DONALD TRUMP: DEUS SALVE A AMÉRICA
“O perigo em
tempos de crise é que busquemos um salvador”
Na sexta-feira, enquanto
Donald Trump tomava posse em Washington, o papa Francisco concedia
no Vaticano
uma longa entrevista ao EL PAÍS, em que pedia prudência ante os alarmes
acionados com a chegada do novo presidente dos Estados Unidos – “é
preciso ver o que ele faz; não podemos ser profetas de calamidades” –, embora
advertindo que, “em momentos de crise, o discernimento não funciona” e os povos
procuram “salvadores” que lhes devolvam a identidade “com muros e arames
farpados”.
Durante
uma hora e 15minutos, num aposento simples da Casa de Santa Marta, onde mora,
Jorge Mario Bergoglio, que nasceu em Buenos Aires há oito
décadas e caminha rumo ao quarto ano de pontificado, afirmou que “na Igreja há
santos e pecadores, decentes e corruptos”, mas que se preocupa sobretudo com
“uma Igreja anestesiada” pelo mundanismo, distante dos problemas das pessoas. Noticia o
El País 22/01/17
Autoritarismo
de Trump pode causar tremendos problemas ao Brasil
Com tom agressivo, novo presidente
norte-americano elevou o patriotismo a uma espécie de religião e pode
prejudicar a América Latina, afirma o colunista Clóvis Rossi Trump evoca um passado sombrio
"Deutschland über alles" (a Alemanha acima de tudo) era a música de fundo do nazismo. É assustador que, 65 anos depois que a Alemanha retirou a estrofe de seu hino nacional, o presidente de uma nação ainda mais poderosa do que qualquer outra reponha esse grito de guerra do nacionalismo."America first", gritou Donald John Trump ao assumir a Presidência nesta sexta-feira (20), confirmando o tom agressivo e autoritário de seus discursos de campanha.
É igualmente assustador que Trump tenha elevado o patriotismo a uma espécie de religião, quando o pensador britânico Samuel Johnson (1709/84) já havia dito: "O patriotismo é o último refúgio dos canalhas".
Tudo somado, difícil discordar do mega-investidor George Soros quando ele diz que Trump é um "aprendiz de ditador".
Minha sensação pessoal é a de que Trump jamais concluirá o curso, porque os Estados Unidos têm a maravilhosa tradição de fazer troca de presidente a cada quatro anos (a menos que um deles seja reeleito) desde 1789, como lembrado, de resto, na cerimônia de posse.
Parece inviável, portanto, que uma ditadura seja aceita pelo tal de povo, outra palavra com que o presidente encheu a boca, escandindo as palavras "the real people" - o que todo populista que se preze sempre fez em qualquer país.
O autoritarismo de Trump, em todo o caso, se de fato levado a efeito, se de fato buscar sempre a "America first", pode causar tremendos problemas para a América Latina e para o Brasil, que ninguém se engane.
A Americas Society/Council of the Americas, dedicada às relações Estados Unidos/América Latina, acaba de divulgar preciso levantamento das posições de alguns dos secretários escolhidos por Trump a respeito do subcontinente - região, aliás, que esteve completamente ausente durante a campanha, fora México e Cuba.
O novo US Trade Representative, Robert Lighthizer, responsável por negociações comerciais globais, por exemplo, apontou o Brasil como "o mais consistente violador das leis comerciais norte-americanas". Foi em depoimento ao Senado em 2007, mas parece improvável que tenha mudado de ideia nos 10 anos transcorridos.
Já o secretário de Segurança Interna, o general John Kelly, em depoimentos também ao Senado, cansou-se de expressar preocupação com o envolvimento do grupo libanês Hezbollah, do Irã e de "grupos extremistas islâmicos" em países como Argentina, Brasil, Paraguai e Venezuela.
Não custa lembrar que Trump, no discurso de posse, prometeu erradicar da face da Terra os grupos radicais islâmicos.
Os Estados Unidos têm uma longa e antiga história de intervencionismo em assuntos internos de outros países, em especial da América Latina. Torna-se um pesadelo, pois, imaginar que Trump está ressuscitando um tipo de nacionalismo/patriotismo carregado de autoritarismo, quando parecia sepultado pela vitória do capitalismo na guerra fria.
Falta acrescentar o potencial de conflitos com outros países fora da América Latina, capazes de perturbar seriamente a economia global.
Virão, pois, tempos de emoções fortes. As primeiras são as piores possíveis.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br 21/01/17
Autoritário e impopular, Donald Trump é ameaça à democracia
As instituições políticas americanas estão entre as mais sólidas do mundo, mas a atitude intolerante do presidente é perigosa para o equilíbrio dos poderes
Por
Nathalia Watkins 0
“Um novo orgulho nacional vai nos mover,
levantar nosso olhar e curar nossas divisões”, disse o novo presidente dos
Estados Unidos, Donald
Trump, em seu discurso de posse, na sexta-feira. As palavras do
republicano em Washington, porém, não condizem com seus atos. Com personalidade
agressiva e intolerante, o 45º presidente mostra traços autoritários
e já começa o mandato como o mais impopular da história americana. Como
será que as instituições nacionais conseguirão resistir a Trump no exercício do
poder? Em VEJA desta semana, entenda as atitudes do magnata que, de
ataques à imprensa até conflitos de interesse, já começam a ameaçar a maior
democracia do mundo. VEJA 21/01/17
“Aprovação de Trump cai para 40% a quatro dias da posse
Índice é o mais baixo entre os últimos três presidentes dos
EUA — 44 pontos a menos do que Obama”
'Deus pode triunfar sobre Trump', diz filha de Martin Luther King
Republicano prestes a tomar posse teve apenas 8% dos votos
do eleitorado negro” Folhe de São Paulo,
17/01/17
Declarar Trump presidente
ilegítimo é ato de patriotismo
Isto é Donald Trump por Paul Krugman
(Prêmio Nobel de Economia (2008), é um dos mais renomados
economistas da atualidade. É autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200
artigos científicos publicados.)
“Quando jovem, o deputado federal
John Lewis, que representa a maior parte da cidade de Atlanta, colocou sua vida
em risco na busca da justiça. Líder crucial do movimento pelos direitos civis,
ele sofreu múltiplas agressões.
Na mais famosa dessas ocasiões,
Lewis estava liderando a manifestação que veio a ser conhecida como Bloody
Sunday e teve seu crânio fraturado em um ataque por um grupo de policiais
estaduais. A indignação pública quanto à violência daquele dia ajudou na
aprovação da Lei dos Direitos Eleitorais. Agora, Lewis diz que não comparecerá
à posse de Donald Trump, que ele considera como presidente ilegítimo.
Como seria de esperar, a
declaração provocou reação histérica e caluniosa do presidente eleito —que, é
claro, começou sua carreira política ao questionar, repetida e mentirosamente,
o direito do presidente Barack Obama a ocupar o posto. Mas Trump —que jamais
sacrificou coisa alguma ou assumiu riscos para ajudar os outros— parece sentir
hostilidade especial para com os verdadeiros heróis. Talvez ele prefira
manifestantes que não terminam espancados?
Mas não vamos falar sobre os
desvarios de Trump. Em lugar disso, perguntemos se Lewis tinha o direito de
dizer o que disse.É aceitável, em termos morais e políticos, declarar ilegítimo
o homem que está a ponto de se mudar para a Casa Branca?
Sim, é. Na verdade, é um ato de
patriotismo.
Sob qualquer padrão sensato, a
eleição de 2016 foi profundamente questionável. Não se trata apenas dos efeitos
da intervenção russa em favor de Trump. Hillary Clinton quase certamente teria
vencido se o FBI (Polícia Federal americana) não tivesse difundido a falsa
impressão de que tinha em seu poder novas informações negativas sobre ela,
apenas alguns dias antes da votação. Foi um delito de conduta grotesco, um ataque
à legitimidade, especialmente se comparado à recusa da agência em discutir a
conexão russa.
Será que as coisas vão ainda além
disso? A campanha de Trump coordenou ativamente as suas atividades com uma
potência estrangeira? Será que uma cabala no FBI deliberadamente retardou as
investigações sobre essa possibilidade? As histórias lúridas sobre as aventuras
de Trump em Moscou serão verdade? Não sabemos, ainda que a repulsiva
subserviência de Trump a Vladimir Putin torne difícil descartar essas
acusações.
Mas mesmo se levarmos em conta
apenas aquilo que sabemos ao certo, nenhum presidente eleito anterior teve
menos direito ao título, nos Estados Unidos. Assim, por que não questionaríamos
a legitimidade dele?
E falar com franqueza sobre a maneira pela qual Trump chegou ao poder não só cumpre o dever de dizer a verdade mas pode ajudar a limitar esse poder.
E falar com franqueza sobre a maneira pela qual Trump chegou ao poder não só cumpre o dever de dizer a verdade mas pode ajudar a limitar esse poder.
Se ao menos o próximo comandante
em chefe demonstrasse pelo menos um traço de humildade, de compreensão de que
seu dever perante a nação requer algum respeito à forte maioria de
norte-americanos que votaram contra ele a despeito da interferência russa e da
desinformação do FBI... Mas ele não o faz e nem fará.
Em lugar disso, está saindo ao
ataque e ameaçando toda e qualquer pessoa que o critique, e se recusa até a
admitir que foi derrotado no voto popular. E está se cercando de pessoas que
compartilham de seu desdém por tudo que há de melhor nos Estados Unidos. O que
estamos contemplando, muito claramente, é uma caquistocracia norte-americana —o
domínio pelos piores.
O que pode ajudar a restringir
esse domínio? Bem, o Congresso ainda tem muito poder para cercear o presidente.
E seria agradável imaginar que existam legisladores dotados de espírito público
em número suficiente para desempenhar esse papel. Em particular, basta que
existam três senadores republicanos dotados de consciência e muito poderia ser
feito para proteger os valores norte-americanos.
Mas seria muito mais provável que
o Congresso decidisse resistir a um Executivo autoritário e descontrolado se os
seus membros perceberem que pagarão o preço político caso facilitem as ações
dele.
O que isso significa é que Trump
não deve ser tratado com deferência pessoal simplesmente por conta da posição
que conseguiu tomar. Não devemos conceder a ele o uso da Casa Branca como
palanque para intimidação. Não devemos autorizá-lo a se revestir da majestade
do posto. Tendo em vista o que sabemos sobre o caráter do sujeito, fica bem
claro que lhe conferir respeito que ele não merece só o levará a se comportar mal.
E lembrar às pessoas sobre a
maneira pela qual ele chegou ao posto é uma ferramenta importante para impedir
que receba respeito que não merece. Lembre-se: dizer que a eleição foi
questionável não é calúnia ou uma insana teoria da conspiração: é simplesmente
a verdade.
É certo que qualquer pessoa que
questione a legitimidade de Trump terá seu patriotismo impugnado - porque é
isso que as pessoas da direita sempre dizem quando alguém critica um presidente
republicano. (Estranhamente, eles nada dizem sobre ataques a presidentes
democratas.) Mas patriotismo significa defender os valores de um país, e não
prometer lealdade pessoal ao Querido Líder.
Não, contestar a legitimidade de
resultados eleitorais com os quais discordamos não deve se tornar um hábito. Mas
o caso atual é excepcional, e precisa ser tratado dessa maneira.
Assim, devemos ser gratos a John
Lewis por ter tido a coragem de se pronunciar. Foi a coisa patriótica e heroica
a fazer. E os Estados Unidos precisam de heroísmo dessa espécie, agora mais que
nunca”. Tradução de PAULO MIGLIACCI Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ 16/01/17