Falta de comprovação científica e estudos clínicos seriam o motivo da resistência de outros pesquisadores; método foi desenvolvido por médico brasileiro
Nesta
semana, uma forma de terapia utilizada com um paciente com câncer de próstata criou
debate entre profissionais da saúde. A técnica foi aplicada pelo médico neurocientista brasileiro Marc Abreu para tratar o paciente
Scott Miller.
O método
utiliza a indução de proteínas de choque térmico por meio de aumento da
temperatura, de maneira controlada, pelo cérebro.
Apesar de o
caso clínico ter sido apresentado no Congresso Anual da Society for
Thermal Medicine, em San Diego, nos Estados Unidos, especialistas ressaltaram que
o método não tem embasamento científico e que não há estudos sobre a eficiência
da técnica.
A produção da CNN conversou com
José Alencar, cardiologista e doutorando em Bioética na Universidade do Porto, que
salientou que este seria um protocolo de tratamento inventado, já que não há
literatura sobre essa terapia. Ainda de acordo com Alencar, ter submetido o
paciente a esse método foi algo antiético.
Segundo o
doutorando em Bioética, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, qualquer novo
tratamento deve ser aprovado pelo Conselho de Ética. Essa medida seria uma
forma de garantir a total segurança e integridade dos pacientes. E, no caso da
indução de proteínas de choque térmico, a submissão ao Conselho de Ética não
teria acontecido.
O
especialista ainda afirma que existem quatro preceitos básicos da medicina: a Beneficência, Não Maleficência,
Autonomia e Justiça. Ele explica que, sem nenhuma pesquisa no tema, é
impossível garantir a “Beneficência” do tratamento.
Assim, não
necessariamente o paciente foi curado pela terapia utilizada. Também seria
impossível comprovar a “Não Maleficência”, o que pode gerar diversos riscos.
Alencar
ainda alerta que, mesmo se tratando de uma pessoa em estágio terminal, a
autonomia do paciente não é ilimitada, e o médico não deve autorizar
procedimentos sem resguardo clínico.
O médico
ainda ressaltou que a cura não pode ser atestada, uma vez que não há nenhum
estudo ou pesquisa científica a respeito. Ele completa que a divulgação da
eficácia do tratamento não é recomendada porque pode induzir pacientes a
buscarem a tecnologia e abandonarem métodos comprovados.
A produção
da CNN também conversou com outros especialistas em oncologia
e oncogenética. Eles ressaltaram que a ciência é baseada em documentos e
comprovações e, como não há estudos sobre essa terapia, não há espaço para a
discussão sobre o tratamento.
Ainda
segundo os especialistas, todo e qualquer método extraordinário requer uma
documentação, algo que o Marc Abreu não teria feito. Outra pontuação feita
pelos médicos foi que, se essa fosse uma forma de curar o câncer, ela já deveria estar artigos oficiais
da área da medicina.
Resposta de
Marc Abreu
Em nota
divulgada para a CNN, o Dr. Marc Abreu disse que as atividades
médico-científicas pautam-se pela ética médica profissional, legislação e
regulação norte-americanas.
Isso também
se aplica as suas soluções pioneiras baseadas na termodinâmica cerebral,
temperatura do cérebro e frequências termo regulatórias com uma ampla gama de
aplicações em terapia, diagnóstico e prevenção de doenças.
O
neurocientista ainda disse que a descoberta do túnel térmico cerebral permitiu,
pela primeira vez na história, a medição contínua e não invasiva da temperatura
do cérebro.
Foi
ressaltado ainda que a descoberta levou à invenção e patente do sistema Abreu
BTT 700, aprovado pela agência regulatória de saúde do governo federal dos
Estados Unidos (FDA), equivalente à Anvisa no Brasil.
Dr. Marc
Abreu também pontuou que a Sociedade Americana de Câncer atestou o uso e estudo
da hipertermia diversos tipos de câncer. Assim como o Instituto Nacional de
Câncer da Agência de Saúde dos Estados Unidos também atesta e recomenda o uso
da hipertermia no tratamento de tipos de câncer.
*publicado
por João Guimarães, da CNN
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