Por THEODIANO BASTOS
Resultados de pesquisas apontam que
consciência pode ir além da morte do cérebro, explica professor de psiquiatria.
Experiências de quase-morte (EQMs), experiências mediúnicas, memórias de vidas
passadas e aparições são estudadas por cientistas; entenda. Por Bruna Yamaguti, g1 DF
A vida após a morte é relatada de
diversas formas, por diferentes culturas, religiões e linhas de
pensamento. Mas, para além de crenças, fenômenos ligados à permanência do
"eu" mesmo após o fim da atividade cerebral são investigados a fundo
pela ciência há, pelo menos, 150 anos.
Os resultados dessas pesquisas, apesar de
sugestivos, apontam que, sim, a consciência vai além da morte do cérebro.
É o que explica o professor de psiquiatria Alexander Moreira-Almeida, da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), um dos
autores do livro "Ciência da Vida Após a Morte", que revisa pesquisas
feitas por cientistas de todo o mundo sobre evidências de uma das questões mais
desafiadoras e difundidas ao longo dos tempos (saiba mais ao final da
reportagem).
Segundo ele, há quatro tipos de
evidências, ou fenômenos, estudados pelos cientistas:
Alexander explica que, para cada
evidência, há casos que foram analisados e publicados em revistas científicas, no
intuito de tentar entender o porquê de elas acontecerem.
"Não quer dizer que você vai aceitar
qualquer coisa, mas a gente tem que ter a mente aberta para poder estudar os
fenômenos e ver as evidências. O que nós estamos fazendo é convidar as pessoas
a conhecerem as evidências para formarem a sua própria opinião. Uma opinião bem
embasada e sem preconceitos, nem a favor, nem contra", diz o professor.
Os fenômenos: caso a caso
Experiência de
quase-morte (EQM)
Segundo o professor Alexander
Moreira-Almeida, um dos casos clássicos de experiência de quase morte foi
publicado na The Lancet, uma das principais revistas médicas do
mundo.
No artigo, um cardiologista holandês
relata um estudo que fez ao seguir pacientes que tiveram parada cardíaca. Ele
descreve o caso de um paciente que já havia chegado ao hospital, praticamente,
morto.
Os médicos estavam quase desistindo de
reanimá-lo, quando seu coração voltou a pulsar. O paciente ainda ficou um tempo
em coma após a reanimação.
“Quando ele saiu do coma e foi para o
quarto, ele vê o enfermeiro e fala: ‘Você sabe onde está a minha dentadura’. O
enfermeiro olha assustado e o paciente descreve o dia em que ele teve a parada
cardíaca e viu o enfermeiro colocando a dentadura dentro de um potinho na
segunda gaveta. Quando eles procuram, ela realmente estava lá. Mas como ele
sabia, se já havia chegado ao hospital morto?”, relata o professor.
Alexander explica que, nesse caso, há a
possibilidade do paciente ter fantasiado, mas que isso é pouco provável, dada a
riqueza de detalhes narrada por ele. "Outra possibilidade é de que a
própria consciência pode continuar existindo mesmo se o cérebro não está mais
funcionando", diz o psiquiatra.
Segundo o dicionário,
"mediúnico" é descrito como algo próprio dos médiuns, das pessoas
que, de acordo com algumas crenças religiosas, têm capacidade para se comunicar
com os espíritos.
Um exemplo de experiência mediúnica,
estudada por cientistas, foi publicada em um artigo em 2022. O professor
Alexander foi um dos que analisaram o caso.
"Falamos com uma família em que o
filho havia morrido de câncer aos 11 anos. Procuramos um médium de outra cidade
para que ele fizesse o contato entre os familiares e o menino. Fizemos uma
pesquisa controlada, filmamos tudo o que estava acontecendo", conta
Alexander.
Ele lembra que, enquanto o médium
supostamente fazia contato com o menino e escrevia a carta reproduzindo as
falas dele, a criança fez uma piada com a senha da internet da família.
Uma informação que não teria como ter sido acessada pelo médium previamente, já
que os pesquisadores monitoravam o contato dele com os familiares.
- Memórias
de vidas passadas
O professor diz que há relatos
comuns, em sua maioria de crianças de 2 a 4 anos, quando estão aprendendo
a falar, que começam a descrever o que faziam "em vidas
passadas". Segundo ele, há mais 3 mil casos do tipo na literatura
internacional.
Um deles foi com uma criança do Sri
Lanka. Alexander explica que uma menina de 3 anos do país asiático estava vendo
televisão, quando passaram imagens de um templo famoso do país.
"Então ela começa a falar que já
morou naquela região, atrás de um rio que ficava atrás daquele tempo e que ela
fazia incenso. A menina falou ainda que andava de bicicleta e que um carro
grande havia passado por cima dela", conta.
Achando estranho, a família decidiu
investigar. Foi quando descobriram que, de fato, anos atrás, havia uma loja de
incenso atrás do templo e que um dos funcionários que fazia entregas de
bicicleta havia morrido atropelado por um caminhão.
Alexander explica que casos de
"aparições" ocorrem quando uma pessoa que já morreu aparece para
alguém que está vivo. Um caso estudado academicamente é de um senhor, dos
Estados Unidos, que havia deserdado dois filhos em um testamento, mas, tempos
depois, mudou de ideia e decidiu fazer uma nova repartição.
A nova versão do testamento, no entanto,
ficou guardada e não deu tempo de registrar em cartório antes do falecimento do
homem.
"Alguns anos depois da morte, ele
aparece para um dos filhos e avisa que o testamento está no bolso de seu
sobretudo. O filho, assustado, decide procurar o sobretudo e lá encontra um
bilhete falando que o testamento estava em uma bíblia antiga do falecido",
conta o professor.
Na bíblia, eles encontram o testamento. O
caso foi levado à justiça norte-americana e dez testemunhas confirmaram que a
caligrafia realmente era do homem falecido.
Cérebro e mente: dependentes ou
independentes?
O professor Alexander explica que, nas
pesquisas, cientistas e filósofos de todo o mundo tentam investigar um
problema, ainda sem solução, chamado de "problema mente cérebro".
Nele, a grande questão é:
- Se o cérebro "produz" a
mente e, quando o cérebro morre, a mente acaba
- Ou se o cérebro seria apenas um
instrumento para a manifestação da mente
Para exemplificar, Alexander cita as
chamadas de vídeo, feitas pelo computador ou pelo celular.
"Você está me vendo pela tela, mas
eu não estou dentro do computador ou do celular. Se você estragar a tela, você
não vai me ver, mas você não está me destruindo. É mais ou menos essa a ideia
do cérebro e da mente", aponta.
O professor explica que há uma ideia
equivocada das pessoas de que a ciência já teria provado que o cérebro gera a
mente. "Mas na verdade não. Essa é uma questão em aberto na ciência",
diz.
'Humildade intelectual'
Todos os casos acima foram estudados
academicamente por cientistas e estão no livro "Ciência da Vida Após a
Morte". Nele, o objetivo principal é apresentar para o público o que já
existe de estudos sobre o tema, com argumentos e explicações possíveis para os
fenômenos.
"Eu costumo dizer muito que a gente
tem que ter humildade intelectual. O cientista tem que ser humilde, é muito
difícil dizer tudo o que existe no universo, tudo o que pode ou não acontecer.
Para se ter uma ideia, da matéria que existe no universo, nós só
conhecemos 5%", diz Alexander.
Ele explica que, independentemente do
estudo, podem haver casos de fraudes e de pessoas que inventaram ou
fantasiaram situações. "Isso é levado em consideração nas pesquisas",
diz.
"No entanto, questões mais
convencionais, como fraude ou acaso, elas podem explicar só uma parcela dos
fenômenos. Mas quando você estuda com mais detalhe e com mais rigor, elas
não dão conta de explicar o conjunto mais robusto de evidências", pontua o
pesquisador.
FONTE: https://g1.globo.com/google/amp/df/distrito-federal/noticia/2023/09/10/existe-vida-apos-a-morte-saiba-o-que-diz-a-ciencia-e-veja-relatos.ghtml