terça-feira, 22 de abril de 2025

Por que Papa Francisco nunca voltou à Argentina em 12 anos de papado

 


Por THEODIANO BASTOS

"Não perdoo o papa por ter se encontrado e tirado fotos com políticos condenados pela Justiça", diz Hugo, de 72 anos, um argentino católico fervoroso e fervorosamente antikirchnerista, referindo-se às duas sentenças de corrupção contra Kirchner e outras autoridades de seu entorno que também foram recebidos pelo pontífice.

Muitos argentinos criticaram o papa por sua suposta proximidade com Cristina Kirchner

Segundo Vera, o papa se encontrou com pessoas "de todo o espectro político e social da Argentina", incluindo Macri e Milei.

Para o ativista, é preciso levar em conta que a doutrina peronista está enraizada na doutrina social da Igreja, por exemplo, em conceitos como justiça social, que é fundamental tanto para os peronistas quanto para os jesuítas, ordem religiosa à qual Francisco pertencia.

Nesse sentido, Vera acredita que "há um setor da sociedade argentina que não era tão resistente ao papa quanto era à própria doutrina social da Igreja".

Um de seus detratores, o congressista libertário José Luis Espert, acusou Francisco de ser "um grande defensor da pobreza que se sente muito confortável com uma Argentina miserável".

Mas muitos outros, ao contrário, celebraram o fato de que o papa queria "uma Igreja pobre para os pobres" e que ele pregava pelo exemplo, mantendo uma vida simples e sem luxo.

"O Papa Francisco tem sido um exemplo de humildade, comprometimento e justiça social, trazendo uma mensagem de paz em tempos de confronto, lembrando a todos da importância da solidariedade e do respeito (...). O mundo precisa de mais vozes como a dele", declarou o líder social Toty Flores nas redes sociais.

Um 'papa do mundo'

Flavio Buccino, diretor da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa da Cidade de Buenos Aires, destacou em sua conta no X que, dos últimos papas, Francisco foi "o único que não retornou à sua terra de origem".

"Na política, alguns comemoram. Outros, nem tanto. Todos ficarão aliviados: de certa forma, Francisco [era] um 'problema' para todos. Isso diz mais sobre nós do que sobre ele", opinou.

Da mesma forma, Vera ressalta que "em vez de culpar Francisco [por não vir], nós, argentinos, deveríamos nos perguntar o que estávamos fazendo que não merecíamos a visita do papa".

O amigo de Francisco também destaca que, embora houvesse alguma resistência à figura de Bergoglio na imprensa e nos grandes centros urbanos, ele era adorado na periferia do país.

"Eu percorro todo o país e o interior profundo tinha um enorme amor por ele. A grande maioria dos pobres, trabalhadores, assalariados, admirava o papa e não o recriminava por não vir à Argentina", conta.

Embora não tenham discutido o assunto especificamente, Vera acredita que Francisco estava planejando uma visita ao seu país como um ato final de seu papado.

"Ele não me contou, mas acho que estava reservando a reta final de seu magistério para a Argentina, como se o país fosse a estação terminal de sua longa jornada."

No entanto, ele garante que o próprio Bergoglio não sofreu pelo fato de nunca poder retornar à sua terra natal.

"Ele estava muito feliz por ser papa, porque sentia que podia ajudar. Ele ajudou a impedir muitas guerras, a mitigar enfrentamentos e a prevenir conflitos em muitas partes do mundo. Ele estava cumprindo a missão da sua vida", diz ele.

Embora "tivesse mantido sua conexão com a Argentina o tempo todo", ele diz, Francisco não sentia mais que pertencia a apenas um país.

"Os argentinos acreditam que ele era argentino, mas na realidade ele já fazia parte do mundo."

Nisso ele concorda com o atual arcebispo de Buenos Aires, Jorge Ignacio García Cuerva — nomeado pelo papa em 2023 — que deu a mesma ênfase ao fato de que seu antecessor, desde o momento de sua eleição, não pertencia mais apenas à sua terra, algo que nem sempre foi fácil para seus compatriotas entenderem:

"Nós, argentinos, muitas vezes não deixamos Bergoglio ser Francisco."

FONTE: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c62g0qmm5e4o

Um comentário:

  1. Sílvio Moraes ES: O radicalismo de uma pessoa, com Sr. Hugo, leva as pessoas a condenar os outros hoje , por ter sido amigo de uma pessoa no passado e que foi condenada hoje.

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