Por THEODIANO BASTOS
Dona Lindu (Eurídice
Ferreira de Mello), é uma extraordinária lutadora, que conseguiu criar a
penca de oito filhos em meios às mais terríveis dificuldades.
Em 1952, ela partiu com seus sete filhos
num pau-de-arara, viagem de 13 dias até São Paulo, comendo só banana, rapadura
e farinha. Lula era o penúltimo dos irmãos, aquele que o pai, Aristides, deixou
na barriga da mulher e fugiu com uma prima dela, Dona Mocinha, de apenas 15
anos, em 1945, menos de um mês antes de ele nascer. O barraco da encruzilhada é
a lembrança que ficou da bodega do Tozinho, o comerciante amigo que abrigou
Dona Lindu e sua família, umas 12 pessoas, contando outros parentes, num
quartinho de depósito, enquanto o caminhão não aparecia.
Outros 10 irmãos de Lula são filhos de seu pai com a
segunda esposa, Mocinha prima de dona Lindu.
Lula era o
penúltimo dos irmãos, aquele que o pai, Aristides, deixou na
barriga da mulher e fugiu com uma prima dela, Dona Mocinha,
em 1945, menos de um mês de Lula nascer.
Lula se lembra da
separação dos pais como um momento de libertação. Seu Aristides agredia os
filhos, impedia os estudos da prole e agrediu Dona Lindu. E aí, para nós foi
ótimo. Nós ficamos em liberdade? A gente passou a viver melhor. Era uma pobreza
com liberdade. Então, a separação dos meus pais, no fundo, no fundo, foi uma
grande liberdade”.
Eurídice Ferreira de
Mello, mais conhecida como Dona Lindu, a mãe do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, furou o anonimato de uma vida humilde e heróica e conquistou a
popularidade pela constância com que é lembrada nos improvisos do filho
ilustre, especialmente desde que antecipou a campanha como candidato à
reeleição para escapar pela tangente da enxurrada de lama que escorre das
denúncias das CPIs dos Correios e do Mensalão, chega às portas do Palácio do
Planalto e respinga em seu gabinete, ultimamente tão pouco e mal frequentado.
Do pai, o presidente
pouco fala. Não temos entusiasmo, quando cunha as frases para o consumo do
povão, resgatou o pai do esquecimento uma única vez, para juntar os genitores
no reforço a ênfase: "Eu sou filho de pai e mãe analfabetos, o único
legado que eles me deixaram é andar de cabeça erguida, não vai ser a elite que
vai fazer eu baixar a cabeça".
Não se trata portanto,
de bisbilhotice buscar entender as razões da diferença de tratamento entre os
genitores pois, tudo o que possa ajudar a entender e decifrar o temperamento
presidencial é da maior importância para o país mergulhado em frustração e perplexidade.
Desafio de fácil
solução: os depoimentos de Lula, dos irmãos, de dona Marisa desfilam pelas 527
páginas do livro Lula, O filho do Brasil, da jornalista, escritora e petista de
carteirinha Denise Paraná, lançamento da Editora Fundação Perseu Abramo.
Durante horas, em dias,
meses os entrevistados responderam a perguntas ou falaram livremente, sem
reservas e restrições. Desse tesouro selecionei algumas gemas. Ressalve-se que
Dona Lindu é uma unanimidade consagrada nos louvores de toda família, como extraordinária
lutadora, que conseguiu criar a penca de oito filhos em meios às mais terríveis
dificuldades.
Já o pai, Aristides
Inácio da Silva, sofre o castigo de linchamento de Judas em sábado de Aleluia.
A começar por Lula, nascido em Garanhuns (PE), em 27 de outubro de 1945, duas
semanas depois de o pai ter viajado para São Paulo com a amante de 15 anos, a
prima Mocinha, que engravidara e com quem teve um punhado de filhos e depois
abandonou.
"Eu tenho mágoa do
meu pai porque acho que ele era muito ignorante" Lula entra de sola.
"Meu pai era um poço
de ignorância". Conta:
"Um dia, em 1952, a minha irmã tinha uns três anos, eu via meu pai
comendo um pão
e minha irmã
pedindo um pedacinho. Meu pai ia pegando os pedacinhos de pão e dava para os
cachorros. Ele não
dava para ela".
Aristides gostava de
pescar e tinha uma chata que guardava na lagoa. Lá um dia, seu amigo de
pescarias avisou que a chata fora roubada. O filho presidente desfia o resto:
"Aí meu pai chegou em casa de noite, pegou a mangueira, pegou o Frei Chico
o coitadinho estava
trocando roupa, para ir para a escola e deu-lhe uma surra! Mas, deu-lhe uma
surra!... Acho que ele tinha uns 10 ou 11 anos. O coitado urinava nas calças de tanto que
apanhava".
Outro flagrante:
"Minha irmã mais velha, Marinete, tinha um namorado, que é o marido dela
hoje. Ela pulava a janela para namorar. E um dia meu pai soube e deu um soco na
testa dela que afundou a testa".
Mais um exemplo:
"Na verdade meu pai não queria que ninguém estudasse. Ele só queria que a
gente trabalhasse".
O irmão de Lula, José
Ferreira Mello, conhecido pelo apelido de Frei Chico, tem muito o que contar:
"Quando chegamos em Santos e meu pai dormia com as duas mulheres, meu pai
engravidou minha mãe. Ela teve um casal de gêmeos. Ela quase morreu, as duas
crianças morreram."
A irmã Marinete Leite Cerqueira recupera amargas
lembranças: "Depois, acho que de quatro anos (da ida para São Paulo com a
segunda mulher) ele voltou lá com ela e com os dois filhos. Você acredita que
ele voltou lá, deixou os dois filhos e a amante em Garanhuns, foi para a minha
casa e minha mãe ficou grávida da minha irmã? Ficou grávida da Ruth. Não dá
para acreditar nisso. A minha mãe ficou grávida e ele veio embora outra
vez!".
A mana Maria Ferreira
Moreno foi a irmã que mais conviveu com Lula. Bate firme: "Meu pai era um
verdadeiro cavalo. Ele não era gente, sabe? Ele não era um ser humano. O Vavá
foi um que apanhou muito dele. Ele judiava do Ziza... Eles tinham que carregar
água para essa mulher dele... Tinha que levar na areia quente."
SAIBA MAIS EM: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/lula-tambem-tem-pai-9neey6ue94tz6gjlq72zmnmfi/
- https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/322269/complemento_1.htm?sequ
- https://www.cnnbrasil.com.br/politica/quem-e-frei-chico-irmao-de-lula-ligado-a-sindicato-investigado-pela-pf/