terça-feira, 30 de agosto de 2016

DESCONSTRUINDO DILMA



Afastada discursa para cineasta, conta mentiras sobre o passado, o presente e o futuro e prova: ela quer os brasileiros trocando porrada nas ruas
Em discurso que repete nove vezes a palavra golpe, presidente não admite um só erro, atribui todos os seus desastres a seus adversários e demonstra por que não pode governar o país. E ainda: o estoque de cadáveres do passado “democrático” de Dilma
Por: Reinaldo Azevedo 29/08/2016  
Conforme o esperado, e lamento que seja assim, Dilma fez o pior discurso da sua vida. Contou mentiras sobre o passado, o presente e o futuro. Se conseguiu falar com a firmeza convicta que tão bem a caracteriza, ainda que nem sempre se entenda o que diz, o conteúdo, também desta vez, destoa dos fatos. Para sua má sorte, sua sintaxe foi clara. E, ao ser clara, entendemos por que caiu, nos espantamos que tenha chegado lá e nos damos conta do risco que corríamos. Havia certa dúvida se empregaria a palavra “golpe”. Não o fez apenas uma vez, mas nove. Dilma, em suma, repete Gleisi Hoffmann e, no fundo, não reconhece moral no Senado para julgá-la. Seu discurso não foi feito para os senadores. Ela falava para a cineasta Petra Costa, que está fazendo um documentário.
Vou mudar a ordem cronológica escolhida por ela. Começo a falar sobre o futuro, evidenciando o risco que esta senhora, de fato, representava ainda que não tivesse cometido crime nenhum — e destaco sempre que devemos lhe ser gratos por ser tão irresponsável com as contas públicas e incompetente no trato da gestão.
Dilma atribui ao governo Temer a intenção de cortar programas sociais, de cassar benefícios das mulheres e dos negros, de cortar recursos para a saúde e as crianças, de vitimar os mais velhos, ceifando-lhes a aposentadoria, de querer punir o Nordeste, de não ter compromisso com o salário mínimo, de conspirar contra o pré-sal. No auge da mistificação, chega mesmo a atribuir a seus adversários um conluio contra a estabilidade fiscal — justo ela, que destruiu as contas públicas.
Ainda que não tenha feito menção ao Partido dos Trabalhadores em seu discurso, eis o PT de sempre: arrogante, monopolista do bem, dono da verdade, incapaz de ouvir uma crítica, autossuficiente nas suas escolhas desastradas, discriminador, surdo para o contraditório. O mais curioso é que, ao apontar as intenções malévolas dos seus adversários, sabe que tocou em problemas cruciais para o futuro do Brasil, que deverão ter uma resposta. Repete rigorosamente o procedimento adotado na campanha eleitoral de 2014, o que a levou a cometer o maior estelionato eleitoral da história do Brasil.
A mesma Dilma que fez esse discurso diz reconhecer os seus erros. Mas quais? Não se ouviu um só. Tudo o que deu errado no seu governo, entende-se, derivou da conspiração dos seus adversários.
Pensemos o óbvio: caso Dilma retornasse o poder — na hipótese de obter os votos necessários ou de aqueles favoráveis à sua saída não conquistarem 54 senadores —, pergunta-se: ela iria governar com quem? Quais forças políticas lhe dariam sustentação? Ela julga ter uma resposta: a convocação de novas eleições. É impressionante que uma presidente que está sendo julgada aponte como resposta para o país uma saída que ela sabe ser inconstitucional.
O presente
Ao fantasiar sobre a disposição do governo Temer de cassar benefícios sociais como ação deliberada e malévola de quem vê o povo como adversário, Dilma busca conferir uma roupagem de economia política à tese mentirosa do golpe. Assim, a sua deposição seria uma expressão da tal “luta de classes”, a tese vigarista que lhe assopraram aos ouvidos alguns marxistas mixurucas, que conhecem da obra de Marx o que sabem de búlgaro antigo — a exemplo da própria Dilma, diga-se.
Isso lhe impõe, então, que conte mentiras assombrosas sobre o presente — refiro-me ao presente histórico. Sob qualquer argumento que se queira, Dilma cometeu crime de responsabilidade. Incidiu no Artigo 85 da Constituição, especialmente em seu Inciso VI, atentando explicitamente contra a Lei Orçamentária, crime definido pela Lei 1.079, uma senhora de 66 anos, que prevê impeachment àqueles presidentes que não a respeitarem.
Mas tudo se explica. É preciso apelar à mais qualificada das testemunhas de defesa, que falou, a pedido do próprio advogado de Dilma, como informante: o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Ele deixou claro aquela que é uma convicção do governo que está caindo: eles não concordam com o Artigo 36 da Lei de Responsabilidade Fiscal, justamente aquele que estabelece ser “proibida a operação de crédito entre uma instituição financeira estatal e o ente da Federação que a controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo”. Para o doutor e para o PT, se o dinheiro é de um banco público e se é usado pelo governo, então não é crédito, mas mera operação fiscal. Foi assim que esse pensamento quebrou o Brasil várias vezes ao longo da história. Mais recentemente, no governo Dilma.
Sim, a presidente cometeu crime de responsabilidade.
O passado
Todo homem público que provoca grandes desastres; que investe em crises sistêmicas; que faz a infelicidade de milhões — a pessoa, em suma, com esse perfil — exibe uma mitologia pessoal do sacrifício e da renúncia. Dos grandes facínoras da humanidade aos nossos patetas do presente e do passado, todos têm uma história triste ou heroica para contar.
A de Dilma é conhecida. Mas ganha especial sentido neste momento. É claro que a presidente afastada não deveria, por bom senso e por bom gosto, ter evocado o seu câncer no discurso de despedida. Doenças não existem para lisonjear ou para punir; doenças não são o contraponto de malfeitos ou sua justificativa moral. Menos ainda é decente que se apele a esse sofrimento como elemento constitutivo do caráter, como ingrediente de sua têmpera. Pessoas boas e detestáveis já foram acometidas de câncer. Alguns saíram do tratamento com um temperamento melhor; outros experimentaram o contrário. E há ainda aqueles para os quais a ocorrência foi irrelevante. O câncer não é guia moral de ninguém. A desordem nas contas públicas brasileiras, deixada por Dilma, não poderá se beneficiar das lições que ela eventualmente recebeu nesse tempo.
Ao contrário até: se a pessoa pública se aproveita da doença, como Dilma fez durante a eleição e faz agora, então é lícito que se veja, no seu caso, a moléstia como um deformador do caráter.
Finalmente, é preciso voltar, e eu lamento, aos anos 70. Dilma se refere de novo ao período em que foi torturada. De maneira ofensiva compara os senadores de agora àqueles que a julgaram; toma o triunfo da lei e do Estado de Direito, que estão prestes a lhe cassar o mandato, como se fossem leis de exceção. E mente sem cerimônia sobre o próprio passado.
Isso a leva a comparar-se a figuras como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart, todos vítimas, na visão da presidente, de conspirações golpistas — o amor pela precisão me obriga a lembrar que o marechal Lott deu um golpe para garantir o poder a Juscelino, não o contrário. Mas Dilma certamente não é do tipo que repudia “golpes do bem”. Getúlio e Jango são maus exemplos de heróis democráticos. O primeiro foi o maior assassino da história republicana no Brasil, e o segundo investiu de forma deliberada na bagunça, arquitetando ele próprio um golpe, frustrado porque seus inimigos foram mais rápidos ao golpeá-lo.
Dilma finge não saber a diferença entre uma ditadura e uma democracia. Por isso evoca como credencial democrática o seu passado de membro de uma organização terrorista, chamando aquilo de amor à democracia. É chato fazer o que vou fazer, eu sei. Mas é preciso ter um compromisso com a história.
Dilma foi militante da VAR-Palmares, organização surgida da fusão do Colina (Comando de Libertação Nacional), ao qual ela pertencia, com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), de Carlos Lamarca. Os familiares das pessoas assassinadas por essas organizações (próximo post) certamente não concordam com o apreço que ela teria, então, pelo regime democrático. 
Encerro
Foi Dilma quem resolveu apelar à história. Então é preciso dizer tudo. Afinal, os cadáveres sumiram no tempo. Os amigos de esquerda da Afastada, aboletados na academia, deram um jeito de escondê-los.
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/ 29/08/16

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

VAIAS DO MARACANÃ



O Maracanã tem longa tradição de vaias a autoridades
O escritor Nelson Rodrigues escreveu em “A Pátria de Chuteiras” que “o Maracanã vaia até um minuto de silêncio”. E não é nenhum exagero. Apesar de todos os esforços para se esconder na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, o presidente interino Michel Temer não escapou de uma sonora vaia e poucos aplausos. Bastou um discurso protocolar de apenas 12 segundos de duração para Temer engrossar a lista de autoridades, artistas e atletas que receberam vaias em grandes eventos.
Até o prefeito Eduardo Paes tomou a sua vaia na cerimônia do  encerramento, mas com muitos aplausos.
O ex-presidente Lula sentiu seu gosto amargo na cerimônia dos Jogos Pan-Americanos de 2007.
A presidente afastada, Dilma Rousseff, ouviu-a constrangida, quando entregava a taça de campeã do mundo à Alemanha em 2014. 
E a famosa vaia a minuto de silêncio ocorreu em 19 de julho de 1967, na partida entre Botafogo e América, em pleno regime militar. O general Humberto Castello Branco, presidente da República entre 1964 e 1966, havia morrido no dia anterior, em um acidente aéreo. Quando o locutor pediu um minuto de silêncio em sua homenagem, vaias tomaram parte do Maracanã.

Mas em 1969, num Fla x Flu, ao anuciarem a presença do ditador Garrastazu Medici na tribuna de honra do Maracanã todo o estádio ficou de pé e o aplaudiu efusivamente o ditador e o mesmo aconteceu no Morumbi...
Marcelo Duarte, Jornalista e autor da série de livros “O Guia dos Curiosos escreveu no blog http://guiadoscuriosos.com.br/
“1. Em 19 de julho de 1967, Botafogo e América fizeram um jogo válido pelo Campeonato Carioca. Um dia antes, Humberto de Alencar Castello Branco, o primeiro presidente do Regime Militar (1964-66), havia morrido em um acidente aéreo. O locutor do estádio anunciou que seria respeitado um minuto de silêncio em homenagem ao general. A reação não foi a esperada: imediatamente a torcida vaiou o morto. A vaia só foi interrompida com o início da partida.
2. Em 13 de maio de 1959, a escalação da Seleção Brasileira campeã mundial de 1958 estava na ponta da língua de todo os brasileiros. Especialmente daqueles que foram ao mesmo Maracanã acompanhar o amistoso entre Brasil e Inglaterra. No anúncio da escalação, tudo corria dentro do esperado até o anúncio do camisa 6, Nilton Santos. Pois foi aí que o locutor Victorio Gutenberg fez uma longa pausa e disparou: “camisa 7… Julinho Botelho!”. A presença do jogador do Palmeiras no lugar de Garrincha foi recebida com uma quase unânime vaia que durou cerca de três minutos. Sacado do time pelo técnico Vicente Feola por ter se esbaldado na noite carioca no dia do jogo, Garrincha viu seu substituto ser vaiado a cada toque na bola. Mas, aos 7 minutos, Julinho deixou a marcação inglesa para trás e fez 1 a 0. Aos 30, deu o passe para o segundo, o gol que decretou a primeira vitória brasileira sobre os ingleses na história. Ao final do jogo, o Maracanã gritou o nome de Julinho e o palmeirense deixou o gramado sob os aplausos das mesmas 100 mil pessoas que o vaiaram no anúncio da escalação.
3. Em 2007, o Brasil iniciou sua jornada na busca por grandes eventos esportivos. Considerados a chance de ouro para o país impulsionar as candidaturas à Copa de 2014 (àquela altura já muito bem encaminhada) e, principalmente, aos Jogos Olímpicos de 2016 (cuja escolha da sede seria dois anos depois), os Jogos Pan-Americanos começaram com uma bela cerimônia de abertura no Maracanã. No momento mais aguardado da festa, porém, uma impressionante vaia. Reeleito presidente da República com a maior votação proporcional da história no ano anterior, Luiz Inácio Lula da Silva foi tão repreendido pelo público, que, no improviso, quebrou o protocolo e deixou de abrir oficialmente a competição. A honra acabou por cair nas mãos do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman. Em 2014, quatro meses antes de ser reeleita presidente, Dilma Rousseff também foi vaiada na abertura da Copa do Mundo, na Arena Corinthians.
4. Outro chefe de Estado altamente popular que passou por maus bocados em um estádio de futebol foi Getúlio Vargas. Em 1940, ele participou da inauguração do Pacaembu, em São Paulo. À época o maior estádio da América do Sul, o Pacaembu estava lotado de paulistanos ainda engasgados com a subida de Getúlio ao poder após o golpe de estado contra o paulista Washington Luís em 1930. Além disso, Vargas ainda havia reprimido a Revolução que eclodiu em São Paulo em 1932. Com isso, a Terra da Garoa era um dos poucos lugares no país onde era possível que o Presidente, conhecido pela habilidade na hora de discursar, fosse implacavelmente vaiado. Curiosamente, quatro anos depois, ele transferiu os festejos do Dia do Trabalho do Rio de Janeiro para São Paulo como forma de exaltar a disciplina dos trabalhadores paulistas, que não aderiram greves como as que estavam ocorrendo na então capital federal. Com o Pacaembu mais vazio e a crise política no país menos intensa, foi recebido com aplausos e fez até desfile em carro aberto.
5. Em 1967, o músico Sérgio Ricardo iria se apresentar no palco do Festival da Música Popular Brasileira, então realizado anualmente pela TV Record. Porém, assim que começou a cantar a música “Beto Bom de Bola”, passou a receber uma impressionante vaia do público no Teatro Paramount, em São Paulo. Depois de alguns segundos tentando contornar a situação, o cantor se irritou. Quebrou o violão, atirou em direção a plateia e deixou o palco inconformado: “Vocês conseguiram! Esse é um país de animais!”. Essa é uma das cenas mais marcantes daquele que é considerado o maior dos festivais musicais do Brasil, vencido por Edu Lobo com “Ponteio”. O ocorrido passou a perseguir Sérgio, hoje com 84 anos. Em 2012, durante um show na capital paulista, ele riu quando um espectador pediu a música que não caiu nas graças do público em 1967 e ainda brincou: “Agora eu toco piano, não posso atirá-lo em vocês”.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

DILMA É CULPADA, AFIRMA PEDRO SIMON



Pedro Simon avalia situação de Dilma: "Pelo amor de Deus, ela é culpada"
Ex-senador afirma que Dilma cometeu crime de responsabilidade e que não há golpe
Correio Braziliense, Julia Chaib, 22/08/6 

“Aos 86 anos, dos quais 60 na política, o ex-senador pelo PMDB Pedro Simon (RS) avalia que o Brasil passa pelo momento mais importante da sua história. Simon, que chegou a defender a renúncia do presidente em exercício Michel Temer e da presidente afastada Dilma Rousseff para que fossem convocadas eleições gerais antecipadas, hoje acredita que a melhor saída para o Brasil é que o processo de impeachment seja concluído.

Para a provável presidência efetiva de Temer, porém, Simon defende trocas no Ministério e um governo de diálogo, em que o Congresso seja consultado em qualquer mudança. O ex-governador do Rio Grande do Sul defende também que o presidente interino se comprometa efetivamente a não disputar a reeleição.

Ex-líder de governo do ex-presidente Itamar Franco, Simon acredita que o principal fator que levou o país à crise política é a corrupção. Cita também erros, incluindo falta de diálogo do governo da presidente Dilma. Simon ainda avalia que o PMDB foi escanteado no governo, mas não conspirou para o afastamento da petista.
Na avaliação do senhor, quais os fatores que levaram à crise política?
Havia o sentimento de que o presidente pode fazer o que quer, o ministro pode fazer o que quer, o militar pode fazer o que quer. O cara que tem dinheiro pode fazer o que quer. Pela primeira vez na história do Brasil, gente importante está indo para a cadeia. Estamos vivendo o momento mais importante do país.
A Operação tem uma função importante?
É a coisa mais importante que aconteceu no Brasil. O líder do governo no Senado foi para a cadeia, três tesoureiros foram para a cadeia, o empresário foi para a cadeia.

Há quem critique excessos por parte do juiz federal Sérgio Moro. Um rigor extremo em determinadas condutas, inclusive contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senhor concorda?
Em um país onde a impunidade foi permanente, eu não posso atirar pedra assim. Agora temos que avançar. Ainda mais que esses gritos vêm dos grandes advogados, das grandes empreiteiras, dos grandes processos de colarinho branco. Querer terminar com ficha limpa é uma desgraça.

O senhor acha que há perseguição a Lula?
Não acho. Mas não precisava da condução coercitiva. O Lula estava querendo a cabeça do ministro da Justiça, porque ele não estava sendo firme. O ministro disse não, eu sou firme. Porque queria que ele demitisse o chefe da polícia.

Agora, em meio à Operação, Temer assume e coloca um ministério com nomes de investigados…
Eu imagino que ela (Dilma) vai ser afastada. Se ela for, aí o personagem Michel Temer entra em cena. E, na minha opinião, Michel vai viver uma fase fantástica da vida dele. Temer tem que garantir que, na Lava-Jato, não se mete. Nomear um ministro da Justiça de alto gabarito. Esse que está aí não deve ficar, é muito jovem. Eu colocaria o Ayres Britto. O Collor foi um cometa que passou, caiu e não sobrou nada dele. O PT, não. O PT tem ideias, pensamentos. É o Lula, a Dilma e muita gente que está aí. Mas Temer tem capacidade, tem gabarito, é um jurista, constitucionalista e, ao contrário do Itamar, é um homem de entendimento.

O senhor foi líder do governo Itamar Franco. Temer já vinha montando um governo antes do afastamento. Com Itamar foi assim?
O Itamar, como não tinha compromisso com o partido, com ninguém, só foi montar governo quando Collor tinha caído fora. Itamar convocou todos os presidentes dos partidos. E ele disse: eu não fui eleito presidente, foi o Collor. Eu estou aqui porque o Congresso cassou, então o Congresso tem que me ajudar a levantar as teses. Em primeiro lugar, eu não sou candidato à reeleição.

Por que tem que estabelecer isso?
Se ele falar que vai sair candidato, a briga começa no dia seguinte.

Voltando, o senhor defende a Lava-Jato, mas o Temer colocou ministros importantes que são investigados pela operação. Eles devem ficar?
Eu acho que quem está sendo investigado pela Lava-Jato não deve ficar.

Além da impunidade, quais foram os outros fatores, na opinião do senhor, que levaram a essa crise política?
Primeiro, foi a corrupção. Foi institucionalizada a roubalheira no Brasil. Isso nunca tinha acontecido antes. Nem no mundo inteiro. Não fui eu que disse essa frase, mas vou dizer, se a gente comparar as razões do impeachment do Collor com as daqui, o do Collor vai para o juizado de pequenas causas.

O senhor acha que houve crime de responsabilidade por parte da presidente Dilma Rousseff?
Não posso falar porque não estou lá dentro. Eu, Pedro Simon, se sou senador hoje, voto com a minha consciência. O juiz pode votar pelo que está nos autos. O político, não. O político vota com a consciência do que conhece. E, do que se conhece, pelo amor de Deus, ela é culpada. É culpada por ação, por omissão, por irresponsabilidade. Agora, achar que ela botou a mão no dinheiro, eu não acredito”

OLIMPÍADAS SUPEROU AS EXPECTATIVAS



Imprensa estrangeira destaca superação para realizar Jogos e aumenta o astral do país. Realmente superamos todas as adversidades, e o Brasil surpreendeu o mundo com as Olimpíadas do Rio pela organização e com as cerimônias de abertura e de encerramento que encantaram a todos. O projeto era ficar em 10º lugar com 25 medalhas. Mas só ficou em 13º lugar com 19 medalhas, sendo 7 de ouro, 6 de prata e 6 de bronze. 

No encerramento o Maracanã se transformou num grande baile, como a Marquês de Sapucaí no Carnaval. 

“Fomos muito injustos com vocês. Tudo na Rio 2016 foi perfeito”

Rio de Janeiro
Turistas chegaram assustados com o marketing negativo do evento antes dele começar. Voltam satisfeitos com a organização e destacam a gentileza dos cariocas que partilharam a cidade http://brasil.elpais.com/ 22/08/16

VAIAS DO MARACANÃ
Segundo Nelson Rodrigues, no Macanã se vaia até um minuto de silêncio. Em 2007, no Pan-Americano Lula foi vaiado com tanto intensidade que desistiu de falar. Dilma foi vaiada e até mandaram ela tomar no c e Temer tomou sua dose de vaia, como também o bom prefeito do Rio, Eduardo Paes. Somente Medici foi aplaudido de pé num Fla x Flu em 1969...

E a famosa vaia a minuto de silêncio ocorreu em 19 de julho de 1967, na partida entre Botafogo e América, em pleno regime militar. O general Humberto Castello Branco, presidente da República entre 1964 e 1966, havia morrido no dia anterior, em um acidente aéreo. Quando o locutor pediu um minuto de silêncio em sua homenagem, vaias tomaram parte do Maracanã. 

Olimpíada do Rio de Janeiro superou as expectativas, por Celso Rocha de Barros (*)




“Supondo que a festa de encerramento da Olimpíada não tenha tido Paulinho da Força repetindo a performance de Gisele Bundchen na abertura, já é possível dizer que os jogos do Rio de Janeiro superaram as expectativas. E isso não foi só porque as expectativas eram completamente alucinadas: a impressão era de que hordas de zumbis canibais devorariam os atletas e uma nova peste negra surgida na Baía de Guanabara daria início a outra idade das trevas.
Por que as expectativas eram tão ruins? Na verdade, as Olimpíadas acabaram servindo para que inúmeros analistas, no Brasil e no exterior, tentassem compensar o excesso de otimismo com o Brasil nos anos 2000 sendo excessivamente pessimistas agora. A Olimpíada não era a Nova Matriz Econômica, não era nosso impeachment  bananeiro, não era Dilma nem Temer, mas apanhou como se fosse.
É óbvio que há muito o que criticar, mas a Olimpíada provavelmente estive perto do melhor possível em um país pobre, desigual e democrático.
Esse último ponto foi, na maioria das vezes, ignorado nas análises. As desapropriações em comunidades pobres foram péssimas, mas foram fortemente contestadas na sociedade civil, e uma pequena parte dos moradores da Vila Autódromo, ao fim de uma luta heroica, conseguiu mesmo o direito de permanecer onde estavam, agora com casas decentes construídas pelo poder público. O caminho até a Olimpíada do Rio foi bagunçado pelo escândalo das empreiteiras, mas só houve escândalo porque o judiciário pegou as empreiteiras. Não é fácil imaginar essas coisas na China ou na Rússia.
A China e a Rússia, aliás, puderam alocar muito mais dinheiro em suas Olimpíadas porque suas populações têm menos voz no processo orçamentário. Tanto a belíssima Olimpíada de Pequim quanto a Olimpíada de Inverno de Sochi, na Rússia, foram muito mais caras do que a Olimpíada na terra de Bezerra da Silva.
Há toda uma tradição de usar grandes eventos para denúncias sociais, e isso é excelente. Parabéns aos ativistas que aproveitaram o foco internacional no Rio de Janeiro para denunciar o descaso com a Baía de Guanabara ou a situação das comunidades pobres. Até mais do que antes dos jogos, agora é a hora de tentar incorporar essas críticas à discussão sobre a cidade. Como integrar a Zona Norte ao Centro renovado? Afinal, o que fazer para limpar a Baía? Essas são as perguntas para os próximos anos.
Mas também é preciso tomar cuidado com a história de que os jogos olímpicos foram apenas um festival de exclusão: não tenho dúvida de que a decisão de construir a Cidade Olímpica da Barra foi influenciada pela especulação imobiliária, mas a infraestrutura de transportes construída está longe de servir só aos mais ricos. Dêem uma olhada na lista de estações dos corredores de ônibus do BRT, procurem os bairros ricos. O centro da cidade do Rio de Janeiro foi reorganizado com evidente ênfase no transporte coletivo. Os jogos foram uma luta em que também houve vitórias para o projeto de uma cidade mais inclusiva.
Enfim, se não foi a Olimpíada dos sonhos, foi porque não foi nos sonhos que ela aconteceu. Mas as Olimpíadas provaram que mesmo nesta cidade aqui, real, concreta, há mais tarefas possíveis do que se pensava.” (*) É doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. É analista do Banco Central. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br 22/08/16