terça-feira, 14 de outubro de 2025

Com acordo para Gaza, Trump transforma viagem ao Oriente Médio em um espetáculo sobre si mesmo

 

Presidente dos EUA, Donald Trump, antes de foto oficial de reunião sobre Gaza em Sharm el-Sheikh, no Egito

                              Por THEODIANO BASTOS

— A guerra acabou. A guerra acabou. Certo. Você entendeu? — disse Trump antes de embarcar para Israel, na noite de domingo, anunciando o tom que seria adotado em seus discursos e aparições públicas nas horas seguintes.

"Este é um momento muito interessante para Israel e o Oriente Médio", afirmou, diante do Parlamento de Israel, o presidente dos EUA, Donald Trump, em um discurso marcado por louvores ao acordo firmado entre os israelenses e o Hamas, que permitiu um cessar-fogo e o retorno dos reféns capturados em outubro de 2023. Um plano gestado pela Casa Branca, apresentado como a pedra angular da paz regional, e usado por Trump para ressaltar a sua persona de “Grande Pacificador”, hoje em exibição em Israel e no Egito.

Pouco se sabe sobre o que foi de fato assinado. Ao mesmo tempo em que o cessar-fogo, o retorno dos reféns, a libertação de prisioneiros palestinos e a retomada da entrada de ajuda em Gaza foram confirmadas, há questões importantes em aberto. Até que ponto o Hamas concordou com o desarmamento? Quem fará parte do governo provisório de Gaza? E o que fazer com a Cisjordânia, cuja anexação foi aprovada em moção simbólica pelo Parlamento israelense em julho, e é crucial nos planos para um futuro e hipotético Estado palestino?

No roteiro trumpista havia espaço apenas para notícias positivas e para elogios, que não foram poucos em sua primeira escala, Israel.

— [Trump] é o maior amigo que Israel já teve na Casa Branca — disse o premier Benjamin Netanyahu, em discurso no Parlamento. — Senhor presidente, o senhor está comprometido com esta paz. Eu estou comprometido com esta paz. E juntos, senhor presidente, alcançaremos esta paz.

Trump é ovacionado de pé no Parlamento de Israel

A cada menção ao presidente, o plenário se enchia de palmas. Quando Trump tomou o púlpito, não era mais o convidado de uma Casa legislativa, mas sim alguém em um familiar palanque de campanha, ou como se estivesse em algum veículo de imprensa aliado.

— Após dois anos angustiantes, escuridão e cativeiro, 20 reféns corajosos estão retornando ao glorioso abraço de suas famílias — afirmou Trump, sob aplausos.

Por pouco mais de uma hora, Trump destinou elogios a Netanyahu, o chamando de um dos maiores líderes em tempos de guerra, pediu que um processo por corrupção contra o premier fosse abandonado e criticou seus dois antecessores na Presidência, Barack Obama e Joe Biden. Sobrou espaço para elogios ao líder da oposição, Yair Lapid (com um sorriso amarelo de Netanyahu) e para louvar o bombardeio contra instalações nucleares iranianas, em junho. Ignorando o longo caminho até uma paz duradoura, ele afirmou que o acerto entre Israel e Hamas era o “alvorecer histórico de um novo Oriente Médio".

— Vamos construir um legado do qual todos os povos desta região se orgulharão. Novos laços de amizade, cooperação e comércio unirão Tel Aviv a Dubai, Haifa a Beirute, Jerusalém a Damasco, e de Israel ao Egito, da Arábia Saudita ao Catar, da Índia ao Paquistão, da Indonésia ao Iraque, da Síria ao Bahrein, da Turquia à Jordânia, dos Emirados Árabes Unidos a Omã e da Armênia ao Azerbaijão — afirmou Trump.

SAIBA MAIS EM: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2025/10/14/analise-com-acordo-para-gaza-trump-transforma-viagem-ao-oriente-medio-em-um-espetaculo-sobre-si-mesmo.ghtml

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