OPERAÇÃO CARNE FRACA, por Theodiano Bastos
A Polícia Federal e os procuradores,
em ações dentro e fora da Lava-Jato, têm
feito muito mais do que fez em toda sua história anterior, mas também errou,
sobretudo, na divulgação espetaculosa, açodada e desastrada da Operação Carne
Fraca, em entrevista coletiva em que o delegado Maurício Moscardi Grillo
sugeriu, segundo VEJA, ao país e ao mundo que a carne brasileira, quase toda
ela, estava deteriorada e imprópria para o consumo humano.
Segundo J.R.GUZZO, articulista de V EJA (29/03/17), parece existir, cada vez mais agressiva,
falanges inteiras de procuradores, juízes e policiais. “O Brasil, para eles, é uma grande Odebrecht, símbolo
indiscutível de corrupção nas empresas – de um jeito ou de outro, acreditam que
toda empresa brasileira é assim e que para acabar com os corruptos é preciso
acabar com as empresas. Vamos aí na direção contrária à dos países
bem-sucedidos.
Poucas operações da polícia e do
Judiciário brasileiros foram tão incompetentes quanto essa – a ponto de a própria PF reconhecer, mais
tarde, que houve “falhas” no trabalho dos agentes”. O próprio juiz federal Marcos
Josegrei da Silva, de Curitiba, criticou a deturpação de sua decisão
Uma coisa é uma coisa...
De acordo com o juiz
responsável pela Operação Carne Fraca, os laudos técnicos do processo
judicial demonstraram que os produtos estavam “em desacordo” com a lei e
não impróprios para consumo, diz o Diário do Poder
'Espetáculo' da Carne Fraca causou prejuízos para o país, avalia Temer
Presidente concedeu entrevista ao jornalista
Roberto D'Ávila, da GloboNews. Após operação ser deflagrada, diversos países,
como a China, anunciaram embargo à carne brasileira.
por G1,
Brasília, 22/03/2017
Roberto D'Ávila: Temer minimiza
críticas e fala que quer ser 'reconhecido lá na frente'
O presidente Michel Temer afirmou
em entrevista gravada na tarde desta quarta-feira e levada ao ar à noite no
programa do jornalista Roberto D'Ávila, na GloboNews, que o
"espetáculo" da Operação
Carne Fraca causou prejuízos para o país.
No início desta semana, ao
discursar em um evento em Brasília, o presidente considerou
"insignificantes" os números revelados pelas investigações e disse
que o "grande
alarde" da PF causou "embaraço" econômico para o Brasil.
Deflagrada pela Polícia Federal
na semana passada, a operação investigou o envolvimento de fiscais do
Ministério da Agricultura em um esquema
de liberação de licenças para frigoríficos sem a devida fiscalização. Ao
todo, 33 servidores da pasta foram suspensos e 21 frigoríficos, investigados.
Desde que a operação foi
deflagrada, diversos países, como a China, Hong Kong, Japão, Suíça e México anunciaram
embargo à carne brasileira, seja de maneira geral ou somente às carnes
produzidas pelos frigoríficos investigados.
"Não estamos aqui dizendo
que, se houver irregularidade, não tem que ser punida, ao contrário. Isso
[espetáculo] que não fez bem porque gerou um problema internacional. Eu próprio
fui muitas vezes para a China [...] e conseguimos introduzir a carne na China
pouco a pouco, foi uma luta, não só minha, uma luta de mais [de] 20, 30
anos", afirmou o presidente.
"De repente, faz-se um
espetáculo com este episódio e cria um problema internacional. Nós exportamos
para a China quase US$ 2 bilhões por ano e a China suspendeu agora [a
importação da carne brasileira] por uma semana apenas, e apenas relativamente
aos 21 frigoríficos [alvos da operação da PF]", completou Michel Temer.
Em 2016, segundo dados do governo
federal, a China importou US$ 1,75 bilhão em carne brasileira e Hong Kong, US$
1,5 bilhão.
Ao ser questionado sobre se, em
razão desse "espetáculo" da operação, cogitava trocar o atual
diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, Temer disse não ver razão
para isso.
Entidade defende operação
Na segunda (20), diante de
críticas de representantes do governo e do setor agropecuário à Operação Carne
Fraca, a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) divulgou uma nota
na qual afirmou que há uma "orquestração
para descredenciar as investigações de uma categoria que já provou merecer
a confiança da sociedade."
"A Operação Carne Fraca é de
suma importância, uma vez que as empresas e servidores públicos envolvidos
negligenciaram de forma grave a saúde dos consumidores", acrescentava a
entidade na nota.
Um dos principais argumentos do
governo desde que a operação foi deflagrada é que, dos mais de 11 mil
servidores do Ministério da Agricultura, somente 33 se envolveram no esquema
investigado pela PF e, das 4,8 mil plantas frigoríficas, 21. Fonte:
http://g1.globo.com/ 22/03/17
Ação exagerada
Após
críticas de delegado à "carne fraca", PF recua e fala em problema
pontual
Repercutiu com força a declaração do presidente da Associação Nacional
dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, de que a PF
teria errado no modo como divulgou para a imprensa e para a sociedade a
operação carne fraca.
Já no final da tarde de terça-feira (21/3), a direção da Polícia Federal
soltou uma nota em conjunto com o Ministério da Agricultura afirmando que não
se trata de um problema sistêmico.
Os delegados da PF estão reunidos
em congresso da ADPF em Florianópolis, onde o informe foi interpretado como um
recuo. Um delegado com notória liderança na classe disse que “já tinha
demorado” para o comando da PF dar a mão à palmatória.
A afirmação de Sobral foi feita
na segunda-feira (20/3), primeiro dia do congresso da associação nacional da
categoria, em Florianópolis. Para ele, ficou evidente que havia corrupção de
fiscais e problemas em frigoríficos.
“Mas isso foi um problema
sistêmico? Não vi os colegas da operação dizendo isso. Mas quando se coloca que
foi a maior em operação da história da polícia leva ao entendimento de que é
algo muito maior do que pode ser na prática", disse.
“Embora as investigações da
Polícia Federal visem apurar irregularidades pontuais identificadas no Sistema
de Inspeção Federal (SIF), tais fatos se relacionam diretamente a desvios de
conduta profissional praticados por alguns servidores e não representam um mau
funcionamento generalizado do sistema de integridade sanitária brasileiro”, diz
a nota conjunta da PF e do Ministério da Agricultura.
O delegado da PF responsável pela
segurança nos Jogos Olímpicos, Andrei Augusto Passos Rodrigues, disse em
entrevista à ConJur que a
“comunicação social da entidade é um dos pilares para informar bem sobre as
operações e evitar qualquer efeito colateral indesejado”, mas não entrou em
detalhes sobre a operação carne fraca.
Luiz Roberto
Ungaretti de Godoy, delegado da PF com maior experiência em operações de
combate ao narcotráfico, ressaltou que a “questão da comunicação das grandes
operações, aquelas que têm um contexto político e econômico enorme como essa
[carne fraca], muitas vezes geram essas polêmicas. A gente percebe que toda vez
que a operação lida com elementos de corrupção, qualquer palavra pode gerar uma
grande repercussão. Mas PF tem que divulgar seu trabalho e a sociedade demanda
isso”.
Ministros criticam
O modo estridente como a PF divulgou a investigação contra frigoríficos e fiscais foi também tema de declarações de ministros do Supremo Tribunal Federal. O ministro Dias Toffoli, chamou de “pirotecnia” o modo de divulgar a operação. "Se todos comêssemos carne podre não estaríamos em sessão, mas no hospital".
O modo estridente como a PF divulgou a investigação contra frigoríficos e fiscais foi também tema de declarações de ministros do Supremo Tribunal Federal. O ministro Dias Toffoli, chamou de “pirotecnia” o modo de divulgar a operação. "Se todos comêssemos carne podre não estaríamos em sessão, mas no hospital".
Em sessão da 2ª
Turma, o ministro Gilmar Mendes foi enfático: “Um delegado decide fazer uma
operação, a maior já realizada no Brasil, para investigar a situação de carnes
e anuncia que estaríamos comendo carne podre e que o Brasil estava exportando
para o mundo carne viciada. Por que ele fez isso? Porque num quadro de debilidade
da política, não há mais anteparo, perderam os freios, não há mais freios e
contrapesos". Fonte: http://www.conjur.com.br/ 22/03/17