sábado, 21 de janeiro de 2017

DONALD TRUMP: DEUS SALVE A AMÉRICA



DONALD TRUMP:                    DEUS SALVE A AMÉRICA

“O perigo em tempos de crise é que busquemos um salvador”

L'Osservatore Romano - Antonio Caño e Pablo Ordaz
Na sexta-feira, enquanto Donald Trump tomava posse em Washington, o papa Francisco concedia no Vaticano uma longa entrevista ao EL PAÍS, em que pedia prudência ante os alarmes acionados com a chegada do novo presidente dos Estados Unidos – “é preciso ver o que ele faz; não podemos ser profetas de calamidades” –, embora advertindo que, “em momentos de crise, o discernimento não funciona” e os povos procuram “salvadores” que lhes devolvam a identidade “com muros e arames farpados”.

Durante uma hora e 15minutos, num aposento simples da Casa de Santa Marta, onde mora, Jorge Mario Bergoglio, que nasceu em Buenos Aires há oito décadas e caminha rumo ao quarto ano de pontificado, afirmou que “na Igreja há santos e pecadores, decentes e corruptos”, mas que se preocupa sobretudo com “uma Igreja anestesiada” pelo mundanismo, distante dos problemas das pessoas.  Noticia o El País 22/01/17 
Autoritarismo de Trump pode causar tremendos problemas ao Brasil

Com tom agressivo, novo presidente norte-americano elevou o patriotismo a uma espécie de religião e pode prejudicar a América Latina, afirma o colunista Clóvis Rossi

Trump evoca um passado sombrio

"Deutschland über alles" (a Alemanha acima de tudo) era a música de fundo do nazismo. É assustador que, 65 anos depois que a Alemanha retirou a estrofe de seu hino nacional, o presidente de uma nação ainda mais poderosa do que qualquer outra reponha esse grito de guerra do nacionalismo.
"America first", gritou Donald John Trump ao assumir a Presidência nesta sexta-feira (20), confirmando o tom agressivo e autoritário de seus discursos de campanha.
É igualmente assustador que Trump tenha elevado o patriotismo a uma espécie de religião, quando o pensador britânico Samuel Johnson (1709/84) já havia dito: "O patriotismo é o último refúgio dos canalhas".
Tudo somado, difícil discordar do mega-investidor George Soros quando ele diz que Trump é um "aprendiz de ditador".
Minha sensação pessoal é a de que Trump jamais concluirá o curso, porque os Estados Unidos têm a maravilhosa tradição de fazer troca de presidente a cada quatro anos (a menos que um deles seja reeleito) desde 1789, como lembrado, de resto, na cerimônia de posse.
Parece inviável, portanto, que uma ditadura seja aceita pelo tal de povo, outra palavra com que o presidente encheu a boca, escandindo as palavras "the real people" - o que todo populista que se preze sempre fez em qualquer país.
O autoritarismo de Trump, em todo o caso, se de fato levado a efeito, se de fato buscar sempre a "America first", pode causar tremendos problemas para a América Latina e para o Brasil, que ninguém se engane.
A Americas Society/Council of the Americas, dedicada às relações Estados Unidos/América Latina, acaba de divulgar preciso levantamento das posições de alguns dos secretários escolhidos por Trump a respeito do subcontinente - região, aliás, que esteve completamente ausente durante a campanha, fora México e Cuba.
O novo US Trade Representative, Robert Lighthizer, responsável por negociações comerciais globais, por exemplo, apontou o Brasil como "o mais consistente violador das leis comerciais norte-americanas". Foi em depoimento ao Senado em 2007, mas parece improvável que tenha mudado de ideia nos 10 anos transcorridos.
Já o secretário de Segurança Interna, o general John Kelly, em depoimentos também ao Senado, cansou-se de expressar preocupação com o envolvimento do grupo libanês Hezbollah, do Irã e de "grupos extremistas islâmicos" em países como Argentina, Brasil, Paraguai e Venezuela.
Não custa lembrar que Trump, no discurso de posse, prometeu erradicar da face da Terra os grupos radicais islâmicos.
Os Estados Unidos têm uma longa e antiga história de intervencionismo em assuntos internos de outros países, em especial da América Latina. Torna-se um pesadelo, pois, imaginar que Trump está ressuscitando um tipo de nacionalismo/patriotismo carregado de autoritarismo, quando parecia sepultado pela vitória do capitalismo na guerra fria.
Falta acrescentar o potencial de conflitos com outros países fora da América Latina, capazes de perturbar seriamente a economia global.
Virão, pois, tempos de emoções fortes. As primeiras são as piores possíveis.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br 21/01/17

Autoritário e impopular, Donald Trump é ameaça à democracia

As instituições políticas americanas estão entre as mais sólidas do mundo, mas a atitude intolerante do presidente é perigosa para o equilíbrio dos poderes

Por Nathalia Watkins 0
 “Um novo orgulho nacional vai nos mover, levantar nosso olhar e curar nossas divisões”, disse o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu discurso de posse, na sexta-feira. As palavras do republicano em Washington, porém, não condizem com seus atos. Com personalidade agressiva e intolerante, o 45º presidente mostra traços autoritários e já começa o mandato como o mais impopular da história americana. Como será que as instituições nacionais conseguirão resistir a Trump no exercício do poder? Em VEJA desta semana, entenda as atitudes do magnata que, de ataques à imprensa até conflitos de interesse, já começam a ameaçar a maior democracia do mundo. VEJA 21/01/17

 Aprovação de Trump cai para 40% a quatro dias da posse

Índice é o mais baixo entre os últimos três presidentes dos EUA — 44 pontos a menos do que Obama”

'Deus pode triunfar sobre Trump', diz filha de Martin Luther King

Republicano prestes a tomar posse teve apenas 8% dos votos do eleitorado negro”  Folhe de São Paulo, 17/01/17
Declarar Trump presidente ilegítimo é ato de patriotismo
Isto é Donald Trump por Paul Krugman


(Prêmio Nobel de Economia (2008), é um dos mais renomados economistas da atualidade. É autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados.) 

“Quando jovem, o deputado federal John Lewis, que representa a maior parte da cidade de Atlanta, colocou sua vida em risco na busca da justiça. Líder crucial do movimento pelos direitos civis, ele sofreu múltiplas agressões.
Na mais famosa dessas ocasiões, Lewis estava liderando a manifestação que veio a ser conhecida como Bloody Sunday e teve seu crânio fraturado em um ataque por um grupo de policiais estaduais. A indignação pública quanto à violência daquele dia ajudou na aprovação da Lei dos Direitos Eleitorais. Agora, Lewis diz que não comparecerá à posse de Donald Trump, que ele considera como presidente ilegítimo.
Como seria de esperar, a declaração provocou reação histérica e caluniosa do presidente eleito —que, é claro, começou sua carreira política ao questionar, repetida e mentirosamente, o direito do presidente Barack Obama a ocupar o posto. Mas Trump —que jamais sacrificou coisa alguma ou assumiu riscos para ajudar os outros— parece sentir hostilidade especial para com os verdadeiros heróis. Talvez ele prefira manifestantes que não terminam espancados?
Mas não vamos falar sobre os desvarios de Trump. Em lugar disso, perguntemos se Lewis tinha o direito de dizer o que disse.É aceitável, em termos morais e políticos, declarar ilegítimo o homem que está a ponto de se mudar para a Casa Branca?
Sim, é. Na verdade, é um ato de patriotismo.
Sob qualquer padrão sensato, a eleição de 2016 foi profundamente questionável. Não se trata apenas dos efeitos da intervenção russa em favor de Trump. Hillary Clinton quase certamente teria vencido se o FBI (Polícia Federal americana) não tivesse difundido a falsa impressão de que tinha em seu poder novas informações negativas sobre ela, apenas alguns dias antes da votação. Foi um delito de conduta grotesco, um ataque à legitimidade, especialmente se comparado à recusa da agência em discutir a conexão russa.
Será que as coisas vão ainda além disso? A campanha de Trump coordenou ativamente as suas atividades com uma potência estrangeira? Será que uma cabala no FBI deliberadamente retardou as investigações sobre essa possibilidade? As histórias lúridas sobre as aventuras de Trump em Moscou serão verdade? Não sabemos, ainda que a repulsiva subserviência de Trump a Vladimir Putin torne difícil descartar essas acusações.
Mas mesmo se levarmos em conta apenas aquilo que sabemos ao certo, nenhum presidente eleito anterior teve menos direito ao título, nos Estados Unidos. Assim, por que não questionaríamos a legitimidade dele?
E falar com franqueza sobre a maneira pela qual Trump chegou ao poder não só cumpre o dever de dizer a verdade mas pode ajudar a limitar esse poder.
Se ao menos o próximo comandante em chefe demonstrasse pelo menos um traço de humildade, de compreensão de que seu dever perante a nação requer algum respeito à forte maioria de norte-americanos que votaram contra ele a despeito da interferência russa e da desinformação do FBI... Mas ele não o faz e nem fará.
Em lugar disso, está saindo ao ataque e ameaçando toda e qualquer pessoa que o critique, e se recusa até a admitir que foi derrotado no voto popular. E está se cercando de pessoas que compartilham de seu desdém por tudo que há de melhor nos Estados Unidos. O que estamos contemplando, muito claramente, é uma caquistocracia norte-americana —o domínio pelos piores.
O que pode ajudar a restringir esse domínio? Bem, o Congresso ainda tem muito poder para cercear o presidente. E seria agradável imaginar que existam legisladores dotados de espírito público em número suficiente para desempenhar esse papel. Em particular, basta que existam três senadores republicanos dotados de consciência e muito poderia ser feito para proteger os valores norte-americanos.
Mas seria muito mais provável que o Congresso decidisse resistir a um Executivo autoritário e descontrolado se os seus membros perceberem que pagarão o preço político caso facilitem as ações dele.
O que isso significa é que Trump não deve ser tratado com deferência pessoal simplesmente por conta da posição que conseguiu tomar. Não devemos conceder a ele o uso da Casa Branca como palanque para intimidação. Não devemos autorizá-lo a se revestir da majestade do posto. Tendo em vista o que sabemos sobre o caráter do sujeito, fica bem claro que lhe conferir respeito que ele não merece só o levará a se comportar mal.
E lembrar às pessoas sobre a maneira pela qual ele chegou ao posto é uma ferramenta importante para impedir que receba respeito que não merece. Lembre-se: dizer que a eleição foi questionável não é calúnia ou uma insana teoria da conspiração: é simplesmente a verdade.
É certo que qualquer pessoa que questione a legitimidade de Trump terá seu patriotismo impugnado - porque é isso que as pessoas da direita sempre dizem quando alguém critica um presidente republicano. (Estranhamente, eles nada dizem sobre ataques a presidentes democratas.) Mas patriotismo significa defender os valores de um país, e não prometer lealdade pessoal ao Querido Líder.
Não, contestar a legitimidade de resultados eleitorais com os quais discordamos não deve se tornar um hábito. Mas o caso atual é excepcional, e precisa ser tratado dessa maneira.
Assim, devemos ser gratos a John Lewis por ter tido a coragem de se pronunciar. Foi a coisa patriótica e heroica a fazer. E os Estados Unidos precisam de heroísmo dessa espécie, agora mais que nunca”.  Tradução de PAULO MIGLIACCI                                                                                               Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ 16/01/17