quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

O ERRO DAS ESTATAIS

 

O ERRO DAS ESTATAIS                                Por MAILSON DA NÓBREBA

Opor-se à privatização é permanecer preso ao passado

Pouco antes de tornar-se presidente da República pela terceira vez, Lula descartou peremptoriamente a privatização de estatais. “A Petrobras vai voltar a ser do povo brasileiro. Não vamos privatizar os Correios, não vamos privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica.” Logo no início do governo, cancelou todos os processos de privatização de estatais, incluindo o do Porto de Santos, quase pronto para acontecer.

O Brasil perde com essa atitude. Pena que Lula e o PT não entendam que o tempo das estatais já passou. Não aprendem lições da história. Continuam aferrados a teses desenvolvimentistas adotadas no passado, que nem sempre faziam sentido. Nos 10000 anos da civilização, o modelo de empresas estatais existiu em apenas dois séculos. O Estado não foi criado para administrar atividades econômicas que podem ser geridas e desempenhadas de maneira mais eficiente pelo setor privado.

“Nos 10000 anos de civilização, o modelo de empresas estatais existiu apenas em dois séculos”

Como assinalei neste espaço, as estatais surgiram quando países europeus buscaram o nível de riqueza alcançado pela Inglaterra com a industrialização. Não possuíam, todavia, as condições construídas pelos britânicos ao longo de décadas, casos de bancos e ferrovias. Não havia empresários capazes de liderar tais atividades, nem crédito de longo prazo para financiá-las. A lacuna, ou “falha de mercado”, precisava ser preenchida pelo Estado. Tão logo a “falha” desaparecesse, cabia privatizar as estatais, o que aconteceu nos anos 1980.

O mesmo ocorreu no Japão após a restauração Meiji (1868), que resultou em reformas que o fizeram a primeira nação asiática dotada de um moderno sistema de Estado-nação. Uma comissão instalada pelo governo visitou países ocidentais com vistas a entender as razões de seu enriquecimento. Foram identificadas várias falhas no mercado japonês, o que acarretou a criação de empresas estatais para suprir as lacunas. Sinal das mudanças, o paletó e a gravata substituíram o traje japonês. As falhas sumiram ainda no século XIX. O Japão foi pioneiro na privatização.

O alheamento dos petistas a tais evoluções decorre do anticapitalismo que domina o partido desde o nascimento e das ideias socialistas de suas origens. Muitos ainda enxergam o lucro como pecado. Daí a ideia de que a privatização deveria cingir-se a estatais que dão prejuízo. O sentimento em favor do caráter estatal da Petrobras, do Banco do Brasil e de outras não se abala nem mesmo com o sucesso de privatizações como as da Telebras, da Embraer e da Vale do Rio Doce, hoje exemplos de empresas de classe mundial. Não se lembram das filas de dois anos para comprar telefone. Não veem que a Vale é agora campeã mundial de minérios, e a Embraer virou a terceira fabricante de aviões e a maior no campo dos jatos de até 150 lugares.

Por aumentar a eficiência e a produtividade, a privatização contribui para acelerar o crescimento da economia. O país ganharia, mas o PT, movido por ideologia ou desinformação, ignora essa realidade. Publicado em VEJA de 18 de janeiro de 2023, edição nº 2824

 

3 comentários:

  1. DANIEL PORCEL BASTOS, Vitória/ES: Não acredito na lenda da privatização como necessariamente mais eficaz que a gestão estatal. Isso não é necessariamente verdade. Empresa privada pode dar prejuízo e estatal pode dar lucro também. Os países desenvolvidos continuam tendo estatais e investindo maciçamente nelas, inclusive expandindo sua atuação para os países do Sul global. Ou seja, as empresas privadas que aqui atuam também são estatais de outros países.

    Por que não podemos ter as nossas também? Bem geridas, sérias e à serviço do povo. Gerando lucro para programas sociais e garantindo a nossa soberania nacional. Só seremos potência global se tivermos estatais fortes.

    Veja só, a Eletrobras foi privatizada e agora dá prejuízo! Antes tinha lucro liquido: https://oespecialista.com.br/eletrobras-prejuizo-apos-privatizacao/

    A Vale foi privatizada e permitiu a ocorrência de dois crimes ambientais que devastou Mariana e Brumadinho e até hoje as famílias não foram devidamente remuneradas. Não acredito em receitas neoliberais que demonizam o Estado com argumentos superficiais.

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    1. Theodiano Bastos: Mas a grande diferença é que quando as estatais dão prejuízos são os contribuintes que pagam

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  2. Arlete Cruz Nascimento, Nanuque/MG: As estatais são portais da corrupção.

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