domingo, 9 de dezembro de 2018

AJUDA AOS MAIS POBRES


TRANSFERÊNCIA DE RENDA PARA OS MAIS POBRES

Como funcionam programas nos moldes do 'Bolsa Família' nas 10 maiores economias do mundo

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as nações ricas que integram o grupo gastam, em média, 1,6% do PIB em prestações de assistência social condicionadas a um limite de renda dos beneficiários, como é o caso do Bolsa Família. São recursos transferidos em dinheiro para ajudar na subsistência e lutar contra a pobreza. O número exclui gastos sociais com Previdência, saúde e seguro-desemprego.
No Brasil, as despesas com o Bolsa Família, programa que beneficiou 14 milhões de famílias em novembro, representam cerca de 0,5% do PIB. Neste ano, os pagamentos do Bolsa Família devem atingir R$ 30 bilhões.
O benefício médio recebido pelo programa é de R$ 187 (quase US$ 50), após reajuste de 5,7% que entrou em vigor em julho. O valor recebido pelos beneficiários varia conforme o número de membros da família, a idade de cada um e a renda.
Entre as 10 maiores economias do mundo - que incluem desde países com elevados níveis de bem-estar social, como a França e a Alemanha, aos com altos índices de pobreza, como a Índia -, os programas de transferência de renda estão presentes, ainda que com diferentes formulações.
França gasta mais
Na França - que vive uma onda de violentos protestos motivados pelos efeitos da alta carga tributária e do baixo poder de compra de boa parte da população -, os programas de transferência de renda são ainda mais amplos do que a média dos países ricos e atingem 2,1% do PIB, totalizando mais de 45 bilhões de euros (cerca de R$ 200 bilhões).
Além de garantir recursos para despesas do dia-a-dia, a França, que possui uma ampla rede de proteção social, tem também programas de ajuda para pagar o aluguel e contas de luz ou gás e para a compra de material escolar, entre outros.
De acordo com Maxime Ladaique, diretor de recursos estatísticos da divisão de políticas sociais da OCDE, os gastos dos países ricos com programas de transferência de renda se mantém, em geral, estáveis nos últimos anos.
"Logo após a crise financeira de 2008, as prestações sociais aumentaram, enquanto o PIB caiu. Os países pagaram mais para amortecer os efeitos da deterioração da economia", diz o especialista.
"Desde então, elas vêm sendo levemente reduzidas, mas o PIB dos países cresceu", afirma Ladaique, acrescentando que, na prática, a relação desses gastos em relação ao PIB tem se mantido estável.
Pode mudar no Brasil?
O presidente eleito Jair Bolsonaro, antes crítico do Bolsa Família, declarou que vai ampliar o programa e aperfeiçoar o combate a fraudes.
Além de um 13° 'salário' para os beneficiários, o programa de governo de Bolsonaro prevê instituir um sistema de "renda mínima para todas as famílias", ou seja, não apenas as mais pobres, com valor igual ou superior ao que é atualmente pago. O programa do presidente eleito não detalha, no entanto, como seriam obtidos os recursos para financiar a medida e se, de fato, ela será adotada.
Pedaço pequeno dos gastos sociais
Na avaliação de Ladaique, os programas de transferência de renda dos países ricos têm algo em comum: eles representam apenas uma pequena parte do total de gastos sociais, que incluem despesas bem mais elevadas como as da Previdência e saúde. "As despesas com pessoas de baixa renda são pouco significativas em relação a todos os gastos sociais", diz ele.
Basta olhar para os números gerais: os países ricos da OCDE gastam, em média, 21% do PIB (Produto Interno Bruto) na área social.
O percentual engloba os recursos usados na Previdência, na saúde pública, com seguro-desemprego e assistência social às famílias, que em vários casos inclui programas de distribuição de renda. Na França, os gastos na área são ainda maiores: 31% do PIB.
No Brasil, os gastos sociais do governo federal atingem cerca de 17,5% do PIB, incluindo despesas com Previdência, saúde, assistência social, educação, trabalho, saneamento básico e habitação. O percentual é mais elevado do que em outros países da América Latina e da Ásia.
Em boa parte dos países ricos, no entanto, os programas de transferência de renda não permitem que os beneficiários vivam acima da linha da pobreza (que leva em conta o nível de vida no país), ressalta Ladaique, da Ocde.
Conheça detalhes sobre cada um deles (com exceção do Brasil, que ocupa a nona posição no ranking do FMI) a seguir:
Estados Unidos: auxílio para alimentação
Direito de imagem Getty Images Image caption Programa americano paga benefícios a idosos e crianças de baixa renda cegos ou com alguma outra deficiência
O principal programa social dos Estados Unidos é o SNAP (Programa de Assistência Nutricional Suplementar), que ajuda pessoas de baixa renda a comprarem comida. É um programa federal, executado por agências locais, que beneficia mais de 20 milhões de lares. O valor médio pago por mês em 2018 para cada beneficiário é US$ 125 e, para cada lar, US$ 252. Os valores se mantiveram estáveis nos últimos quatro anos. O benefício custará quase US$ 56 bilhões neste ano. O SNAP é concedido aos lares com recursos e ativos de até U$ 2,2 mil.
O governo do presidente Donald Trump propôs mudanças na legislação, passando a exigir que pessoas com até 60 anos trabalhem para ter direito ao benefício, comumente chamado de "selos de comida". No caso de desempregados, também há programas de seguro-desemprego, operados por cada um dos Estados.
Por conta do impasse político criado com a proposta de mudança do SNAP, o Congresso americano ainda não aprovou a nova lei agrícola (Farm Bill), que financia o setor e o programa de nutrição. Parte da lei expirou no final de setembro e o restante irá expirar em 31 de dezembro.
A imprensa americana estima que pelo menos 2 milhões de pessoas poderão ter o benefício do SNAP cortado ou reduzido caso a proposta de Trump seja aprovada.
O programa Renda de Segurança Suplementar - Supplemental Security Income (SSI) - paga benefícios a adultos e crianças com deficiência ou pessoas acima de 65 anos com poucos recursos (ativos de até US$ 2 mil para um solteiro ou US$ 3 mil para um casal, considerando conta bancária, poupança, carro etc). No ano passado, o valor da ajuda mensal era de US$ 735 para um solteiro e de US$ 1,1 mil para um casal.
Há outros programas nos Estados Unidos, como a assistência temporária em dinheiro para famílias pobres e sem emprego (Temporary Assistance for Needy Families - TANF), com critérios e benefícios definidos pelos Estados. Alguns Estados exigem, para conceder o benefício, renda equivalente a menos de 50% da linha da pobreza, enquanto outros aceitam valores acima disso. Há uma contrapartida de horas de trabalho mensais, que podem ser serviços à comunidade, formações, ou empregos subsidiados no setor público e privado.
China: mudanças desde 1990
O país implementou 12 programas de assistência social. Alguns foram criados há várias décadas, mas eles ganharam força após uma reforma da assistência social no início dos anos 90, que passou a incluir nos programas de transferência de renda pessoas aptas ao trabalho.
Um deles, com versões urbana ("Urban Dibao"), e rural ("Rural Dibao"), garante recursos mínimos de subsistência às famílias de baixa renda, independentemente da capacidade para trabalhar. O sistema beneficia todos os lares do país que vivem abaixo da linha da pobreza. Shangai, a cidade mais desenvolvida do país, foi a primeira a implementar, em 1993, o Dibao urbano nos novos moldes que beneficiam a todos.
O programa Dibao é nacional, mas em razão das disparidades entre áreas urbanas e rurais e entre províncias do país, os governos locais definem os padrões de ajuda, ou seja, os benefícios variam de uma região para outra, mas são normalmente calculados em função da linha da pobreza na localidade.
Em Pequim, por exemplo, a linha da pobreza é de 900 yuans por mês (R$ 500). Se uma pessoa ganhar apenas 700 yuans (R$ 385), o governo completa os 200 yuans que faltam para atingir a renda mínima de subsistência.
Na média, o "Urban Dibao" equivale a um quinto ou um sexto da renda per capita das cidades. Em Pequim, a renda média per capita é de 5,3 mil yuans (R$ 2,9 mil).
Nas áreas rurais, a linha de pobreza média do Dibao é de 312 yuans (R$ 172), mais do que o dobro do valor em 2010, segundo a ONU.
Há um outro programa nas áreas rurais, o "Wubao", que fornece alimentação, roupas e cuidados médicos, além de ajuda financeira para moradia e até para enterros.
A partir dos anos 2000, a China reforçou novamente seus programas sociais, com assistência educacional para beneficiários do Dibao, além de subsídios para moradia.
Japão: ajuda para gastos médicos e material escolar
O Japão possui um programa de auxílio de subsistência, o Seikatsu Hogo. O valor do benefício resulta de um cálculo complexo em função do custo de vida básico necessário da família, conforme a idade e o número de membros do lar e também da região. Um lar em Tóquio com um adulto e uma criança em idade escolar, por exemplo, recebe por mês cerca de 125 mil ienes - US$ 1,1 mil (R$ 4,2 mil) e tem direito a auxílio moradia de 64 mil ienes (US$ 565 - R$ 2,2 mil).
O governo japonês prevê ainda ajuda financeira para gastos médicos, serviços para idosos e compra de material escolar, entre outros.
No Japão, as despesas sociais representam cerca de 23% do PIB, abaixo de países como a França e a Alemanha, mas acima dos Estados Unidos.
Alemanha: apoio até para o aluguel
Direito de imagem Getty Images Image caption A assistência social na Alemanha cobre despesas de subsistência, com garantia de recursos mínimos para pessoas de baixa renda ou incapacitadas de trabalhar
A assistência social na Alemanha cobre despesas básicas, com garantia de recursos mínimos para pessoas de baixa renda ou incapacitadas de trabalhar.
Neste ano, o montante "da assistência para necessidades básicas" é de 416 euros mensais (cerca de R$ 1,7 mil) para uma pessoa solteira e de 748 euros para um casal (R$ 3,1 mil).
Há um suplemento para crianças em função da idade, que vai de 240 a 316 euros (de R$ 1 mil a R$ 1,3 mil). Há ainda ajudas financeiras para necessidades suplementares, como mães ou pais solteiros, situações especiais como roupas de gravidez e de bebê, ou ainda para a educação de crianças e adolescentes, que incluem, por exemplo, recursos para material didático e excursões escolares.
Também há auxílio para pagar o aluguel, se ele for considerado "razoável". Isso significa um montante de cerca de 450 euros (quase R$ 2 mil) no caso de um apartamento para duas pessoas em Berlim, uma das cidades mais baratas da Europa ocidental.
Reino Unido: apoio será ampliado
O país está implementando o sistema do Crédito Universal, um pagamento mensal para famílias de baixa renda.
Ele deverá ser ampliado para todo o país até 2019 e substituirá outros benefícios, como o complemento de renda (Income Support) e auxílio-moradia.
O Crédito Universal pode ser solicitado por trabalhadores, autônomos e desempregados. O montante depende da situação (ganhos, filhos, eventual deficiência, ajuda para pagar aluguel) e do local onde a pessoa vive. Ele não é válido para quem não é cidadão britânico ou irlandês. Um casal acima de 25 anos recebe 499 libras (US$ 640) por mês. Outros fatores podem ser acrescentados à ajuda básica, como 277 libras (US$ 355) por mês no caso do primeiro filho e 232 libras para o segundo filho e subsequentes.
França: ajuda nas contas de luz e gás
O sistema de proteção social francês é um dos mais generosos do mundo.
O país garante, por exemplo, uma renda mínima para pessoas com mais de 25 anos sem atividade profissional e que não tenham mais direito ao seguro-desemprego (que pode durar até dois anos). Jovens a partir de 18 também têm direito ao chamado Revenu de solidarité Active (RSA) caso tenham filhos.
O valor do RSA para uma pessoa que não receba auxílio-moradia complementar é de 550 euros (R$ 2,3 mil) mensais. Um casal com um filho recebe quase 1 mil euros (R$ 4,3 mil).
Além de uma ajuda financeira para o aluguel, há inúmeras outras alocações, como a destinada a despesas com crianças de menos de três anos, para a compra de material escolar ou ainda o "cheque energia" para pessoas de baixa renda, soma anual que varia de 28 a 247 euros (R$ 120 a pouco mais de R$ 1 mil) para ajudar a pagar contas de luz ou gás.
Índia: queda grande na taxa de pobreza
Direito de imagem AFP Image caption Assim como o Brasil, a Índia é um país onde há grande desigualdade social
A Índia lançou em 2013 um plano experimental de pagamento em dinheiro aos mais pobres, nos moldes do Bolsa Família brasileiro. O governo estuda atualmente modalidades para estender o programa, batizado de "seu dinheiro em suas mãos". Há dois anos, técnicos da Índia visitaram o Brasil para aprofundar conhecimentos em relação ao Bolsa Família.
Há diversos programas de bem-estar social no país, relacionados principalmente a bolsas de estudo. O país fornece auxílio para a compra de alimentos (5kg de grãos por pessoa por mês), subsídio para o gás de cozinha e alocações financeiras para atender às necessidades básicas de famílias.
A taxa de pobreza na Índia caiu de 55% para 28% no período de dez anos (até 2016), segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Itália: complemento aos baixos salários
Direito de imagem Reuters Image caption Na Itália, benefício social nacional é pago às pessoas de baixa renda com mais de 66 anos
A Itália ainda não possui um regime nacional de apoio financeiro à população de baixa renda.
Até o momento, o único benefício social nacional, o Assegno Social, é pago àqueles com mais de 66 anos em situação de vulnerabilidade.
Em seu projeto de orçamento para 2019 - fortemente criticado pela União Europeia por prever o agravamento do déficit público, que se situaria em 2,4% do PIB -, o governo italiano prevê o aumento dos gastos públicos para permitir a criação da chamada "renda de cidadania", medida defendida pelo Movimento 5 Estrelas e que garantiria a qualquer pessoa maior de idade uma renda mínima de 780 euros (R$ 3,3 mil).
Na prática, se a pessoa trabalhar e tiver um salário de 400 euros, ela receberá o complemento, 380 euros.
Também existem na Itália programas administrados por regiões e cidades que concedem recursos em função da renda e que variam de acordo com a localidade.
Canadá: governo limita iniciativas
No Canadá, os programas de assistência social são administrados pelas províncias e territórios, que fixam suas próprias regras e montantes dos pagamentos.
Em Ontário, uma pessoa sem filhos pode receber, entre a ajuda financeira de subsistência e o auxílio moradia máximo, até cerca de R$ 2 mil. No caso de um casal com dois filhos, a soma pode atingir R$ 3,3 mil.
A província de Ontário havia lançado no ano passado um projeto piloto de renda básica universal (uma verba mensal garantida tanto para desempregados quanto para trabalhadores), com 4 mil pessoas inscritas. Ele deveria durar três anos, mas em julho o governo da província anunciou o encerramento progressivo do projeto, alegando que a iniciativa custa caro e não é viável a longo prazo. Uma pessoa solteira poderia receber até 17 mil dólares canadenses (R$ 50 mil) por ano.
Coreia do Sul: programas 'sob medida'
Após a crise de 1997, o governo sul-coreano ampliou, em 2000, as condições para ter acesso ao chamado programa de proteção nacional de subsistência básica, permitindo que pessoas na faixa de renda baixa pudessem receber os recursos.
Antes, eles eram destinados apenas a pessoas incapacitadas de trabalhar por motivo de deficiência ou idade. O programa foi reforçado em 2015, com ajudas "sob medida" relacionadas ao custo de vida, serviços médicos, moradia e educação, baseada nas necessidades dos beneficiários.
O benefício corresponde a 30% da renda média, fixada anualmente pelo ministério da Saúde e do Bem-Estar Social. A renda média é de 2,8 milhões de wons (US$ 2,5 mil) para um lar com duas pessoas e a alocação de subsistência é de US$ 740. A ajuda escolar (inscrições, compra de material, entre outros) para estudantes do ensino fundamental e médio vai de US$ 37 a US$ 48.                                           Fonte: https://www.bbc.com/ 08/12/18


quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

PORQUE A CHINA DEU CERTO


As redefinições da China
por Cristovam Buarque 

Aproveitando a desaceleração na agenda no fim do mandato, estive por alguns dias na China, a convite e patrocínio total da Guangdong University of Technology para participar do Seminário Inovação nos Brics e a comunidade global com futuro compartilhado”. Aproveitei para adiantar meu estudo sobre “Porque a China deu certo”. 

A visão da China é motivo de admiração — aeroportos, estradas, trens, prédios e o desempenho econômico ainda mais. Trinta anos atrás, o PIB da China era de US$ 312 bilhões, do Brasil US$ 330 bilhões. Hoje o PIB chinês é de US$ 12.240 bilhões e do Brasil, US$ ­­­2.000 bilhões.

Em poucos anos, conseguiram inclusão de 100 milhões de pessoas na classe média, com renda per capita equivalente à média da Europa; 400 milhões atingiram a da classe média brasileira. As cidades estão ligadas por uma rede com 28.000 km de “trens-bala”, enquanto toda a Europa tem 9.300 km. O nível de desenvolvimento científico e tecnológico permite ter uma nave espacial circulando ao redor da Lua. Ao lado desses sintomas de progresso, surpreende como as cidades são metrópoles modernas, limpas, com paz, calçamentos impecáveis, sem pobreza visível.

A surpresa é maior quando entramos nas universidades e temos a chance de estudar as redefinições que o pensamento chinês está promovendo sobre ideias dos tempos atuais. Os políticos, os intelectuais e o povo estão redefinindo conceitos que não se adaptam às exigências do bom funcionamento social nos tempos da robótica, da globalização e dos limites ecológicos ao crescimento da produção material. O próprio conceito de democracia está sendo redefinido em um país onde o único partido determina a coesão no presente e o rumo do país para o futuro.

Devido à política de crescimento industrial, Pequim e outras cidades chinesas estão entre as mais poluídas do mundo. Diante disso, o governo chinês tomou medidas para controlar a poluição: taxis são obrigados a usar energia elétrica e os motoristas pagam fortunas para emplacar carros novos se movidos a combustível fóssil. Intelectuais e dirigentes chineses dizem que a população certamente não votaria a favor dessas decisões.
 

As manifestações recentes na França, contra o aumento no preço do combustível fóssil para reduzir o consumo e a poluição, são exemplo da contradição entre democracia dos eleitores de hoje e a democracia comprometida com o futuro. Os interesses imediatos do eleitor e os interesses de longo prazo do povo se chocam impedindo medidas que limitem o consumo. Na democracia chinesa, os membros do partido discutiram por anos esse assunto e decidiram reduzir a taxa de crescimento em nome do equilíbrio ecológico.



É certamente um conceito de democracia diferente do ocidental. Além disso, segundo eles, a primazia absoluta do voto individual universal impede a adoção de filtros que levem em conta o mérito de cada candidato. Disseram-me que lá a democracia não se baseia apenas no voto, mas também no mérito demonstrado por cada candidato a cargo público ao longo da carreira.

Quando perguntei sobre a liberdade pessoal de ir e vir — na China para emigrar de uma província a outra é preciso autorização do governo central — perguntaram a mim se no Rio de Janeiro e outras grandes cidades do Brasil um cidadão pode caminhar livremente nas ruas, ou se a violência impede a livre circulação. Explicaram também que lá existe planejamento de instalações educacionais e hospitalares e a migração livre desarticularia o equilíbrio entre a oferta e a demanda dos serviços.

O conceito de igualdade, que até o período revolucionário era absoluto — todos com mesma renda e consumo — passou a ser relativo. O governo chinês se propõe a erradicar a pobreza, mas tolera a desigualdade de renda e consumo que decorre do mérito do cidadão, graças ao talento, à persistência, à criatividade e ao empreendedorismo.

É cedo para saber se as redefinições em marcha na China vão levar o Ocidente a rever seus conceitos ou se o povo chinês vai preferir adotar conceitos ocidentais. Mas não se pode negar que a revolução tecnológica em marcha, simultânea à globalização e aos limites ecológicos, exige revisões de nossos conceitos. E não se pode negar que os chineses estão tentando inventar a modernidade, na prática do desenvolvimento e na teoria de conceitos.    
                                              
Senador pelo PPS-DF e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) Artigo publicado pelo  Jornal Correio Braziliense – 04/12/2018

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

PT DEVOLVERÁ R$ 19,4 MILHÕES GASTO COM LULA


Dodge quer que PT devolva fundo partidário gasto com ‘campanha de Lula’

PT DEVOLVERÁ R$ 19,4 MILHÕES GASTO COM LULA

O Antagonista 30.11.18:
Raquel Dodge quer que a coligação O Povo Feliz de Novo devolva ao Fundo Partidário os valores gastos para financiar a campanha de Lula.
O pedido foi feito na ação de análise das contas apresentadas ao TSE pela coligação e tem como base a Instrução Normativa nº2, editada no mês de junho pela PGE.

“O objetivo da medida é evitar que recursos públicos sejam utilizados por candidatos manifestamente inelegíveis”, diz a PGE.
A coligação informou que no período em que o ex-presidente encabeçou a chapa presidencial foram gastos R$ 19,4 milhões.

De acordo Dodge, “parte dos recursos foi utilizada indevidamente e representa gastos ilegais, uma vez que – como já havia sido condenado em segunda instância – Lula sabia que era inelegível e assumiu o risco ao requerer o registro de candidatura”.

O dinheiro deverá ser restituído com juros e correção monetária.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

MAIS MÉDICOS: 97,2% DAS VAGAS PREENCHIDAS


MAIS MÉDICOS:                                        97,2% DAS VAGAS PREENCHIDAS

Ao contrário do que se temia, a saída dos médicos cubanos não causaram maiores danos no atendimento aos mais pobres.
O Ministério da Saúde informou nesta segunda-feira (26) que 8.278 profissionais foram selecionados para o programa Mais Médicos, o que corresponde a 97,2% das vagas abertas por meio de edital lançado na última semana.
Até o momento, foram registrados 25.901 inscritos com registro (CRM) no Brasil para a nova seleção, que disponibilizou um total de 8.517 vagas em locais com escassez ou ausência de atendimento básico de saúde.
A contratação de novos profissionais foi a medida emergencial adotada pelo governo para assegurar a assistência em locais que contavam com profissionais de Cuba, após o governo cubano encerrar a cooperação no programa Mais Médicos.
Médicos com registro interessados em participar do Mais Médicos podem se inscrever até 7 de dezembro por meio do site do programa. Selecionados vão receber salário de R$ 11.865,60 por 36 meses, com possibilidade de prorrogação. Fonte: Governo do Brasil, com informações do Ministério da Saúde

Médicos cubanos falam sobre a decisão de ficar no ES: ‘mais oportunidades’

Convênio entre Cuba e o programa federal Mais Médicos foi encerrado em 14 de novembro. Na Serra, dos 30 profissionais cubanos, 12 decidiram permanecer no país.

Por Naiara Arpini e Fábio Linhares, G1 ES e TV Gazeta
Mesmo com uma passagem aérea marcada para esta segunda-feira (26), uma médica cubana que atuava na Serra, no Espírito Santo, decidiu não retornar ao país de origem. Ela faz parte do grupo de profissionais que optou por permanecer no Brasil após o fim da parceria entre os países no Programa Mais Médicos. “Aqui no Brasil temos mais oportunidades de crescer, tanto economicamente como profissionalmente”, disse.
O convênio entre Cuba e os Mais Médicos foi encerrado em 14 de novembro. Ao todo, o Espírito Santo tinha 210 médicos cubanos, segundo dados do Ministério da Saúde.
O maior número de profissionais de Cuba no estado estava no município da Serra, que contava com 30 deles. No total, 12 decidiram ficar.
Eles esperam continuar trabalhando, seja validando o diploma com o exame Revalida ou participando de novo edital do Mais Médicos, voltado para estrangeiros e que deve ser lançado na semana que vem.
“Eu não vou me apresentar no aeroporto. Desse momento, vou ser considerada como desertora e não poderei voltar mais para Cuba durante oito anos. Mesmo assim, decidi ficar aqui. Nossa família nos apoia, está do nosso lado”, disse uma médica cubana que atuava na Serra. Ela preferiu não ser identificada.
Uma outra médica, que também não quis ter a identidade revelada, trabalhou em um posto de saúde da Serra durante um ano e três meses. Ela também vai continuar no Brasil, mesmo ciente das consequências.
“Eu vim para dar um futuro melhor para minha família. Eu me apeguei demais às pessoas que tenho aqui, elas me abriram as portas do coração. Eu falei que fico, mesmo correndo risco de não entrar no meu país durante oito anos, de não poder trazer minha família”, disse.
Ela espera poder continuar exercendo a profissão, para que consiga se manter no país e trabalhar legalmente. “O que eu e os demais estamos pretendendo é continuar trabalhando dentro do programa, porque assim nos dá tempo de nos prepararmos para fazer o Revalida e não ficarmos aqui desamparados”, falou.
Uma venezuelana, que é casada com um médico cubano, disse que a família tem a esperança de que, no Brasil, possa dar um futuro melhor para os filhos.
“Decidimos permanecer por causa da qualidade de vida. A gente conseguiu aqui o que nossos países negaram: qualidade, liberdade, poder comprar. Nossos filhos precisam de um futuro melhor, e estão acostumados aqui”, disse.
Os médicos chegaram a se reunir com a prefeitura da Serra, mas a subsecretária de Saúde, Cristiane Stem, disse que a partir de agora não tem mais responsabilidade sobre os cubanos.

Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde informou que os médicos cubanos podem continuar no Programa Mais Médicos, desde que participem das seleções que o Ministério da Saúde irá fazer permanentemente até ocupar as vagas deixadas pelo fim da cooperação com a OPAS.
"No momento, temos um edital aberto para médicos com CRM Brasil ou aqueles que revalidaram o diploma no país, isso já vale para qualquer nacionalidade, inclusive para o cubano", disse o Ministério da Saúde.
Embora a cooperação com a OPAS não exista mais, o Programa Mais Médicos continua e permanecem as regras da convocação dos candidatos no editais em que médicos com CRM Brasil e que revalidaram o diploma têm prioridade. Após essa seleção, as vagas restantes são destinadas a brasileiros com registro fora do país e depois para estrangeiros.

Novos médicos

Na semana passada, o Ministério da Saúde abriu 8.517 vagas em quase 3 mil municípios e 34 distritos indígenas após Cuba anunciar a saída do programa, alegando declarações 'ameaçadoras' do presidente eleito Jair Bolsonaro.
Na tarde desta segunda-feira (26), 97,2% das vagas do novo edital do Mais Médicos já haviam sido preenchidas no país. Veja a situação dos principais municípios do Espírito Santo:
  • Serra
Na Serra, eram 30 médicos cubanos, sendo que 12 informaram à prefeitura que vão permanecer no Brasil.
A prefeitura da Serra disse que a partir desta segunda-feira (26), 29 novos profissionais do Mais Médicos, inscritos no último edital do Ministério da Saúde, começam a se apresentar.
Em paralelo, se apresentam também os 15 convocados por concurso público municipal, ampliando o número de médicos na rede da cidade.
  • Vitória
A capital tinha 5 médicos cubanos nas unidades de saúde. A Secretaria Municipal de Saúde informou que as cinco vagas pleiteadas no programa federal Mais Médicos já foram preenchidas. Os médicos têm agora até 14 de dezembro para iniciar as atividades nas unidades.
  • Cariacica
A prefeitura de Cariacica informou que as 7 vagas que antes eram ocupadas pelos médicos cubanos já foram preenchidas por médicos brasileiros que se inscreveram no edital do Mais Médicos. Seis dos sete médicos já apresentaram os documentos para formalização do contrato e a expectativa é de que todos profissionais estejam nas unidades de saúde até o fim desta semana.
Além disso, para recompor a Estratégia de Saúde da Família (ESF), a Prefeitura publicou, nesta quinta-feira (22), a convocação de novos médicos aprovados no último processo seletivo simplificado. A previsão é de que os convocados iniciem as atividades ainda na primeira quinzena de dezembro.
  • São Mateus
A Prefeitura de São Mateus disse que nenhum dos 15 médicos cubanos que atuava no município permanece nos atendimentos na cidade. A Secretaria também informou que foi elaborada uma escala especial de atendimento médico por turno.
A medida será adotada até a reposição dos profissionais pelo programa Mais Médicos, no qual as vagas disponíveis para São Mateus estão sendo preenchidas, porém estão em processo de validação dos médicos. O Edital do programa prevê o início das atividades dos novos médicos a partir de 3 de dezembro até a data-limite de 7 de dezembro.
  • Linhares
A Secretaria Municipal de Saúde informou que o Ministério da Saúde já encaminhou sete médicos para Linhares. Deste total, dois já se apresentaram. Os profissionais tem até o dia 14 de dezembro para se apresentarem.
Todos os médicos cubanos já deixaram o município e o vínculo que possuíam com a Prefeitura de Linhares.
  • Cachoeiro de Itapemirim
Em Cachoeiro de Itapemirim, todos os cubanos já deixaram os cargos. Os profissionais que se candidataram às 23 vagas disponíveis começaram a se apresentar para a entrega dos documentos nesta segunda-feira (26).
Assim que a documentação for validada pelo Ministério da Saúde, eles começam a trabalhar nas unidades básicas de saúde.  https://g1.globo.com/