quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS, JUDEUS E PALESTINOS



JOSÉ MARQUES - EM GUSH ETIZION (CISJORDÂNIA) 

Membro de uma família ligada ao líder palestino Yasser Arafat (1929-2004), Khaled Abu Awwad, 50, achava que a solução para o conflito com Israel era "atirar os judeus ao mar e devolvê-los ao lugar de onde vieram".
Ele mudou depois de entrar em contato com o "outro lado". Hoje, é amigo de um rabino e defende a convivência pacífica dos dois povos.
José Marques/Folhapress
O judeu Hanan Shlezinger e o árabe Khaled Abu Awwad na sede da ONG onde acontecem os encontros
Khaled vive na Cisjordânia e desde 2014 participa de reuniões em que árabes e judeus contam suas histórias, trocam experiências e discutem a relação.
Os encontros acontecem na região do assentamento judaico de Gush Etzion e são organizados pela ONG Roots, fundada por seu irmão, Ali Abu Awwad.
Os dois lutaram na primeira Intifada (levante palestino contra Israel), nos anos 1980. Até 1993, Khaled foi detido 18 vezes e ficou preso um ano e meio. Já Ali esteve na prisão por sete anos.
Um terceiro irmão, Youssef, foi morto por soldados israelenses no ano 2000. A morte fez os Awwad refletirem sobre soluções para a situação em que viviam.
"Entendíamos que voltar ao caminho da violência não ia levar a nada e, também não tínhamos a força para seguir nesse caminho. Muita gente da Palestina começou a falar: Por que não se encontram com gente do outro lado?", relembra Khaled.
Nessa busca, eles conheceram o rabino Hanan Shlezinger, 59. Como os Awwad, Shlezinger passou a maior parte da vida indisposto a encontrar os rivais no conflito.
O rabino nasceu nos Estados Unidos e foi viver na Cisjordânia —lugar que ele chama de Judeia e Samaria— porque acredita que ela é a terra prometida. Passou 33 anos no local sem nunca ter conversado com um árabe.
"Eu não via os palestinos que viviam aqui. Para mim eram transparentes, eram figurantes. Há quase três anos comecei a me dar conta de que eu estava equivocado", afirma Shlezinger.
Ele foi convidado para reunião em que se encontraram palestinos e colonos judeus. No local, conheceu Ali e ouviu pela primeira vez o termo "ocupação israelense" e que "a vitória de Israel é a tragédia da Palestina". Entrou em "confusão existencial".
"Eu ficava confuso e enojado de escutar o que Ali dizia. Eu pensava: 'Sou parte da cristalização do sonho dos profetas, da construção de um Estado judeu depois de 2.000 anos'", disse o rabino. "Cheguei em casa e me senti muito envergonhado."
"Durante dias, semanas, meses, pensei comigo mesmo: 'Como pode ser isso, como pode ser que haja uma realidade tão diferente da minha que eu não podia ver?'. Se é verdade que há uma tragédia e que o povo da Palestina sofre, a culpa é minha."
Ele passou a ser um dos membros mais ativos do grupo e acreditar que o conflito só terá solução quando as duas partes se conhecerem.
ASSENTAMENTOS
Gush Etzion é conhecida por áreas com grande fluxo de trânsito de árabes e colonos judeus e pelo histórico de violência.
Entre 2015 e 2016, houve mais de dez ataques ou atentados com mortes em entroncamento da região.
É próximo a esse entroncamento, em casa de um cômodo que pertenceu ao pai dos Awwad, que reuniões acontecem a cada duas semanas.
Atualmente, a cada reunião vão cerca de 40 pessoas, dos dois lados —segundo os organizadores, nunca são as mesmas. Recentemente, foi inaugurado um grupo apenas para mulheres.
Shlezinger diz que, antes de uma solução política, é necessário que os dois povos passem pelo que chama de "terapia coletiva" para reconhecer "a humanidade e o direito do outro povo".
"Estamos preparando terreno para qualquer acordo político futuro", afirma.Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ 29/12/16

Israel tem que escolher entre colônias e democracia, por clóvis rossi


Mahmoud Illean - 20.set.2016/Associated Press


28/12/2016 16h32
Israel tem que escolher entre os assentamentos que mantém (e amplia) em territórios palestinos e preservar suas duas principais características (um Estado judeu e democrático).
"Não pode ter ambas", decretou John Kerry, o secretário de Estado dos Estados Unidos, o maior aliado de Israel, transformando em institucional uma avaliação que é corrente entre analistas independentes, não contaminados pelo radicalismo que é uma característica básica do Oriente Médio.
A lógica que Kerry assumiu é fácil de enunciar: como ele próprio disse, há hoje tantos habitantes árabes como judeus no pequeno território que Israel e palestinos deveriam dividir, se respeitada a resolução da partilha que a ONU adotou em 1948.
Se Israel continuar a dificultar a solução clássica "dois Estados para dois povos" e mantiver a tendência de criar no terreno fatos que conduzam a um único Estado, logo os palestinos se tornariam a maioria, pelo maior índice de natalidade em relação aos judeus.
Se esse Estado único for democrático, a maioria (palestina) mandaria e ele deixaria de ser judeu. Para preservar o caráter judeu, teria que cercear os direitos dos palestinos, inclusive o direito ao voto –com o que Isreael deixaria de ser democrático.
O longo pronunciamento de Kerry repetiu afirmações e posições adotadas ao longo dos anos por sucessivas administrações norte-americanas, mas seu eixo ficou claramente centrado em defender a necessidade dos dois Estados, a "única solução viável".
Kerry deixou claro que essa saída está ameaçada em especial pela expansão das colônias israelenses em territórios palestinos.
A ameaça, de resto, foi explicitada por Naftali Bennett, líder do partido ultranacionalista Bait Yehudi (Lar Judaico), representante dos colonos, logo após a vitória de Donald Trump na eleição norte-americana.
Bennett deu então por sepultada a tese dos dois Estados. A escolha de David Friedman para embaixador de Trump em Israel só fez reforçar essa impressão: Friedman não só defende as colônias como quer que a embaixada dos Estados Unidos se transfira para Jerusalém, deixando Tel Aviv (cidade em que a ONU determinou que todas as embaixadas se instalem).
Israel considera Jerusalém sua capital eterna e indivisível. Kerry, no entanto, lembrou que o status de Jerusalém terá que ser definido em um acordo de paz abrangente e que os palestinos têm a legítima aspiração de ver sua capital instalada em Jerusalém oriental (de maioria palestina).
O discurso de Kerry é a mais contundente manifestação de repúdio à solução de um só Estado e, ao mesmo tempo, a mais angustiada indicação de como a tese está prosperando velozmente.
O secretário de Estado admitiu, francamente, que a nova administração, a de Trump, tem pontos de vista diferentes em relação a Israel/Palestina. Logo, tudo pode mudar a partir de 20 de janeiro quando Trump assumir.
Mas Kerry tem razão quando diz que ninguém até agora apresentou uma "alternativa viável" para pôr fim ao conflito entre israelenses e palestinos, que, de resto, só tenderia a se agravar se Israel encampar a tese de seus radicais. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi 28/12/16


segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

JUSTIÇA DO TRABALHO, MAIS DE 3 MILHÕES DE AÇÕES EM 2016



Mais de 3 milhões de ações chegam à Justiça do Trabalho em 2016
Minirreforma trabalhista apresentada pelo governo neste fim de ano pode reduzir as queixas
A Justiça do Trabalho deve contabilizar em 2016 mais de 3 milhões de novas ações, o que reforça o status do Brasil de país com o maior número de reclamações trabalhistas. 

A minirreforma trabalhista apresentada pelo governo neste fim de ano pode, contudo, reduzir as queixas, pois muitos dos argumentos usados nas ações, oriundos de acordos coletivos não reconhecidos pelo Judiciário, passarão a ser lei.
Com isso, a chamada “indústria de reclamações”, como define o professor da USP, Hélio Zylberstajn, será enfraquecida. Atualmente, além da crise que fez crescer as demissões – e com elas as demandas judiciais -, há forte assédio de escritórios de advocacia para que o trabalhador recorra à Justiça. Com telefonemas para a residência, envio de e-mails, presença nas portas das fábricas e distribuição de panfletos, esses escritórios argumentam que sempre há formas de ganhar uma ação, ainda que parcialmente. Os advogados ficam com 20% a 30% do valor recebido na ação.
Segundo o próprio ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Martins Filho, sempre que o trabalhador vai à Justiça, ganha alguma coisa. Para o professor de Direito do Trabalho da USP Nelson Manrich, muitos juízes veem as ações como forma de “corrigir injustiças” ao manter visão negativa das empresas.
A Volkswagen, que emprega 18 mil pessoas, é uma das empresas mais acionadas na Justiça, com cerca de 30 mil processos. Entre eles, há funcionários pedindo indenização por lavarem os uniformes. Movida pelo Ochsenhofer Aleixo Advogados, a ação alega gastos com água, sabão, energia e mão de obra. Pede para cada funcionário R$ 12 mil pelo serviço nos últimos cinco anos. Martha Ochsenhofer, sócia do escritório, justifica que “não pode ser transferida ao funcionário a obrigação de manter limpo um uniforme que é obrigado a usar”.
Bancos
Juntos, os cinco maiores bancos do País – Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú/Unibanco e Santander – respondem a cerca de 130 mil processos. Do total de R$ 17,4 bilhões pagos em ações trabalhistas em 2015, R$ 5,6 bilhões vieram dessas instituições.
O Itaú, por exemplo, foi condenado este ano a pagar R$ 3,9 milhões a uma ex-funcionária de uma rede de supermercados. O banco é emissor do cartão de crédito com a marca do varejista e ela vendia o produto em uma de suas lojas. A funcionária, que ganhava R$ 720 por mês, abriu ação contra o Itaú pedindo equiparação com o salário dos gerentes do banco. “A Justiça considerou o vínculo empregatício”, diz o diretor jurídico José Virgílio Vita. Em outro caso, um ex-funcionário alegou que trabalhava 12,5 horas por dia, de segunda a domingo, sem horário de almoço. Ganhou R$ 1,6 milhão em indenização por horas extras. “O juiz desconsiderou provas”, diz Vita.
Fonte: http://veja.abril.com.br/ 26/12/16

domingo, 18 de dezembro de 2016

ELEIÇÕES ANTECIPADAS, TEMER PODERIA NEGOCIAR



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"Temer poderia negociar eleições antecipadas"

Prioridade de Temer deveria ser pacificar o país, segundo o ex-senador Pedro Simon



Mas devemos lembrar que o presidente Temer conseguiu construir a maior e mais coesa base política da história recente, sem recorrer sistematicamente ao desbragado fisiologismo que caracterizou os governos petistas, o atual presidente tem apoio de 88% do Congresso.
 
Por Márcio Juliboni

Uma das vozes mais respeitadas no Senado entre 1991 e 2015, Pedro Simon avalia que os chefes dos três poderes são culpados pela atual crise política que exaspera o país.

Por isso, acredita que apenas um grande acordo entre as principais forças conseguiria pacificar o cenário. A iniciativa teria de partir do presidente Michel Temer e nada deveria ser descartado: inclusive antecipar a eleição de seu sucessor.

Leia os principais trechos da entrevista a O Antagonista:

O Antagonista: Vivemos uma crise política ou uma crise institucional?

Pedro Simon: Não chega a ser uma crise institucional, mas é mais que uma crise política. Essa briga entre o Congresso e o Judiciário é muito ruim. Primeiro, veio a decisão monocrática de um juiz do STF para afastar o presidente do Senado – algo que cabe apenas ao plenário da corte. Depois, outra decisão mandando os parlamentares reverem matérias já votadas. É, realmente, uma interferência muito grave.

O Antagonista: O Judiciário se defende, alegando que apenas julga aquilo que lhe é encaminhado. O STF diz que os políticos não se entendem e a corte é chama a arbitrar...

Simon: Os recursos parlamentares são normais, pois há sempre alguém se desentendendo no Congresso. Mas a Justiça precisa avaliar também as intenções por trás de cada recurso. O Judiciário não deve ser favorável a uma matéria, só porque um parlamentar o acionou.

O Antagonista: Como o senhor avalia a Lava Jato?

Simon: A Lava Jato está realmente indo fundo; está mexendo em tudo. O Brasil não é mais o país da impunidade. Pela primeira vez, há políticos de grandes partidos sendo punidos: do PT, do PMDB, do PSDB. A Lava Jato está cumprindo muito bem seu importante papel.

O Antagonista: Como o senhor avalia a situação de Temer?

Simon: Temer está numa posição muito delicada. Seu maior problema foi montar um ministério com gente comprometida com o que se investiga. Com o Itamar foi a mesma coisa. Quando estourou o escândalo dos anões do orçamento, o chefe da Casa Civil se demitiu...

O Antagonista: Mas a diferença é que Itamar não foi citado em uma delação premiada...

Simon: A Lava Jato está mexendo na política inteira. Ainda acho que o maior equívoco de Temer foi montar um ministério com pessoas que já se sabia que poderiam dar problema. Agora, mesmo que ele não monte um gabinete de notáveis, precisa encontrar nomes que estejam acima disso, mesmo que sejam indicados pelos partidos.

O Antagonista: Objetivamente, o senhor acredita que Temer chegará a 2018?

Simon: Acho que não será um ato de violência que o tirará do poder. Mas é preciso discutir uma forma de apaziguar o país. Essa conversa tem de ser uma iniciativa dele, com as demais lideranças políticas. E, se ele concordar, pode-se discutir até a antecipação das eleições.

Fonte: O Antagonista newsletter@oantagonista.com 18/12/16