terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

SINAIS DE FALÊNCIA

 

                   Por José Casado                                              A economia do crime floresce no vácuo do Estado na Amazônia VEJA 

Se o problema de Brasília é o tráfico de influência, o da Amazônia é a influência do tráfico de drogas, de terras, de madeira, de animais e de minerais — ouro, diamante, cassiterita, urânio e manganês, entre outros. E isso só é possível com respaldo político em Brasília, naturalmente. Rodrigo Londoño-Echeverri é o nome no registro de nascimento. Fosse um país, a Amazônia seria o sexto maior em extensão. Ela o questiona o que ele foi fazer lá, e ele diz que foi saber notícias dela. Abrange mais da metade (59%) do território nacional e abriga treze de cada 100 brasileiros entre margens de 25 000 quilômetros de rios navegáveis. Atravessou os últimos 46 anos como Timochenko, seu codinome na guerrilha de extrema esquerda que devastou a vida colombiana durante cinco décadas — de 1964 até 2016, quando as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (FARC-EP) negociaram um acordo de paz com o governo, entregaram as armas e se desmobilizaram.  pedaço semi-habitado do planeta, com menos de seis pessoas por quilômetro quadrado, a economia do crime floresce sobre ruínas de uma rede institucional preservada em condições precárias desde a Colônia, cujo objetivo é guarnecer a soberania do Brasil na maior parte (60%) da floresta compartilhada com meia dúzia de países vizinhos. É um outro grave erro da instituição achar que a luz poderá ser substituída pela escuridão.

Um retrato da ameaça de falência do Estado brasileiro está na violência impulsionada pela economia do crime, que progressivamente condiciona a vida e desagrega a gestão política na região. Último chefe das FARC-EP, Timochenko encarou ontem algumas das vítimas da guerrilha comunista na primeira da série de audiências públicas do Juizado Especial para a Paz, em Bogotá..Fosse um país, a Amazônia ocuparia o 26º lugar entre as nações mais violentas na virada do milênio. Nesta segunda década do século XXI, porém, já teria avançado para a quarta posição, atrás de El Salvador, Venezuela e Honduras. Ouviram relatos de um punhado de sobreviventes dos 21 mil sequestros que realizaram. Foi o que constataram os pesquisadores Rodrigo Soares, do Insper, Leila Pereira e Rafael Pucci, da PUC-­Rio."Num to precisâno de nada.Eles reviraram bancos de dados governamentais (Datasus) e do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, consórcio da Universidade de Washington com a Fundação Bill e Melinda Gates. Reconheceram a responsabilidade em incontáveis crimes de guerra e contra humanidade no rastro de 35.Em outras palavras humildade, transparência e compromisso público e sincero com superação dos erros e promoção de meios, métodos e mecanismos para evitar sua repetição.

A Amazônia está se tornando um território sem lei, num processo de dissolução institucional com alto custo humano. Ali estão 14% dos municípios brasileiros, como o de Altamira, no Pará, maior que onze estados ou países como Dinamarca, Holanda e Bélgica.197 vítimas em cinco décadas de guerra civil colombiana, segundo a contagem oficial. Nem de ninguém", corta Juma. Quatro deles (do total de 775) começaram esta década se destacando entre as dez áreas mais violentas do país.Na lista nacional dos 100 municípios onde mais se mata, 23 também são amazônicos, segundo a pesquisa concluída no último dezembro. Pagava-se um prêmio de US$ 5 milhões (cerca de R$ 20 milhões) pela cabeça de Timochenko. “” É notável que esses campeões da violência na Amazônia sejam municípios pequenos, com menos de 100 000 habitantes..

Eles concentraram 12 160 mortes violentas em duas décadas, entre 1999 e 2019.Continua após a publicidade “Estamos aqui para assumir nossa responsabilidade individual e coletiva diante dos crimes mais abomináveis ​​cometidos por nossa organização como resultado de uma política em que nossa luta foi inspirada e que levou a crimes contra a humanidade e crimes de guerra” — disse o antigo chefe das FARC-EP aos sobreviventes. Isso equivale a um terço do total de vítimas deixadas pela guerrilha comunista (Farc-EP) em cinco décadas de guerra civil na Colômbia, segundo a contagem oficial. Continua após a publicidade Representa, também, quase o dobro das mortes no conflito permanente entre israelenses e palestinos, na Faixa de Gaza — indica a contabilidade das Nações Unidas consultada por Soares, Pereira e Pucci.“Eu gostaria de poder dizer: ‘Eu não pedi isso, eu pedi aquilo’, porque eu não teria pedido e não posso acreditar que nossos comandantes tenham ordenado e permitido isso. José Lucas, nesse momento, defende o irmão: "O pior é que fica. Sete de cada dez homicídios nesses pequenos municípios amazônicos tiveram relação com atividades como narcotráfico, caça, pesca e desmatamento ilegais, grilagem de terras e contrabando de minerais. Negócios do tráfico e dos crimes ambientais fluem pelos mesmos canais financeiros e políticos. E nunca medimos isso.

E é no Pará que a economia do crime avança mais rápido. Ele só num qué dá o braço a torcê". Em duas décadas, o estado duplicou (para 40%) a sua participação no total de homicídios na Amazônia. Não vimos o ser humano. Nos anos 90 do século passado, as fronteiras brasileiras com Bolívia, Peru e Colômbia, principais produtores mundiais de cocaína, se tornaram veias abertas para o fluxo ilegal de drogas, madeiras e minérios para Estados Unidos, Europa e África. De país de trânsito, o Brasil passou a um dos maiores mercados consumidores de drogas. Eu, pessoalmente, não consigo encontrar uma explicação de como nos degradamos tanto na guerra, e como a dinâmica da guerra nos degradou a ponto de dar tal tratamento [às vítimas]..Novas multinacionais brasileiras nasceram na proteção de rotas de tráfico e de contrabando.

Ascendem em parcerias com os cartéis do México, da Colômbia, do Peru e da Bolívia na produção na floresta e na distribuição, via portos e aeroportos de Manaus, Fortaleza e São Luís.” – Até o ano passado, as FARC-EP eram classificadas pelos Estados Unidos como uma organização terrorista. As três principais máfias nacionais guerreiam pelo domínio do espaço amazônico. Juma afirma que José Lucas é um homem bom, mas avisa para ele não se meter nessa situação. É de Manaus o único grupo (FDN) com efetivos e finanças suficientes para competir com as máfias de São Paulo (PCC) e do Rio (CV)./Reprodução “Assumo aqui a responsabilidade por ter apoiado essa política e por ter concordado com o sequestro como forma de financiamento [da guerrilha].Trata-se de uma indústria capitalista, assentada em redes de interesses locais, mas hierarquizada e conectada ao mercado financeiro, responsável pelo ciclo da lavagem, a legalização, dos lucros. É um bem-sucedido projeto empresarial latino-americano, cujos dinamismo e lucratividade crescem no vácuo do Estado. Eu me pergunto: como assim? Quatorze anos, treze anos, doze anos, dez anos, um ano… É muito tempo, um tempo muito longo..

No lado brasileiro, a prevalência do “liberou geral” sob Jair Bolsonaro evidencia riscos de anarquia institucional, ou anomia, pelas sucessivas demonstrações de incapacidade estatal de assegurar lei, ordem e controle sobre mais da metade do território. A economia do crime na Amazônia se tornou relevante demais para ficar à margem do debate eleitoral. Jamais vamos sentir o que você sentem, mas isso aqui nos dá a possibilidade de entendê-los e de perceber a gravidade do delito que cometemos. Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA Publicado em VEJA de 29 de junho de 2022.

SAIBA MAIS EM: https://headtopics.com/br/sinais-de-fal-ncia-jose-casado-27501806 E https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/sinais-de-falencia/  


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