OS RISCOS ADIANTE
Por Cristovam Buarque
Torcem contra e a favor do impeachment como se
estivessem na arquibancada
A cada momento de nossa história,
o Brasil cai em ilusões de propostas mágicas que serviriam para nortear nosso
futuro. Há pouco, muitos acreditavam que o pré-sal salvaria o Brasil. Agora, o
Brasil se divide entre os que veem o futuro no impeachment e aqueles que querem
a continuidade da presidente Dilma. Não percebem que o futuro adiante será
muito difícil, com qualquer destas alternativas. Torcem por um lado ou outro,
como em arquibancada de futebol, sem refletir, sabendo que o jogo termina
depois do apito final. Mas, a realidade é mais complexa.
Se o impeachment passar, o
vice-presidente assumirá com uma herança maldita, tendo de enfrentar o PT de
volta à oposição, exigindo reajustes salariais, aumentos de gastos públicos;
lembrando boas coisas do seu governo, sem mencionar que eram insustentáveis.
Corre-se o risco de que o impeachment de Dilma interrompa o fim do ciclo do PT.
Isto ficará ainda mais possível se o encaminhamento do processo tiver falhas e
conseguirem passar a ideia de golpe. Ainda mais se um futuro governo dificultar
o funcionamento da Polícia Federal, nas operações contra a corrupção.
Se o impeachment não passar, uma
alternativa seria que a presidente Dilma entendesse e fizesse um reconhecimento
público de que o Congresso a salvou da vontade popular de sua cassação, e
tentasse reorientar seu governo para os próximos anos. Reconhecer seus erros,
dizer que seu partido é o Brasil, não o PT ou qualquer outro; assumir seu
compromisso com um governo de união e transição até 2018, com dois objetivos
centrais: o ajuste necessário para corrigir seus erros na economia e definir as
bases de reformas estruturantes para o futuro. Mas, tudo indica que, com a
continuidade do governo Dilma, os próximos três anos não serão diferentes de
2014, salvo que a presidente, o PT e os demais partidos no governo tratarão o
arquivamento do processo de impeachment como a aceitação de todos os seus
erros, como uma carta em branco para continuar aparelhando o Estado,
desprezando a responsabilidade fiscal. Não é difícil imaginar, no dia seguinte
ao arquivamento, as bandeiras vermelhas de volta às praças; com gritos de que o
golpe não passou, que as pedaladas foram aceitas, assim como também as
manipulações na campanha, as irresponsabilidades na economia; tudo bem com a
Petrobras, a corrupção não existiu, pedindo anistia para os presos e o fim da
Lava-Jato.
Mesmo temendo o futuro, o impeachment
precisa ser debatido e votado de acordo com as razões legais. A eleição do
presidente é uma escolha política, mas sua destituição deve ser por razões
legais, julgando, não votando. O impeachment não é golpe, porque está previsto
na Constituição, mas ali previstas as razões que o justificam, definindo se a
presidente cometeu ou não crime.
Cristovam
Buarque
é professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF Fonte: http://noblat.oglobo.globo.com/
12/12/15