O atual combate às drogas tem sido um fracasso
total e por isso é um desafio mundial para se encontrar uma saída para o
flagelo das drogas, que está destruindo as famílias e tem os jovens como principais
vítimas.
Estive por cinco dias em Montevideo e Sacramento e
um neto, estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal
Fluminense – UFF, resolveu estudar por seis meses na Universidade de La
República, para estudar Ciências Políticas e o governo socialista de José Pepe
Mujica que implantou essa experiência de vender a maconha em farmácias.
Como a maconha vendida nas farmácias é muita fraca,
os traficantes passaram a vender as mais fortes e essa experiência não
diminuirá o poder dos traficantes.
************** Farmácia uruguaia tem conta em banco cancelada por vender maconha
SYLVIA COLOMBO, DE BUENOS AIRES - 12/08/2017
Uma farmácia uruguaia anunciou nesta semana que não venderia mais maconha, ainda que de acordo com a legislação local —aprovada no fim de 2013 e que terminou de ser regulamentada em julho. Isso porque o estabelecimento teve sua conta no banco Santander cancelada.
Esteban Riveira, dono da farmácia Pitágoras, do bairro de Malvín, em Montevidéu, afirmou que a suspensão da venda se trata de "uma medida preventiva, até que o governo regularize a situação das farmácias que vendem maconha com o mercado bancário internacional". E disse estar frustrado, porque se diz um defensor da legalização do produto.
As sucursais dos bancos estrangeiros no Uruguai, porém, ainda não se posicionaram formalmente sobre o assunto e afirmam estar consultando suas matrizes para saber se estariam violando leis internacionais no caso de terem entre seus clientes estabelecimentos que comercializem produtos ilícitos.
Apesar de regulamentada no Uruguai, a venda da droga ainda é configurada como uma atividade restrita nos outros países por se tratar de um produto ilícito. Outros países da região, como a Argentina, a Colômbia e o Chile, também vêm consultando bancos estrangeiros, uma vez que legalizaram recentemente a venda da maconha medicinal.
Desde que aprovada, em dezembro de 2013, a Lei da Maconha gerou polêmica com relação a esse quesito. Mesmo com a venda legalizada e regulamentada no país, o Banco Central do Uruguai havia alertado o governo do então presidente José "Pepe" Mujica a respeito do risco de que algumas entidades bancárias pudessem não estar de acordo e se negarem a ter as farmácias como clientes.
O assessor legal do Centro de Farmácias do Uruguai, Pablo Durán, afirmou que, caso esse movimento se amplie e outras farmácias venham a ter suas contas canceladas, a tendência será a de migrar suas contas para o Banco República, que é uruguaio e obedece apenas à legislação local.
Outra alternativa, já utilizada nos EUA e aventada pelo governo uruguaio na época do debate parlamentar sobre a lei, é fazer uso das "bitcoins" (moeda virtual) para viabilizar a comercialização.
Ainda assim, Durán chamou a atenção para o fato de ser ainda um fato isolado. "Por enquanto houve apenas este caso. Outros bancos advertiram seus clientes e avisaram que estão fazendo consultas, mas não cancelaram as contas."
AUMENTO DA DEMANDA
Enquanto isso, vem crescendo o interesse de farmácias em aderir à lei, devido à alta demanda dos consumidores nas primeiras semanas de implementação.
Segundo Durán, já há 20 novas farmácias na lista de espera para obter a permissão para vender maconha.
O governo analisa as propostas e tem demorado em responder porque a busca tem sido mais alta do que o esperado.
O número de usuários registrados também deu um salto, dos 6.700 iniciais para 11.50
8, o
que vem causando longas filas nas farmácias autorizadas e falta de estoque em
várias delas. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/12/08/17
************** Farmácia uruguaia tem conta em banco cancelada por vender maconha
SYLVIA COLOMBO, DE BUENOS AIRES - 12/08/2017
Uma farmácia uruguaia anunciou nesta semana que não venderia mais maconha, ainda que de acordo com a legislação local —aprovada no fim de 2013 e que terminou de ser regulamentada em julho. Isso porque o estabelecimento teve sua conta no banco Santander cancelada.
Esteban Riveira, dono da farmácia Pitágoras, do bairro de Malvín, em Montevidéu, afirmou que a suspensão da venda se trata de "uma medida preventiva, até que o governo regularize a situação das farmácias que vendem maconha com o mercado bancário internacional". E disse estar frustrado, porque se diz um defensor da legalização do produto.
As sucursais dos bancos estrangeiros no Uruguai, porém, ainda não se posicionaram formalmente sobre o assunto e afirmam estar consultando suas matrizes para saber se estariam violando leis internacionais no caso de terem entre seus clientes estabelecimentos que comercializem produtos ilícitos.
Apesar de regulamentada no Uruguai, a venda da droga ainda é configurada como uma atividade restrita nos outros países por se tratar de um produto ilícito. Outros países da região, como a Argentina, a Colômbia e o Chile, também vêm consultando bancos estrangeiros, uma vez que legalizaram recentemente a venda da maconha medicinal.
Desde que aprovada, em dezembro de 2013, a Lei da Maconha gerou polêmica com relação a esse quesito. Mesmo com a venda legalizada e regulamentada no país, o Banco Central do Uruguai havia alertado o governo do então presidente José "Pepe" Mujica a respeito do risco de que algumas entidades bancárias pudessem não estar de acordo e se negarem a ter as farmácias como clientes.
O assessor legal do Centro de Farmácias do Uruguai, Pablo Durán, afirmou que, caso esse movimento se amplie e outras farmácias venham a ter suas contas canceladas, a tendência será a de migrar suas contas para o Banco República, que é uruguaio e obedece apenas à legislação local.
Outra alternativa, já utilizada nos EUA e aventada pelo governo uruguaio na época do debate parlamentar sobre a lei, é fazer uso das "bitcoins" (moeda virtual) para viabilizar a comercialização.
Ainda assim, Durán chamou a atenção para o fato de ser ainda um fato isolado. "Por enquanto houve apenas este caso. Outros bancos advertiram seus clientes e avisaram que estão fazendo consultas, mas não cancelaram as contas."
AUMENTO DA DEMANDA
Enquanto isso, vem crescendo o interesse de farmácias em aderir à lei, devido à alta demanda dos consumidores nas primeiras semanas de implementação.
Segundo Durán, já há 20 novas farmácias na lista de espera para obter a permissão para vender maconha.
O governo analisa as propostas e tem demorado em responder porque a busca tem sido mais alta do que o esperado.
O número de usuários registrados também deu um salto, dos 6.700 iniciais para 11.50
Uruguai inicia venda de
maconha em farmácias e revoluciona a política mundial de drogas
País com a maior tradição liberal da América dá
início a um projeto vanguardista destinado à maconha
EL PAÍS
Internacional, Espanha, Magdalena
Martínez, Montevidéu 19 JUL 2017
“Tinha que ser o Uruguai.
Não é casualidade que esse seja o primeiro país do mundo onde o Estado se
encarregará de controlar o cultivo, o empacotamento e a venda legal de maconha
em farmácias — processo que terá início na primeira quinzena de julho —, uma
atitude que todas as nações vizinhas proíbem e combatem. O pequeno país de
cerca de 3 milhões de habitantes é governado, desde 2005, por uma esquerda
tranquila, que conseguiu alcançar um recorde histórico de crescimento
ininterrupto de sua economia. O Uruguai já foi o pioneiro na América Latina em
abolir a escravidão, aprovar o ensino laico, o divórcio e em legalizar a
prostituição. A separação entre Igreja e Estado ocorreu há mais de 100 anos.
Tudo chega antes no Uruguai, que quase sempre serve de modelo para que outros
sigam o mesmo caminho.
“Eu consumo maconha desde os meus 15 anos de
idade e nunca havia tido acesso, tão facilmente, a um produto de tanta
qualidade e tão barato. As pessoas já não precisam ir às favelas para comprar
essa droga. Os traficantes também já não se interessam pela maconha, não dá
dinheiro. Eles se dedicam à venda de outras drogas. Quando vejo os problemas
que existem em outros países para fumar me considero sortudo”, afirma Lucas
López, que decidiu converter seu hobby em profissão e abrir uma loja de objetos
de todo tipo relacionados ao consumo da maconha, em plena avenida 18 de julho,
no centro de Montevidéu. O estabelecimento está repleto de pôsteres enormes em
vários idiomas que dizem “aqui não vendemos maconha”, mas, ainda assim,
turistas entram com frequência para tentar comprar a droga.
A
legislação é muito clara: só os uruguaios podem cultivar em suas casas e adquirir
maconha, oficialmente, nas 30 farmácias que já estão registradas
para vender a droga a um preço de 1,30 dólar (cerca de 4 reais) por grama, um
valor muito mais baixo que o cobrado por um produto de inferior qualidade no
mercado negro. Os compradores registrados precisarão colocar seu dedo em um
dispositivo na farmácia. Assim, a máquina poderá identificá-los e verificará se
já não excederam o limite legal de compra – 10 gramas por semana. Esse
mecanismo de controle garante também o anonimato, já que o farmacêutico não tem
acesso ao nome do cliente, e, uma vez mais, deixa os estrangeiros de fora.
O país, que já é uma potência
turística, quer que os visitantes venham atraídos pelas praias, não pela droga.
Essa experiência piloto é única no mundo – há outros países onde a venda da maconha é legal,
mas em nenhum deles o Estado controla todo o processo, incluído o design
genético da planta, comprado de uma empresa espanhola. Tudo está pensado para
tirar do mercado ilegal os 160.000 uruguaios que, em algum momento do ano,
fumam maconha, e para acabar com um negócio que rende 30 milhões de dólares
(95,7 milhões de reais) aos traficantes, além de aumentar a violência e,
inclusive, o índice de mortes em um país pouco acostumado à insegurança que
assola toda a América Latina.
Tudo começou em 2012, recorda
Julio Calzada, o então responsável pela política de drogas e máximo inspirador
da lei que regula todo esse inédito processo. O presidente do país era o atual
senador José Mujica – agora com 82 anos –, um
ex-guerrilheiro tupamaro que se converteu, na época, em um fenômeno mundial, com mais seguidores fora de seu país do que dentro dele.
A tranquila Montevidéu, uma cidade de poetas e cafés, amanheceu comovida com um
vídeo no qual um menor assassinava com um tiro, e a sangue frio, um funcionário
do conhecido restaurante La Pasiva, durante um assalto. O homem tinha cinco
filhos. Outras duas mortes violentas por acertos de contas entre
narcotraficantes, na mesma semana, escandalizou tanto a sociedade que Mujica
resolveu dar o primeiro passo para iniciar um processo que culmina agora, em
2017, e que levou a uma mudança integral da política de drogas e à legalização
da maconha.
Cinco
anos depois desse início, a colheita da planta, cultivada em estufas protegidas
pelo Exército, para evitar roubos, já foi realizada com sucesso e o produto já
foi devidamente embalado. As farmácias também já estão preparadas para começar
a vendê-la em, no máximo, duas semanas. Alguns têm medo do que possa acontecer.
As farmácias instalaram um “botão do pânico” para poder chamar a polícia de
forma mais rápida e efetiva, caso seja necessário. No entanto, todos os
especialistas no assunto acreditam que não haverá mais do que tranquilidade, no
melhor estilo uruguaio. Não aconteceu nada de ruim quando o autocultivo foi
aprovado. Atualmente há 6.000 pessoas registradas que encheram suas varandas e
jardins em Montevidéu com a inconfundível planta. Os pés de maconha são tão visíveis que agora o problema são
os roubos em época de colheita. “Antes nos escondíamos da polícia e
agora dos ladrões”, brinca Laura Blanco, diretora do centro de cannabicultores
Gaia. Os clubes cannábicos criados também não ocasionaram problemas. Esses
grupos de consumidores se organizam que jardineiros cultivem para todos. Para
ser sócio, cada integrante paga cerca de 100 dólares por mês (aproximadamente
320 reais), e, em troca, recebe os 40 gramas permitidos por lei, 480 gramas
anuais. “Até o momento retiramos pelo menos 12.000 pessoas do mercado ilegal.
Isso já é um êxito. E continuaremos expandindo nossos resultados”, afirma
Calzada, idealizador da lei.
“Foi difícil se organizar para
fazer uma colheita constante, mas agora tudo funciona perfeitamente.
Conseguimos que nenhum de nossos sócios dependa do mercado negro, é uma mudança
histórica no Uruguai e no mundo”, conta Martín Gaibisso, fundador de um dos
primeiros clubes cannábicos. No Uruguai já começa a haver maconha de alta
qualidade por todos os lugares. Usuários fumam nos parques, às margens do Rio
da Prata, e nas mesas exteriores dos restaurantes, o consumo foi completamente
normalizado. Devagar, sem pressa, ao estilo uruguaio, o país está mostrando ao
mundo as consequências de aplicar outra política com relação às drogas leves.
O seguinte passo, com o qual
muitos já sonham, é se converter em uma potência do cultivo da maconha com fins
medicinais, e não recreativos, um grande negócio mundial, já que vários países,
também na América Latina, estão aprovando a comercialização da planta para esse
uso. O atual Governo, do médico oncologista Tabaré
Vázquez, é muito mais moderado do que o de Mujica – embora pertençam
à mesma coalizão política –, e resiste a ir mais longe. No entanto, o consenso
existente sobre o tema da legalização fez com que ele não se animasse a barrar
a lei. Apenas atrasou a venda em farmácias, que agora já está por começar. A
maconha vendida nas farmácias será mais suave do que aquela que se cultiva em
casa, para evitar inconvenientes para consumidores esporádicos. Ainda assim,
será uma versão mais forte e muito superior ao “prensado paraguaio” que se
vende ilegalmente nas ruas.
“Nossa maconha terá um THC de 7%. Poderíamos
ter chegado a 20%, mas está bem assim. A droga vendida nas farmácias terá como
público principal consumidores pouco frequentes, jovens ou idosos que queiram
usá-la para combater dores. Isso é um lucro enorme para minha geração, que
cresceu na ditadura, quando uma pessoa era presa por fumar um baseado. A chave
para que o Uruguai possa chegar a ser um líder mundial agora é desenvolver a
maconha medicinal”, afirma Gastón Rodríguez, acionista de Symbiosis, uma das
duas empresas uruguaias designadas pelo Governo para colher duas toneladas
anuais de maconha. Além disso, Rodríguez é representante regional de
Medropharm, uma empresa suíça que busca introduzir a cannabis medicinal em toda
a região.
Rodríguez e sua equipe possuem,
armazenada e empacotada, uma grande quantidade de maconha, em caixas de 5 e 10
gramas, à espera da ordem para levá-la às farmácias. No total, 4.000 pessoas se
registraram para comprá-las, mas se estima que muitas mais o façam depois de
que o processo tenha início.
“Começaremos na primeira quinzena
de julho”, confirma Diego Olivera, secretário geral da Junta Nacional de
Drogas, órgão especializado do Governo. “A droga tem uma desenvolvimento
genético exclusivo para tranquilizar nossos vizinhos. Assim, se chegassem a
encontrar droga do Uruguai em qualquer outro país seria possível identificá-la
rapidamente, é inconfundível. No entanto, não acreditamos que isso chegue a
acontecer, está muito bem controlada a quantidade de maconha que pode ser
comprada. Estabelecemos padrões de segurança similares aos do sistema
financeiro. Muitos países nos estão consultando, como o Canadá, por exemplo. A
proibição da droga não atingiu seus objetivos, por isso, muitos governantes
estão buscando alternativas”, explica.
A lei que determina a legalização
da maconha conta com poucas críticas. A principal resistência veio,
precisamente, do atual presidente, Tabaré Vázquez, que ao final se rendeu ao
fato de que já não podia mais atrasar o processo. Tudo está sendo feito sem
estridências, ao estilo local. “Demonstramos que somos um país sério, no qual o
Estado consegue controlar esse tipo de coisas. Mujica entrará para a história
por sua iniciativa. Daqui a 30 anos o consumo legal da maconha será visto como
algo normal em muitos países. O Uruguai conseguiu recuperar, dessa forma, sua
tradição de vanguardista liberal”, garante Eduardo Blasina, responsável pela
criação do museu da cannabis em Montevidéu, que possui em seu jardim, além de
enormes pés de maconha, alguns de peiote. Tudo acontece com normalidade, como
só os uruguaios sabem fazer. Por isso, uma revolução silenciosa como essa não
poderia ter começado em outro” Fonte: https://brasil.elpais.com/