiciais contra ele.
Quando escolheu o General Hamilton Mourão para seu vice, um dos zeros de
Bolsonaro comemorou, dizendo que a oposição pensaria duas vezes antes de tentar
impedi-lo. O feitiço virou contra o feiticeiro, e Mourão passou a ser visto por
setores militares e políticos como possível solução para o problema em que
Bolsonaro se tornou. Saiba Mais: https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/mourao-terceira.html